Uma jornada pelas inúmeras falácias habituais dos criacionistas
Já há anos escrevi que criacionistas são meu hobby, minhas palavras cruzadas, meus "puzzles". Criacionistas tratam de maneira tão absurda e distorcida de tantos assuntos que refutá-los passa a ser um passeio, até podemos dizer uma jornada - quando não uma expedição, dada a selvageria de alguns - por inúmeros campos técnicos-científicos, e nisto, relembrá-los.
No "over kill" abaixo, passarei por inúmeros destes campos, procurando mostrar que os modelos físico-químicos-matemáticos dos criacionistas passam por uma graduação de argumentos pífios, ou por conceitos obscuros, premissas falsas, raciocínios errôneos, quando pelo menos relativamente bem contruidos, ou simplesmente ridículos, quando não apresentam conexão mínima com o que seja a realidade, mesmo em observações que uma simples criança faça com coisas domésticas.
Em contrapartida, procurarei, quando necessário ou adequado, mostrar os modelos físico-químico-matemáticos coerentes com os fatos, especialmente os combinatórios, que tratem da questão abordada.
O eterno retorno da Falácia de Hoyle
Recentemente, encontrei pitoresco blog de um evangélico na internet, com o mais que divertido argumento de que evolução é matematicamente impossível, o que na verdade, é sempre uma modificação seja como for da Falácia de Hoyle, que já tratei em um Knol.
Invariavelmente, criacionistas que enveredam por esta argumentação sempre citam números peculiares, sabe-se lá de que original fonte, como o de que as células, menores unidades vivas, tem 100 mil moléculas.
1) Como se qualquer colher de chá de sal não tivesse milhões, mas o que interessa não é o número de moléculas, e sim como estas se coordenam, e nisto está o mesmo motivo pelos quais minhas células da pele são bastante mais complexas que uma bactéria de minha "bebida láctea com lactobacilos vivos", mas nem por isso, exatamente em relação ao processo evolutivo, minhas células não são nem um pouco significativamente mais complexas que as células de uma minhoca, o que guarda intimidade com meu Knol sobre modelos matemáticos em evolução.
Isto se dá porque somos o rearranjo de células de um verme, apenas com "algumas" funções acrescentadas, e não mais que isso (a mudança para um cordado, um peixe, um anfíbio, um amniota, um mamífero primitivo em coisa alguma vai mudar esta afirmação, apenas, mudar a sua graduação).
Igualmente misteriosa, como se não estivesse já no argumento acima, é a afirmação de que nesta mesma célula, 10 mil reações químicas estejam ocorrendo nesta célula.
2)O que em si, também pouco interessa, pois exatamente como percebemos na complexidade em tamanho, estrutura e diversidade de moléculas, uma célula de meu corpo não é mais diversa em reações químicas significativamente que uma célula de uma minhoca, novamente, e portanto, ainda mais se tomarmos um animal muito mais complexo, outro, igualmente complexo - um primata qualquer - perfeitamente pode ser a variação deste. Logo, evolução por esta argumentação não pode ser derrubada como fato.
Curiosamente, e eu me atreveria a chamar, lembrando famosa "tirinha" humorística sobre o tema, de "falácia da surdez", os criacionistas não entendem que comprovar o surgimento miraculoso das células, mesmo de qualquer "filo", pouco importa, pois ainda sim, não se comprovaria que tais células ou menos ainda tais "filos" não pudessem evoluir. Aliás, em caminho contrário, para derrubar completamente e de vez o simples e óbvio raciocínio que está no núcleo da evolução, desde suas afirmações basais por Darwin, sem ao menos se citar filósofos que a pensaram e outros cientistas, é que bastaria comprovar o surgimento miraculoso de um organismo complexo, mesmo que fosse o, pasmemos, muito mais complexo que as primeiras formas de vida que afirmamos em biopoeise (do grego bio, vida, e poiéo, produzir, fazer, criar).
Estas formas de vida, sim, foram muito mais simples que ao leigo, como a imensa maioria dos criacionistas, e na generalidade em biologia específica sobre o tema, os lactobacilos de minha bebida.
