(mais uma vez)
Este assunto é tão recorrente e considero-o tão importante devido aos erros que percebo em muitos, desde criacionistas biblicistas até mesmo em físicos e outros, que abro uma pausa na minha série sobre artigos sobre mente e moral, esperando o resultado do julgamento do casal Nardoni para dele tratar e até manter meu ritmo de blogagens. Portanto, boa leitura.
Matemática x Física
e outras filosofices em meio a diversas questões
Luca Pacioli, atribuído a Jacopo de' Barbari
Li de um debatedor no ORKUT:
"...talvez a matemática tenha sido criada por si mesma."
Não foi, caro leitor. Foi criada pelo homem, pois a natureza não é matemática, é natural (e aqui não há nenhuma redundância). A matemática é lógica sobre axiomas, mudando-se os axiomas, muda-se a matemática. Assim, em lógica difusa e suas aplicações, 1-1 é igual a zero ou 1 (ou até 1). Dependendo do postulado, muda a geometria, e como se mostra, a geometria do universo não é euclidiana , e sim, fisicamente, na sua chamada geometria global (a mais extensa do universo como objeto tratável científicamente, ou seja, como objeto da cosmologia), só pode ser tratado por uma geometria riemanniana , como se faz na teoria da relatividade.
Física, por sua vez, não é matemática, para entender isso, recomendo familiarizar-se com o conceito de números transcendentes aleatórios e suas consequências (seja através de texto meu, julgo mais digestivo), seja através da grande autoridade no campo, Gregory Chaitin, no ótimo artigo de informação na SciAm: Gregory Chaitin; THE LIMITS OF REASON; Scientific American 294, No. 3 (March 2006), pp. 74-81 - Versão em PDF .
Sugestão universal (apresentada ao debatedor, já se perdendo em meio ao seu discurso): sempre antes antes de respondermos com frases sem nexo, ou em argumentações que sejam insustentáveis, devemos aprender o que seja uma Petição de Princípio.
Outra coisa é não usarmos de sensos comuns, triviais, do nosso dia a dia limitado, para tratarmos determinados campos científicos e seus objetos.
Assim, só existe nexo falar-se em "antes" do Big Bang em afirmações conjecturais, e não trata-se aqui do que chamo "tempo trivial", este onde se desenrolam os eventos de nosso universo, de nosso bolsão espaço-temporal, que permitiu a construção da física de Leonardo Da Vinci*, de Galileu e de Newton, entre tantos outros.
*Ao contrário do que muitos pensam, Leonardo Da Vinci, corretamente Leonardo, popularmente "Da Vinci", tratou de questões físicas, não de uma fundação desta, aos moldes da relatividade de Galileu, as bases da métrica que mais tarde chegará em Newton e posteriormente em complementação em Lorentz, Poincaré e obviamente Einstein. Leonardo tratou das primeiras observações de mecânica dos fluidos, tanto em hidrologia quanto em aerodinâmica.
Modelos cíclicos em cosmologia tratam com tempos "antes" do Big Bang, no que trata-se de "Bouncing" (aproximadamente "rebote"), o "rebote" do processo de contração-expansão do universo, dentro do jargão do meio. A Cosmologia mais "tradicional" só trata da expansão, em um único tempo, que como nos ensinou a Relatividade, não é um tempo homogêneo, absoluto e imutável, sempre a cronometrar os fatos e permitir momentos universais nos quais se expresse a história da natureza neste bolsão espaço-tempo.
O primeiro momento
em que as coisas passaram a produzir seu tempo (ou o primeiro tic-tac, do relógio que fez a si próprio)
Salvador Dali, detalhe
Neste debate, um debatedor mais nervoso "espoca" no meio da conversa:
"Mas poderiam explicar como existe a matéria e seu surgimento sem tempo nenhum, tô esperando a explicação!" (sic)
Tempo não é o cenário absoluto, "pré e além" existente onde se desenrolam os eventos e onde surgiram as partículas (ou, numa abordagem mais filosófica, onde existem os entes que compõe a natureza), assim como o espaço, é fruto exatamente da existência de matéria-energia.
O universo nos seus instantes de tempo "trivial" 0 (zero, seu "start") poderia ser um adensamento - uma compactação - de densidade infinita de bósons, que não se excluem em posição, e nesta situação, estariam em deformação infinita de tempo, logo, em "tempo-não-tempo", numa situação que poderia ser chamada de "eternidade", onde o tempo não teria sentido.
Como há anos nasceu de uma conversa com minha "amiga orkutiana" Lígia, física, uma das maneiras de se tratar a eternidade e o tempo é excluí-los do existir quando do universo estava em (ou "passa por") determinado estado. É o que chamo num "tempo não-tempo".
Só existe tempo "trivial", o que você demora para ler este texto ou a luz para sair do Sol e chegar a seu telhado, a partir da existência de fenômenos, da alteração de posição e estados das partículas, nesta fenomenologia no tempo, exatamente nasce o tempo-cenário da física anterior à relatividade e seus embriões. Num tempo da física pós a relatividade, o tempo que é variante entre as posições e velocidades dos corpos, que não é absoluto, e talvez, conforme a Cosmologia de Gödel, nem mesmo com mesma direção, e no quântico, nem mesmo um tempo tal como o evidenciamos na nossa escala macro.
