O artigo
Para reescrever o artigo de Marcello Barbieri “What is information?” ("O que é informação?") de forma mais clara e explicativa, vamos extrair informações-chave do artigo.
O que é informação? Uma perspectiva biológica
O artigo de Marcello Barbieri explora um debate fundamental na biologia: qual a natureza da vida? Existem duas visões principais, ou "paradigmas", em conflito:
O paradigma químico: Esta visão tradicional encara a vida como uma forma extremamente complexa de química. Tudo se resume a reações e interações moleculares.
O paradigma da informação: Barbieri argumenta que a vida é mais do que apenas química. Ela também envolve informação, que é algo fundamentalmente diferente. Processos como a hereditariedade (a passagem de características dos pais para os filhos) e a seleção natural (a sobrevivência dos mais aptos) não existem apenas no mundo da química. Eles dependem da informação.
Informação: algo mais do que química
O paradigma da informação propõe que a informação biológica não pode ser reduzida a meras reações químicas. Genes e proteínas, por exemplo, não são apenas moléculas; são "artefatos moleculares". Eles são construídos por máquinas moleculares, seguindo regras e sequências específicas. Imagine um livro: não é apenas papel e tinta, mas sim uma sequência organizada de letras que transmitem um significado. Da mesma forma, o DNA não é apenas uma molécula, mas um código que contém as instruções para construir um organismo.
Entidades nomináveis: a chave para a informação
Barbieri introduz o conceito de "entidades nomináveis" para descrever a informação. Uma entidade nominável é algo que só pode ser descrito nomeando seus componentes em sua ordem correta. Pense em uma frase: a ordem das palavras é crucial para o seu significado. Genes e proteínas são sequências, e sua ordem é essencial para sua função. A informação, portanto, não é apenas uma propriedade física ou química, mas sim algo fundamental, que surge da capacidade da vida de "fabricar artefatos".
Em resumo:
O artigo de Barbieri nos convida a repensar o que significa "informação" no contexto da biologia. Ele argumenta que a vida não pode ser totalmente compreendida apenas através da química. A informação, como um código que organiza e dá significado à matéria, é um componente essencial e irredutível da vida.
Extra
Tradução do resumo do artigo
A biologia molecular baseia-se em duas grandes descobertas: a primeira é que os genes carregam informação hereditária na forma de sequências lineares de nucleotídeos; a segunda é que, na síntese de proteínas, uma sequência de nucleotídeos é traduzida em uma sequência de aminoácidos, um processo que equivale a uma transferência de informação dos genes para as proteínas. Essas descobertas mostraram que a informação dos genes e das proteínas é a ordem linear específica de suas sequências. Esta é uma definição clara de informação e não há dúvida de que reflete uma realidade experimental. O que não está claro, no entanto, é o status ontológico da informação, e o resultado é que hoje temos dois paradigmas conflitantes na biologia. Um é o "paradigma químico", a ideia de que "a vida é química", ou, mais precisamente, que "a vida é uma forma extremamente complexa de química". O outro é o "paradigma da informação", a visão de que a química não é suficiente, que "a vida é química mais informação". Isso implica que existe uma diferença ontológica entre informação e química, uma diferença frequentemente expressa pela afirmação de que processos baseados em informação, como hereditariedade e seleção natural, simplesmente não existem no mundo da química. Contra essa conclusão, os defensores do paradigma químico argumentam que o conceito de informação é apenas uma metáfora linguística, uma palavra que resume o resultado de inúmeras reações químicas subjacentes. Os defensores do paradigma da informação insistem que a informação é um componente real e fundamental do mundo vivo, mas não conseguiram provar esse ponto. Como resultado, a visão química não foi abandonada e os dois paradigmas coexistem hoje. Aqui, demonstra-se que existe uma solução para o problema ontológico da informação. Ela advém da ideia de que a vida é a criação de artefatos, que genes e proteínas são artefatos moleculares fabricados por máquinas moleculares e que artefatos necessariamente requerem sequências e regras de codificação, além das quantidades de física e química. Mais precisamente, demonstra-se que a produção de artefatos requer novos observáveis, denominados entidades nomináveis, pois só podem ser descritos nomeando seus componentes em sua ordem natural. Do ponto de vista ontológico, em conclusão, a informação é uma entidade nominável, um observável fundamental, mas não computável.
Referências
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Ao longo dos anos, o autor tem atacado o problema diversas vezes:
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https://link.springer.com/article/10.1007/s00114-008-0368-x
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https://link.springer.com/article/10.1007/s12304-012-9142-8
Mais referências fundamentais sobre o tema:
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