segunda-feira, 28 de abril de 2008

Prevenindo um futuro aquecimento global

Antes de qualquer coisa, devo afirmar a qualquer um que me leia que não apresentarei que o aquecimento global é fato, ou mesmo que seja teórica e empiricamente sólido nos moldes que é hoje alardeado. Nem mesmo abordarei fatos que o comprovam, até porque outros autores, diretores de documentário, palestrantes e jornalistas muito mais letrados e capacitados do que eu, com imensamente mais poderosos recursos visuais e artísticos já o fizeram.

Serei simples, embora necessariamente longo, e mostrarei que tais questões pouco interessam, pois ainda que o aquecimento global não esteja acontecendo, temos de nos mobilizar para que não sejamos um componente em sua certa ocorrência, a menor perturbação significativa do equilíbrio químico-energético do insignificante planetinha em que habitamos e embora agradável, é prisão terrível da qual ainda não podemos escapar.

Realizarei tal pretensa proeza passo a passo, e tal se mostrará simples e clara, e em cima disto, os inúmeros e mais aptos autores que apresentam o aquecimento global como processo em andamento e como fato, poderão continuar com seus alertas e conselhos de medidas, talvez agora, com uma pequena contribuição em sua luta.

Primeiramente iniciemos com a fonte única e fundamental deste possível problema, e exatamente por isso, de todos os principais mecanismos da vida e do clima da Terra.


O Sol como fonte de energia predominante do sistema solar

Basta alguns minutos sob o Sol forte de um meio de manhã, em qualquer lugar da Terra, para percebermos que o Sol é fonte de calor, e nem necessitamos saber como tal se produz e como tal chega a nós, e muito menos como age no todo de nosso ambiente. É claro que observar um vulcão, ao vivo ou pela televisão, nos trará a clara idéia de que nem de apenas Sol vive a produção de calor no sistema solar, muito menos em nosso planeta, mas tal fonte de calor pode ser desprezada, e como veremos adiante, sua importância no que trataremos é mais pelas substâncias que produzem os geologismos do que pelo calor que liberam, que só terá significância em minas e mesmo em nossos spas de águas termais.

Assim, podemos ter como certo que o que nos interessa é o calor produzido pelo Sol, e como este reage com o ambiente, e para encerrar qualquer dúvida sobre isto, lembraria que há vulcões tanto no Alasca quanto na Antártida, e mesmo assim, regiões próximas a eles não se tornam mais quentes e nem seus ventos são mais mornos do que qualquer de nossas praias ou verões de céu limpo, mesmo em latitudes dali próximas. Mas antes de mostrarmos como o Sol distribui sua energia e produz temperaturas pelo sistema solar e neste o nosso planeta, um resumo sobre calor e sua transmissão, na linguagem até simplória.


Algumas noções sobre calor

Para descrever a transmissão de calor, pois o conceito de temperatura temos de maneira praticamente nata, a menor queimadura ou sensação de frio, nada melhor que as formas de cozinharem os povos suas carnes.

O calor se transmite por condução, como quando um bife é colocado sobre uma chapa quente, e cozinha pela transmissão direta de vibração das moléculas (que podemos tratar como o que seja temperatura) e átomos do metal para o líquido na superfície da carne, e camada após camada de líquidos e tecidos, termina por cozinhar toda a peça de carne. O calor se transmite por uma leve mudança da condução, que é por um fluido em movimento, que absorve calor de outra fonte, muda de posição e o transmite para outra posição. Assim se dá parcialmente com as carnes em fornos, e especialmente, com os bem feitos churrascos em churrasqueiras de churrascarias (perdão pela sonoras mas grosseiras aliterações, irresistíveis), em que ar quente sobe das brasas e passa seu calor para a carne.

Mas há uma terceira forma, e esta é predominante no sistema solar e qualquer sistema estelar, embora relativamente rara no nosso dia a dia prático, mas estamos imersos nela.


A irradiação


Por irradiação é feito o tradicional churrasco campeiro gaúcho, que mesmo em meio ao vento, brasas em suficiente quantidade emitem radiação infravermelha, esta aquece a carne, e não se necessita contato, nem mesmo fluxo de ar quente, para tal realizar. É a radiação que mesmo sem contato com coisa alguma além de ar frio, em frente a uma churrasqueira, uma lareira, uma fogueira ou do incêndio de um "engolidor de fogo", sentimos calor em nosso rosto.

A transmissão de radiações infra-vermelhas é o mecanismo fundamental de transmissão de energia térmica no sistema solar a partir de sua fonte predominante, o Sol, e se dá até em microondas, mas neste caso, pode ser a importância das microondas desprezada, embora as tratemos para entender uma questão peculiar.

Todos que têm microondas sabem que estes aquecem diretamente água, as vezes alimentos de maneiras diferentes, como pão com geléia, na qual o pão fica suficientemente quente, enquanto a geléia fervente, ou ainda possuem aquele prato que esquenta mais que qualquer outro, ou mesmo aqueles que não podem ser colocados no microondas. Isto se dá porque há moléculas que são mais eficientes em converter determinadas frequências de radiação em calor que outras e o mesmo se dá com outras moléculas em relação a radiação infravermelha.

Assim como o Sol produz luz visível e até invisível na forma de ultravioleta, que esteve muito na moda ser tratado como sério problema ambiental, produz imensa quantidade de radiação infravermelha, e esta, ao contrário das microondas, é também produzida por todo o corpo quente e tal questão se mostrará fundamental adiante.


Os planetas

Antes de tratarmos de nosso planeta e sua atmosfera, especificamente, qualquer pessoa observa que a proximidade com uma lareira implica em mais sensação de calor, e mais distância em menos, assim, os planetas também apresentarão tal comportamento, apenas numa escala maior.

Logo, muito antes de qualquer instrumento de medida e sondas, os cientistas e até autores de ficção científica já sabiam que planetas mais próximos do Sol eram mais quentes e os mais afastados mais frios, e balisavam tais afirmações pela própria Terra e por noções desde simplórias até profundas de Física que tinham no século XX a caminho de três séculos, com poderosos tratamentos matemáticos inclusive.

Assim, Mercúrio seria o mais quente, Vênus temperatura entre a da Terra e a de Mercúrio, Marte mais frio e assim por diante. Na confiança de tal sólido raciocínio, escritores até de sólida formação científica como Isaac Asimov criaram imagens de Vênus com oceanos mornos e "sapos" exóticos, e filmes dos anos 50 o trataram como uma enorme floresta tropical, inclusive com "dinossauros".

Com os avanços da astronáutica e astronomia, chegou-se a valores de temperaturas para Mercúrio, situado na média a 57,9 milhões de quilômetros do Sol, entre -183 e 427 °C com média de 167 °C. Para Vênus, situando-se em média a 108 milhões de quilômetros do Sol, paradoxalmente ao teorizado, temperaturas médias e praticamente homogêneas da ordem de 462 °C. Aqui, já primeiramente, percebe-se que há um pequeno problema, no extremo mínimo das temperaturas de Mercúrio, que pode ser explicado pela convecção da atmosfera, que não existindo de maneira significativa neste, pouco distribui seu calor recebido e este se perde para a vastidão do espaço, e causa tais extremos baixos, tanto em seus pólos, como em seu lado no momento escuro, como nas suas profundezas não iluminadas, exatamente como, a seu modo, em nosso planeta.

Guardemos com cuidado a noção que os planetas perdem energia para o espaço, tal nos será deveras útil. Antes de analisarmos o problema que passou a ser Vênus, neste momento da história da ciência, apresentemos nosso planeta: raio orbital médio de 149,6 milhões de quilômetros, temperaturas mínima de -89°, máxima de 60° e média de 9°C.

A distância e a convecção justificam as diferenças em relação a Mercúrio, mas o que explicaria Vênus?

Antes de apresentarmos a resposta, observemos também, para ilustrar ainda mais do que trataremos, a peculiaridade de Tritão, satélite de Netuno, cuja temperatura à superfície é de cerca de -235 graus Celsius, que é é a mais baixa temperatura jamais medida no sistema solar, ainda mais baixa que a temperatura média de Plutão (cerca de -229°C), e Plutão fica a nunca menos de 4,4 bilhões de quilômetros do Sol. Isto se dá pelo simples fato que Tritão é menos absorvente à radiação infravermelha que Plutão.

Assim como a dissipação do calor para o espaço, esta absorvidade nos será de extrema valia como conceito mais que em Vênus, posteriormente para tratarmos nosso planeta.


O efeito estufa


O que explica a exagerada temperatura de Vênus é o que é no básico conhecido pelos jardineiros de reis desde a Renascença, e elevado ao nível de arte grandiosa pelos arquitetos, engenheiros e botânicos vitorianos em jardins botânicos que conservavam ambientes agradáveis isolados dos mais rigorosos invernos. Havendo um ambiente que permita entrar a luz do Sol, que gera calor, mas que não o permita sair para o ambiente, este se aquecerá. O detalhemos, embora no caso específico da atmosfera, o nome apenas é uma analogia, pois os mecanismos são um tanto diferentes.

De maneira extremamente resumida e genérica, efeito estufa no sentido atmosférico é ter-se um gás em um conjunto de gases que absorve radiação infravermelha e aquece os gases com que divide esta mistura. É como a água nos alimentos, que absorve radiação de microondas, ganha temperatura e aquece o restante do alimento ao seu redor. Igualmente, nada mais simples mesmo quando comparado a semelhantes fenômenos domésticos.

Nada mais simples, mas há um pequeno detalhe, uma pequena diferença, e a apresentemos.

Em massas significativamente grande de gases, e parecem que assim são atmosferas, os gases que primeiramente recebem e absorvem a radiação transmitem seu calor por convecção para os outros gases, e estes até ao seu "recipiente", seja ele um oceano e a crosta terrestre e a "amarra" que é a gravidade. Estes gases, líquidos e sólidos, até pouco absorvedores de radiação infravermelha, ao adquirirem temperatura, a liberam para o universo, quanto mais para a atmosfera, este calor em forma de radiação infravermelha, e como inicialmente, esta é novamente absorvida preferencialmente, produzindo aumento de temperatura, nas moléculas de gases do efeito estufa que mal a poderiam ter liberado. Assim, a radiação infravermelha se "aprisiona" nesta atmosfera, justificando o termo "estufa".

Em escala muitíssimo maior, Vênus o mesmo faz, e a um nível que o torna o planeta mais quente do sistema solar, e pela sua atmosfera que opera em poderosa distribuição por convecção, o faz ter também a menor variação de temperatura em sua superfície de todos os planetas.
Observemos também, que sendo sua atmosfera extremamente espessa, densa e pouco transparente, quem se aquece são os próprios gases de sua atmosfera, e não propriamente o solo que aqueça os gases por convecção, situação que se mostrará um tanto diversa em nosso planeta.

Portanto, o que chamamos de efeito estufa indepede diretamente do aquecimento por convecção, mas tal como vemos na Terra, pode receber a soma deste, quando lembramos do caso dos frios de Mercúrio. Destaquemos também que uma refletividade de luz visível não implica em refletividade de radiação infravermelha, como vemos em Vênus, que é altamente reflexivo a luz visível, e brilhante no céu, porém, ainda sim, apresenta efeito estufa altíssimo.

Temos de nos perguntar, após ter conhecido o exemplo máximo de Vênus e entendendo que efeito estufa existe, e é inequívoco, se ele ocorre no nosso planeta, e se por acaso já modificou seu estado ao longo de sua história, pois tal poderá nos ser um problema se por acaso voltar a ocorrer. Antes de abordarmos isso, tratemos dos gases que causam tal efeito, e como se comportam em nossa atmosfera.


