terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Lógica leva à verdade?

_ Anotações iniciadas em um debate nos divertidos tempos de Orkut.

Leituras inicias:



Um bom complemento seriam o artigo da Wikipédia em inglês ( en.wikipedia.org - Truth ) e seus links recomendados, mas sinceramente, fuja do artigo da Wikipédia em português.


Sempre considerei que o problema é mais facilmente entendível por uma determinada marcha de apresentação.
:
Conceitos são claros ou obscuros.

Eu entendo quando se diz “cavalo” um determinado animal bem claramente definido, que pode até ser parecido com uma zebra ou com um asno, mas jamais confundiria, tanto no termo (já explicitado) quanto na imagem que me vem à cabeça (que por exemplo, não visualizaria com listras, ou mesmo com as enormes orelhas típicas dos asnos).

Mas notemos...

O que é a matéria? Como realmente interage? O que é uma partícula? O que é um campo? Quantas dimensões ou se as possui, realmente tem a natureza, etc?


Na verdade, todos nossos conceitos mais profundos sobre a natureza são obscuros, a plena análise.
Premissas são dubitáveis (logo, podem ser falsas, e seguidamente o são).

Um cavalo que vejo ao longe, se afirmado verde, a não ser em aclamado filme, e por ser pintado, certamente seria uma afirmação falsa.



Mas notemos que talvez seja uma inédita mutação ou variedade geneticamente modificada, pois possibilidade, e tal lacuna nos será útil adiante, em questões muito mais profundas como argumento.

Tão claro como se alguém, bem claro o que seja o conceito de massa, afirmar que a Terra a possui em uma quantidade de apenas uma tonelada.
Observamos algo, e sobre tal, construímos modelos (scientia!). E tal pode ser feito inclusive por:
Raciocínios (que podem ser corretos ou incorretos)
Mas sobre premissas falsas, ainda que "aproximadas do real", construímos raciocínios próximos "daquilo que é" (aliás, a dita verdade), mas o método, em si, até pelos conceitos e seus limites, não podem conduzir, apenas pelo método, à "verdade".
Mas antes tenho de perguntar:
QUE LÓGICA, ÓH RAIOS?!

Nota: Para entender o motivo da ira da pergunta acima, recomendo a trivial Wiki. Pois a aristotélica é muito bela e adequada, mas não se presta já para tratar, por exemplo, bósons, que não permitem, por exemplo, a banal "contagem" e pululam em experimentos em multiplicação de seu número, "dividem-se" e “reagrupam-se”, e ocupam dois lugares e rumam em duas direções ao mesmo tempo, a toda hora.

Note-se as aspas em “dividem-se” e “reagrupam-se”, pois
não é algo como uma laranja que se parta em dois.
Assim, "terceiro excluído", por exemplo, é conceito que não se torna muito adequado de ser usado como uma absoluta lei da natureza .


Detalhe que me escapou:
É óbvio que a Lógica, assim como a Matemática, tem "compromisso" com a verdade no sentido que chamaria de "rigor".
Mas a ciência (no sentido popperiano estrito, destaque-se) tem "compromisso" com a verdade no sentido de modelagem precisa dos fenômenos da natureza. O que também pode ser tratado por "rigor".

Obs.: Sobre rigor neste contexto, o
artigo da Wiki é útil.


Mas a questão é que apesar de todo o mais honesto rigor (o rigor tem sempre um aspecto humano), nem Lógica nem Matemática podem por sua própria natureza chegar a qualquer modelagem ou entendimento por si da natureza ("limites da razão", construtivismo vs formalismo) e a ciência não passa do que seja confiabilidade.

E acreditem, esta palavra tem imensamente mais peso como segurança que a dúvida que pode minimamente apresentar.
Então, Lógica até tem compromisso, mas de boas intenções a estrada para o inferno é lindamente pavimentada.


Certa vez num debate sobre o tema que “entes geométricos”, como ponto, reta e plano, não fazem parte da realidade, da natureza, certo debatedor colocou:


"Parece mesmo. Mas isso não é uma prova conceitual? Você provou que pontos não existem a partir de uma contradição. Assim, você provou a inexistência de algo por meios não empíricos."

Mas a questão de que entes abstratos "existam ou não" (na verdade, por serem abstratos, não existem materialmente por simples definição!) é diferente da existência de algo na natureza, como fadas (uma forma exótica de vida), um bule orbitando Saturno (uma forma de agregação, e na verdade, até um objeto de alienígenas) ou mesmo um "deus", uma entidade coordenadora, e até consciente do universo.

Nota: Se não sabemos o que seja o universo, ainda mais o que seja o
tudo-que-existe, como podemos afirmar se seja controlado ou não, criado ou não, caixa de formigas ou simulação que o seja. As questões não são práticas, inúteis até, pura conjectura filosófica, mas exatamente por poderem ser feitas e serem coerentes com o que sabemos - e mais ainda com o que não sabemos - servem para delimitar muito bem o que pode ser afirmado.

Percebamos que não estou afirmando que fadas, o bule orbitante ou mesmo Zeus exista ou não.

Estou afirmando que os objetos abstratos da geometria não existem - lamento pela repetição - e que as fadas, “pequemos” só este caso, podem - no sentido até da mais vaga possibilidade - existir.


Isso sem falar numa divindade seguindo a "lei de Clarke", da qual sejamos apenas formigas numa caixa de acrílico ou personagens de jogos de computador.




Sobre Teoremas em Física


Matemática não é ciência no sentido estrito, formal, do termo.


É apenas no sentido amplo, que é "vulgar".


Ciência "estrita" é a com definição popperiana, e não produz jamais certezas, apenas, gera o que se chama no jargão do ramo "confiança".


Assim, mesmo as mais sólidas afirmações científicas, que são os ditos "princípios universais" da Física, como o Princípio Universal de Conservação da Energia, não apenas postulados científicos fundamentais, observações mais que amplamente confirmadas, que servem para estruturar todas a s afirmações dali decorrentes, mas ainda sim, não são certezas no sentido absoluto que o termo implica.


A propósito: existem Teoremas e "Lemas" (este termo não é muito conhecido pelo público) em Física, como o Teorema "da Calvície" dos Buracos Negros e o grande e importantíssimo Teorema de Noether, ligado ao Princípio de Conservação da Energia, assim como um teorema essencialmente lógico, que aplicado à Mecânica Quântica, por meio da violação de suas "desigualdades decorrentes", resulta num bom volume do entendimento e aceitação da aleatoriedade intrínseca que observamos em todos os fenômenos subatômicos, no indeterminismo, o Teorema de Bell.


Mas ser Teorema ou "lema" em Física não tem a mesma significância e características típicas dos Teoremas em Matemática, Lógica e Teoria da Informação (“filha” delas).


Continuam a ser, na verdade, equacionamentos, modelagens, sobre observações e experimentos, e não transmitem um rigor da mesma natureza que os das linguagens Matemática e Lógica, pois na verdade, a natureza não é lógica nem matemática, mas sim, "aquilo que ela é", que é, com o perdão da redundância, "natural".



Recomendações de leitura




Recordações




Nota mental: Este conjunto já está merecendo uma compilação...

Um comentário:

Ramon Bernardes Assunção disse...

Nossa isso é pior que o ceticismo de Hume. Mas Francisco, mesmo os axiomas da matemática sendo ajustados a natureza, ela não é totalmente confiável?
Depois que lê sobre o teorema de Bell, e matemática do caos, fico pensando, que talvez se chegará num ponto onde a aproximação tenderá ao infinito...