sábado, 4 de julho de 2009

Elizabeth I e a ciência moderna

Ou como a "rainha virgem" nos poupou de mais muitos anos de trevas.



Quem assistir Elizabeth: A Era de Ouro, que eu assisti meio que tardiamente, apenas pela TV por assinatura, vai perceber a passagem que é marcada pela sua frase afirmando que a Inglaterra, se for derrotada numa guerra com a Espanha, deixará de ser a terra do pensamento livre que é e estará a mercê da inquisição.

Primeiramente, nem tanto, como vemos, muitos anos depois com a questão Darwin e a igreja anglicana, mas um tanto sim, como apresentarei aqui.

O período dito elizabethano é o período do surgimento do empirismo de Francis Bacon, com o surgimento dos princípios que posteriormente resultariam na moderna Filosofia da Ciência, da falseabilidade de Popper e da estrutura de afirmações de Kuhn, seu estado mais apurado, adequado à ciências com determinados aspectos históricos imprescindíveis, como a paleontologia e a cosmologia.



Dele nasce a noção que não se pode apenas pensar e se chegar ao que sejam os fatos, o comportamento da natureza ou o que podemos chamar de "verdade", pelo menos por enquanto neste texto. Nele nasce o que seja a observação de fenômenos, a formulação de hipóteses, a escolha de premissas que sejam amparadas na observação, e por meio da experimentação e da observação de regularidade de fenômenos, a construção do que hoje chamamos de ciência (e posteriormente, mais adequada e tecnicamente, de ciências "popperianas").

Assim, a "rainha virgem" pode não ter poupado milhares da tortura e fogueiras na Europa, nem mesmo de ser crédula e confiante em astrologia, nem mesmo de determinados atrasos sobre a posição dos planetas e do Sol em relação a Terra, mas certamente nos poupou no longo prazo de acharmos ainda que bolas de canhão caem mais rápido que bolas de bilhar, como pensava Aristóteles, ou mesmo que ratos nasciam de cevada colocada ao Sol.

É de se destacar que o período dos Tudor na Inglaterra dá continuidade à preservação da Filosofia Clássica, em especial a grega, e nesta a Filosofia natural, que seria o embrião das modernas Ciências Naturais, realizada pelos irlandeses, questão tratada de maneira magnífica no livro Como os Irlandeses Salvaram a Civilização, de Thomas Cahill, no papel de seus monges na preservação da literatura. Assim, as ilhas britânicas já desempenhavam um papel de preservação e desenvolvimento do conhecimento humano e do livre pensamento bem antes de suas batalhas com a cristandade católica.

Assim Elizabeth I e sua dinastia, em lugar de vorazes chamas de fogueiras queimando pensadores entendendo o mundo em que vivemos, guardando livros contrários ao afirmados nas "sagradas escrituras", contrários a dogmas nascidos em mitos de povo da idade do bronze, foi responsável pelas bases filosóficas do que hoje chamamos, na magnífica imagem cunhada por Sagan, da frágil chama da vela iluminando a escuridão, a ciência.

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