Os gases do efeito estufa

O efeito estufa, especialmente o que seja atmosférico, desde sua descoberta por Jean-Baptiste Fourier, em 1827, e suas posteriores medições por John Tyndall para o caso do gás carbônico (dióxido de carbono, CO2) e vapor d'água, em 1860, e a teorização de Svante Arrhenius, em 1896, de que a duplicação da quantidade de CO2 na atmosfera poderia aumentar a sua temperatura de 5 a 6ºC. Com o avanço do estudo do fenômeno, se determinou que além do vapor d'água e do dióxido de carbono, o óxido nitroso (N2O), e porteriormente os perfluorocarbonos (PFC's ) também o seriam. Os últimos têm tido seu volume apenas variado na atmosfera pela ação humana, e abrindo parênteses em nossa apresentação, lembremos que devido ao seus efeitos na camada de ozônio, que é um processo já suficientemente controlado pela humanidade, possuem pouca importância no que tratamos.

Acrescentemos que não só o vapor d'água é absorvente de radiação infravermelha, mas também a água líquida, de onde a enorme área de água de nosso planeta funciona como um absorvente superficial de energia e transformação em calor e elevação de temperatura, o que apenas acrescenta calor a ser trocado no processo que abordamos, mas como dependenmos de água de forma vital, nem nos preocupemos com tais questões. O óxido nitroso possui taxas não significativas frente ao CO2, portanto, nos concentremos nos dois principais e que se mostram relacionados pelo carbono.

Aliás, por que temos tanto carbono?


O carbono como fruto dos processos estelares

Temos de alertar que o carbono é elemento bastante abundante, desde no total dos seres vivos na Terra, em todos os combustíveis fósseis, como nos calcários e diversos carbonatos inorgânicos, como na forma pura de diamante e grafita, pelo simples fato que é e foi produzido em quantidades gigantescas nas estrelas que ainda existem e que em sua "morte" e explosões deram origem ao nosso Sol e seus planetas, e forma parcela significativa da própria massa dos planetas gigantes gasosos, como Júpiter, a atmosfera de Vênus e para em parte nossa sorte, da Terra.


Metano e oxigênio, e a atmosfera primitiva


Da mesma maneira que em Vênus, nossa primitiva atmosfera apresentava-se com alto teor de CO2, e em adição vapor d'água, nitrogênio e metano. Com o surgimento da vida, massas enormes de metano foram combinadas com a água e o nitrogênio (seja na forma de amônia, seja não) para formar massas de simplíssimas bactérias e dentre estas, algumas puderam processar CO2 atmosférico e transformá-lo em recursos, como ainda fazem as chamadas cianobactérias, suas descendentes diretas, como a Spirulina, como as plantas e algas, na mais importante reação da natureza com tal gás, que pode ser apresentada de maneira genérica na seguinte forma:

6 CO2 + 12 H2O + luz → C6H12O6 + 6 H2O + 6 O2

Esta reação sofre variações de seus produtos e de seus coeficientes, mas modularmente, o é assim em qualquer um dos seres vivos que faça fotossíntese e das moléculas que produzem a partir de dióxido de carbono e água. Esta reação, desde o aparecimento dos seres vivos que transformam CO2 em carbohidratos, que é aquele produto ali generalizado, jogou na atmosfera oxigênio, até então inexistente, e tal permitiu a existência de outro tipo de bactéria, com a qual somos simbiontes, que são hoje os nossos corpúsculos chamados mitocôndrias.

Tais agora corpúsculos, aliados com outras bactérias, a ação dos raios e incêndios nos seres vivos ou seus restos, ou mesmo a decomposição vulcânica de diversos minerais, aliada a própria emissão de CO2 pelos geologismos, devolvia este CO2 para a atmosfera, e embora a atmosfera tenha mudado drasticamente de composição, estabeleceu-se um fluxo de CO2 para os fotossintetizantes, e a devolução deste pelos seres vivos e outros processos, continuamente, embora variante, até que tal ciclo estabeleceu-se como predominante em todo o sistema ecológico posterior na Terra.

Poderíamos aqui despejar enorme número de reações de compostos de carbonos diversos e minerais para mostrar quimicamente a devolução de CO2 para a atmosfera, mas nos concentraremos em duas extremamente simples e uma um tanto diversa.

C + O2 → CO2

Esta equação descreve mesmo a reação de diamantes a altíssima temperatura com o oxigênio da atmosfera até o carvão de nossas churrasqueiras, e mesmo a queima de gordura em nosso corpo, em determinado nível, embora um tanto distorcida do exato que ocorre.

CH4 + 2 O2 → CO2 + 2 H2O

Esta também mostra parte das reações que acontecem em inúmeros processos naturais, e deve ser destacada para mostrar que atmosfericamente, o metano, embora muito mais poderoso como gás de efeito estufa que o CO2, não precisa ser tratado com muito cuidado no todo do problema, pois converte-se em meio a uma atmosfera como a nossa em CO2, e até pelo seu volume possível de se manter incólume à ação do oxigênio, seja lentamente, seja em qualquer explosão fortuita.

Por último, temos a decomposição do carbonato de cálcio, que é exatamente parte do que fazemos para conduzir muitas de nossas construções e muito de nossa indústria.

CaCO3 → CaO + CO2

Agora percebamos, que de todos as reações que podemos ter de reações de uma miríade de compostos de carbono, produzindo CO2, somente nas reações da fotossíntese o colocamos novamente em moléculas "queimáveis". Então, neste jogo de equações, temos o ciclo de carbono, que é fundamental para que nosso planeta não seja uma bola de superfície gelada, como apresentaremos, nem um Vênus mais distante do Sol.


As glaciações e a "bola de neve"

Como muitos pontos na história da ciência, idéias antes tomadas como certas, e já apresentamos uma, posteriormente se mostram errôneas e/ou incompletas e agora, apresentaremos mais um. Durante anos, os cientistas consideraram que a terra passou de um passado quente e direcionou-se a uma oscilação entre a temperatura que hoje temos, entre variações no passado entre climais mais quentes e as eras glacias. Mas sabemos hoje que estavam errados.

Cálculos levaram os cientistas durante o período da Guerra Fria, calculando os efeitos de um "inverno nuclear", causado por partículas jogadas na atmosfera terrestre por explosões nucleares, fenômeno que similares adiante trataremos, a perceber que abaixo de um determinado nível de absorvidade de infravermelho na atmosfera, e acima de uma determinada refletividade, o balanço de calor fornecido pelo Sol, e do perdido para o espaço, tenderia a fazer a Terra conduzir-se para um estado de congelamento total, que podemos definir como sua temperatura mínima possível em função de sua composição média e posição em relação ao Sol.

Os fundamentos físicos de tais hipóteses e sua teorização em termodinâmica nesta escala foram apresentados pela primeira vez no artigo "The effect of solar radiation variations on the climate of the earth.". do pesquisador M.I. Budyko em 1969 no periódico Tellus (21: 611-619.). Estabelecido que tal situação era fisicamente possível, outros cientistas, em especial geólogos e paleontólogos, começaram a tratar de associar inúmeros registros de rochas com claros sinais de erosão por geleiras, mais do que nítidos, em diversos pontos do globo, em todos os continentes.

Tal hipótese de uma glaciação global foi chamada de "hipótese da Terra bola de neve" e hoje é sólida ao ponto de nem mesmo ser mais criticada em suas principais afirmações e é fundamental para se entender um determinado andamento da evolução dos seres vivos e da própria formação de inúmeras regiões e suas rochas e inclusive, levou seu período geológico a ganhar o nome de Criogeniano.

Observemos que as formas de vida já existiam desde 3,7 a 3,8 bilhões de anos atrás, e portanto, tal período, que é localizado em entre 850 milhões e 630 milhões de anos atrás, não foi determinante com seu fim na formação da vida, mas sim, em sua presença em volume, como tal evidencia-se nas formas de vida simples como ainda existem no Ártico e Antártico, em pleno gelo.

Acrescente-se que em 1998, Paul Hoffmann e Daniel Schrag, da Universidade de Harvard, apresentaram que este período apresentou igualmente variações em sua intensidade e escala pelo glogo, sendo, portanto, variável, como sempre se mostrou o clima do planeta, mesmo em suas flutuações maiores como esta e posteriores, de maior temperatura e mesmo dentro dos limites bastante fortes que temos, que são resultantes da geração de calor pelo Sol e da perda para o espaço, que não podem ser nem maiores nem menores que valores bastante estritos.

Sabendo-se que não teria sido a vida que o encerrou, pois não significante, nem variações na emissão de energia pelo Sol que se mostra bastante constante no tempo, qual a hipótese para o seu fim e o reestabelecimento de uma temperatura média global que permite a formação das grandes massas de água líquida e seus ciclos de chuva que nos períodos posteriores?

A resposta está em qualquer erupção vulcânica, pois embora os geologismos não sejam capazes por si de aquecer a Terra com sua quantidade de energia disponível, o são de sinergizar com o Sol fenomenologias de esfeito estufa na atmosfera, e como vimos, o carbono é abundante, assim como o oxigênio, na geologia de nosso planeta, e como evidencia-se inclusive nos chamados "poços da morte" na África*, sua produção de CO2 pode ser extremamente significativa ao ambiente.

*"Poços da morte" são regiões baixas, próximas a fontes geológicas de dióxido de carbono, na qual morrem animais, especialmente de pequeno porte, que se aventuram em meio a suas vegetações exuberantes em meio a atmosfera saturada de CO2, que os leva a estados letárgicos e posteriormente à morte por simples asfixia.

Assim, por acúmulo de CO2 na atmosfera, erupção após erupção, e sem algas suficientes nem muito menos florestas para por fotossínteses transformar aquela massa crescente de carbono, o efeito estufa, motorizado pelo permanente e muito mais poderoso Sol, prevaleceu sobre a perda de calor, e uma era de ecologia antes não existente, e a partir de então, mesmo com tropeços e variações de maior escala, como sempre presente , se estabeleceu.

O conjunto de fenômenos que resultou na "bola de neve" ainda hoje, é o mesmo que em parte nos faz possuirmos montanhas geladas mesmo nas mais tropicais latitudes, e mesmo sob o mais intenso Sol, e notemos, em meio exatamente a atmosferas não adequadas a reter calor e em ambiente de superfícies tais que não aquecem-se o suficiente e mesmo quando aquecidas, não possuem gases que tal temperaturas mantenham e retenham a permanente e predominante dissipação para o espaço.

Para fecharmos este bloco, tratemos de colocar as flutuações menores da formação de gelo, que são as glaciações, que como evidencia-se nas maiores florestas da Terra que são as florestas geladas do hemisfério norte, e na presença de mamíferos de grande porte como os mamutes de nosso passado, e mesmo hoje com as baleias no Ártico e Antártico, na verdade nunca foram um problema terrível e devastador para a vida, e podem ser, inclusive, nossa permanente garantia de nem voltarmos a ser uma bola de neve nem um Vênus mais ameno, mas ainda asim, mortal.

Além do grande período de completo congelamento, a Terra flutua no volume-área de suas massas de gelo, especialmente as do norte em ciclos relativamente bem estabelecidos e hoje conhecidos, tanto na história, pelos geólogos e paleontólogos, quanto em seus mecanismos formadores, pelos paleoclimatólogos e climatólogos em conjunto com astrofísicos e astrônomos. Os motivos e seus mecanismos seriam por demais extensos para serem detalhados aqui e agora, e seriam o somatório de determinados movimentos da Terra no espaço e o que estes causam em seu posicionamento e movimentos em relação ao Sol.

