segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Álcool e água,

hidrogênio em aço, carbono 14 e mutações,
e algumas outras coisas


Recentemente, uma colega de academia onde faço minha indispensável - na minha idade e por quase vício - musculação, perguntou-me porque água e álcool quando misturados diminuem de volume.

Fique bem claro que sendo minha colega profissional da área de análises clínicas, é pessoa que vizualize este fenômeno em condições técnico-científicas, ou seja: que ao medir por exemplo 30 ml de água numa proveta bastante precisa e 70 ml de água noutra proveta igualmente precisa, e ao passá-los para um balão volumétrico ainda mais preciso que as duas provetas, verifica que o volume destacadamente não alcança 100 ml.

Por experiência pessoal, sei que este fenômeno pode ser visto não só no resultado da "soma" após a homogenização, mas "no tempo" durante a homogenização, quando com relativamente algum cuidado, nos primeiros momentos, não há a homogenização completa das duas fases (o álcool tende a "flutuar" na água inicialmente, em fase nítida mas não duradoura) e com o tempo, com o avançar da mistura das fases, o volume total se contrai.

Pois bem. O que causa tal exótico fenômeno que parece contrariar determinadas premissas ao se tratar com líquidos? Pois sabemos até intuitivamente que estes possuem volume constante, embora forma variável, e ao contrário dos gases, quando abrimos uma garrafa de refrigerante, desde o primeiro momento percebemos que os gases ocupam novos espaços, em busca de um equilíbrio de pressões, mas o líquido, para sorte da limpeza de nossas cozinhas, bares e restaurantes, permanece ali, ao volume da garrafa ou copo, sempre em seu nível mais baixo, se "em repouso".

Para entender este fenômeno trivial entre álcool e água, e a partir dele apresentar diversos outros conceitos e questões, primeiramente definamos algo técnico, que é o que seja um azeótropo.

Sempre que temos, já por exemplo na produção de álcool nas fermentadoras e destilarias, por exemplo a partir da cana, a presença de álcool em algo que no caso é chamado de "vinho de cana", onde o açúcar já foi fermendado e produziu-se o álcool como excreção das leveduras, pode-se separar este álcool desta mistura predominantemente aquosa (com água) por destilação.

O álcool, fervendo a aproximadamente 78°C, e a água, fervendo a aproximadamente 100° (consideremos pressões habituais, por favor, e não das profundezas marítimas ou na altitude de cruzeiro de aviões a jato) podem ser por esta mesma diferença separados. Assim, ao se levar a mistura a 78°, "arredondadamente", começa o álcool a transformar-se em vapor e poderá, após condensação deste vapor, ser recolhido puro noutro recipiente, correto?

Errado!

Primeiramente, e adiante veremos o motivo de tal, diversas substâncias serão "arrastadas" juntas, e o jargão usado por quem trata de destilação é este mesmo, "arraste". Mas desprezemos este detalhe e consideremos que arraste algum de outras substâncias aconteça.

Ainda assim, uma determinada quantidade de água, por mais que se destile repetidas vezes, sempre acompanhará o álcool, daí o que chamamos pelo termo azeótropo; uma mistura entre duas substâncias que são inseparáveis por destilação pois em determinada temperatura comporta-se como uma substância pura, com ponto de ebulição específico.



Exatamente por isso o álcool usado nos motores que comportam o funcionamento com "álcool puro" é chamado de álcool hidratado, e sua concentração em álcool é da ordem de aproximadamente 96 % (4 % de água), sua temperatura de ebulição é de 78,1 °C contra os 78,4 °C do etanol puro, e expressa-se esta concentração pela peculiar medida das soluções de álcool e água que expressa a quantidade em mililitros de álcool absoluto contida em 100 mililitros de mistura hidro-alcoólica, °GL, graus Gay Lussac, no caso do azeótropo 96°GL e nas unidades do INPM (Instituto Nacional de Pesos e Medidas) 92,6° (INPM) quando então o grau é dado pela quantidade em gramas de álcool absoluto contida em 100 gramas de mistura hidro-alcoólica.

Mas nem só de álcool (etanol) e água vivem os azeótropos. O álcool isopropílico (2-propanol, um álcool com três átomos de carbono, enquanto o etanol tem dois) forma com a água um azeótropo de 87,9% de álcool para 12,1% de água em massa com um ponto de ebulição na proximidade de 80°C, e se não me engano, está entre as maiores taxas de água formando um azeótropo com álcoois alifáticos, aqueles constituídos de cadeias de carbono que não possuem anéis de benzeno. E existem os de diversas substâncias com a água e inclusive de diversas substâncias umas com as outras. Vale a frase "cada caso um caso".



Mas qual o motivo de formar-se o azeótropo, ao nível molecular?

As moléculas de água e etanol interagem, e aqui vale exatamente minha sempre presente analogia com bolas de bilhar. Moléculas não são bolas de bilhar em colisão. São muitas vezes muito parecidas com um casal de escorpiões em dança de acasalamento. Circulam umas ao redor das outras, "engancham-se" momentaneamente e voltam a seus caminhos.

Isto se dá porque nem só de reações entre os átomos na sua formação vivem as moléculas, e são dotadas de polaridades variadas em suas geometrias e de acordo com seus ângulos, atraem-se de variados modos.

Quando temos água pura, o balanço geral destas atrações e repulsões, fique bem claro, leva a água a ter uma densidade de 1 grama para cada centímetro cúbico, o mesmo, com outro valor de densidade (0,789 gramas por centímetro cúbico) para o etanol, assim como para quaisquer outras substâncias.

Deste modo, temos de entender que a densidade (mais uma vez, em pressões normais, e desprezando o fator de agitação causado pela temperatura) não só é resultado do volume de cada molécula, mas de sua dinâmica (o melhor seria de suas dinâmicas e dinâmica de interações).

Ao se acrescentar água no etanol, a dinâmica de ambas as substâncias puras transforma-se na dinâmica de sua mistura, não mais homogênea no tipo de moléculas.



O aparentemente óbvio paragrafo acima é necessário quando temos que apontar que qualquer densidade de valor bem conhecido despreza, pois desprezível é a influência de impurezas, que por exemplo na água, não terão significativa influência em meio a 6,023x10^23 moléculas para cada 18 gramas. Em outras palavras e por um caminho um tanto diverso, a densidade de um solvente como a água só será alterada de maneira notável para determinadas concentrações e de específicas substâncias para cada uma das curvas que descrevem este fenômeno.