Estas formas iniciais de vida seriam tão simples ao ponto de não poderem ser tratadas propriamente como uma célula no que hoje é este conceito, pois seriam estruturas inclusive difusas com o meio, muito mais um sistema de reações integradas, numa região de ambiente favorável, ou como teria a coragem de definir o conceito em termos, "região ou volume difuso de reações", o que Sagan trata de maneira brilhante em seu Cosmos, mostrando uma formação de moléculas surfactantes ou tensoativas (aquelas que contém um lado polar - hidrófilo, compatível com dissoluções aquosas - e outro apolar - hidrófobo ou lipófilo, aos moldes bioquímicos, compatível com substâncias apolares como os lipídios), isolando uma região, um volume onde se manifestariam as primeiras reações químicas da vida, mesmo que transitoriamente e com inconstante capacidade de auto-replicação.
Antes de avançarmos para outro ponto, um conjunto de observações sobre a falácia de Hoyle e determinadas questões sobre a combinatória de genes.
Mas a razão principal pela qual a falácia de Hoyle é pífia para se tentar, mesmo adaptada, derrubar a evolução dos seres vivos como fato é exatamente o motivo pela combinatória que a genética de uma bactéria, por mais simples que o seja, por novas combinações* chegará a se tornar a combinação que formará, coordenará, a formação de qualquer outro ser vivo, pois estes, ao nível genético, são apenas variações de combinatórias dos genes, que coordenam todas as suas funções e estruturas.
*E inclusive configurações destas combinações, porque a estrutura na qual o DNA não necessita, e não é, uma linearidade indivisível, e pode se apresentar em linearidades "em paralelo", aquilo que chamamos cromossomos.
A questão é que a combinação "do próximo passo" não é nem segue o/um planejamento para se chegar a este próximo passo, e sim, simplesmente é o próximo passo, e inclusive, não necessita de forma alguma ser um acréscmo de complexidade no organismo (o que já é um forte argumento contra o D.I., pois se era para depois simplificar, por quê antes tornou complexo?), nem mesmo o aumento da complexidade da própria carga genética, nem muito menos ser contínua no aumento ou redução desta combinatória em linearidade, e sim ser a divisão desta linearidade ou a fusão de linearidades em outras estruturas.
Em outros termos, para se fixar bem esta conceituação fundamental, evolução não é a combinatória para se obter a genética de uma forma de vida, mas a variação da genética da vida ao longo de gerações que resultou em variações da vida.
Então, retomando uma linha de raciocínio sobre este tema, não podemos jamais afirmar que houve a adequada e perfeita série de combinações para transformar uma bactéria numa figueira, por exemplo, mas sim que houve a série de combinações que levou uma bactéria a se modificar e chegar também numa figueira. Exatamente esta é a apreciação posterior sobre o processo evolutivo, porque teleologia (planejamento) alguma se evidencia na natureza. Portanto, se não se evidencia, afirmar que esta exista é apenas um ato de fé, é crer-se que tal planejamento transcendente à natureza exista, seja qual for o ente ou processo que o cause.
Aqui, para entender determinadas questões teológicas (com respeito à fé) de propor uma divindade atuante, recomendo ler Collins, um evolucionista teísta em meu artigo sobre a demonstração que o design inteligente é um criacionismo.
Comparações indevidas
Sobre estes já dois tiros na água (quando não em seus pés), os criacionistas sempre acrescentam frases de efeito, como que a carga genética tenha "a capacidade de armazenamento de informações de 30 volumes de uma enciclopédia".
Analisemos mais demoradamente esta afirmação.
Pegarei uma enciclopédia robusta, como a minha Delta Larousse dos anos 60. Possui 15 volumes, num total de 8318 páginas, com duas colunas de aproximadamente 67 linhas de 46 caracteres. Isto totaliza 16636 colunas, logo 1.114.612 linhas, logo 51.272.152 caracteres. Levarei o número a 100 milhões, pois sou caridoso com argumentações matemáticas criacionistas.
Nestas páginas está um armazenamento de dados "linguísticos" expressando um volume significativo de informações. Pode ser comparada com os 5 milhões de bases de uma carga genética de uma bactéria como a Escherichia coli?