A Terra possui a precessão de seus equinócios, que é a modificação de seu eixo de rotação em relação ao plano de sua órbita ao redor do Sol, e que se dá em ciclos de 25.800 anos. Mesmo neste movimento, a Terra ainda apresenta uma sutil variação de valor desta inclinação, que forma um cone, e portanto, temos um ciclo sobre ainda outro ciclo, uma obliquidade. A Terra também possui uma variação de sua excentricidade orbital, já que o Sol está num dos focos de uma elipse que é sua órbita, e tal elipse pode variar em forma, tendendo a ser mais circular ou ainda mais alongada.

A Terra, por fim, apresenta uma variação do ângulo do plano que esta órbila elíptica faz ao redor do Sol, em relação ao conjunto dos outros planetas, digamos, um plano médio do sistema solar. Esta variações orbitais são chamadas de ciclos de Milankovitch (Milutin Milanković, engenheiro e geofísico sérvio, 1879-1958).

Tais ciclos, como os populares "biorrítmos" dos anos 70 e 80 e ainda hoje em determinados círculos de "seguidores" determinariam os nossos ânimos, determinam o comportamento da Terra em relação à recepção de radiação solar, e se radiação, incluiriam as infravermelhas, e portanto, destaquemos, sua possível temperatura, portanto, somando aqui, também a composição da atmosfera e a refletividade da superfície.

Aqui, recomendaria para uma noções extras sobre tal tema uma consulta a onipresente e bastante confiável Wikipédia em inglês.

Milankovitch cycles - http://en.wikipedia.org/wiki/Milankovitch_cycles

Mas houve também outro conjunto de fenômenos, que não foram tão cíclicos e nem voltados na direção da diminuição de temperatura, e estes sim, foram devastadores para a vida, e estes detalharemos mais profundamente.


Os períodos de extrema temperatura e as extinções em massa


Assim como saltei por analisar qualquer era glacial passada além da maior de todas, e nem mesmo me concentrei na última, apenas me concentrarei em dois períodos marcantes de nosso passado, intimamente ligados ao que ponto quero neste texto chegar.

Primeiro, apresentemos a marcante extinção do Permiano-Triássico, que ocorreu há aproximadamente 251 milhões de anos. É o exemplo extremo das extinções conhecidas na história da vida, e atingiu 95 % das espécies do planeta, alterando completamente o curso da evolução, tanto em fauna quanto em flora, e conduzindo ao que popularmente chamamos de era dos dinossauros.

Sua causa, hoje, é atribuída com bastante confiança a uma mega-erupção na massa de terra que hoje é a Sibéria, causando uma elevação de temperaturas da ordem de 5 °C na temperatura média terrestre pelo inabsorvível CO2 na escala que uma erupção de grande escala produz.

Este primeiro aumento de temperatura teria, assim como na atmosfera, aumentado a temperatura dos oceanos, e estes, ao aquecerem-se, liberam uma das formas de carbono presente na crosta terrestre, que é o metano na forma de "hidrato de metano", uma mescla de metano com gelo no fundo dos oceanos. Este metano, nestas situações extremas tremendamente significativo, jogado na atmosfera, teria elevado em mais 10°C a temperatura do planeta e tal elevação de temperatura não foi suportada nem permitiu no tempo a adaptação das formas de vida.

Outro período se destacar é o Cretáceo, período final da era dos dinossauros, que apresentou também elevação global das temperaturas da Terra por erupções vulcânicas e total de carbono na atmosfera, e tal se deu, que mesmo animais que propriamente não são comprovadamente animais aptos a enfrentar com pelos e penas climas frios, possuem fósseis encontrados a apenas 15° de latitude dos pólos do período. A extinção final deste período não é atribuida pelos pesquisadores como rsultante de um macroaquecimento lobal e suas consequências, mas sim devido a uma grande colisão meteorítica, mas apenar disso, podemos tomar estes dois momentos da história como a sólida base do argumento que pretendemos.


A absorção de carbono e sua principal reação

Se tais colossais massas de carbono foram liberadas na atmosfera, e ainda estamos aqui, como também estiveram antes de mudanças e finalmente tragédias os dinossauros, durante todo o Mesozóico, entre 251 milhões a 65 milhões de anos atrás?

A resposta é elementar, e está no simples fato que plantas "se alimentam" de carbono e o Sol é fator predominante e permanente em todos os processos vivos, ainda que muito indiretamente. Assim a reação de fotossíntese, na primeira disponibilidade de reagentes, e de sua fonte de luz, provê a transformação de bilhões de toneladas de CO2 atmosférico e diluído nos oceanos em bilhões de toneladas de carbohidratos e diminuem a concentração deste e liberam o oxigênio a atmosfera, permitindo a abundância de animais e outros e reduzindo o agora acredito, já indiscutível efeito estufa na escala planetária.

Tais reservas de carbohidrato, obviamente, não são apenas crescentes, mas podem flutuar, pois as mesmas espécies de árvores que hoje incendeiam na América do Norte, por exemplo, eram praticamente as mesmas no tempo dos dinossauros incendiavam, e igualmente as plantas aquáticas que hoje se decompõe nos pântanos do mundo similares se decompunham quando nem os dinossauros viviam, e as algas e bactérias microscópicas que também se decompõe hoje são similares quando não as mesmas que as que se decompunham liberando CO2 e metano quando nem mesmo qualquer animal habitava os continentes.

Mas assim como incendeiam as florestas e se decompõe-se as plantas e algas, junto com diversos outros seres vivos de todos os reinos, e jogam novamente o carbono na atmosfera, também o ocultam e mostraremos como e onde.


Os esconderijos do carbono


Embora acima tenha arranhado a questão de metano aprisionado no fundo dos oceanos e seu perigoso desprendimento, não é só em gás que possa se sublimar repentinamente que oculta-se o carbono em nosso planeta, e que possa ser libertado.

Milhões de toneladas de árvores foram cobertas na história da Terra ao longo de milhões de anos por enchentes e cinzas vulcânicas iguais as que hoje ainda o fazem. Igualmente quilômetros quadrados de pântanos. Igualmente, milhões de toneladas de animais diversos, que alimentaram-se dos seres fosfossintetizantes, morreram com estas florestas e pântanos, e em especial, transformaram plantas e outros seres vivos que ou devoraram ou decompuseram, produzindo proteínas e gorduras, depositaram-se nos vastos fundos dos oceanos, produzindo camadas e mais camadas de substâncias químicas a serem modificadas ao longo do tempo pela permanente geologia de nosso planeta, mas mantendo em maior quantidade nestes depósitos o carbono. Estes são os nossos combustíveis fósseis em todas as suas variações: o carvão, a turfa, o petróleo em inúmeros variações de composição e inúmeras formas de armazenamento em minerais, assim como o gás natural.

São estes exatamente os que queimamos, ou mesmo os que modificamos, produzindo plásticos e outros produtos, e estes são exatamente os que mais cedo e até imediatamente, ou mais tarde, virarão novamente CO2 na atmosfera.

Claro que alimentam as plantas, inclusive, obviamente, as que plantamos. Mas notemos que não estão voltando para de onde os tiramos, logo, temos já um pequeno problema e o pior, que não é realmente o maior, e aqui estará meu argumento final.


A nossa liberação de carbono

Temos sempre em vista que devemos diferenciar e mais que isso não confundir o que seja taxa com o que seja montante.

Até desconsiderei que animais marinhos mortos levam para o fundo dos oceanos carbono. Claro que os processos de formação de carbono na forma de combustíveis fósseis continuam. Claro que ele fixa na natureza em conchas de moluscos e corais, mesmo em escala significativa. Claro que os nossos processos, mesmo com toda nossa escala industral ainda é pouco significativo frente aos processos naturais (como se não fosse de minha natureza lembrar que também fazemos parte da natureza, mesmo com nossos conceitos sobre o que possa ser definido como artificial) e inclusive citarei números de quem faz afirmações contra o que seja o aquecimento global.

Um exemplo de tais afirmações pode ser visto nesta citação: "Antes de tudo, convém ressaltar que mais de 97% das emissões de CO2 são naturais, cabendo ao homem menos de 3%, total que seria responsável por uma minúscula fração do efeito-estufa atual, algo em torno de 1,1%." (AQUECIMENTO GLOBAL: NATURAL OU ANTRÓPOGÊNICO ?; Luiz Carlos Baldicero Molion; Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas; http://www.alerta.inf.br/files.php?file=Molion_aquecimento_natural_ou_antropogenico.doc. ).

Como já ouvi autoridade em clima que se opõe ao aquecimento global afirmando em entrevistas que o volume de gás carbônico produzido pelo homem é 0,6 % do total produzido pela natureza.

E como tenho quase o vício de levar argumentos ao extremo, e colocar o que chamo de "números críticos", colocarei tal número em 0,1 % e farei a seguinte pergunta: O que interessa a variação e participação se o que interessa é o acúmulo? Ou seja: taxa de variação de um montante não é o montante variado.

Para encerrar uma possível discussão, se acumularmos 0,01 % do CO2 do cliclo de carbono na atmosfera, e este acúmulo, como acúmulo que é, não for absorvido em algum ciclo, em 100 anos colocaremos 1% do CO2 dos ciclos totais na atmosfera, e pouco interessa o restante do ciclo.

Assim, só para apresentar números, existem estimativas de que de 1971 a 1990, 230 bilhões de toneladas de carbono na forma de CO2 foram introduzidos na atmosfera terrestre pela queima de carvão e petróleo, assim como entre 1850 e 1990 estima-se em 120 bilhões de toneladas de carbono na forma de CO2 transferidos para a atmosfera na forma de desmatamento (Efeito Estufa - Um problema que envolve todas as nações - www.fbds.org.br - http://www.fbds.org.br/IMG/doc-13.rtf.).

Some-se a estes evidentes fatos que as estimativas sobre combustíveis fósseis apontam que possuímos carvão para mais 400 anos, gás natural para um tempo de século, certamente, e petróleo aos que tudo nos mostra, para ainda um tempo mais otimista como reserva energética e lamentável para nosso problema do que as mais otimistas estimativas do século XX, exatamente porque ampliamos nossa escala e rigor de prospecção, além de seus métodos de aproveitamento, que se no séc. XIX tiravam pouco petróleo de qualquer poço, hoje tiram até praticamente a última gota de todos, e estes todos hoje são muitos. Isso sem falar no próprio uso do metano dos hidratos de gás pelos oceanos.

Estas movimentações da massa de carbono do subsolo e da alteração da biomassa terrestre pela atividade humana, levaram a medida do CO2 na atmosfera de 313 partes por milhão (ppm) em 1960 para 375 ppm em 2005, com uma taxa máxima registrada em bolhas de gelo glacial em aproximadamente 300 ppm, logo, não se discute que estamos alterando, e para maiores valores, a participação em CO2 na nossa atmosfera.

Mas por incrível que pareça para meu argumento final, esqueçamos deste detalhe, embora em texto futuro espero encarar o assunto que muito me atrai que é a humanidade como "força geológica".

Para mais dados e diversas referências confiáveis inclusive em opiniões divergentes, novamente: Greenhouse effect http://en.wikipedia.org/wiki/Greenhouse_effect


O resfriamento global

Em medições desde os anos 40-50, destacadamente apresentadas por S. Ichtiaque Rasool e Stephe H. Schneider no artigo "Atmospheric Carbon Dioxide and Aerosols: Effects of Large Increases on Global Climate" na Science em julho de 1971, independentemente dos fundamentos do efeito estufa (notem que não estamos aqui falando sobre aquecimento global) formou-se a conceituação de que a crescente atividade humana desde a revolução industrial seria também causadora do aumento da refletividade da atmosfera à luminosidade e radições infravermelhas pelos aerossóis de partículas.

