sábado, 25 de abril de 2009

Presságios Sobre Nosso Sol II


Devido a um comentário elogioso e interessado de meu leitor Vanius, onde apontou-me um detalhe do filme que me passou desapercebido, tratarei mais uma vez do apresentado no filme Presságio.

Em itálico, suas questões.

"Bem, tive a impressão que no momento da erupção os planetas estavam mais ou menos alinhados (os atores viam a simulação no computador)."

Primeiramente, vamos acrescentar ao nosso texto anterior, sobre a caoticidade do sistema solar, que os planetas não se alinham numa reta conforme os pontos em cima de um disco, como os de vinyl. Os planos orbitais dos planetas não formam um único plano.

Assim, em números, a inclinação da órbita da Terra sendo tomada como 0° leva a órbita de Mercúrio a ser num plano de 7° e a de Vênus a ser de 3,39° com o da Terra.

Assim, os alinhamentos são bastante mais complexos, mas vamos desprezar a questão e colocá-los num mesmo plano.

Temos de considerar que a "sombra" que Mercúrio faz em relação ao Sol e nossa Terra é insignificante em relação ao diâmetro do Sol (38% do diâmetro terrestre), mas na distãncia que estamos, tal sombra não é nula. É apenas anulada em seu efeito pela dispersão ("pouco foco") do imenso diâmetro solar e sua intencidade. O mesmo podemos dizer para Vênus, com seu diâmetro praticamente idêntico ao da Terra.

Mas o problema é que o bloqueio físico é pequeno, como um anteparo, mas o bloqueio gravitacional, NÃO.

Assim, temos o processo em etapas: digamos que saia uma grande "golfada" de gases do Sol. Eles irão em direção à Mercúrio, se em alinhamento com a Terra, e mesmo com o pequeno campo gravitacional deste planeta (proporcional a uma massa 6% da da Terra) será esta massa de gases atraída em direção a Mercúrio, até ganhando velocidade, mas ao passar, exatamente pelo mesmo motivo, será desacelerada (e isto implicaria em mais tempo de viagem, perda do total de gás a ir em direção à Terra. O mesmo se daria em Vênus, mas agora com um campo gravitacional de um planeta de massa 82% da da Terra.

Exatamente por este motivo, o vento solar assopra Mercúrio ao ponto deste ser (quase) isento de atmosfera, mas não produz o mesmo efeito em Vênus, que possui uma atmosfera que é quase um oceano de líquido em comportamento.

É de se observar que os campos gravitacionais não fariam os gases convergirem mais "colimados" em direção a Terra, mas os desviariam inclusive em outras direções, como um objeto qualquer, como um abajur corta o jorro de ar de um ventilador (observe as grades na frente de um turbocirculador de ar).

Assim, concluímos que o alinhamento protegeria a Terra, e não pioraria nosso problema.

Júpiter faz esta proteção não com os gases do Sol, mas com um problema muito mais nevrálgico à vida na Terra, como os impactos de asteróides e cometas (basta ver a extinção do Cretáceo ou as colisões de cometas, como a "pequena" colisão em Tunguska).
Logo, o "Gordo" é nosso amigo, assim como as "pedras" entre nós e o Sol.
"Como a força gravitacional é exercida tanto pelo sol quanto pelos planetas (salvo as devidas proporções) pergunto:se ocorresse uma erupção solar ela não iria seguir onde o campo gravitacional estivesse mais fraco (em direção aos planetas)?"

Aí reside a questão. O Sol não "gosta" de libertar seus gases. Tanto que o sistema solar juntou o máximo de materiais no Sol, e não no restante do seu espaço. Aqui, uma conceituação: o sistema solar é tudo que está DENTRO da "núvem de Oort", mesmo se esta for apenas uma boa hipótese e não um objeto. O sistema solar não se formou porque o Sol existe, e sim porque o que ERA o sistema solar condensou-se, agregou-se, mesmo quando o Sol ainda "aceso" nem existia, e sua evolução no tempo, produziu o Sol, concentração maior desta agregação.
Para efeitos ilustrativos, a massa do Sol está para a de Júpiter na razão de um número de 30 zeros está para um número de 27 zeros, ou em outras palavras, de 1000 vezes maior.
(Certamente o parágrafo acima horrorizará astrônomos, porque o que seja o sistema solar implica em existir o Sol, até para poder ter este nome, mas as vezes minha didática implica em fazer determinadas distorções.)