Sim, pode, mas de maneira extremamente limitada. Genes não expressam palavras, nem o nome de um rei persa, tampouco um nome de uma cidade, muito menos uma equação matemática, e embora coordenem uma reação química, não a podem representar com nossos símbolos químicos. Genes coordenam atividades bioquímicas, e tão somente isso, e não são arranjados para fazer isso dentro de liberdades estilísticas/linguísticas/fonéticas que possuímos, como ao que em palavras de origem russa tenha sons que combinação alguma em português sejam usuais, por exemplo. Somente podem o fazer dentro de combinações simples e específicas, pois A só se combina com T (adenina com timina), e C com G (citosina com guanina).
Outra questão é que cargas genéticas não podem, a partir de seus códigos simples em variações a cada "caracter", produzir a partir de um conjunto enorme de letras, ironicamente, como uma sopa de letras, as obras completas de Proust, e sim, apenas "uma nova edição da Delta Larousse" (e talvez, com diversos erros). Aqui, o modelo comparativo mostra-se mais inadequado, pois seres vivos e suas moléculas e genética não são arranjos, mesmo que "inteligentes" (ordenados coerentemente para uma finalidade), são sistemas bastante limitados em liberdades de reações químicas.
É de se destacar este fato, pois mesmo nas evidentes mutações que possuímos quando nos nasce um sinal no rosto, ou quando um gato nasce com um "dedo" a mais, se fossem muito mais que isso, não permitiriam nossa vida ou a de um gato mais que alguns minutos fora do ventre de nossas mães, e tal é bastante evidente.
Mas somemos o argumento de que as primeiras formas de vida eram muitíssimo mais simples (inclusive, especialmente, geneticamente) que as altamente especializadas Escherichia coli, com o que, como vimos, genéticas não são enciclopédias ou obras literárias e lembremos da "falácia da surdez": ainda que esta primeira forma de vida nem tão simples tivesse surgido por milagre, ou ainda que qualquer um dos filos da natureza o tivesse igualmente se formado em meio a um ainda deserto que seja a atual savana africana, ainda sim um elefante ou uma acácia seria um milagre de ocorrência muito mais complexo e raro em se realizar, mesmo no arranjo de células por milagre criadas, e tampouco anularia o banal e evidente fato que tais seres vivos, assim surgidos miraculosamente, modificassem-se no tempo, logo, evolução continua sendo fato.
Números misteriosos ou incompreendidos
Aqui, pararei de sovar como de costume a verborréia criacionista e tratarei de desmentir uma outra tolice que tem sido espalhada vergonhosamente por defensores do Design Inteligente, que aceita e inclusive implica em processo evolutivo, por místicos de toda a ordem e inclusive por evolucionistas teístas um tanto confusos, ao ponto que na verdade, são defensores ainda que por ingenuidade do Design Inteligente.
Sagan, Dawkins ou qualquer outro autor sério em divulgação ou pesquisa ou ensino de evolução em Biologia NUNCA afirmou que "a possibilidade do homem ter evoluído é de uma em 100 quadrilhões" ou, como gosto de dizer, joça de número grande similar. O que qualquer autor são e informado afirma é que a possibilidade de o processo evolutivo seguir pelo caminho que seguiu, entre todos os outros possíveis, é exatamente, por exemplo para o humano, enormemente pequena, mas infelizmente, ou felizmente, assim se deu.
O ser humano, assim como um simpático e destacado elefante, não é o planejamento para se chegar a este que lhe escreve ou um elefante que tanto destaco em meus textos (pois elefantes são, como qualquer mortal percebe, visualmente destacados). O ser humano é o fluir de bifurcações de um cladograma, a ramificação de uma árvore da vida, que chegou no elefante ou neste que lhe escreve, assim com chegou numa minhoca ou numa acácia, numa Escherichia coli ou num lactobacilo. Esta probabilidade não é a que a partir de um amontoado de genéticas, tenha se chegado miraculosoamente em nós que somos/seríamos seu objetivo, assim como é/seria o objetivo o lactobacilo que eu devoro. Esta probabilidade é sim, de entre todos os caminhos possíveis e inúmeras combinações que poderiam variar de maneira praticamente infinita, quem escreve este texto não tenha tromba, pese 5 toneladas e goste de beber Escherichia coli sabe-se lá em que bebida feita do que, talvez acácias que se alimentem de minhocas (cuidado criacionistas, pois há plantas que se alimentam de insetos).