Este entendimento da atividade humana como fator de modificação do clima terrestre, completamente independente do efeito estufa, foi somado pelo crescente entendimento dos seus mecanismos modelagem e simulação de seus efeitos, tanto pelo estudo de um possível inverno nuclear quanto dos diversos invernos vulcânicos, tanto pela vulcanologia quanto pela paelontologia, e da relação destes com o processo evolutivo humano (o que adiante abordaremos em mais alguns detalhes) e como todos estes campos são interligados pelo seu fator básico, formaram um campo ainda mais sólido que o que seja hoje a discussão sobre aquecimento global.

Entende-se também que especialmente nos países mais desenvolvidos, até porque partículas são mais perturbadoras, em especial nas áreas urbanas, que um gás inofensivo (relativamente) e invisível, ao longo do desenvolvimento de nossas tecnologias e escalas industriais, a emissão de partículas foi sendo diminuída principalmente após os anos 50. O que é de se destacar neste ponto é que por isso qualquer efeito esfufa que por um acaso estivéssemos sujeitos, estaria sendo contrabalançado por um bloqueio ao infravermelho.

Mais uma vez, para complementar noções e vastas referências:

Global cooling http://en.wikipedia.org/wiki/Global_cooling

Global dimming http://en.wikipedia.org/wiki/Global_dimming

Mas o mais importante no meu argumento, e que o acima passa a partir de ser agora apenas parte, e não necessariamente significativa, é o que apresento agora, que condensa tudo que apresentei, lembrando: efeito estufa, gases vulcânicos, modificações possíveis da composição da atmosfera, e suas graves consequências para a vida, quanto mais para a nossa em especial.


As catástrofes vulcânicas e seus invernos


Já citamos o salvador efeito estufa da "Terra bola de neve", já citamos a extinção do Permiano, já citamos o clima do Cretáceo. Agora, apoiados nos efeitos recém apresentados, apresentemos alguns "invernos" súbitos, para não ser acusado que só falei uma vez de esfriamento, mas exatamente por estes invernos, temos a certeza de que certos fenômenos podem vir a se repetir, e em enormes escalas.

A primeira que abordo é fundamental para se entender a atual diversidade humana, e inclusive seu processo de ocupação do mundo, é a erupção ocorrida entre 70 a 75 mil no vulcão onde hoje é o lago Toba, em Sumatra, que causou um "efeito gargalo" na população humana de algumas centenas de milhares a talvez 10 mil ou mesmo mil casais (Stanley H. Ambrose (1998). "Late Pleistocene human population bottlenecks, volcanic winter, and differentiation of modern humans". Journal of Human Evolution 34 (6): 623–651).

É de se destacar que desde este evento, uma erupção desta escala, tem sido, desde este período, ausente em nossa história, mas de forma alguma deixará de ocorrer, e tal se dará novamente mais cedo ou mais tarde, até porque o vulcão Toba não está dentre os maiores da história da Terra, nem entre os maiores hoje existentes, ainda que há bastante inativos.

Posteriormente, podemos citar mais recentemente, e com especial destaque, os eventos do século XIX, já numa época de muito mais seguros registros de fenômenos climáticos, como a erupção do Tambora, na Indonésia, em 1815; a notória em número de vítimas diretas erupção do Krakatoa, em 1883, e mesmo, já no século XX, por exemplo, na erupção do Pinatubo, nas Filipinas, em 1991, onde podemos nos poupar de lembrar a que ponto chegamos no levantamento de dados sobre produção agrícola e climatologia.

Recomendo: Volcanic winter http://en.wikipedia.org/wiki/Volcanic_winter

Todas estas erupções causaram invernos vulcânicos, até com graves consequências de fomes em continente relativamente ricos para os períodos em seu tempo, como a Europa. Acredito também que não necessitarei alertar que alguns destes invernos causaram fomes em um escala de agricultura de população mundial de bilhão de habitantes e hoje causariam devastação em escala 6 a 7 vezes maior, e devo lembrar que hoje, parte desta produção agrícola e pecuária se dá sobre terras antigamente ocupadas por florestas e outras vegetações, e ainda parte destas florestas foi e é usada desde produção de madeira até simplesmente para ser queimada como lenha ou carvão vegetal.

Claro que agora quem me lê deve-se perguntar: Mas o que tem relação invernos vulcânicos com um possível aquecimento global?

Ou em outras palavras: Onde este maluco quer chegar, com todo este despejo de dados e descrição de "ciência de almanaque"?

Qual seu tão anunciado argumento?


Será um Q.E.D.?

A atividade humana e as grandes erupções guardam íntima relação na medida que:

1)Erupções acontecem e causam efeitos globais.

2)Erupções acontecem e causam devastação global possível da vegetação, e nem preciso apresentar tal questão, pois esta me parece óbvia na medida que se fomes são causadas, certamente o foram por destruição da vegetação, no caso, aquela com que nos alimentamos, e se destruiu vegetação comestível, o podem destruir qualquer uma, incluindo florestas, e estes fotossintetizantes todos são os que retiram carbono da atmosfera.

3)Erupções aconteceram e acontecerão e jogam na atmosfera quantidade colossais de CO2, e para não sermos conduzidos a um clima do Cretáceo ou uma extinção do Permiano, este CO2 tem de ser absorvido pelos fotossintetizantes, pois outro processo global que o faça não existe.

Não preciso lembrar que por mais que poeira seja jogada na atmosfera, esta mais cedo ou mais tarde se precipita, e após isto ocorrer, inexoravelmente o Sol e sua radiação infravermelha prevalecerão sobre todos os outros processos, e a temperatura da atmosfera voltará a depender da refletividade da superfície, da perda de energia para o espaço e obviamente, do efeito estufa.

Acredito, que pelo meio deste bloco, meu argumento já é claro, e posso me poupar de descrevê-lo mais detalhadamente em sua parte humana por aqui, embora noutro futuro texto o abordarei.

Resumidamente, os riscos de sermos pegos por uma grande erupção, com colossal desprendimento de carbono existem e são inegáveis, e tal desprendimento podem ser adicionados a uma concentração alta de CO2 na atmosfera por nossa escala de atividade causada, e sua absorção pode ser minimizada na massa total de fotossintetizantes minimizada também por nossa atividade tanto de alimentação quanto de exploração e portanto, pelos próprios volumes envolvidos:

Não interessa que estejamos modificando a atmosfera significativamente.

Não interessa que tal modificação esteja aumentando um possível efeito estufa não contrabalançado por outros efeitos, como poeira ou ciclos glaciais.

Não interessa que esteja acontecendo ou não um aquecimento global.

Não interessa que estejamos retirando o carbono de seus esconderijos geológicos e os estejamos jogando na atmosfera em escala geológica.

Não interessa nem mesmo que estejamos destruindo o volume total dos fotossintetizantes.

O que interessa é que não sejamos parte mesmo mínima de um possível e inexorável problema maior que certa e inevitavelmente enfrentaremos, e mesmo que parte nula deste sejamos, temos de estar preparados para compensá-lo, ou não perturbar sua compensação, e pela sua escala, mundialmente e desde agora.

Como diria um professor do básico do meu curso de engenharia:

Terei sido claro?

sexta-feira, 25 de abril de 2008

SOMOS ARRANJOS DE MOLÉCULAS - Parte II

Mente - Nada mais que moléculas trocando outras moléculas e cargas elétricas

Após apresentarmos o que são os seres vivos, de uma maneira que poderia chamar de ANALÍTICA, tratemos de detalhe que a muitos perturba, quando não permite o que considero um conjunto errôneo, e até perigoso, de afirmações, sobre determinada parte de nossos corpos, que exatamente nos permite fazer tal análise (guardem com carinho este "raciocínio circular").
Tomaremos determinada parte destes (e apenas de alguns) seres vivos, que é seu sistema nervoso, que começa a se desenvolver dentro do processo evolutivo lá nos primeiros animais com algum conjunto de células para este fim, chegando até os mais sofisticados cerebralmente dos seres vivos, que são por exemplo, os grandes primatas (entre os quais estes que escrevem e lêem), os elefantes, os cetáceos, etc. O chamemos de cérebro (óbvio) e lembremos sempre deste termo, pois o usaremos para tratar algo que nele funciona, sua história, e que gera tanta distorção e idéias, quando não confusas, tolas, que serão tratadas posteriormente.
Para apresentar tal quadro complexo, e seu avanço no tempo, farei algumas sutis "semi-desonestidades intelectuais", e não tratarei do desenvolvimento das reações a estímulos, que podemos chamar como o nível mais primário do que seja mente, nem mesmo em seres unicelulares, como qualquer paramécio, nem mesmo nas exóticas a nós euglenas, que não podemos dizer exatamente que são mais próximas a nossos mais antigos ancestrais unicelulares, nem mesmo a plantas, das quais nem mesmo trataremos, apesar de existirem plantas com sensibilidade e resposta a estímulos, de maneira similar - mas nem tanto - aos nossos sistemas nervovos, como as "sensitivas" ou as plantas carnívoras.

Voltemos no passado.

As esponjas
Uma esponja não reage, uma esponja não se mexe, uma esponja simplesmente num lugar fica, e aguarda pacientemente que nutrientes por ela passem, e assim vai vivendo, e por sinal, muito bem, há centenas de milhões de anos.
Esponjas, de um certo modo de ver, e o termo até é grosseiro, são os mais vegetativos dos animais.
Mas num belo dia, as células internas de alguma esponja passaram a ter cílios, que são modificações que surgem facilmente nas células, como vemos nas bactérias (não estamos aqui falando de um flagelo ou apêndice, hábil e sofisticado) e sim de uma simples extensão de sua superfície celular, e esta aumentou a área de contato de seu interior com o meio a ser filtrado, e tornou sua filtração mais eficiente.
Como mais eficiente, tal modificação passou a gerar vantagem e esta estabeleceu-se, pela seleção natural, como dominante em determinada população. Mais uma vez, jamais conseguimos em biologia escapar do que seja o processo evolutivo. Mas continuemos.

Esta "ciliação" interna, uma vez dominante e agora geral entre população de esponjas, passou a poder ser mais uma vez modificada, e um belo dia, tal cílio passou a ter capacidade de resposta a retenção de uma partícula qualquer de nutriente. Nascia aqui, a reação ao estímulo, que é a chave de todo ato de um animal, seja ele qual for. Diferenciamos desde já o que seja um ato, que implica em reação, a um mecanismo de metabolismo propriamente dito, que embora possa ser reação a um estímulo, não será ligado diretamente a coisa alguma que possamos tratar como mente, como veremos adiante, e que mesmo agora, já me parece claro, pois o nascimento da mente se dá exatamente nos primeiros mecanismos, nos primeiros movimentos, apenas desenvolvendo-se sua capacidade de análise/avaliação e reações necessárias, além de outros processos, posteriormente a construir-se.
Tal esponja, agora, passa a ser potencialmente um predador, e estenderemos este conceito para além do animal que mata outro, mas o que aprisiona, ou consome parte doutro, pois ninguém negaria que uma girafa é um animal que "preda" uma acácia, por mais passiva que esta seja.
De aumento em aumento da reação dos cílios, um belo dia uma destas esponjas passou a ter uma parte de seu corpo, que em conjunto de suas células, modificava sua posição no meio, por contração ou expansão de suas partes, e passamos a ter o primeiro animal que apresenta movimento, um cnidário.