Podemos citar o ácido sulfúrico, que apesar de ter uma densidade o dobro da água, causará um alteração de densidade superior a 1% somente quando possuir uma concentração em peso acima de 2%.

Para o caso da água e do etanol, a mudança de volume é visível, já para a escala laboratorial ou doméstica.

A interação é tão intensa que a mistura destes dois líquidos gera calor sensível já pelo tato, amornando qualquer mistura de proporções próximas, como as muito usuais 30 para 70% que citamos. Esta geração de calor, e consequentemente a redução de volume, só não será perceptível para proporções extremadas, como algumas gotas em um litro, por exemplo também extremado.

Mas retornemos ao que seja azeótropo e consideremos um álcool como o que se deve, apenas, acrescentar à gasolina, como aditivo e redutor de custos, o dito álcool anidro, que é aquele com o mínimo de água ou, mais tecnicamente, 99,3° (INPM).

Este álcool, apenas para constar, não é obtido por destilação do azeótropo álcool-água, como já vimos, mas a partir da destilação do álcool com sua concentração azeotrópica de água acrescido do benzeno ou outros solventes adequados, que permitirá a destilação como método de seperação do álcool de sua água.



Tendo o álcool anidro, e este estando em contato com a umidade do ar, as moléculas na superfície do álcool, se com energia cinética (velocidade) suficiente para "sair" do líquido, e sair é exatamente o que fazem. Estas moléculas que saem, a grosso modo formam um gás, e neste gás, continuam a ocorrer interações entre as moléculas de etanol, assim como entre as moléculas de etanol e as moléculas de água e a umidade do ar. Este "estado dinâmico", que pode ser comparado a um baile de danças folclóricas, onde os pares se alternam, é o que chamamos de vapor. Nos vapores não há a completa liberdade e independência das moléculas, e inclusive há a formação de agregações significativamente grandes de moléculas, como gotículas. Exatamente por isso, vapores, a partir de determinadas pressões e temperaturas são visíveis, ou tornam-se o que chamamos colóides (como é a fumaça, partículas sólidas finas em suspensão no ar). Basta ver nossa respiração em dias frios, que ao sair da temperatura em nosso corpo, embora sem grande variação de pressão, encontra a temperatura mais baixa do exterior, e forma pequenas nuvens.

Assim como saem moléculas de etanol do dito álcool anidro, igualmente são "capturadas" moléculas de água. Estas moléculas, a continuar neste processo, levarão o álcool inexoravelmente à concentração de azeótropo, até porque pelos próprios mecanismos que apresentamos, as moléculas de água são liberadas com muito mais dificuldade da agora solução de alguma água em muito álcool.

A hidratação, este processo, caracteriza-se pela afinidade o etanol como uma substância higroscópica, aquela que absorve água. Se houver uma concentração suficiente de água no ambiente, o álcool ultrapassará a concentração em água no azeótropo álcool-água.

Acreditando que tenha esgotado a questão do álcool e da água, avançarei por outras substâncias e elementos e seus comportamentos, que após apresentados mostrarão o ponto que desejo apresentar.

Todos que tem experiência com produtos químicos e com química num determinado nível sabem que acrescentar ácido sulfúrico concentrado à água gera calor, até o nível da fervura, e no caso de acrescentar-se água, em volume pequeno, ao ácido sulfúrico concentrado, a absorção (avidez, como seguidamente vi em textos técnicos) da água pelo maior volume de ácido será tão enérgica que a ebulição gerará perigosos salpicos da mistura corrosiva.

Mas notemos que este comportamento é bastante característico do ácido sulfúrico, mas não é de seu homólogo do fósforo, o ácido fosfórico.

Logo, este comportamento não pode ser relacionado a um quadro de "similaridade" de "espécie química".

A "avidez" do ácido sulfúrico é devida a sua ionização em água, e mais que isso, a maneira como que tal ionização ocorre. Esta ionização ocorre gerando novas formas moleculares (íons) que apresentam determinadas interações específicas.

Há ácidos muito mais ionizáveis que o sulfúrico, como o clorídrico, que é solução de cloreto de hidrogênio em água. Mas a dissolução do ácido clorídrico, mesmo concentrado, não gera o desprendimento de calor gerado pelo sulfúrico. Pode-se alegar que não existe à temperatura e pressões normais ácido clorídrico de concentração maior que 40% em água, enquanto o sulfúrico apresenta-se comumente a 98%. Mas o mesmo não se pode alegar para o iodídrico, obtível em soluções mais concentradas (por exemplo, 57%) ou o bromídrico, líquido quando puro e entre os ácidos mais ionizáveis conhecidos, seus homólogos, tanto em alta dissociação quanto em estrutura molecular natureza dos elementos halogênios que os compõe, juntamente ao hidrogênio.

Logo, esta característica de dissociação exotérmica não é diretamente relacionada com a capacidade de dissociação iônica.

Igualmente não é adequado associar-se este fenômeno com outras características de substâncias similares, como o poder de oxidação do ácido nítrico, que não apresenta reação violenta nem mesmo significativamente exotérmica quando em dissolução com água.

Mas onde queremos chegar não é este amontoado até inútil de informações - pelo menos a imensa maioria das pessoas - sobre características de substâncias químicas, e sim em mostrar que exatamente estas características tão diversas entre substâncias a primeira vista completamente similares (portanto deveriam ter propriedades e comportamentos próximos), propriedades causadas pelas interações entre as moléculas que as constituem, causando modificações de propriedades que nos pareciam inalteráveis e contra lógicas primárias, como ao somar dois volumes praticamente incompressíveis - como são os líquidos, estes deveriam resultar na soma aritmética dos volumes - leva-nos a entender o que defino com uma frase bastante simples: a natureza se comporta como bem entende, e não conforme nossos raciocínios lógicos, aritméticos e geométricos - ou também em outras palavras - a natureza é natural, e aqui não há nenhuma redundância.

Mais uma vez repito para fixar-lhes o que já tratei diversas vezes; que a natureza não é lógica nem matemática, ela é natural, e neste natural, tratável pela matemática e pela lógica, ou como digo, é "matematicalizável".

Voltando ao campo das ciências naturais, e tratando da questão do que seja volume, e relacionando com o que seja massa resultando da correlata densidade, analisemos os casos que aqui já vemos, no que costumamos classificar como os "estados da matéria", que possuem definições bastante estritas e claras, mas que quando não tomados de maneira bem completa e clara, permitem algumas confusões e aparências enganosas, como temos nos vapores, nos vidros, nas "pastas".