Neste momento, gosto de uma argumento oriundo da ficção científica. Esta probabilidade extremamente pequenas de mesma configuração da árvore da vida, é o que fazem contextos de ficção científica como Star Trek, com suas formas humanóides apenas divergindo na maquiagem serem infantis, e clássicos como Planeta Proibido, com suas portas em forma de diamantes serem coerentes, assim como as exóticas formas de vida levadas ao realismo em movimento de Star Wars, mesmo num universo adolescente, serem maduras cientificamente, ou uma única frase, como a ouvida em O Dia em Que a Terra Parou, em sua segunda versão - "Assumi a forma humana para que não lhe causasse repulsa." - sejam pronunciadas fazendo-nos pensar, e não causar risos.
Seria bom criacionistas e outros entenderem que esta pequeníssima probabilidade de sermos assim, não implicaria em não haver elefantes (ou algo parecido) inteligentes, que bebessem saborosas bebidas sabe-se lá do que feitas, e inclusive, entendessem que probabilidades baixas de uma determinada configuração resultante de um processo não implica em um processo não poder resultar em qualquer outra configuração.
Lei de Borel, a inexistente
Espero em breve fazer uma associação desta questão da "Lei de Borel" criacionista com o lado sério da coisa, que é a lei dos grandes números e as distribuições e sua aplicação no entendimento evolutivo, como a distribuição de Poisson e a muito mais poderosa para tratar questões na variável tempo que é a distribuição de Weibull.
Em tempo, uma lida rápida na Wikipédia em inglês sobre a distribuição de Poisson, que é a mais trivial no tratamento de probabilidades mais complexas e "contínuas" do que os banais dados ou jogos de loteria, já dá uma mostra do nível de complexidade matemática que esta área do conhecimento humano já apresenta. Idem (e ainda mais) para a de Weibull. Logo, não serão criacionistas com suas afirmações nebulosas que vão derrubar o processo evolutivo por um raciocínio matemático completamente equivocado, ainda mais sobre simplesmente mentiras, pois sejamos claros, se o fosse assim fácil, os matemáticos do mundo já o teriam feito banalmente.
O mesmo mostraremos adiante em física e os físicos, na questão da termodinâmica como um possível empecilho para o processo evolutivo.
Muitas vezes me assombra o desespero (e talvez com sorte apenas ignorância) dos criacionistas em apelar para argumentos infelizes como "a chance de, por acaso, pegar um átomo específico em todo o universo seria de apenas 1 sobre 1 seguido de 80 zeros" ou ainda probabilidades de denominadores maiores que estas , quando, bastando entender um nível mínimo de químico de primário, sabe-se que os átomos de um elemento, aqui ou em Plutão, e até nas mais distantes estrelas e seus planetas são, mesmo com as variantes dos isótopos, exatamente iguais para fins químicos que os que tenho numa garrafa de água mineral que agora bebo.
Fantástico também é chegarem, além da absoluta desonestidade/estupidez do argumento acima, a desprezarem o belo e gritante fato da natureza que o vento que sopra em Campinas ou Hortolândia, ou Shangai ou Teerã, trazendo uma molécula (na verdade, miríades) sabe-se lá de onde, é a mesma que absorvida pela cevada na sua fotossíntese, produzindo amido, ou da cana em sua sacarose, contém o mesmo átomo que passará a ser composição de minha musculatura amanhã, por meio de minha cerveja no sábado ou de meu café na tarde de segunda. E esta argumentação simples e direta poderia ser estendida ao infinito, em números gigantescamente maiores em caminhos possíveis que o mais obsessivo dos criacionistas em escrever números aparentemente grandes baseados na verdade em bobagens.
Em outras palavras, nunca a biologia ou a química nos tratou como o arranjo de átomos individuais específicos, mas como átomos de elementos específicos.
Mas sejamos honestos (ao contrário deles): para chegar-se a esta capacidade de especificamente produzir a cevada amido, a cana açúcar, as leveduras a maravilhosa cerveja, o café sua poderosa e necessária a mim cafeína, e estes serem absorvidos nevralgicamente pelo meu corpo, serem divertidos ao meu cérebro e motivantes a minha produção intelectual, bilhões de anos de aperfeiçoamento pela mortes mais terríveis foram necessários.