Os cnidários
Aqui temos que estes novos animais, ancestrais das modernas anêmonas, ao terem contato de um dos cílios (sejam internos, sejam externos) de suas células, causam não só mais a reação de seu componente celular ao estímulo, mas a reação de um conjunto de suas células, e agora, podem modificar sua configuração geométrica para trazer partículas de alimento (que podem já a muito serem outros animais) para uma parte de seu corpo que não se dedique mais à captura, mas apenas ao que seja uma absorção melhorada das que haviam nas esponjas, e não percam energia e tempo com cílios, iniciando uma crescente especialização de tecidos, gerando mais e mais vantagem na predação (ou absorção, dependendo do ponto de vista da vítima).
Um dia, determinado cnidário, preso há milênios como seus ancestrais a rochas, ou ainda apenas flutuando com seus movimentos apenas de contração, adquiriu a capacidade de, ao invés de mover-se para talvez, por sorte, apreender alimento, reagir a sua presença e mudar totalmente de posição, passando a flutuar, quase aleatoriamente, e aos movimentos quase espasmódicos, atingir ambientes com mais nutrientes.

Chamemos esta primeira "água-viva" muito primária, simplesmente de água-viva, já nos basta.

As águas vivas

De capacidade de nadar em capacidade de nadar, flutuavam tais águas vivas pelos oceanos como ainda flutuam, e desenvolveram filamentos longos, aumentando sua área de contato, seu raio de ação, e ainda hoje tal sistema é tão eficiente que predam peixes muito mais sofisticados que elas, e até machucam descendentes destes peixes, que se aventuram em suas roupas de borracha e máscaras em seu ambiente mostrando o sucesso de tal disposição de componentes e capacidade. Tanto variaram que voltaram a poderem se fixar quando necessário ou conveniente, adquirir novas formas de reprodução e variar suas formas nas mais diversas configurações, até que um dia, uma destas configurações passou a ser de um tubo, um tanto distante da variação que hoje chamamos de pepino-do-mar, mas fundamentalmente, no básico, a mesma disposição de partes (se é que dá para se dizer que têm partes animais tão simples) e com o acréscimo de que os alimentos entravam por uma extremidade, eram suficientemente absorvidos por um lado e saíam pelo outro. Nascia o primeiro verme.

Os vermes

Este primeiro verme, movimentando-se em serpenteio ou espasmos por meio ao lodo, areia e a própria água, passou a ter uma característica nova. Ele avançava, recuava, movimentava-se a bombordo, estibordo, abaixo e acima, e passou a adquirir orientação frente a estímulos, como ainda hoje têm todos os vermes do planeta. Diferentemente de seus ancestrais, não fica na espera de cruzar tactilmente por alimento. Ele o podia buscar, seja ele qual seja. Tal vantagem explodiu em inúmeras formas no Cambriano, e de tão eficiente, hoje nos dá, de mais de trinta designs que conhecemos, pelo menos três grandes filos básicos, os insetos, senhores absolutos da diversidade, os cordados, senhores todos poderosos do tamanho e complexidade, e os moluscos, mais tardios de todos, e em alguns momentos, senhores dos mares do mundo.
Mas não nos concentremos em história da vida, e sim em história da mente, e de preferência, nos nossos ancestrais diretos.
Se observarmos estes três filos, e ainda noutros diversos exóticos do Cambriano, veremos uma característica em comum, que não é gritante ao observarmos uma minhoca ou uma lombriga, mas o é quando observamos uma planária, uma lesma, um gafanhoto ou ao nosso espelho: simetria bilateral, dois lados em equilíbrio de estruturas, mesmo que com pequenas modificações.
Voltemos um pouco, e pensemos no verme alongado, de simetria radial, sem "lado" definido acima. Lembremo-nos de que se orientava no espaço. Observemos que se tem uma boca, pode passar a ter olhos ao redor desta, em células que reagiam a luz e evoluiram no mais primitivo olho imaginado. Mas é de se pensar, que antes de evoluir inúmeros olhos ao redor de uma boca, deve, por simples economia, desenvolver-se um e apenas um olho.
Notemos que este olho, por simples geometria, ficaria em algum ponto do corpo, e o mais favorável a capturar alimento seria junto a boca.
Pausa: antes que reclamem que coloquei primeiro a evolução dos olhos antes de qualquer outro sentido além do tato, o olfato, do paladar ou da audição, desculpem, vamos ter de acordo que precisamos nos focar em apenas um, e o único que necessitamos é o mais simples do ponto de vista de fonte, pois a luz abunda desde que o Sol existe, e este é mais velho que a vida na Terra, e ao que parece, não conheço nenhuma minhoca com ouvidos, porém conheço verme com estruturas visuais, e olfato e paladar são químicos, portanto, retornemos.
Estabelecido que um novo verme surge na competição entre os inúmeros vermes, chega o momento que um destes vermes, ao invés de ter um único olho, que o orienta somente para a direção no qual "veja" um alimento, este tenha dois, e possa pela primeira vez tomar um decisão, e tenha um a bombordo ou estibordo, para rumar. Está definido um primeiro ancestral de simetria bilateral.

Os vermes de simetria bilateral

Um verme que tenha dois olhos, e estes gerem estímulos para o resto de seu corpo, necessitaria agora - cuidado, as vezes me expresso por conceituações lamarckianas ou de planejamento inteligente, mas isto apenas é para um efeito didático e quase um infeliz vício de estilo - de uma central de processamento de tal informação que tem de gerar um conjunto mais compexo de reações, e tal - agora serei darwiniano - será uma vantagem, enorme.
Surge um cérebro, por menor ou mais difuso que o seja, coordenando sua rede de transmissão de estímulos e obtenção de resultados pela predação. Aqui está o primeiro predador legítimo. Ele capta o estímulo, o identifica minimamente, pois pode ser uma pedra, e ruma para ele, mesmo com os riscos de ser um igual com tamanho maior e o caçador passe a ser a presa, mas tal problema será resolvido de maneira maravilhosa pela seleção natural, gerando inclusive os sangue-sugas que agarram-se aos mais fortes leões, da mesma maneira que devem ter se agarrado aos mais gigantescos dinossauros.
Tal predador "buscador", que avança rumo a seu alimento, necessita agora de uma disposição mais eficiente de sua geometria, uma melhor capacidade de natação, maior velocidade (sempre aparece um verme melhor e maior em engolir que a média de sua população) e qualidade do processamento do estímulo-reação.
Surge agora, o primeiro cordado.

Os cordados

Ser cordado nada mais é que ter uma parte do corpo para captação e processamento do estímulo-reação, uma parte para a transmissão, outra parte para locomoção e isto não interferir nos sistemas de absorção de nutrientes e manutenção dos recursos para este conjunto todo. Ser um cordado primitivo nada mais é que um verme rearranjado em sua distribuição destes componentes mais básicos, como o também é um besouro, ou o é um caracol. Mas com algumas vantagens sutis, e tal se fará crescente no tempo, como a evolução do sistema respiratório ou a possibilidade de construir uma estrutura interna que possibilitaria tamanho e eficiência nos movimentos, economia e disponibilidade de recursos. É de se esperar, que em algum momento, de melhoria em melhoria deste design, surja um cordado melhor que os outros naquele momento, e tal chamaremos de um primeiro peixe.

Os peixes
Serei sincero. Quando vejo um peixe bruxa, um tubarão, um salmão ou mesmo me olho no espelho, nada vejo mais que que um pikaia modificado, e mais que isso, em termos de cérebro, nada vejo mais que apenas tamanho e detalhes. Logo, capacidade após capacidade, estrutura após estrutura, mas e mais as capacidades que existiam no pikaia foram ampliadas nos peixes, e mesmo quando avançaram pela terra, para disputar com os poderosos artrópodes o mundo, nada mais fizeram que acrescentar detalhes a este design básico, mesmo que posteriormente, tenham pisado na Lua.
É claro que desenvolveram estrutura cartilaginosa para sustentar seus movimentos de maneira mais eficiente, e esta estrutura adquiriu cálcio para suportar as águas doces. Nem discutirei que desenvolveram dentes, ou mesmo nadadeiras laterais, patas e passaram a respirar ar. Claro que não discutirei que foi vantajoso colocar ovos secos no solo, e dominar mesmo os mais áridos terrenos. Não discutirei que foi vantajoso ou não passar a desenvolver até o último estágio os filhotes dentro do corpo, ou mesmo mantê-los algum tempo com amamentação. Mas ainda sim, nisto tudo, somos um pikaia nadando em meio a correntes, até agora em terra, buscando alimento e reagindo a estímulos, desde o mais assustador predador (com os mesmo mecanismos) até a mais deliciosa e colorida fruta, ou mesmo o mais desatento besouro que alimentou nossos ancestrais insetívoros.
Destre todas estas vantagens, agora com vastas variações, o estar em árvores, assim como diversos insetívoros, carnívoros pequenos e outros, com os quais dividimos instintos apurados e convenhamos, algumas vantagens prevaleceram, como prevaleceram parte destas característica desde que animais muito mais poderosos muscular e em armamentos corporais conosco conviveram.
Começamos a escolher para qual galho pular, e no pular e nos agarrarmos, perceber pelo estímulo de que um graveto em nossas patas era uma extensão de nossos corpos, poderia ser o braço longo que não tínhamos, a unha fina que não tínhamos, o bico que não tínhamos, a garra cortante que não tinhamos, a pata esmagadora que não tínhamos. E tal percepção, simplesmente estímulo-reação, passou a ser enorme vantagem e nos gerar uma capacidade geral a todos os animis em toda a história da vida: a sermos oportunistas do ponto de vista ecológico, que já éramos há muito, aliado a capacidade de modificar se não nossos corpos diretamente, acrescentar caracteríscas sobre e além dele.
Agora, avançando com um pouco de ordem e menos discurso, coloquemos um novo título.