Aqui tratemos por hora mais precisamente dos gases, dos líquidos e dos sólidos estritamente definidos.



Os gases apresentam sua densidade definida pelo bailar de seus componentes, sejam eles átomos ou moléculas (os gases nobres, como o hélio, incluem-se no primeiro grupo, o gás carbônico no segundo - existem gases formados por íons, mas aqui não os trataremos). As colisões e interações que porventura ocorram geram a dinâmica de seus afastamentos e aproximações, e portanto, na média, sua densidade quando restritos por algum reservatório ou força. Como reservatório, basta eu lhe apresentar um botijão de gás liquefeito de petróleo, onde acima do líquido forma-se o volume de gás, limitado e definido até a primeira abertura de válvula, pois os gases não possuem volume constante, e sempre tenderão, por incrivel que pareça, a um volume teoricamente infinito.

O que os leva a não ocupar um volume infinito é a pressão de gases em outro ambiente, como se eu abrisse completamente um bujão de gás dentro de um tanque industrial hermético ou, e aqui trataremos do segundo caso, uma força, pela atmosfera, no caso de nosso planeta, que é retida - e nem tanto - pela força da gravidade, que ocasionando um coluna de gases, aqueles que chamamos ar, propicia, ao nível do mar a pressão que consideramos "1 atmosfera" e a medida que é menor, subimos, uma pressão reduzida até a, na prática, pressão nula, ou primeiramente, o que chamamos de "vácuo planetário" - que entenda-se bem, não é um vácuo "absoluto" propriamente dito de forma alguma, o espaço isento de matéria. É o que poderíamos chamar de um "vácuo na prática".

Os gases, quando comprimidos chagam ao ponto de não mais poderem fazer seu "jogo", seu "bailado" e tal como temos no gás liquefeito de petróleo, chaga-se ao estado líquido. A água e o álcool fazem a mesma coisa, porém, já com pressões como as de 1 atmosfera e até menores, por isso se comportam normalmente (são conhecidas) nas nossas pressões e temperaturas habituais como líquidos. Entre os metais, o mercúrio faz a mesma coisa, e o bromo igualmente. Na verdade, praticamente todas as substâncias possuem uma "fase", como chamamos, líquida, mas muitas não suportam a fusão, e outras, como o vidro, este mesmo de janelas e garrafas - pois no meio mais técnico o que seja vidro é um conceito muito mais amplo - nem mesmo propriamente passam ao estado líquido, e sim apenas se tornam mais fluidos, mais móveis, pois eram, na verdade, quando "frios", líquidos de viscosidade, a "mobilidade" de suas moléculas constituintes, extremamente alta e porque não dizer, infinita - como prefiro definí-los, didaticamente "líquidos de viscosidade infinita" - , e se comportarem identicamente à sólidos para efeitos mecânicos.



Uma pausa...

Como exemplos de substâncias triviais que apresentam comportamento anômalo em suas passagens de estado em estado, ou podemos dizer, não suportam determinados estados naturalmente, temos o sulfato de magnésio - encontrável em qualquer farmácia, que não se funde, mas se decompõe, assim como o carbonato de cálcio - composto base desde a pia de mármore de seu banheiro até as conchas de mariscos, e como um exemplo de elemento que não apresenta-se trivialmente no estado líquido, mesmo sob altíssimas temperaturas, temos o carbono, que apenas se sublima, passando diretamente do estado sólido para a forma de vapor. A própria conceituação de mudanças de estado possui relativas generalidades, mas diversas exceções e divergências, e novamente, cada caso é um caso.



A própria solubilidade das substâncias nos solventes é anômala em muitos casos, pois para a maioria dos sais, por exemplo, quanto maior a temperatura do solvente e da mistura, maior a solubilização, mas há exceções, como o simples sulfato de sódio. Ou ainda exceções destacadas, marcantes até nos ambientes terrestres e nos comportamentos atmosféricos planetários, como a dilatação da água ao se solidificar, ou a "genérica" de que a viscosidade decai para os líquidos com o aumento da temperatura (basta lembrar de graxas e óleos lubrificantes em carros), mas aumenta para os gases.

Também é de se destacar que similaridades entre os sólidos aos azeótropos existem entre as misturas sólidas, que chamamos de eutéticos, ou misturas eutéticas, que são misturas em que o ponto de fusão dos elementos que a compõem tornam-se muito próximos, e daí inseparáveis por fusão. São abundantes entre os metais, em suas ligas, como o milenar bronze, que une inseparavelmente o cobre e o estanho.


Retornando...

Aqui, usarei uma analogia mais visível, e de cores gritantes, quando não, de sons gritantes. Um líquido é aproximadamente como aquelas "piscinas de bolas plásticas" onde crianças mergulham, e até Arnold Schwarzenegger já mergulhou.



Se pudéssemos ver hélio ou argônio líquido, seria extremamente parecido com aquilo. Já moléculas, mesmo simples como o fluoreto de hidrogênio, dentre as mais compactas de dois átomos da natureza, os movimentos já seriam mais complexos e intrincados, com maior viscosidade.

Exatamente por isso que os líquidos atômicos, como os gases nobres liquefeitos são tremendamente fluidos, e a glicerina, de molécula relativamente complexa, é viscosa, e igualmente os domésticos óleos vegetais, mel e xarope de glucose de milho (estes dois, fundamentalmente pelo mesmo motivo, sua composição similar).

Mas notemos que apesar desta mobilidade, maior ou menor, os líquidos quando colocados num recipiente, mesmo no vácuo (aqui, desprezemos que inúmeros volatilizam-se no váco, mesmo a baixas temperaturas) permanecem com volume constante no fundo, ou mais especificamente, distribuídos em todos os níveis contínuos mais baixos do recipiente que os contém, ou "equipotenciais em força gravitacional ou centrífuga".

Se achou você que a definição acima é rebuscada, entenda que nela está toda a razão de porque os oceanos existem, os mares, os lagos e outras massas d'água igualmente, os rios fluem e a chuva cai e escorre, desde as calhas das casas, os esgotos pluvias até chegar, por fim, a sua posição mais estável no enorme recipiente esferóide que é a Terra, que é como uma bacia curva mas sempre mantida por força gravitacional normal a seu "plano tangente" em qualquer ponto da Terra.