Singularidade seria o nome em físico para este estado de densidade infinita. Singularidade, se numa definição matemática, seria uma posição de valores infinitos para uma função, intratáveis pela física. Física lida com o universo, e nem este se mostra infinito. E como física não é a matemática...
Para mais ilustrações destes conceitos em cosmologia, recomendo ler: Grande Rebote, Universo Oscilante e Modelo Cíclico. Todos artigos com pesada colaboração pesada do idiota que vos escreve.
Concordo no a seguir, quanto aos atos e fatos miraculosos na natureza (e neste caso, não haveria separação entre atos e fatos), desde sua criação até o possível surgir de uma bactéria a partir do nada, e não da associação de moléculas, mais e mais, a medida que o tempo (trivial) passa, com meu amigo Eli.
Seria recomendável, antes de os criacionistas, e outros defensores de idéias ainda mais exóticas, apelarem para qualquer argumento teleológico, lerem HUME.
Esta questão já está encerrada há mais de 300 anos. E recomendamos que leiam também KANT, e passem a entender que simples ironias derrubam, qualquer argumentação sobre uma divindade controladora do universo ser exatamente o "SER DOS SERES", uma divindade conforme AQUINO ou ARISTÓTELES discursavam, ou como hoje analisamos, apenas pregavam.
Uma ironia que construí, por sinal em processo evolutivo, sobre tais tipos de afirmações busca mostrar que uma afirmação extraordinária sobre um ente acima da natureza, controlador de todas as coisas e seus processos, pode ser burlado pela contrução de outro ente ainda mais poderoso:
IHVH nada mais é que o gnomo designado por U.R.I., o róseo dos róseos, a controlar a bolha de gases que chamamos de universo, uma dentre as miríades dentro dos intestinos de um dos muitos ácaros que infestam um dos piolhos que atormentam um dos carrapatos que parasitam o dorso do ser maior, aquele que é invisível e é róseo, e é miraculoso pois é róseo e invisível.
Logo, afirmações sobre um ser que controla o universo não afirmam coisa alguma como argumento de fé, apenas que se tem fé na existência de tal ser.
Minhas mãos e seus dedos, minhas decimais contagens.
Talvez se pinças, faria eu um simples sistema binário.
Da biológica base, e de observar terrestres paisagens,
a mente construiu as contas de seu matemático rosário.
(um de meus momentos de verseiro sem grandes talentos)
Noutro ponto, o mesmo debatedor apresenta algo que parece sólido num primeiro momento, mas temos de cuidar de não se mostrar apenas outro senso comum:
"Porque será então que se houver vida inteligente em outro lugar do universo só temos a certeza que eles conhecerão (no mínimo) os princípios da matemática e da física?"
Posta esta questão, uma série de perguntas pode e deve ser feita:
Quem disse que tratarão de geometria euclidiana em sua física primordial como nós tratamos?
Por outras palavras e um ponto destacado: Será que "seu Euclides" construiu "sua geometria" com os mesmo postulados?
Quem disse que ao "ser igual" implica em tal não ser analogia com o físico, como que 1-1=0 advém de uma laranja retirada de onde está?
Expliquemos: muitas das nossas bases matemáticas, advém de observações e analogias primordiais na construção do conhecimento humano com trivialidades da natureza. Assim, o debitar 1 de 1, que é o tirar algo de um lugar (por analogia mais que primária mas didática) é uma expressão um tanto que primitiva do Princípio Universal da Conservação da Energia, e em tempos um tanto mais anteriores, da Lei da Conservação das Massas. É a lógica mais primitiva da simplicidade de se afirmar que ao se tirar uma única maça de um galho onde ela se encontra, ali não surge miraculosamente uma outra maçã, nem ao menos similar à primeira.
Mas nem sempre, sobre os axiomas mais claros e elementares, por mais que pareçam sólidos, e sobre as mais límpidas e rígidas lógicas a coisa se dá assim, e quando tratam-se de geometrias, a coisa pode se complicar um pouco, e ao se fatiar adequadamente uma laranja, se fosse feita de pontos (coisa que partículas subatômicas na verdade não são), pode-se fazer surgir duas laranjas, idênticas à primeira (o que faria arrepiar se físico fosse qualquer Newton ou Lavoisier, ou mesmo quase todos os economistas, que mais nada fazem que usar de Física aplicada, em matemática que até é relativamente simples, comparada aos mais profundos campos da Física).
Aqui recomendei ao debatedor e sempre recomendo, o favor de ler sobre o Paradoxo de Banach–Tarski e o Axioma da Escolha.
O prego não é o martelo que na cabeça lhe bate
A seguir, o debatedor envereda por uma afirmação que igualmente parece sólida e poderosa, mas numa análise mais apurada, nada diz:
"Física não é matemática, mas a linguagem utilizada pela física é a da matemática!"