Os primatas

Não somos mais como os leões, que necessitam de imensas garras e dentes, poderosos corpos e mesmo assim, são incapazes de cavar e comer a mais inofensiva toupeira.
Não somos mais como os elefantes, que são capazes de destruir qualquer vegetal e comê-lo, nem se preocupam com predadores, pois seu tamanho os impossibilita de serem mortos a não ser pelas forças inexoráveis da natureza.
Somos os pikaias dos pikaias, os oportunistas dos oportuinistas, pois nossa capacidade cerebral nos permite, se vegetarianos, pular de galho em galho, brigando apenas com cobras que vemos com mais facilidade que outros animas, e alcançar folhas mais verdes.
Se podemos ingerir proteína animal sem problemas, podemos catar as larvas de qualquer tronco, com espinhos que quebramos, saciar nossa fome. Podemos quebrar amêndoas, e mais que tudo, podemos, ao ver outro animal ou um dos nossos fazer algo, repetí-lo, pois o estímulo visual gera a reação da cópia, que é associada ao estímulo do sabor, por exemplo, ou da cor de uma fruta.
Estímulo e reação levam a novos estímulos e reações, vantagem sobre vantagem, oportunidade sobre oportunidade, e nossa especialidade, é um cérebro versátil, aliado a um corpo versátil, embora frágil, será esmagadora como vantagem evolutiva, desde que nenhuma catástrofe no cruze o caminho, como cruzou e quase nos levou a extinção.
De quebrar amêndoas a quebrar ossos, de copiar outros animais que esmagam coisas, de associar mandíbulas a pedras, avançamos sobre as carcaças abandonadas pelos felinos às hienas e abutres, e na disputa pelos ossos e restos, nossos cérebros, processando estímulos e reações, passaram não mais a esperar o momento, pois antes tínhamos de esperar os leões se fartarem, mas agir no agora, pois o agir provocava o estímulo de que os felinos fugiam aos gritos e predras arremessadas, como ainda afogem os guepardos ao primeiro adversário que coloque em risco sua preciosa integridade física.
Deste novo conceito do que seja tempo e o enfrentar do mundo, de que não mais precisamos esperar, ou talvez nem podermos, pois não estávamos lá, de observar que pegadas com determinado sentido no chão implicam em animal que para determinada direção seguia, passamos a independer apenas de todos nossos sentidos, e sim da associação de lembranças, por mais primitivas que o fossem, em coordenação com os sentidos, estímulos que para outros animas seriam inúteis, pois este dependem, por exemplo, do específico olfato e continuamos melhorando nossa eficiência como oportunistas.
Crescia em nossos cérebros um sistema de operações de estímulos e reações, até de abstrações, como a imagem de qual seja o animal a partir de sua pata, se sangue junto, ferido, se com garras, perigoso, se com cascos pequenos, prestes a ser morto e poder ser sua carcaça disputada com um felino.
Assim foi, por milhões de anos, até que um dia, um primata percebeu que, se podia esmagar fêmures de um javali, após ser este atacado por um leão, e com pedras e gritos espantar as hienas e abutres, podia, assim como o leão, esmagar o javali, e aquilo que se movimentava como um javali, e morria pelas garras do leão, passaria não a ser esperado ser comido em seus restos, e sim morto antes do leão o matá-lo, e com ele não dividido, nem com as hienas. Nascia Órion, nascia Osiris, nascia o primeiro caçador, e o processo que já ocorria, que era o que hoje chamamos conhecimento, ganhou um passo fundamental, e uma fonte de recursos inimaginável para qualquer animal: um oportunista pleno, um carniceiro, um onívoro, um predador, que não depende mais de garras e dentes para ser poderoso, que atinge seus inimigos a distância, que pode se refugiar em árvores, que pode subir em penhascos, que pode nadar, que prevê onde irão suas presas e onde está o alimento.
Tal predador será tão poderoso, que mais cedo ou mais tarde, conhecerão sua fome os maiores predadores da terra, os predáveis inatingíveis, todo o ser que voa, rasteja ou se enterra, todas as plantas comestíveis, e para tal, este animal terá apenas como arma necessária, uma pedra suficientemente pontuda.

Uma pedra pontuda

Passamos um bom milhão de anos nada mais tendo do que uma pedra pontuda como maior recurso, flutuando em uma população mínima, disputando em atos de bravura com felinos e até ungulados bem armados nossa sobrevivência, não fazendo mais que ir para um lado e para o outro, com os mesmos mecanicismo cerebrais de qualquer gorila ou orangotango, catando larvas com espinhos, formigas com varetas e quebrando cascas de qualquer coisa. Mesmo com este conjunto mínimo de recursos, mantivemos uma relativa vantagem, mesmo em meio aos mais inóspitos terrenos, mesmo em meio a escassez e competição feroz. Foi o suficiente para que nossos cérebros, com um tanto mais de proteína e gordura, coisa obtida a custa de muito dispêndio de tamanho por parte de elefantes, cetáceos e outros primatas, nos permitisse uma determinada massa crítica, mas não com ambientes que nos limitassem, não com corpos especializados em comer peixes e plâncton em oceanos nem folhas de árvores tão somente. E ainda por cima, segurando a pedra pontuda. Até que um dia, um destes primatas, não muito melhor nos mecanismos cerebrais de que dispunha, mas com o diferencial há muito desenvolvido de projetar imagens cerebrais e simular conceitos sem ter de fato os objetos como estímulo, e associar lembranças e conjugar outros estímulos e prever resultados, por mínimos fosse, deve ter juntado a pedra pontuda com o galho, a vareta com o espinho, o javali sendo acertado pela pedra, a larva sendo penetrada pelo espinho, a amêndoa sendo esmagada, e sua fome saciada. Nascia a pedra na ponta de um galho, o braço na ponta do braço, o machado mais primitivo e de difícil obtenção possível.
Este deve ter sido quase sagrado no grupo, e devia ser mantido, observado dia e noite, e quando quebrado, buscado em novos componente por todos os cantos (mesmo tendo só duas partes, mas lembremos que os cérebro que estamos ligando seriam ainda muito piores em funcionamento para a engenharia que qualquer um que conhecemos em vida).
Até que de "machado sagrado" em machado sagrado, chegamos a produzir machados a qualquer hora que desejássemos, a repetir etapas, lado a lado com nossos iguais, e criamos a mais primitiva indústria imaginável. De pedra em pedra, galho em galho, faríamos lanças, agulhas, roupas, recipientes, fogo, instrumentos diversos e especializados e alimentar mais e mais um cérebro, que vantagem após vantagem, excesso após excesso, era selecionado para ser maior, exatamente pelo reagir proveitosamente a inúmeros estímulos. Não tardaria que erguêssemos cabanas e construíssemos canoas, erguêssemos catedrais e cruzássemos oceanos.
Mas pulamos determinados detalhes, e os retomemos.

A mínima lógica

Lembremos dos primatas mais primitivos que tratamos, antes ainda da pedra convenientemente pontuda que apontamos como ferramenta marcante em nosso processo mais que evolutivo, e sim, civilizatório. Observemos que tais animais, assim como qualquer cavalo que coça-se com uma graveto, ou qualquer passarinho que usa um espinho para também tirar uma larva de um buraco num tronco, igualmente usavam e usam rudimentos de lógica. "Se buraco, talvez larva". Se graveto no buraco, talvez larva na ponta, e assim por diante. E assim, no nosso filo específico, associações de idéias, deduções simplíssimas, exclusões de resultados possíveis, mais e mais foram sendo capazes pelo único substrato para que tais processos, que na verdade são estímulos-reações, se processassem: um cérebro mais e mais capaz. Assim, mesmo os rudimentos de matemática, que até aves têm, poderiam se processar entre o que seja saber que tendo duas mãos, carrego duas laranjas, e tendo uma amêndoa, ao quebrá-la, menos uma amêndoa tenho, e se não tenho mais o estímulo de uma a quebrar, advém a reação de necessitar de outra. E assim, elemento a elemento foram se acrescentando, até a formação de uma rede neural, preparada biologicamente para assimilar inúmeras destas operação básicas, ainda mais numa coletividade social, foram empilhando-se, capacidando-nos, quando chegamos a determinado volume cerebral, já plenamente evoluído em seus mecanicismos internos, a permitir que idêntico cérebro, milhares de anos mais tarde, fosse ocupado por vastidões de equações, números gigantescos e toda a filosofia, lógica, matemática e ciência de nossos dias. Mas faltava, ao contrário de animais que coçam-se com varetas, ou pássaros quie espetam larvas, uma melhor estrutura, com funcionamento aprimorado, a colaborar com estes sistema lógico fundamental.

O uso da memória

Cães guardam aromas muito melhor do que nós. Elefantes até neurologicamente são mais capazes do que nós para processar localizações e mesmo relações associadas a odores, locais e sons, por anos a fio. Golfinhos processam miríades de sons que em poucos segundos identificam e qualificam-nos a outros, com muito mais capacidade do que nós e ainda possuem uma "visão sônica" com a qual, nem podemos contar a não ser com nossas mais poderosas tecnologias. E dois dos cérebros que citei são maiores e até um maior em relação ao peso corporal do que o nosso.
Independente de mãos e dedos, ou mesmo de uma visão melhor, qual mesmo a sutil e definitiva vantagem que possuímos em relação a estes animais, mais aptos ao seu meio (lembrando que as orcas, os maiores dos golfinhos, são as senhoras absolutas dos oceanos) ou mais poderosos fisicamente como nossos parentes de tromba?
A diferença crucial está num cérebro mais apto a guardar e simultaneamente associar informações, mesmo no nível mais limitado dos primatas. Podemos memorizar um animal quebrando um osso e comendo tutano, e associar isto com uma pedra quebrando uma amêndoa. Mais tarde, tal funcionabilidade básica de lógica primária e memória mínima, nos permitiu associar uma pedra a um galho, fazer um machado, e deste machado, lembrando como fazê-lo, repetí-lo, e nunca mais retroceder, ainda mais na coletividade de nossas mais primitivas e antigas sociedades, que nada mais eram que agrupamentos de parentes e alguns intercâmbios (como o fazem até hoje os chimpanzés), na continuidade do tempo das gerações, a reiniciar o penoso caminho das mais básicas descobertas.

Antes de avançar para o resultado desta capacidade nova, resultado de duas simplíssimas, devo alertar para a diferença entre nós e os chimpanzés, neste aspecto. Embora recentemente descobriu-se que chimpanzés tenham uma memória de curto prazo melhor do que a nossa, sofrem de uma limitação grave de aprendizado. Seus cérebros são incapazes, após alguns anos, de aprenderem coisas simples, mesmo quebrar uma amêndoa. O nosso, um tanto apenas mais volumoso, mesmo dom dezenas de anos de idade, ainda é capaz de aprender técnicas sofisticadas, atividades artísticas ou mesmo movimentar o corpo de novas maneiras, mas não caiamos na tentação de adiantar passos sobre o que trataremos, e voltemos a marcha que estamos seguindo.

Desta capacidade, de na continuidade de uma vida, na continuidade das gerações no grupo, no intercâmbio entre os grupos, no permanente somatório de idéias, driblamos os fatores que limitavam todos os animais. Driblamos o processo evolutivo, pois deixamos de ser frutos de mutações, modificações e especiações, deixamos de ter de esperar modificações favoráveis a serem aptas para sobreviver pela seleção natural. Tornamo-nos o mais otimista sonho de Lamarck, de um animal, que conforme a necessidade, modifica seus hábitos e mínimos comportamentos, inclusive as extensões de seu corpo, que chamamos de ferramentas. Começamos a ter o que podemos chamar de uma mínima cultura, e com esta, mais que qualquer outro ser vivo, não apenas ser por definição o arranjo de suas moléculas e nada mais, em um meio cruel, mas a ser os cruéis arranjando moléculas contra um meio o qual faremos vítimas, e com tal alimentaremos esta máquina de estímulos e reações que chamamos cérebro, mais e mais, até os seus limites biológicos e além.

A mínima cultura

Da mesma maneira que num grupo de chimpanzés, os mais jovens associam pedras amêndoas, passamos a ser primatas que sentam-se lado a lado, e copiam gestos de outros, e reproduzem machados, e trocam grunidos e associam idéias, e mais velhos descobrem associações que mais novos ainda não aprenderam, e mais novos que nem ainda aprenderam coisa alguma fazem associações que mais velhos nem têm condições de ensinar, e começamos mais e mais a gerar uma rede de troca de mínimas lógicas e mínimas informações, e a empilhar vantagens na modificação no tempo de nossos comportamentos, e a engordar nossos cérebros, que ainda como no passado, realizam as mesmas tarefas básicas, mas que na direção do futuro, mais e mais tarefas básicas são capazes de acumular, e assim neste mecanismo fundamental de acúmulo, desde nossa gestação, até nossos últimos dias de capacidades cerebrais, acumulamos e processamos informações, pois possuimos um nível básico de mente própria para isto em cérebros que são capazes e absorventes a tais coisas. E assim foi, desde o copiar lascar pedras até as esculturas dos mestres, pois os mecanismos cerebrais mais simples da mente de um fabricante de machados de pedra em nada são, no básico, diferentes de um Miguelângelo.

Mas falta-nos pontar uma associação, e esta acelerará o processo a um nível inigualável entre os animais, ainda que alguns se aventurem por tais façanhas.