Mas antes, muito antes disso, alguns milhões, na verdade centenas de milhões, de anos de geologismos, meteorologismos e até, usando um termo adorado pelos criacionistas, "catastrofismos" foram necessários, em que por meio, como já conhecemos, de milhões e milhões de raios de gigawatts de potência elétrica caíram em atmosfera tão infeliz à vida quanto é a de Vênus, espessa e pouco transparente quanto essa, protegendo as moléculas em síntese da radiação do Sol, sempre a decompor moléculas complexas (e atentem, também a modificá-las em sínteses até mais proveitosas e complexas, pois mesmo a radiação ultravioleta é ionizante, e havendo cargas em moléculas ou pedaços de moléculas ou átomos isolados, novas reações não tardam a ocorrer) até que se produziram polimerizações, e destas, catalisadores (fora o papel de catálise de inúmeros minerais) que propiciaram polimerizações específicas, em "ondas" de produção de moléculas que mais cedo ou mais tarde, colaboraram entre si, e inclusive, algumas modificações destas que eram capazes não de conduzir novas polimerizações similares, mas cópias QUASE idênticas, e exatamente graças a este sempre presente QUASE, o processo evolutivo, agora além do químico, mas que levou a mais simples bactéria imaginável a ser todas as formas de vida do planeta - pelo menos como evidenciamos até hoje.
Aqui, um acréscimo muito importante, relacionado com esta última frase: no passado, podem ter havido biopoeises em paralelo na Terra, mas até o momento, só uma parece que prevaleceu. Igualmente, pode em algum recanto obscuro do planeta estar ocorrendo esta de novo, ainda que tal, pela própria escala de geologia hoje disponível para produzir qualquer coisa, ser extremamente improvável. Mas além disso, desta improbabilidade pela escala geológica, atmosfera atual, etc, igualmente uma pobre forma de vida simples não passará mais que alguns minutos sem ser alimento de uma massa gigantesca de formas de vida que permeiam o planeta, desde os pássaros das mais altas altitudes e até das bactérias atuando na gordura de suas penas até quilômetros abaixo da superfície, mesmo em meio a rocha, decompondo e modificando nem só matéria orgânica, rica em carbono, mas também modificando até óxidos e sulfetos inorgânicos, pois ao longo da história, a vida adaptou-se a sobreviver a qualquer custo, mesmo o de digerir rochas.
Rivais que nos apoiam, ou "como quem eu cito não me colabora em coisa alguma"
Invariavelmente, os criacionistas, e notemos a ironia, mesmo os de Terra Jovem, os biblicistas literais e seus seis dias, apelam para citar o famoso em seu meio (e até no nosso, que o conhecemos até em nível mais completo e profundo que qualquer criacionista) livro de Behe, A Caixa Preta de Darwin.
Primeiramente neste ponto, nunca é tarde para cutucar os criacionistas, ainda mais os biblicistas, de que Behe (e diversos outros autores do design inteligente) não nega o processo evolutivo, muito menos a ancestralidade comum, muito menos afirma que o homem não tenha evoluído de outro primata, nem que não seja a evolução de uma bactéria primitiva e inclusive que não seja um parente afastado, como sempre brinco, até de um pé de brócolis.
O que, mais uma vez me parece ser uma "falácia da surdez", é que criacionistas, pouco interessando que inúmeros autores tem feito "esmagamentos" completos aos argumentos (que na verdade são "deus nas lacunas" adicionados de falácia do apelo à ignorância) de Behe e outros, como, destacadamente Orr, o próprio conjunto imenso de evidências de evolução dos olhos, inclusive na sua parte bioquímica, não só estrutural, a coagulação, e suas inúmeras variantes na natureza, em pleno acordo com o processo evolutivo dos diversos filos e seus sistemas próprios, a própria evidência, mais uma vez gritante, de que os flagelos bacterianos possuem variações, incompletas aos olhos de Behe, entre inúmeros filos de bactérias, etc.
