segunda-feira, 18 de julho de 2016

Pseudociências - 1



O físico Robert L. Park publicou no Chronicle Review um artigo intitulado "The Seven Warning Signs of Bogus Science" - "Os sete sinais de aviso de pseudociência" - para que os leigos possam identificar mais facilmente o que é ciência do que não é...

O texto está aqui: www.quackwatch.com

Obs.: Acrescento traduções parciais dos “sinais”. Com o tempo, espero publicar a tradução completa do texto.


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Os sinais são

1- O pesquisador expõe sua descoberta diretamente na mídia;

A integridade da ciência repousa sobre a disposição dos cientistas em expor novas ideias e descobertas para o escrutínio de outros cientistas. Assim, os cientistas esperam que os seus colegas revelem novas descobertas inicialmente para eles. Uma tentativa de contornar a revisão por pares, tendo um novo resultado diretamente para a mídia, e daí para o público, sugere que o trabalho é pouco provável que surja fechando o exame por outros cientistas.


Um exemplo notório é a reivindicação feita em 1989 por dois químicos da Universidade de Utah, B. Stanley Pons e Martin Fleischmann, que tinham descoberto a fusão fria - a maneira de produzir fusão nuclear sem equipamentos caros. (Nota: e condições extremamente rigorosas.) Os cientistas não reivindicam afirmações até que leem relatórios em uma conferência de imprensa. Além disso, o anúncio foi tratado em grande parte com o potencial econômico da descoberta e era desprovido do tipo de detalhes que poderiam ter habilitado outros cientistas a avaliar a força da reivindicação ou repetir a experiência. (O anúncio de Ian Wilmut que tinha clonado com sucesso uma ovelha era tão público como a alegação de Pons e Fleischmann, mas no caso da clonagem, abundantes detalhes científicos permitiram aos cientistas julgar a validade do trabalho.)


Algumas afirmações científicas evitam até mesmo o escrutínio de repórteres aparecendo em anúncios comerciais pagos. Uma empresa de alimentos saudáveis comercializou um suplemento dietético chamado de "vitamina O" em de página inteira de anúncios de jornal. A "vitamina O" acabou por ser água salgada comum.



2- O pesquisador alega que forças do "status quo" boicotam seu trabalho;

A ideia é que o establishment (científico) presumivelmente parará sem motivo para suprimir descobertas que podem mudar o equilíbrio de riqueza e poder na sociedade. Muitas vezes, o descobridor descreve a ciência mainstream como parte de uma conspiração maior que inclui a indústria e o governo. Afirmar que as companhias de petróleo estão frustrando a invenção de um automóvel que funciona com água, por exemplo, são um sinal claro de que a ideia de um tal carro é bobagem. No caso de fusão a frio, Pons e Fleischmann culparam sua recepção fria aos físicos que estavam protegendo a sua própria investigação em fusão “quente”.
3- O efeito alegado sempre está no limite do experimentalmente detectável;
Infelizmente, nunca há uma fotografia clara de um disco voador, ou do monstro de Loch Ness. Todas as medições científicas devem lidar com algum nível de ruído de fundo ou flutuação estatística. Mas se a relação sinal-ruído não pode ser melhorada, mesmo em princípio, o efeito não é provavelmente real e o trabalho não é ciência.
Milhares de artigos publicados em parapsicologia, por exemplo, afirmam denunciar casos verificados de telepatia, psicocinese ou precognição. Mas esses efeitos aparecem apenas em análises torturando estatísticas. Os pesquisadores podem encontrar alguma maneira de aumentar o “sinal”, o que sugere que ele não está realmente lá.


4- A evidência da descoberta é anedótica, ou seja, é uma evidência pessoal que nunca foi comprovada cientificamente.


Se a ciência moderna tem aprendido alguma coisa no século passado, é a desconfiar de evidências anedóticas. Porque anedotas têm um impacto emocional  muito forte, que serve para manter crenças supersticiosas vivas numa época de ciência. A descoberta mais importante da medicina moderna não são vacinas ou antibióticos, é o teste duplo-cego randomizado, por meio do qual sabemos o que funciona e o que não funciona. Ao contrário do que diz o ditado, "dados" não é o plural de "anedota".


5- O pesquisador diz que alguma crença tem crédito pelo simples fato desta ter durado por séculos;

Há um mito persistente que centenas ou mesmo milhares de anos atrás, muito antes que alguém soubesse que o sangue circula por todo o corpo, ou que os germes causam doenças, nossos ancestrais possuíam remédios milagrosos que a ciência moderna não pode entender. Muito do que é chamado de "medicina alternativa" é parte desse mito.


A sabedoria popular antiga, redescoberta ou reembalada, é improvável que coincida com a produção de laboratórios científicos modernos.

6- O pesquisador trabalhou em isolamento;


A imagem de um gênio solitário que luta em segredo num laboratório no sótão e acaba fazendo um avanço revolucionário é um “gancho” de filmes de ficção científica de Hollywood, mas é difícil encontrar exemplos na vida real. Avanços científicos hoje em dia são quase sempre sínteses do trabalho de muitos cientistas.

Nota: O tema é relacionado á questão da singularidade tecnológica. Pelo volume e profundidade do que seja hoje uma descoberta científica, ela, com significativa probabilidade, obrigatoriamente é coletiva.


7- O pesquisador precisa propor novas leis da natureza para poder explicar sua descoberta;


Uma nova lei da natureza, invocada para explicar algum resultado extraordinário, não deve entrar em conflito com o que já é conhecido. Se temos de mudar as leis existentes da natureza ou propor novas leis para explicar uma observação, (o apresentado) é quase certamente errôneo.

Comecei esta lista de sinais de alerta para ajudar os juízes federais a detectar um absurdo científico. Mas, assim que terminei a lista, percebi que em nossa sociedade cada vez mais tecnológica, perceber “ciência vodu” é uma habilidade que todos os cidadãos devem desenvolver.


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