Sobre a força centrífuga, lembre da brincadeira de criança que é girar um balde amarrado num corda com água dentro, de maneira que a água não caia, mesmo quando a rotação já forma um cone bastante aberto, ou um truque de "bons de copo", que é girar de um lado para outro com uma mão, apenas segurando a borda superior com dois dedos, num plano vertical em frente ao corpo, um copo de destilado com gelo sem que caia a bebida.

Perdão, mas em Física nada é propriamente simples, mas de conceitos sólidos e simples, pode-se construir - e até entender - questões tremendamente complexas.



O que nos interessa no momento é que os líquidos, mesmo submetidos a pressões significativas, como as esmagadoras pressões do fundo dos oceanos, permanecem com volume constante. Apenas como ilustração, as pressões mais profundas do oceano deformaram peças de aço de alta qualidade usadas nos equipamentos com os quais, nas pouquíssmas vezes, fomos a estas profundidades.

Os líquidos resistem bem a altas pressões sem, alterações dimensionais (que causam variação de densidade) exatamente pela mobilidade de seus componentes mais fundamentais, sejam eles átomos ou moléculas.

Aqui um detalhe: quanto mais compacta a molécula, maior sua invariabilidade de densidade, ou resistência à pressão. As moléculas mais longas, como o são os diversos óleos minerais e vegetais, apresentam uma, digamos, tolerância à compressão, mas nada que se compare à elasticidade dos gases, perceptível já numa seringa de injeção que fechemos a ponta com o dedo e apertemos o êmbolo.

Neste exemplo trivial, nesta demonstração prática banal, percebemos que a medida que a compressão aumenta, mais difícil será aumentarmos a compressão a maior, e mais força será requerida para tal. Ao se chegar à determinadas pressões, e tal acontece com o gás liquefeito de petróleo, este tenderá a se tornar um líquido, e se comportará com a notável resistência à compressão dos líquidos, e a mobilidade de seus componentes continuará tão característica como aquela que permite mesmo a elevadíssimas pressões os seres vivos abissais nadarem ou nós mergulharmos a 11 km de profundidade (pelo menos dentro de equipamentos de mergulho).

Já entre os sólidos, características similares de resistênca à compressibilidade, e até a mobilidade são evidentes, mas a baixíssima mobilidade, a não ser por significativas forças, os faz apresentarem não só volume constante, como também constante forma.

Certas coisas aqui me parecem óbvias, e as saltarei, e tratarei de algumas que são muito mais importantes e de entendimento mais difícil.



Qualqer pessoa concorda que aço é sólido. Qualquer pessoa concorda que um arame, sendo de aço, será igualmente sólido. Mas o que faz um arame ser dobrável, ou se romper?

Um arame dobra pois seus átomos e moléculas (aço possui os dois assim como inúmeras ligas metálicas) fluem uns sobre os outros, e mesmo formando grãos extremamente rígidos, estes apresentam fluidez de suas camadas, e estas são mantidas mais uma vez por interações entre os átomos. Quando os esforços são superiores a determinadas tensões, estas interações não suportam manter a coesão entre as partes, e mesmo o mais forte e de maior diâmetro cabo de aço, formado por até milhares de arames, assim como os que se veem nas pontes pênseis, se romperá.

Mas aqui não estamos tratando de resistência a tração, e nem mesmo de resistência à compressão com escoamento possível, e sim a diminuição de volume, ou aumento de densidade.




Mesmo para pressões da ordem de dezenas de milhões de atmosferas, como as que se encontram no interior da Terra, em seu centro destacadamente, são capazes de alterar a densidade dos átomos, embora o sejam capazes já a menores valores de comprimir moléculas. Mas o volume dos átomos, determinado pela sua nuvem de elétrons mais externa, não será alterado, ainda que em proporções, o átomo seja uma nuvem de elétrons do tamanho do maracanã e o núcleo seja uma joaninha no dentro do gramado.

Este volume enorme, proporcionalmente de vazio, só será comprimível significativamente com pressões no interior de estrelas, mas aqui, a questão temperatura não permitiria mais a existência da joaninha com o Maracanã a circundar, e sim teríamos um mar de "pedaços de concreto" em movimento e joaninhas insanamente a colidir, produzindo besouros maiores.

Este quadro é ponto para outro artigo, mas a conclusão no momento é que o que achamos que sejam as propriedades e características da matéria, algumas das quais já percebidas pelos filósofos greos e outros da antiguidade, só possuem nexo com o natural no nosso planetinha insignificante ou noutros planetinhas insignificantes, que podem incluir também gigantes maiores que Júpiter e até corpos ainda maiores, como as chamadas "anãs marrons", que são como se fossem planetas gasosos tremendamente grandes e com geologias diferentes de qualquer gigante gasoso propriamente dito, como Júpiter ou Saturno, mas sem massa-pressão para as joaninhas, perdão, núcleos, mesmo o simples próton do hidrogênio, produzirem núcleos maiores, e se tornarem estrelas com seu turbulento mecanicismo de gerar energia.

Antes de avançarmos: é aço impermeável, ou mais, existe algo impermeável?

Como citamos, aço é obviamente sólido, e dentre os materiais que normalmente lidamos, pode ser chamado de denso, assim como o dizemos "maciço", compacto, e até aquela característica dos materiais que quando realmente conhecemos o significado academicamente, torna-se difícil definir facilmente: duro.

Pois ao entrar em contato com algumas substâncias reativas, em especial os ácidos, e na indústria, destacadamente na enorme área de petróleo e gás o sulfeto de hidrogênio e sua solução em água, chamada ácido sulfídrico, este apresenta uma reação até pouco intensa de ferro presente no aço com o ácido, produzindo sulfeto de ferro e o hidrogênio.

Este hidrogênio nascente, mal encontrando outro hidrogênio nascente, forma a molécula biatômica de hidrogênio, que é bastante estável, e mais cedo ou mais tarde, na nossa atmosfera oxidante, reagirá com o oxigênio formando água.

Mas quando tal hidrogênio nascente íon hidrogênio, este possui a notável propriedade/característica de não possuir nuvem de elétrons como inúmeros outros íons.

Em outras palavras, nos termos de analogia que apresentamos, ele não é o estádio de futebol em diâmetro da nuvem eletrônica, mas a joaninha no centro do campo. Sendo assim tão pequeno, este íon/patícula subatômica permeia com extrema facilidade entre os átomos e cristais do aço em todos os seus espaços intersticiais.