A estes argumentos de biólogos e bioquímicos, somam-se os devastadores argumentos dos filósofos, contra os argumentos teleológicos, que inclusivem partem de um raciocínio simples, tomando de premissa que existe o designer, e provando que pouco interessa, pois este não teria de ser único, e neste campo, destaco o colosso intelectual que é Hume, que para toda a análise e inclusive seus mais ferrenhos críticos é considerado como aquele que encerrou esta questão.
Para tais questões, num quadro mais formal, recomendo humildemente meus dois Knols, tanto o que trata da pitoresca Falácia da Poça D'Água quanto o que trata do embrião da argumentação pelo D.I., que é o argumento do relojoeiro de Paley.
Os tombos de quem citamos
Mas antes de avançar para outro ponto, gostaria de colocar uma questão, que sempre "passa batida" por qualquer criacionista que cita Behe. Esqueçamos o flagelo bacteriano, e o consideremos um milagre. Mas observemos o olho completo de um peixe. Observemos o sistema de coagulação também de um peixe. Desafio qualquer criacionista e defensor mesmo mais sofisticado do D.I. a me mostrar, que dado que agora temos um olho completamente funcional, e igualmente um mecanismo de coagulação, ambos surgidos por milegre, que animais que o contenham não possam se modificar no tempo, e assim como um elefante, um cavalo, um crocodilo, um sapo ou seja que animal for, adequado ao caso, claro, não seja a modificação de um peixe, mesmo considerando que seja fato que tais órgão e mecanismo tenham sido soprados do barro por Aiye, a divindade da religião Yoruba - sim, por que gostaria de saber porque raios teria de ser o deus hebreu?
Assim, fica claro que mesmo com mecanismos bioquímicos tendo sido gerados por milagre, pouco interessa para a coordenação de células e seus tecidos em compor organismo diversos, e o processo evolutivo ocorrer. Esta argumentação, do tipo que na lembrança da "navalha de Ockham" chamo de "machado", é sempre útil para, a partir de colocar-se premissas exatamente iguais as da "parte contrária", demonstra-se de modo simples que suas conclusões são um "non sequitur", e de modo idêntico poderíamos fazer para a origem da vida, que aqui, colocarei como gerada por Orun, também da religião Yoruba, e igualmente pouco interessa tal milagre, pois após este, a vida evoluiu.
Aliás, este conjunto de argumentos deverá ser um acréscimo futuro a ser feito, ou uma continuação, do meu Knol O Motivo do Design Inteligente Implicar em Evolução, que trata do problema por outro caminho.
Outro ponto a ser até estudado por psicólogos, sociólogos e antropólogos, e garanto que renderia ótimas teses e seguros e aplaudidos mestrados e doutorados, seria da motivação quase masoquista* que criacionistas biblicistas acham, idependentemente de sua infeliz argumentação, seja lógica, seja matemática, seja física, seja química, seja bioquímica - e nem vamos falar da biologia, pois esta não existe sem a teoria da evolução - que ao citar qualquer passagem de Gênesis, seja falando de deus, pó, terra, água, barro, "segundo sua espécie", seis dias, etc, vão conseguir convencer alguém com um mínimo de senso de ridículo que estão corretos e a vasta e esmagadora maioria de pensadores ao longo, não dos últimos 150 anos após Darwin, mas nos últimos 300 anos após alguns fundamentos da filosofia e da própria filosofia natural, antes do que seja propriamente ciência, estão errados.
*Em caso de uma explicação que não passe pelo masoquismo, ainda que inconsciente, aguardo correspondência por e-mail. Desde já, grato.
Algumas apreciações
Aqui, observações pessoais:
Uma questão que é interessante a respeito dos criacionistas, especialmente quando tentam tratar com conceituações e técnicas de nível secundário (se muito) questões extremamente complexas é a de acharem que descobriram de alguma caixa mágica algum argumento fantástico para negar os fatos que pela sua própria natureza, são estudados com as mais avançadas técnicas e no mais alto nível.* Exemplifico com o próprio caso do uso de probabilidades, como se as probabilidades de algo sendo baixas, e não são, implicasse em tal evento não ocorrer, ou afirmações em genética, área extremamente formal (no sentido de matemático), como se exatamente o conhecimento da genética é que permite se entender porque ocorrem as modificações das espécies, exatamente a questão ao tempo de Darwin nebulosa sobre como as espécies se modificariam no tempo, e em se modificando, ou melhor, podendo se modificar, porque transmitiam relativamente grande quantidade de características assim como também as modificações ocorridas à sua descendência.