O sistema solar passou pela fase de um grande disco de acreção, e neste, agregaram-se os planetas. Mas voltando...
Daí temos, e acho até que a conclusão, pouco modestamente, é "luminosa" de que se o Sol produzisse explosões de grande alcance, o sistema solar seria impregnado de gases, e não está. Na verdade, é um enorme vazio com algumas bolinhas de rocha e algumas bolas de gás, e um tanto de entulho variado, como os asteróides e os cometas, sem falar, é claro, em uma bola de reações nucleares, com diâmetro de 1,5 para 4500 da órbita de Netuno (já que Plutão foi rebaixado a um "cometão", como brinco). Em adicional a isto, também percebe-se que os quatro internos não rochosos, e mesmo Marte, o mais externo, nem mesmo consegue manter grande atmosfera, de onde percebe-se que a região próxima ao Sol ABSORVE gases para o Sol, e não o contrário.

Mais uma vez estamos seguros, o que implica nossos 3,7 a 3,8 de presença de vida na Terra já quase 200 mil anos de macacos pelados impestando o planeta (leiam Humanidade Como Força Geológica, minha série sobre o tema).

"Não existe uma distorção do espaço (nem que seja pequena) entre os planetas e o sol?"

Sim, existe, e não é só de espaço, mas de espaço-tempo, inclusive, sendo o que causa a precessão do periélio de Mercúrio, grande problema da Astonomia, que guarda implicações com a Relatividade Geral, mas que é MUITO MAIOR, e exatamente nisto, próxima do Sol, que representa a imensa maioria da massa do sistema solar, e exatamente por isso, a maior concentração de seu campo gravitacional, e mais uma vez, exatamente por isso que lá se formou o Sol.

Para conhecer a precessão de Mercúrio em seu periélio, recomendo ler o artigo da Wiki pt, por sinal, de abertura e colaboração minha:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Precess%C3%A3o_do_peri%C3%A9lio_de_Merc%C3%BArio

Assim, a distorção pela gravitação intensa é o que leva aos gases não saírem de próximo do Sol, e somada a efeitos do intenso eletromagnetismo do Sol, ao comportamento "em arco" como se vê na imagem abaixo.


"Se sim, então talvez a direção de uma erupção não seja tão aleatória assim?"
A atração pelos planetas é determinada pelos campos gravitacionais dos planetas, mas a emissão (direção de saída) do Sol não. A emissão das erupções mesmo menores do Sol é bastante aleatória, e nem mesmo mostra-se direcionada pelos planetas, tanto que na imagem acima, observa-se que não se dá em nossa direção, nem mesmo no plano do equador solar.
Mas aí terei de perguntar: E se daria na direção da Terra, uma "pulga", ou na direção de Júpiter, um "besouro", e ainda mais dos outros gigantes gasosos?
Claro que os gigantes seriam os atratores maiores em gravidade, mas LOCAL, pois a gravidade se dá ao inverso do quadrado da distância, e neste caso, o imbatível em atração seria o pequeno Mercúrio, da mesma maneira e pelo mesmo motivo que as marés causadas pela Lua, um anão no sistema solar, não podem ser ultrapassadas nem mesmo pelo Sol, senhor absoluto da gravidade do sistema solar, e a causa maior de sua história evolutiva.
Logo, continuamos mais que seguros, e nesta posição que estamos, nosso planeta continuará a ser propício à vida em seus valores maiores de temperatura e radiação, a mesno que façamos MUITA bobagem.
E lembremos de minha máxima: A Terra é uma prisão da qual AINDA não podemos sair.

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