Temos de destacar que este próton mantem-se móvel dentro da estrutura cristalina e atômica do aço, pois exatamente pelo seu extremamente pequeno tamanho, goza da propriedade de poder migrar de posições, pois não se adapta geometricamente à imensamente maior escala dos átomos da rede ao seu redor.

Enquanto ele ficar lá como um minúsculo átomo estático, ele comporá a função de um "preenchimento" dos interstícios mesmo da rede cristalina de átomos do aço e nada ocorrerá. Quando encontrar um elétron*, ele mesmo crescendo para o tamanho de um átomo, ainda sim não será um verdadeiro problema.

*Mas metais são condutores elétricos, logo possuem elétrons em movimento, e o processo corrosivo sempre forma correntes elétricas (aliás, forma pilhas e por causa destas produz-se corrosão), logo elétrons nos metais, destacadamente para as ligas de ferro, facilmente corrosíveis.

Ao encontrar outro próton e juntos com o acréscimo de mais um elétron, formará uma molécula de hidrogênio. Formada esta molécula, passará não a ocupar o volume de um átomo, mas o volume de molécula e apresentar a vibração e a mobilidade dos gases e mais que isto, a tendência ao volume que é aproximadamente 22 litros a temperatura ambiente para cada aproximadamente 2 gramas de hidrogênio, o chamado volume de Avogadro para pouco mais de 6 x 10^23 moléculas de um gás, e não o volume de 1 cm³ para quase 8 gramas do aço.

Logo, gerará pressões imensas dentro do aço, e mesmo o mais resistente aço apresentará o fenômeno chamado de "empelotamento pelo hidrogênio" que enfraquece gravemente (fissura) paredes e estruturas de aço sob estas condições, e é fator de falhas perigosas na indústria e construções de todos os tipos.

Portanto, o aço não é 'maciço" o suficiente, nem resistente, nem duro, nem o que pareceria óbvio, ser impermeável.

Assim, eu concluo esta parte, a matéria na natureza possui comportamentos muito mais exóticos do que somarmos dois volumes de álcool e água e obter um volume menor que sua soma. Mas será este o limite deste exotismo, a atmosfera de nosso planetinha?

Adianto: Não, e mostraremos que o universo é um caos muito maior que aritemética não ser aplicável a álcool e água.

Nossa atmosfera possui uma elevada concentração de nitrogênio. Este, submetido ao bombardeio de nêutrons oriundos de todo o universo* transformam-se em carbono.

*E convenhamos, me parece que o universo é o maior objeto ou sistema da qual se possa obter ou receber alguma coisa e portanto, caoticamente de todas as direções e aleatoriamente no tempo, pois também estas emissões de nêutrons foram aleatórias e oriundas de estrelas, que são sistemas extremamente caóticos pois tremendamente turbulentos.




Ou seja, o que seria um aparentemente estável e indissolúvel, até indivisível átomo - aliás, daí seu nome - transmuta, tornando-se de um elemento em outro, com propriedades completamente diferentes.

Aqui é conveniente destacar que nada de realmente extraordinário ocorre, a partir do momento que tem-se consciência de que átomos são arranjos de partículas mais elementares - e igualmente chamadas partículas elementares - , da mesma maneira que átomos são componentes de moléculas, estas sendo seus arranjos. Logo, rearranjando-se estas partículas, obtem-se outros átomos. Mas que fique bem claro que os mecanismos destes arranjos, embora relacionados intimamente, são bastante diferentes.

Este carbono produzido, em específico, é um isótopo diverso do carbono mais trivial, possuindo dois nêutrons a mais em seu núcleo. Este carbono, mais cedo ou mais tarde reagirá com o abundante oxigênio da atmosfera, produzindo dióxido de carbono, que mais cedo ou mais tarde será absorvido por plantas, na fotossíntese.

Antes desta absorção ocorrer, ou durante ou após esta etapa do ciclo desde "recém surgido" carbono na atmosfera, ele poderá perder seus nêutrons excedentes, tornando-se um carbono como o trivial, mais estável.

Mas digamos que ele seja absorvido após a planta, na genética, no DNA de um espermatozóide de um humano, por exemplo, e tal ocorre, o tempo todo. Igualmente para um óvulo, numa mulher. Estará lá um carbono que pode perder seus nêutrons, o que quimicamente não é um grande problema, mas também um carbono que poderá voltar a ser nitrogênio, e aqui, teremos um interessante fenômeno.

Antes de descrevê-lo, trataremos de um comportamento no tempo deste carbono, que será fundamental no que apresentaremos.

Consideremos uma quantidade qualquer de átomos de carbono 14. A cada aproximadamente 5700 anos, metade desta quantidade de átomos se transformará em átomos de nitrogênio, pela emissão de uma partícula beta, com a transformação de um de seus nêutrons em um próton. A parte não transformada, em outros 5700 anos se transformará pela metade, e assim por diante, sempre nestas aproximadas metades, estatisticamente a cada intervalo de aproximadamente 5700 anos.

Esta é a "meia vida" do isótopo C14. Apenas para ilustração, inúmeros outros elementos e seus isótopos possuem meias vidas características, como por exemplo, o utilíssimo urânio, na determinação de idades de rochas e fósseis, com respectivamente meia vida da ordem de centenas de milhões de anos.

Esta distribuição no tempo da transformação de C em N implicará que átomos de C14, estatisticamente se transformarão em N no CO2 do ambiente, da atmosfera, resultando em, átomos de nitrogênio e oxigênio, se transformarão em N mesmo em meio à celulose e a sacarose da cana de açúcar, "explodindo" moléculas em suas cadeias (pois onde antes havia um átomo de carbono fazendo suas típicas ligações não mais haverá aquela configuração que resulta do comportamento do carbono, e sim, do nitrogênio) e também similarmente do glicogênio em nossos músculos e glicose em nossa corrente sanguínea, em nossas cadeias de aminoácidos, que são as proteínas que estruturam nossas células e com grande importância, no DNA de nossas células.

O ciclo do C14 - www.sciencecourseware.org

Ao ocorrer no DNA, poderão causar a incapacidade deste exercer suas funções, propiciando a morte da célula, ou uma alteração de seu comportamento habitual, gerando uma multiplicação exagerada e aquilo que chamamos câncer, ou, quando ocorrendo numa célula de um óvulo ou espermatozóide (como anteriormente lançamos como ponto a tratar), a alteração de uma característica do organismo que este irão produzir, numa mutação.