*Aguarde adiante A questão do nível de linguagem e cultura específica.
Mas dentro deste quadro de argumentações, é interessante se perceber que quando são confrontados com volume esmagador de argumentos, ainda se apegam a coisas que propriamente não entenderam como se os sustentasse, e exemplifico: em Knol sobre modelos matemáticos simples que apresento ao tratamento do processo evolutivo busco para tratar de maneira extremamente limitada as modificações das células em sua posição em relação a um "arquétipo" de um ser vivo os poliminós - como se não fosse trivial entender que somos arranjos de células mesmo sobre uma ótica fixista das espécies, exatamente porque não possuo o sexo de minha mãe e nem mesmo os exatos cabelos de meu pai, sem falar em chifres ausentes em vacas ou dedos a mais ou rabo a menos em gatos, casos muito mais gritantes de modificações das posições das células entre as gerações.
Tais poliminós são perfeitamente conhecidos em suas variações até um número grande de número de seus quadrados componentes, mas um equacionamento sobre como tais combinações se dá ainda não é conhecido na matemática, e nem mesmo se sabe se tal equacionamento existe. Mas o que interessa é que quadrados se acoplam em posições variadas, e crescentes com o número que destes, e isto é similar à células se arranjando no espaço, aliás em combinações infinitamente mais variáveis, basta ver que mesmo para animais pequenos como insetos, a variedade de formas é gigantesca, e nem precisamos apelar para os conhecimentos de genética ou mesmo evolução para perceber isso.
Mas ao ver esta dúvida sobre o equacionamento de poliminós, imediatamente um criacionista apontou para um de meus leitores que mais uma coisa em evolução não é conhecida! Mas percebamos que exatamente, o desconhecimento do arranjo dos poliminós é matemático, então, como poderíamos apelar para a matemática, que aqui mostra-se parcialmente desconhecida, para afirmar que evolução não ocorre?
A pergunta acima mostra que independentemente dos erros dos criacionistas, mesmo nos modelos matemáticos com que tentam encontrar argumentos para "refutar" o processo evolutivo, mesmo com a separação hoje definitiva entre o que seja uma matemática pura e a física, e consequentemente todas as ciências desta dependentes, incluindo a biologia, ainda sim os criacionistas apresentam uma argumentação desconexa, e cheguei a conclusão que a razão pura e simples disto é, do ponto de vista de método, não de motivação, é que não pretendem sustentar sua criação miraculosa dos filos dos seres vivos, coisa que bastaria motrar a própria abiogênese de qualquer forma simples (nem falemos das complexas) de vida (aliás, se provarem das mais simples possíveis, provarão biopoeise!), nem mesmo a separação inquebrantável e insuperável entre as espécies, contrariando a descendência universal, e muitas vezes, entrando em contradições com seus "grupos internos", suas divisões, afirmando que as formas de vida são absolutamente fixas, e negando os "baramins", necessários inclusive à sustentação do dilúvio bíblico e sua arca. Eles querem, antes de tudo, conduzir ao impossível absurdo até as coisas mais visíveis da evolução, como por exemplo, a inegável seleção natural, que inclusive, independeria de como e se as espécies se modificam - pois afirmar que o ambiente não se modifica é afirmar que ilhas como as de Tambora ou Krakatoa, só para citar dois casos mais destacados, não tenham se modificado completaente ou mesmo deixado de existir (se ali aconteceu a extinção de algum dodô ou coisa similar, pouco interessa neste meu argumento, pois bastaria mudar o local e escolher a espécie, como os gigantescos baluquitérios dos desertos da Ásia).
Apelos à ignorância
Criacionistas adoram, em meio ao terrível cultivo de seu jardim todo feio, mal-cuidado, esburacado e carunchado (Roberto Takata) apelar para o que eles acham que seja nosso conhecimento sobre os passos do processo evolutivo, seja ele o cosmológico, o astrofísico, o geológico, o químico da origem da vida, e o dos seres vivos, propriamente, o para eles mais problemático, pois ao criacionista é difícil ser descendente de um primata, mesmo sendo um primata, quanto mais ser parente afastado de uma ervilha.