A mínima linguagem

De associação em associação, os mesmo mecanismos que caraterizam por sons o terror, o alerta, a felicidade, o encontrar de doces frutas, a descoberta de uma carcaça, foram reponsáveis por fazer surgir sons específicos para uma fruta e uma carcaça, embora antes alimentos, e os rudimentos da lógica continuaram a agir, produzindo classificações para tais sons, e em breve, uma banana seria diferente de uma cereja, e um osso seria diferente de um pedaço de carne, e uma pedra seria diferente de um galho, e sons e mais sons seriam ensinados e passados, assim como ainda hoje desde nossos primeiros momentos ouvindo, e mais tarde, produzindo sons, o fazemos em nossas efêmeras vidas, mas com uma diferença: coletivamente.
E coletivamente, quando os sons passaram a se limitar em si, passaram a ser combinados em dois, três, quase cantos, e nasciam as primeiras palvras, e as combinações não necessitavam mais ser proferidas longamente, e sim, de maneira curta e complexa, ainda muito distante da complexidade e capacidade nata dos golfinhos e baleias, mas com uma enorme diferença, pois vinham associadas a objetos, coordenação de esforço, iniciativas e até acordos de interesses mútuos, muito mais complexos e arranjados do que pescar juntos ou copular, e mesmo mais lentos, a reproduzirem-se no tempo e na coletividade em complexidade crescente, e poderem ser associadas a lembranças, a atos de caça, a iniciativas do grupo, a memórias recentes e distantes, e a capacidade de entender os fenômenos no tempo, que já se definiam no ver uma pegada de animal.
No meio deste processo crescente, mais cedo ou mais tarde, deve algum dos nossos ncestrais, segurando um machado e olhando para outros, percebido que aquele era seu machado, e que tinha idéias, por mais simples que fossem, que ocorriam em seu cérebro, e não eram ouvidos por outros, e não eram lembrados por outros, e que havia nele, e somente nele, um complexo mecanismo que funcionava, e que o fazia querer andar, e escolher um parceiro sexual, ou escolher um companheiro para catar piolhos, ou por este se catado, ou comer aquela fruta e não aquela carcaça, e nasceu a "idéia do eu", do limite do arranjo de moléculas que se definiu como indivíduo, com seus mecanismos estímulo-reação, com seus rudimentos de lógica e seus conhecimentos específicos, seus mais nobres sentimentos pelo coletivo, mesmo sem o saber que isto, e seus mais perversos sentimentos de egoísmo, de aplacar a sua fome, de ter o seu companheiro sexual, de ter o seu grupo de influência, em destronar o macho ou fêmea mais destacado.
Nosso "eu" será perverso, nosso eu será as vezes e muitas, magnânimo e proveitoso, mas nosso eu, apesar de todos seus defeitos em resultados, não muito diferente das cabeçadas dos antílopes ou das brigas e canibalismos dos leões, nos levará, com todo seu ônus, a alimentar nossa mente com impulsos que nenhum animal jamais teve, a exatamente pela satisfação de nossos pessoais desejos, e da associação mais primitiva de que nossos desejos pessoais são melhor satisfeitos pela nossa coletividade, a os gritos, grunidos e primeiras palavras, a nunca mais recuar diante de outros predadores, a nunca recuar por maior que seja a presa que enfrentarmos, a enfrentar os maiores obstáculos do natural, as mais cruéis intempéries, e a natureza saberá, que Osiris, que há muito já tinha matado o javali, agora se recusará a ser morto pelo leão, e se vestirá com suas peles, na primeira oportunidade.
Mas antes de colocar um manto sobre este primeiro rei, observe o que se passa com seu "eu", que passa a ter, de tão alimentado, tempo livre, e a poder olhar os objetos, a paisagem, os outros animais, seus semelhantes e as estrelas, e os olhará com olhos de cobiça, mais que tudo.

A consciência

Já arranhamos o que seja a consciência, mas tratemos de colocar nela mais elementos. O entendimento do eu, a noção das limitações do corpo, as noções da ação possível sobre o mundo, por associação com a percepção que outros eus habitam o mundo, mais a permanente noção dos fenômenos no tempo, já pode ter iniciado nos primatas - quando o cérebro atingiu mais uma vez volume, nutrição, estímulos e mecanismos para seu processamento - a noção, repetirei, por mais primitiva que o seja, que sua vida e doutros era limitada não só no espaço, mas no tempo, e apresenta uma certa marcha unidirecional, inexorável e irreversível (e inclusive não aceitar isso, passivamente).
Assim, aliada ao conjunto de mecanicismos que conduziam a associação para a caça e a coleta de alimentos, além da proteção aos filhos, as primeiras agregações humanas com mínimas estruturas cerebrais processando consciência passariam a desenvolver os processos que podemos chamar de senso moral, senso social, senso de estrutura familiar, sentido de organização acima do que seja o "macho alfa" ou algo parecido e um determinado sentido a ser seguido eficientemente para a sobrevivência, e inclusive para o progresso.
Assim, embora o que seja consciência no sentido mental possa ser das maneiras mais complexas e até difusas definido, podemos entender que o sentido do eu, e seu conhecimento e procesamento cerebral existe como até hoje em interação com o mundo e nossos semelhantes, até porque não vivemos e sobrevivemos sozinhos, e a tendência para isto se processar assim se mostraria sem possibilidade de ser freada e ampliada, desde a formação de grupos de coordenação, como o fazem os chimpanzés até hoje, até nossas mais sofisticadas e rígidas pela lei sociedades.
Mais que o entender-se como eu no mundo, a consciência mostra-se como um entender-se no mundo, consigo mesmo, e com o mundo para preservar e atender as necessidades deste eu.
Percebamos que tal coisa, tal processo de trocas de noções do eu, de equilíbrios de desejos e vontades, das satisfações de eus pelos grupos humanos, fará o número de olhos de cobiça que observam o mundo se tornarem mais numerosos, e operarem em conjunto.
Mas passemos agora por algo que nos fortalece, mas mais que muitos outros fatores destes individuais eus e destes conjuntos de eus, tem sido muitas vezes, simultameamente nossa maior força coletiva, mas fonte de nossos piores atos, mais desvantajosas decisões e mais perigosos passos rumo ao que trataremos por final.

Uma religiosidade

Entre todos os primatas que conheciam-se como eus, e entendiam o mundo no tempo, reconheciam fenômenos que eram mais poderosos que suas mais pontudas pedras, mais longas lanças e maiores grupos de caçadores possíveis, e reconheciam sua e de outros finitude, existiu certamente um num grupo, ou vários em diversos grupos, que imaginou ou imaginaram que o raio que caia, seria a pedra, a lança e o machado de algum outro eu, muito mais poderoso que o maior elefante eletrocutado, o maior rinoceronte queimado no incêndio ou o maior leão afogado numa enchurrada.

Este outro eu, embora invisível como semelhante seu, se expressava no raio, e poderia ser, e da mesma maneira que um crocodilo ou qualquer outro ser poderoso que existe, o incaçável e imprevisível raio. O fogo que até os primatas que nisto pensavam, poderia ser um eu aprisionável e até controlável, mas em grande escala, implacável e vingativo. A chuva que afogava o leão, poderia ter sua água armazenada, mas as nuvens que a geravam, o vento que a trazia, o fogo que apagava, os raios que geravam, não. Estes componentes da natureza seria outros eus e talvez com conversas se convencessem a trazer os antílopes para se caçar, a água para se beber e até o fogo para o perpetuarmos.
Nascia o politeísmo, em suas mais primitiva forma, que é o entendimento das leis da natureza como deuses, caso a caso, fenômeno a fenômeno, componente a componente do natural. Lá no meio disto, uma idéia ainda mais sofisticada, de um outro primata ainda mais poderoso que o raio, o fogo ou qualquer vento ou chuva, e talvez, exatamente uma ainda mais elaborada, que demoraria milênios para ser percebida.
Agora, organizarei um pouco minhas dispersas idéias.

Confissão: tenho tendência de ser dispersivo em minhas análises de fenômenos e fatos, e como toda pessoa assim que se poste a ser minimamente coerente, entendida, e muitas vezes, apenas suportável pelos outros, tenho de ser consciente (pretensiosa ironia a esta altura deste texto) e agora fazer uma recapitulação de determinado conceito que pincelei até mais de uma vez acima, mas em meio a meus quase nervosos tantos pontos a tratar, deixei em segundo plano, pelo menos, explicitamente.
Portanto, Francisco, com sua mente domine sua mente e concentre-se!

A cultura coletiva


Lembremo-nos do primata que observa e copia os gestos de seu semelhante, o primata que mostra como fazer algo para outro mais jovem, o mais jovem que descobre algo novo aos mais velhos e traz para o grupo. Lembremos da troca de sons que transmitem informações. Isto tudo, processado neste conjunto de mecanismos que chamamos mente, que por uma marcha evolutiva até aqui apresentada, até determinado ponto foi individual, e pouquíssimo transferível, e quando tranferível em alguns de seus acúmulos de informações e resultados de processamentos, num nível não maior que qualquer um dos outros grandes primatas com que hoje dividimos o mundo.

Mas a partir do momento que o escolher pedras passou a ser não mais monopólio do indivíduo, e passou a ser coletivizado e perpetuado na coletividade, mesmo de rudimentos como a escolha de pedras, até as técnicas para abater as maiores caças, o quadro mudou completamente.

Este conjunto de conhecimentos, técnicas, informações mesmo mínimas, passando a ser coletivos, como já mostramos, inclusive no acreditar que há um ser que joga raios das nuvens, conjuntamente como entender que quando nuvens se aglomeram no céu serão muito provavelmente sucedidas por chuva, ou quando completamente ausentes, serão continuadas muito provavelmente por seca, formarão uma nova etapa do lamarckismo que nos tomou, da capacidade de em função da necessidade, os estímulos e reações modificarem ao menos externamente nossos corpos em suas continuidades com o mundo, e formarão o que sejam cultura, no conjunto de toda e qualquer informação, desde combinações de sons que significam chuva, como a chuva se forma e até o ser que talvez cause a chuva.

E em como a chuva se forma, formarão a mais poderosa e útil das culturas, a mais universal, e a que independentemente do jogo de sons que pronunciamos para nomear chuva ou de como seja o ser que cause chuva em que acreditamos, entrará em acordo com como e quando a chuva cai, e desenvolverá, lá com os rudimentos de lógica que escolhiam pedras e associavam quebar ossos com alimento, a mover nossas mentes em novos caminhos, que darão ferramentas inimagináveis anteriormente pelos olhos que cobiçavam o mundo.

A Ciência e o entendimento do mundo
Observar uma nuvem e prever como se dará a chuva, ou ainda como escolher a melhor pedra para fazer um machado é uma coisa. E não muito melhor que o chimpanzé que ao primeiro trovão se encolhe junto às melhores folhas, ou entre as varetas escolhe, após quebrar duas ou três, a mais adequada para pegar formigas.

Outra coisa completamente é entender e desenvolver mentalmente, que ao perceber uma determinada fruta verde, se for de determinado formato, será deliciosa e deve ser comida. Já outra fruta, se verde, nem deve-se mordê-la, pois sabemos que será desagradável. E assim, os rudimentos de um entendimento prático e prévio do mundo em seus processos desenvolve-se na mente humana, ainda mais coletivamente, e traz mais e mais resultados, até o momento que este entendimento, que agora acumulado e com o motor de um cérebro logicamente poderoso, está apto a desenvolver não semelhanças com o natural, mas idéias nunca antes tentadas, distantes de todas as referências da natureza.
E aqui tomarei um tanto desta coragem, e num primeiro momento, tratarei de algo mais formal, muito bem fundamentado por qualquer especialista e conhecedor do assunto mais poderoso do que eu e numa marcha simples, tentarei apresentar um caso que pula a simples associação e semelhança.