Assim, por este caminho que apresentamos, o comportamento do universo inteiro conspira para que através da nossa atmosfera e sua composição, pela fotossíntese, pela cadeia alimentar, causa a nossa modificação no tempo como espécie, assim como de qualquer outra forma de vida.

Mas no núcleo de toda esta tendência das coisas em não se comportarem dentro de regularidades que julgaríamos a primeira análise coerentes, está a característica fundamental da natureza, em todos os seus níveis, desde o subatômico, de ser um sistema dinâmico em permanente mudança, e tais mudanças não tem de obdecer nossa lógica, nossa aritmética, nossos modelos físicos aproximados, nossa química conservativa ou a noção difusa que temos do que seja um ser vivo, quanto mais nós mesmos.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Doa a quem doer, evolução é fato

, e matematicamente óbvio - II
Entropia





Tenho repetido seguidamente aos criacionistas que chamo de "amadores" que evitem usar o chamado "argumento da segunda lei da termodinâmica", que é tão infeliz que seu uso é recomendado como a ser evitado por sites criacionistas

Acredito que as últimas contribuições que fiz ao artigo sobre a segunda lei da termodinâmica na Wikipédia encerram o assunto do ponto de vista de contra argumento, mesmo com vandalismos recentes (inclusive tal artigo hoje já ultrapassa neste campo o excelente artigo da Wikipédia em inglês), mas infelizmente, um artigo mais longo sobre o que realmente seja a vida e a evolução sobre o aspecto termodinâmico eu ainda devo a mim mesmo, além, obviamente, de meus leitores.

Aleatoriedade onde ela não existe ou não é total




Igualmente curiosa como insistente, é a argumentação de criacionistas contra os argumentos que seletividade, tal como a seleção natural propicia, ou mesmo a catálise das enzimas sobre a ordenação tanto de aminoácidos nas proteínas quanto na polimerização do RNA ou DNA (que é sua replicação) conduz a um processo ordenado e não caótico, exatamente como aquele que se observa no "teorema do macaco infinito" que mesmo sobre uma base geradora aleatória, por processo seletivo, chega-se a resultados coerentes com o que seja não uma linguagem articulada escrita, mas mesmo literatura, e mais que isso, a própria literatura que se deseja previamente.

Mas dentro deste argumento, como vimos, o processo de polimerização de aminoácidos, o processo de replicação do RNA e do DNA NÃO É completamente aleatório em sua base, sua origem, pois as moléculas só se encadeiam numa determinada ordem e sob determinados mecanismos, logo temos que os criacionistas desprezam tal questão fundamental, e consideram o processo como inteiramente aleatório, e mesmo quando confrontados com resultados "filtrados" coerentes a partir de uma base aleatória, continuam afirmando que tal não pode ser possível.

Desprezam mesmo questões mais fundamentais, como a que átomos e moléculas não se organizam aleatoriamente, como sempre brincamos com a questão de que cloro e sódio não se combinam aleatoriamente, por exemplo em Na2 e Cl3, ou mesmo NaCl2 ou qualquer coisa assim, e sim, sempre quase instantaneamente em NaCl, logo, o Monstro do Espaguete Voador, paródia de uma divindade criadora, a ser respeitada como "teoria criacionista" a também ser ensinada nas escolas, produziu o sal, e viu que era bom.

Igualmente clássico é o argumento, não pelas reações químicas e seus mecanismos, mas por simples propriedades físico-químicas, do óleo e da água, que pelas simples densidade e polaridade se separam, não interessando quanta energia se aplique ao sistema como agitação.

Moléculas também desfazem de maneira simples o argumento tanto da aleatoriedade em suas reações quanto em incapacidade de produzirem estruturas crescentemente complexas, como sempre cito, na banal "família" de reações químicas

H2O + CO2 → H2CO3

H2O + SO2 → H2SO3


, onde duas moléculas de três átomos formam uma mais complexa de seis e em nenhuma outra combinação a não ser sob condições extremas de energia, logo, as moléculas podem perfeitamente tender a complexação, além de não reagirem pela aleatoriedade, e sim, por mecanismos de reação química específicos.

E por favor (pegaram o tom?), se criacionistas acham que o caso acima é uma anomalia dentro da química, peguem o caso banal de

H2O + SO3 → H2SO4

alterando o número de átomos envolvidos, mas não o crescendo de complexidade do produto.

Ou das inúmeras polimerizações, como a do ácido adípico com a hexametilendiamina, produzindo nylon, aliás, intimamente relacionada com a síntese de proteínas, ou do ácido tereftálico e o etileno glicol, produzindo o PET de nossas garrafas de refrigerante. Aqui, se eu quisesse e não considerasse um total e completo desperdício até do tempo de quem me lê, poderia jogar quase a obra clássica inteira iniciada por Fieser, já em 23 volumes nesta edição, ou o site Organic Synthesis.

Resumindo, moléculas geram complexidade por si, doa ao amador em química em esperneio insano que seja.

"Princípio Vital"



Criacionistas volta e meia, mesmo sem ter específica cultura para isso*, apelam para o "princípio vital", morto e enterrado desde a síntese da uréia, em 1828, a partir do aquecimento do cianato de amônio, inorgânico,

NH4(OCN) → CO (NH2)2

logo, do inorgânico surge o orgânico, e portanto, do inorgânico surge o bioquímico. Mas criacionistas retornam repetidamente a este argumento pífio, morto e enterrado em química, mesmo sem se necessitar chegar a questões mais complexas de síntese orgânica.

Para os que não conhecem a história desta questão, o que seja "princípio vital" era um dogma em Filosofia Natural, e até nos primórdios da química, que substâncias inorgânicas jamais poderiam produzir as substâncias que a vida utiliza, como aminoácidos, por exemplo, e mesmo subprodutos dos processos biológicos.

*Ver abaixo A questão do nível de linguagem e cultura específica.

Caudas de golfinhos, asas de águia, visão de toupeiras.



Criacionistas seguidamente colocam o "acaso" como responsável pela, digamos, cauda de um golfinho, como se assim o fosse sua origem, e mesmo esquecendo os séculos de passos deste processo, desprezam o mais que perceptível e indiscutível processo inexorável em permanente marcha que é a seleção natural, ou considerariam que um "urso" (no famoso pequeno erro de Darwin, ou um ungulado carnívoro, no nosso posterior desenvolvimento desta questão) ganharia uma cauda nadadora por milagre ou poderia nadar eficientemente sem esta no oceano?