Assim, afirmam com enorme gritaria que desconhecemos os organismos iniciais formados na vida, quando isso pouco interessa, pois certamente seriam ainda mais primitivos que nossas atuais mais primitivas bactérias, e ainda sim, não teria se formado do nada um cachalote nem seriam necessariamente iguais os hipopótamo desde um inexistente surgimento miraculoso.
Afirmam com fogos de artifício que os compostos químicos formadores iniciais da vida seriam desconhecidos, quando na verdade sabemos exatamente quais são e para toda a forma de vida que encontramos na natureza são os mesmos, inclusive, se reduzindo a um número menor exatamente na direção das mais simples bactérias, como vimos acima, pelo mesmo evolutivo motivo. E ainda sim o argumento que acima apresento de um cachalote ou um hipopótamo não surgirem miraculosamente na Terra (seja na terra ou na água) e não serem impedidos de se modificar permaneceria sólido.
Gritam aos ventos que a atmosfera primitiva não seria conhecida, quando na verdade, sabemos exatamente o que ela não possuia, o que muitíssimo provavelmente possuia e inclusive o que certamente produziria, em inúmeras variações, e todas estas variações conduzem a produção inexorável dos tijolos mais fundamentais da vida.
Mas lembrando frase de Einstein em resposta a os opositores da Teoria da Relatividade, bastaria apresentar porque a atmosfera da Terra não poderia ser deste enorme número de variações de composição, ou a composição exata que impediria a síntese de aminoácidos por exemplo, e ainda que colocassem lá o surgimento da vida por milagre, ainda sim não provariam o seu cachalote e seu hipopótamo miraculosos, espontâneos e fixos, e a evolução da vida ainda seria fato.
Alguns, como este evangélico, afirmam com vigor que a escala da evolução (como se esta se desse em escala ou "escada", e não em "árvore") não é conhecida, quando mal percebem qe uma graduação entre as complexidades de "fauna e flora" ao longo da história da vida, assim como as bifurcações mais amplas das formas de vida, e até inúmeros filos extremamente detalhados, como os mamíferos, são ,na prática, para as necessidades da paleontologia e por ela mesma pesquisada, completamente conhecidas. As lacunas hoje do cladogramas são ao nível mais preciso e detalhista que se possa imaginar, e vou me poupar de acrescentar o colossal detalhamento da genética na cladística de todos os filos.
Chegam a petulância de afirmar que a evolução não possui os mecanismos conhecidos, quando exatamente este é o mais conhecido de seus aspectos. Chegam a soberba de afirmar que as evidências não sejam conhecidas, quando o que afirmei pouco é exatamente oriundo, antes de o ser pela genética das formas hoje vivas e até algumas extintas, levantado exatamente pelas evidências (fósseis).
Aqui, lembremo-nos de que, como descrevi, o problema não é quem aceita o fato da evolução e ainda mais o estuda, encontrar o exato animal que sendo um amniota, se transformou num cavalo, ou entre eles, qual cavalo perdeu exatamente mais um dedo, mas sim, que eles apresentem quando surgiu miraculosamente um "gigante belga" de uma tonelada, ou mesmo um minúsculo pônei, já completo e acabado, na natureza.
Para estas certezas absolutas, completas e seguras sobre o mundo que possuem, aos criaconistas dedico esta citação de Darwin:
«A ignorância gera confiança mais frequentemente que o conhecimento; são aqueles que sabem pouco e não aqueles que sabem muito que asseguram que este ou aquele problema nunca serão resolvidos pela ciência».
A questão aqui não é de Popper e Kuhn, como acreditam muitos dos defensores de uma argumentação pela Filosofia da Ciência contra os criacionistas, mas sim, de enfiar-lhes o dedo na cara e exigirem que ao menos produzam algo pelos seus devaneios, independentemente de serem no mínimo um pouco honestos.
Esperando não ter sido por hora muito prolixo, acreditem, isto é apenas o início...