Perceber que uma pedra reproduz a ação de um dente, uma garra uma pesada pata é uma coisa. Perceber que um pedaço de galho com a pedra na ponta é um braço mais longo é a mesma coisa. Perceber que o galho, mais reto, com a pedra na ponta mais distante é ainda a mesma coisa. Perceber que o galho com a pedra na ponta pode ser atirado não é ainda nada mais que a mesma coisa. Trocar a pedra pelo chifre afiado de um animal, afiado numa pedra, não soma quase nada em termos de mecanismos cerebrais. Por fim, colocar a lança, agora excelente, na ponta de outro galho, e alongar o braço numa alavanca, é uma gigantesca conquista para aqueles cérebros, não muito diferentes dos nossos, mas com limitações de linguagem, população e recursos.

Igualmente colocar peles sobre o corpo, e simular a pele de animais não o é muita conquista mental. Costurar para mantê-los juntas, até pode ser importante, mas ainda sim não é marcante. Desculpe quem pensar o contrário.

Mas associar a lança, um galho longo, a linha da costura e obter o primeiro arco, industrializar coletivamente as novas pequenas lanças, aliar com as melhores antigas lanças e coletividade, o fogo para assustar os animais e partir para abater presas com distância e velocidade jamais vistas na natureza, aliados a método, é sim uma conquista enorme.

Nesta interface entre entender minimamente o mundo, e produzir realizações inéditas na natureza, em forma e sistema, nasce um aspecto do entender o mundo e enfrentá-lo com o inédito e o inesperado, e a cobiça dos olhos dos primatas enfrentará o mundo com ferramentas novas e potencialmente crescentes.

A Tecnologia e o domínio do mundo

De arco em arco, pele em pele, cabana de ossos e galhos, pele e folhas em outras destas melhores, o entendimento do mundo cresceu, e a mente humana, há milhões de anos observando o mundo, com seus caos característicos, suas curvas típicas, sua irregularidade que só hoje entendemos plenamente e nem tanto, se opôs ao mundo e percebeu que a parede das cabanas não necessitava ser derrubável pelo vento, como o são as pedras, e o barro poderia ser moldado em blocos retos como nos lagos se formavam a primeira seca, e passou a erguer construções, e alinhá-las "a olho" e a direcioná-las e posicioná-las no mundo conforme suas rotas, e entendeu que não necessitava apenas coletar plantas, pois percebeu que determinadas delas poderiam ser plantadas a partir de suas sementes.

Mas nem nos concentremos no nascimento da agricultura, nem no domínio de determinados animais, nem em seu uso, muito anterior a estes passos em alguns casos, como os cães.

Nos concentremos nos tijolos de barro e nos arcos e suas linhas.

Na permanente associação de idéias, nos estímulos e as reações, a mente humana deve ter percebido que os arcos mantinham as linhas retas, como nenhum olho humano consegue, por mais que tente, manter uma firme mão humana traçando linhas na areia. Percebeu também que uma linha, extendida entre dois pontos mais distantes que este arco, que não poderia ser maior que determinado galho, também se manteria reta. E poderia, com tais linhas, manter uma fileira de tijolos reta. Percebeu que tijolos, empilhados em camadas menores a medida que sobem, alcançar alturas inimagináveis a suas cabanas e mais que estas, a muros que a protegessem.

E assim, com linhas e varetas, agora chamáveis de estacas, descobriu o círculo, relacionado a linha reta, que copiava a perfeita forma do Sol e da Lua (pelo menos assim os pobres primatas consideravam). E ao redor do círculo, deve ter traçado outra forma, muito econômica e simples, e sua variedade de tamanhos e muito provavelmente, nas diversas salas rudes e praças que construiu, percebeu que a partir de um ponto numa das retas que traçava, tomados dois outros pontos a mesma distância sobre esta reta, e destes dois pontos duas distâncias um tanto maiores, obtinha um novo ponto, que do primeiro, traçada nova linha, formava um ângulo agradável, harmonioso aos seus olhos, e com o qual remodelaria o mundo na medida do possível, e o trataria de maneira que sua mente facilmente entenderia e novos processos para dominá-lo produziria.

Nasceu aqui, uma certa obsessão pelo homem pelo quadrado e genericamente pelo ângulo reto, sua capacidade de definir a posição das coisas, sua capacidade de conter áreas, em combinação volumes, e erguer paredes de tijolos de barro mais e mais imponentes, mas antes os muros e praças necessitarão um novo elemento, e este nascerá de uma pedra e de uma linha solta num traçado de uma reta.

Mas façamos justiça. Não necessitamos mais chamar estes primatas assim, pois embora primatas continuem sendo, podem ser agora chamados de humanos, pois suas características há muito os tornaram bastante diferentes de seus primos mais distantes, e no futuro, os tornarão parentes a serem canibalizados, inclusive e temos de facilitar as coisas para quem, pelos mesmos olhos de cobiça, possui segredos de vaidade, e não consegue simultaneamente perceber, que embora não sejamos superiores biologicamente as mais simples bactérias que nos matam, nem aos mosquitos que nos sugam, somos imensamente superiores culturalmente a todos os outros animais (até por exclusividade) e uma coisa não é necessariamente associada a outra, a não ser em nossos cérebros, que da mesma maneira que combinam idéias, as vezes as confundem.

Estes homens, que erguem paredes mais e mais altas, percebem que linhas soltas com pesos nas pontas formam com as linhas mais planas no chão o mesmo ângulo obtido no chão, e talvez até que aquele deus estranho que atrai os corpos para baixo fazem ao cair sem impulsos no plano com o chão, e passam, pela até agradabilidade da idéia, mais e mais erguer construções exatas geometricamente (que seria criação de sua mente), e terão de buscar nas mais sólidas rochas formas de erguer mais e mais retas cabanas, e mais adiante templos, túmulos, marcos, monumentos e prédios de todas as utilidades.

De prédio em prédio, canoa em canoa, lança e lança ocuparão o mundo, e sua população, mesmo com tropeços da e na poderosa natureza, multiplicar-se-ão e nada deterá a mente humana arrastando seu corpo pelo mundo, agora ainda que com conflitos de todos os níveis, e muitas vezes, proveitosamente nisto, coletiva.
Um belo dia, de linha em linha, algum dos humanos perceba que círculos em determinadas posições permitem não mais se arrastar penosamente pedras, ou carregar uma quantidade de frutos nas costas, ou ainda, puxado por algum animal, ainda mais pesadas cargas levar, mas voltemos a mente humana, que agora por seu volume e acúmulo de informações na coletividade, pode se dedicar a jogos com números interessantes, e de espetaculares resultados, muito melhores que mentalmente associar dedos à laranjas ou amêndoas, ou mesmo traçar por jogos complexos de linhas e gravetos quadrados no chão.
Algum felizardo deve ter percebido, que ao se tomar um quadrado ou um retângulo, sempre que eram tomadas num lado três passos, e no outro contíguo quatro, entre estes dois novos pontos sempre resultava distância em cinco passos, quando se usavam as velhas linhas para uní-los. E tomou linhas, pois não confiava nos seus passos, e usou linhas de comprimento bem marcado e percebeu que estes três números sempre resultavam uns nos outros, e sempre em qualquer quadrado, e deve ter-se encantado, e brincado com seus vizinhos, e talvez este mesmo ou outro, ainda mais felizardo, feliz em seus quimicismos cerebrais com tal deslumbramento de perfeição, e percebendo que tais proporções se enquadram num quadrado, e no triângulo secundário, poderiam formar um triângulo maior e gerar um quadrado ainda maior, e pôs-se a esquadrar maiores e maiores praças, e pelos anos perceberam que o três poderia se associado a exótica forma, mais simples que o quadrado, mas de propriedades irritantemente estáveis e perfeitas, indeformável, e relacionada de maneira inseparável com o círculo, em qualquer proproção, e as linhas foram substituidas por perfeitas réguas, e por gravetos com pontas para marcar a areia, medindo distâncias fixas, e as marcou como símbolos, todos sagrados, e os registrou em paredes perfeitas e aprumadas em relação ao solo, e desenvolveu formas e formas, todas interligadas, existentes na natureza mais nem tanto.
E relacionaram-nos com a proximidade de números facilmente contáveis em uma única mão, com o eu, um individual, com o dois da dualidade sexual, ou ainda outras combinaçoes da natureza, e viram nisto uma religiosa harmonia e aparente coerência.

E perceberam que o mundo guardava relações em suas formas e comportamentos com tais relações matemáticas e que estas permitiam canoas maiores, arcos melhores, muros mais altos, campos maiores, caças mais duradouras e a mente humana, embora há muito sem modificações no seu substrato, agora coletivamente, era abastecida destes ensinamentos, mesmo em delírios de um grande touro que tinha criado o mundo, ou que o coordenava, ou o colocara sobre tartarugas, mas ali pelo meio, que mesmo sendo um touro, havia munido o mundo de um sistema, que poderia ser ligado a linhas entre pontos, ou com peso nas pontas, contagem de dedos e até entre alguns números sagrados, desde o primeiro dia de aprendizado até o derradeiro dia de vida, em suas coletividades.
De erro em erro, tolice em tolice, acerto em acerto, os olhos de cobiça, abastecendo a mente humana construiram o mundo que se vê, com estes simples conceitos, ergueram pirâmides, cruzaram os mares e esmagaram mesmo seus mais próximos e até iguais parentes, contruíram relações entre números muito mais numerosos, exatos e fracionários que seus dedos, de forma muito mais complexa que três números interligados, em prumos muito mais exatos que linhas ou mais sofisticadas réguas que gravetos bem retos e polidos, e de pá em pá, chegamos a pás imensas, em metais muito mais tenazes aos esforços que a mais dura pedra ou o mais resistente galho de árvore, e as montanhas que antes eram deuses passaram a ser retiradas da paisagem e mais e mais poderosas pás produzem, e maiores templos, que agora tiram rios de seus trajetos, e florestas inteiras de seu solo.
Mas ainda com tudo isso, a cobiça dos olhos dos homens não será saciada, e talvez aprenda com seu erros, como sempre aprendeu e de maneira mais proveitosa, sua mente, sem grandes diferenças de quem afiou lanças de chifre, busque novas pedras para lascar e até dedos para contar, pois tornamo-nos com nossa até confusa e instável mente, em nosso cérebro inquieto e frágil, coletivamente, hoje, força geológica.
Mas sobre tal processo mental coletivo, e suas consequências para o mundo, implicações e futuros possíveis, escreverei aqui em breve, pois os arranjos de moléculas que se acham deuses não pararam de proporcionar novos arranjos ao mundo, nem em pensar em modificar a si próprios.
Mas antes uma lembrança: como sofro em meu didatismo de uma certa loquacidade beirando o delirante e um tanto de desonestidade útil para causar impacto, notemos que para explicar o subtítulo "Nada mais que moléculas trocando outras moléculas e cargas elétricas", nada mais fiz que apontar que em nenhum momento necessitei de mais que isso para explicar não só a conquista do mundo, mas como o cérebro produz o que chamamos mente, consciência e inteligência, por mais que estímulos e reações, satisfação de desejos, em toda a sua história, em qualquer escala.
Portanto, continuamos sendo arranjo de moléculas e seus processos, apenas com a idéia um tanto infeliz de passarmos a ser tão poderosos como o touro que criou o mundo e nos fustiga com raios e chuvas...

...ainda.