Embora, mais uma vez, cuidado, pois ursos polares estão entre os melhores nadadores entre os animais terrestres, o que lembra o permanente problema dos criacionistas que acham que um orgão ou sistema para funcionar tem de ser perfeitamente adaptado ou um parcial não possa desempenhar determinadas funções.

Assim, primeiro colocam um processo aleatório onde ele não existe, depois, consideram que a forma tem de ser absolutamente fixa, e não poder se modificar, e em cima disto, afirmam que mesmo se modificando, uma cauda não plena como nadadora não poderia funcionar bem (embora, percebamos, para nadar bem, as patas fofas dos ursos polares funcionem bem), desprezando que a natureza apresenta nos inúmeros filos os mais diversos estágios parciais de desenvolvimento de diversas estruturas - só para ficar no ambiente aquático - como as caudas das lontras, das focas e dos leões marinhos, dos peixes-bois, num caminho próximo dos cetáceos, ou as asas dos avestruzes (sem falar nas capacidades apenas de planeio das galinhas e dos curtos vôos dos perus selvagens) e mesmo de aves sem asa alguma, como as extintas "aves elefantes" ou os atuais quivis, para citar outra estrutura sobre as quais tem verdadeira obsessão. Aqui, nesta questão, percebo uma aplicação de "paradoxo sorites" pela parte dos criacionistas, sempre na sua forma de falácia, ou seja: asa ou cauda nadadora é só aquilo que seja plena e absolutamente uma asa ou cauda nadadora, nada menos.

Biologias alternativas e genéticas exóticas



Criacionistas adoram afirmações retumbantes que não resistem a menor pesquisa mesmo por leigos, ou não sobrevivem à análise pelo próprio nível de ensino no qual afirmam que esta ou aquela afirmação científica é sólida, como "aprendemos no ginasial que mutantes não sobrevivem". Engraçado, que tendo uma mutação que produz uma alteração na forma dos meus dentes molares chamada Tubérculo de Carabelli* e ao que parece, estou aqui, muito vivo.

*E notemos que modificações como estas levaram primeiro à formação de dentes diferenciados nos sinapsídeos, como o dimetrodon, cujo nome significa exatamente aquele que possui dois tamanhos destacados de dentes, em sua separação dos demais amniotas, como os répteis, que possuem indiferenciação de dentes, basta olhar um crocodilo.

Também como contra-exemplo marcante de que mutações não implicam em morte, temos os vírus e bactérias, que exatamente quando apresentam mutações que lhe sejam favoráveis, tornam-se ainda mais nocivos e letais aos seres humanos ou nossos animais e plantas (ou a qualquer ser vivo, fique bem claro), e exatamente quando sofremos (ou qualquer ser vivo) mutações que nos tornem a eles imunes ou pelo menos mais resistentes, sobrevivemos.

Ainda mais "pérola", como nos acostumamos a dizer entre os debatedores de determinados círculos sobre evolução, é afirmarem que as modificações adquiridas não são transmitidas às gerações seguintes, quando exatamente as modificações adquiridas na genética são as transmitidas. Logo, se uma modificação como os tubérculos em meus molares passou de meu pai a mim, poderia receber uma nova mutação em minha genética, e se das células repodutivas, passar a um filho meu, agora com tubérculos em meus caninos (só para citar uma possibilidade).

Logo, não basta ao criacionista fazer afirmações que não se sustentam ao mínimo em observações simples sobre as diversas mutações humanas, sem falar de qualquer animal ou planta doméstica, como são as clássicas entre os estudantes de secundário patas curtas em ovelhas e os "umbigos" das laranjas, mas também colocar afirmações lamarckistas (que como negativas são sólidas) como se fossem afirmações da teoria sintética da evolução, que não só é darwinista como também é estruturada na genética.

Genética fixa quando nos é conveniente,
genética inexistente quando nos é inadequada




Aqui apresentarei como exemplo uma argumentação de comentário infeliz de um criacionista a comentário meu ao seu conjunto de pseudo-argumentos. Este criacionista pergunta em desafio como que a primeira aranha que produziu a teia com a viscosidade certa* transmitiu esta capacidade à geração seguinte. Aqui já se demonstra um conhecimento um tanto distorcido sobre genética, pois me parece até óbvio que basta se olhar para nossos cabelos e olhos no espelho e ver que os herdamos de nossos pais. (A questão não passa só por esta banalidade genética, mas sim, pelo que apresentarei após tratar esta argumentação sobre aranhas.)

*Primeiro, conhecendo um minimo de aranhas, e um tanto de química, dizem por aí, teria de perguntar proteína de teia para qual finalidade, pois temos aranhas que produzem desde capas para suas armadilhas no solo até as grandes "tecelãs de jardim", com suas "rendas complexas" e inclusive aranhas que não produzem teia estrutural alguma.

Independentemente de criacionistas apelarem para um fixismo que não se sustenta**, aqui apelam para que não existam na natureza aranhas que não produzam teia complexa, e sobrevivam de maneira perfeita, como as domésticas aranhas "papa-moscas", saltadoras, que são admiráveis em predar insetos, indo a caça sem espreitar que alguma presa fique presa seja lá no que for. Logo, é gritante que produzir teia não implica em sobreviver, logo, poderiam aranhas terem crescentemente produzido teias mais e mais aptas para caçar (ou mesmo, paradoxalmente ao argumento criacionista, terem abandonado a produção de teias para caçar como inúmeros outros artrópodes e até mesmo aranhas) geração após geração.

**Inclusive entre eles, como seguidamente repito pela própria necessidade de para sustentar o dilúvio bíblico, terem de se dobrar a evolução dentro de filos estanques, os espúrios "baramins", e mesmo dentro destes, relutarem com determinadas estanqueidades que apresentam mas não existem, como entre raposas, coiotes, lobos e cães, ou entre os felinos, apenas para citar grupos destacados. Aqui, por exemplo, apelam para o mesmo em artrópodes, e apelariam genericamente para qualquer filo que se apresente continuidade - descendência - no tempo, relutando em cada caso apenas em buscar sustentar finalmente o fixismo, logo, criação.

