Este texto deveria ter sido terminado em 2015, e por diversos motivos, só veio a ser “atacado” recentemente. De maneira comemorativa, deveria ter sido redigido e publicado por ocasião de meus 50 anos (observação: DNA, data de nascimento antiga, 1965). Nele, espero, abro um “wiki” com anotações sobre lembranças do que vi ao longo desses agora 55 anos.
Curiosamente, não tenho a menor lembrança das transmissões do primeiro pouso na Lua, mas lembro de imagens na televisão da partida da Apollo 11, talvez reforçadas ao longo dos anos pela repetição de imagens da decolagem em inúmeras reportagens.
Procurei entender todo o significado das sondas Viking em Marte, lá por 1975, assim como acompanhei desde o lançamento o programa Voyager. Adiante, teríamos toda a influência cultural da série Cosmos.
Guardo de memória o impacto do primeiro “bebê de proveta” em 1978.
Lembro de ler divulgação do histórico da descoberta de alguns dos quarks no início dos anos 1980, mas não da confirmação da descoberta do quark “top” em 1995. Por essa época, li sobre a descoberta de certas assimetrias da natureza, nas partículas subatômicas.
Nesse meio tempo, vivi ainda os tempos de programar-se em Fortran, perfurando cartões na faculdade, e assisti toda a revolução posterior na informática e todo o impacto que tal processo teve em toda a sociedade, de produção científica a hábitos de consumo. Isso foi feito por etapas que diria até preocupantes entre computadores TK 85, Apple II, uma pitoresca história envolvendo um primeiro Pentium 133 e um salto direto para o mundo de 1 GHz, muita música eletrônica - impressionante evolução dos softwares de produção musical - e muito café. Associada a esse devido pequeno relato, sempre lembro do caso de um IBM AK 45 que seria equiparado em poucos anos a um leitor de mp3 “de camelô”. Houve tempos, acredite, que cada byte era importante e tinha de ser cuidadosamente respeitado. Fui até o momento a testemunha viva de toda a "devastação" que a lei de Moore tem feito em qualquer complicado limite de armazenagem e consequente mercado de produtos dependentes da tecnologia digital.
Dentre frases que me marcaram nesse período, lembro de professor de Física que colocou que estávamos passando por um período de maior revolução científica que o Renascimento, com o que discordo por considerá-lo muito moderado nessa afirmação. Acho que sequer realmente entendemos ainda todo o conjunto de impactos das últimas quatro décadas para a história da humanidade e de sua Ciência e até de sua sobrevivência.
Detalhe: acredito que sei mais que muitos que tecnologia não é Ciência, mas sei muito bem o quanto tecnologia acelera as descobertas científicas.
Confesso que pouco me preocupei com o lançamento do Hubble, mas ironizei que seu foco seria acertado mirando no então hipotético décimo planeta.
Falando do antigo nono planeta, Plutão, não guardo qualquer lembrança da partida da New Horizons, assim como da Cassini-Huygens ou Galileo. Apenas observei por alto o crescimento colossal do volume de informações que passamos a ter do sistema solar, e em paralelo, o imenso maior número de planetas extrassolares que explodiu no nosso entendimento da escala e diversidade quase biológica dos corpos celestes.
Assisti um processo que saiu de um universo de “10 a 20 bilhões “ de anos de idade para medidas cada vez mais precisas e crescentes evidências cada vez mais precisas de sua evolução no tempo, gerando o quadro que na Cosmologia se resume com o jargão Big Bang.
De grosseiras imagens do microscópico, num caminho de imagens mais e mais detalhadas análogo às conquistas para o macro, fomos capazes nesse tempo de apresentar como são os arranjos dos átomos em cristais e moléculas, e embora não sejam imagens “diretas no visível”, a computação associada nos permite visualizar realisticamente como é o mundo microscópico.
Acompanhei os avanços rumo a escala de aceleradores de partículas necessárias para comprovação do bóson de Higgs (cuja teorização é da minha idade).
Enquanto isso, voltando à informática e comunicações, podemos refazer certas lembranças as associando com os celulares que tivemos em mãos, de simples pesados telefones portáteis até computadores de mão que superam em muito qualquer computador pessoal que pensávamos pelos anos 1980.
Cruzando todos os caminhos, todas as mídias, avançou a internet, claro, talvez a revolução das revoluções desses tempos, gerando fluxos de informação de notícias, música, vídeo e devemos destacar, uma revolução na capacidade de se pesquisar assuntos científicos em qualquer nível. Vivemos hoje colocando olhos, ouvidos e até o cérebro em pesadas atividade em fluxos de informações, caso a caso, em muito mais música que podemos ouvir, muito mais páginas que podemos ler ou muito mais imagens que podemos ver ou assistir.
“Percebi que era realmente e por vocação um cientista* quando me atrasei para o almoço sem querer apenas por me distrair, esquecendo o tempo, observando o comportamento de várias abelhas de duas espécies diferentes disputando uvas. - A vocação se revela nos prejuízos.”
*Para não parecer ridículo, hoje eu colocaria “apaixonado por ciências” na frase acima.
Frase cuja anotação de data e momento perdi, mas que na inocência e até presunção do final da minha adolescência, diz muito do que pretendi para minha vida, daquele momento até o final de meus dias. Talvez agora, apenas tenha muito mais paciência, foco e recursos.
Nessa trajetória toda, assisti de camarote as ciências relacionadas à vida praticamente traçarem a árvore da vida em detalhes praticamente inimagináveis aos primeiros pesquisadores em evolução, pincelamos retratos minuciosos do passado da vida de espécies à ecologias, recentemente mais e mais passos no entendimento da origem da vida, conjuntamente com entendimento da Genética em profundidades e detalhamentos impressionantes. Assisti a montagem artificial de genética inteira de bactérias, clonagem de animais geneticamente mais complexos que o ser humano e o surgimento de ferramentas para fazer-se coisas inimagináveis em fermentação, e acredito que estamos apenas arranhando esse novo terreno.
Ao longo dos próximos anos, veremos se esse texto cresce, tanto em conquistas e descobertas da humanidade assistidas como em detalhes do já visto.
2 comentários:
“A ciência não é perfeita. Por vezes, a ciência é mal usada; é somente uma ferramenta, mas é a melhor ferramenta que temos. Uma das grandes vantagens da ciência é que corrige a si própria, permitindo-lhe um aperfeiçoamento constante. O pensamento científico aplica-se a tudo o que existe. Com esta ferramenta, nós conquistamos o impossível.”
Carl Sagan, Cosmos, cap. 13, pág. 333.
Grande frase de um grande livro de um autor máximo em divulgação científica.
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