Um acréscimo
, com mais caos ao mundinho perfeito e exato dos criacionistas




Pelo quadro da ausência de evidência de teleologia visto em O eterno retorno da Falácia de Hoyle e pela questão de combinatória como realmente deve ser tratada em Números misteriosos ou incompreendidos, vejo-me obrigado a alongar estas questões, agoras mescladas.

Criacionistas querem que o processo evolutivo seja obrigoriamente determinista, pois determinista foi a afirmada ação de sua divindade (aliás, determinista TEM DE SER uma divindade, ainda mais a bíblica). Defensores do Design Inteligente igualmente, pois pela sua argumentação, nada mais determinista que os arranjos moleculares que geram a complexidade que afirmam irredutível.

Infelizmente para ambos, apenas consideramos o processo evolutivo dos seres vivos indeterminista, num sentido mais trivial, em seus motores mais profundos, que são aleatórios*, ainda que sua variabilidade possível apresente limites.

*Pois quânticos, como por exemplo, a ação das radiações nas mutações.

Estes limites são claros pois evidentemente dos ovos de um colibri não nascem modificações destes em algo similar à uma águia, mas apenas colibris diferentes de seus pais e nem mesmo uma gata dá a luz a um tigre dente-de-sabre, mas pelo acúmulo de modificações, um colibri poderá ser o ancestral de uma ave tão poderosa quanto uma águia, e ainda mais facilmente uma gata poderá ser a ancestral de um felino de grande porte com enormes caninos.

Devemos observar que esta ave poderá ser extremamente parecida com um águia, assim como o felino de grandes caninos poderá ser quase idêntico a um pré-histórico tigre dente-de-sabre, mas estes hipotéticos animais não serão nem uma águia nem um Smilodon, pois estes evoluíram de outra ave e outro felino que não foram nem um colibri, nem um gato doméstico.

A evolução é um jogo cujas etapas podem se repetir em processos e regras, mas cada etapa depende da etapa anterior e é única em suas combinações.

Então a aleatoriedade opera dentro de limites, e causa bifurcações específicas nos cladogamas, as especiações, e estas são "peneiradas" de maneira determinante pela seleção natural.

E mesmo esta seleção tem em sua ação a aleatoriedadede do ambiente, que é aleatório nos processos astrofísicos, e mais ainda nos geologismos, pois a deriva continental é o maior motor da modificação dos ambientes terrestres.

Por fim, concluímos que a evolução é sob amplo aspecto indeterminística, mas em seu indeterminismo, converge com o ambiente para determinar exatamente as espécies que sobrevivem em cada período de tempo de cada ambiente geográfico (e até geológico) da história da vida na Terra.


A questão do nível de linguagem e cultura específica
(Poderia chamar este pequeno capítulo de "A origem dos meus 'HAJA!' ")




Percebamos a primariedade do argumento criacionista acima, e aqui repetirei um post no ORKUT que escrevi há anos, e infelizmente, se perdeu, e julgo agora adequado reescrevê-lo.

Na minha biblioteca, possuo dois livros chamados Advanced Organic Synthesis, um com o subtítulo Methods and Techniques, de Richard Monson e outro com o subtítulo Reaction and Synthesis, de Francis Carey e de Richard Sundberg. Para se ter uma visão do que e trata o que define-se por estes títulos como "síntese orgânica avançada", seria recomendável passar os olhos por esta versão em pdf: Monson

Estas obras são escritas numa linguagem, hora específica e técnica, hora resumida e abreviada a extremos, que é praticamente ininteligível a não ser para aqueles profissionais de alguma vivência em síntese orgânica, que não só é a ciência e a técnica de se obter substâncias orgânicas, molecularmente falando, a partir de outras substâncias, sejam orgânicas ou não, por intermédio de reações químicas e processos físico-químicos (como aquecimentos a determinadas temperaturas e durante deerminados tempos). Afirmo 'não só' pois muitas sínteses possuem um tanto de arte, de técnicas que são empiricamente desenvolvidas, pois alguns passos e detalhes não possuem modelo algum que os trate, e inclusive, algumas ainda nem possuem uma explicação teórica (um exemplo que sempre cito é o ácido antranílico a partir do orto-nitrotolueno por oxi-redução interna - notemos que só esta linha já dá uma amostra do que quero afirmar neste parágrafo).

Não significa que a síntese orgânica avançada seja um campo transcendente, superior a qualquer outro, mas sim, que exatamente como inúmeros outros campos avançados em diversas ciências, é apenas inteligível em linguagem por quem possui já uma significativa experiência em tal campo, vivência e aprendizado em um nível superior.

Aqui entra a questão que quero afirmar: criacionistas, mesmo sem formação, experiência ou mesmo nível de linguagem, mesmo quando a possuem em outros campos, como são os casos destacados de Duane Gish e Michael Behe, curiosamente ambos bioquímicos, o primeiro um criacionista de "Terra Jovem", biblicista, e o segundo um dos principais defensores do design inteligente (e aqui vale ler meu artigo de porque o D.I. é um criacionismo), não entendendo coisa alguma claramente de termodinâmica ou física nuclear acima de um determinado nível, ou bacteriologia e fisiologia do olho (sendo específico), respectivamente, fazerem ataques a um volume colossal de informação científica, inclusive por especialistas de renome maior que eles próprios em seus próprios campos de especialização e formação.

O que devemos dizer então de criacionistas sem a menor formação acadêmica em campo científico algum, a escrever volume enorme de coisa alguma sobre questões que não são difíceis de serem rebatidas por um estudante de secundário?

Ou ainda sim, quererem discutir sobre campos mesmo com pessoas com formação específica e robusta, quando não longa experiência nestas questões, sem nem se necessitar falar de biólogos e paleontólogos, mas por exemplo, químicos e engenheiros químicos, como é o meu caso, com formação tanto em termodinâmica num nível técnico bastante sofisticado, ou síntese orgância, com larga experiência acadêmica e profissional?

Voltemos aqui as duas questões acima: quem convence alguém com a Bíblia como resposta par questões científicas, quando nem mesmo neste campo seus dois primeiros livros escapam inclusive de contradições mútuas? Ou quem conseguirá provar-me que criacionismo não passa por um tanto de masoquismo a cercar um fundamentalismo patológico (como se algum não fosse)?

Responder a pergunta acima deveria ser tão banal quanto os criacionistas, dos mais diversos tipos, ao invés de ficarem perdendo seu tempo esmurrando o colosso intelectual que é a Biologia e sua inseparável "Teoria Eixo", simplesmente comprovar os fenômenos miraculosos que afirmam.