Temos de perguntar, dados os exemplos de axiomas e lógicas aplicadas sobre estes acima: Qual matemática?
"Exemplo básico: Um objeto cai a 9,8 metros por segundo. Não foi utilizada uma linguagem matemática para mostrar uma lei da física?"
Neste ponto, que mais uma vez parece uma afirmação bem fundamentada, devemos perguntar, apelando para conjecturas e construções teóricas hoje sólidas: Quem disse que a queda de um objeto é contínua? Que o tempo não é quantizado*?
*Para entender isto de maneira bastante didática: Martin Bojowald; Relatos de um Universo Oscilante; Scientific American Brasil; Ed. 78; NOV/2008 (em versão em inglês, site da Sci Am, PDF - libserver.wlsh.tyc.edu.tw)
Confesso: tenho enorme simpatia pela Gravidade Quântica em Loop (GQL), que é chamada pelos portugueses, "em Laço", talvez venha a laçar e unir poderosamente a relatividade, senhora coordenadora do macro, e a mecânica quântica, cuidadosa artesã do micro.
E tenho esta simpatia pelo motivo, talvez apenas romântico, de que exatamente os trabalhos de Planck em suas unidades, que dão muito da base para a Mecânica Quântica (comprimento e tempo de Planck - fundamentos íntimos da GQL) - que resultam adiante no que seja "espuma quântica" - e na aceitação inicial deste grande físico pelos trabalhos revolucionários de Einstein, venham a ser a sua coroação como o físico que lançou as bases de uma possível "unificação"** da física.
Se Galileu lançou os alicerces para muito da Física de Newton e outros, talvez tenha sido Planck que tenha lançado as bases para entender-se que além de não ser um cenário, o tempo e espaço não sejam nem uma bela textura, mas um fervilhar de pequenas coisas que em seus entremeios permitam pequenas deformações que sejam tudo que nos forma.
** Tenho problemas graves com este termo, pois a natureza não tem obrigação alguma de seguir um único e nem mesmo um sempre mesmo conjunto de leis mutuamente relacionadas e homogêneas.
Para uma abordagem mais formal desta questão: Teoria de Tudo, seus potenciais status. Neste campo, até nosso físico divulgador de ciência Marcelo Gleiser embarcou nesta nau um tanto ainda sem rumo, mas que talvez tenha um destino mais feliz que uma rígida condução para porto algum.
"A matemática é o alfabeto com qual, Deus escreveu o universo." - Galileu Galilei
Uma bela frase, mas desde a base, falsa. A matemática é o alfabeto com o que o homem tenta prever como a natureza se comporta, e nada mais.
2+2=5
Coninuando o debate, lemos:
"Me diga em que lugar do universo mais dois mais dois vai ser igual a cinco? "
Neste ponto, basta apresentar caso que ultrapassa o mundinho limitado e dogmático do debatedor, com a clássica colisão de partículas:
p + p = p + p + π
(próton colidindo com um próton resulta num par de prótons e surge um píon, e as vezes, bem mais)
Partículas elementares - no seu total - não possuem número que defina "quantidade" a pleno, um fóton vira um elétron e um pósitron. Como sempre repito, Física é tratável por matemáticas, é matematicalizável, e estas matemáticas tem de ser específicas aos casos e evidências destes, das observações, mas não é a matemática em si.
Neste ponto, o debatedor, meio em ciclo vicioso, tenta sustentar seu ponto pela repetição (como se essa convencesse, antes de apenas cansar ou irritar - no meu caso, é mais normal o segundo), que é a da existência de uma inteligência supranatural, e como inteligente, criadora da matemática (adendo: como se então, não tivesse de tomar axiomas, que seriam, pois, anteriores ou superiores à ele):
"A matemática não é inventada pelo homem,..."
Poucas coisas são mais erradas! Ela nasce de associação com fenômenos físicos e adoção de operadores específicos e axiomas oriundos de senso comum a princípio, como visto acima. E repetimos este ponto pois acrescentaremos agora uma nova questão.
Ilustrando, bósons, por exemplo, não aceitam contagem, não possuem volume e sua amplitude de onda pode ser associada paradoxalmente (no sentido de nos confundir com nosso mundinho de primatas de algumas dezenas de quilos e unidades de metro) ao seu comprimento de onda, vide os buraquinhos de nossas portas de microondas, que permitem a passagem os fótons que resultam na imagem de meus amados frangos em meus olhos, mas não os fótons no espectro dos microondas que os cozinhariam sem piedade.
Logo, não são pontos, logo, não há geometria clássica na natureza, e sim, uma geometria com que se trata aproximadamente a natureza construindo modelos.
Harmoniosos martelos
A seguir, o debatedor envereda por caminho ainda mais perigoso e escorregadio:
"Ela é descoberta pelo homem, assim como a música!"
Mais errado ainda! Harmonias musicais são fruto de nosso espectro sonoro auditivo, e mesmo assim, são uma forma de tornar tais conjuntos de sons agradáveis ao nossos ouvidos. Cães seriam dotados de uma música com 100 notas por oitava, por exemplo (em caso de erro, perdoem-me os zoólogos e veterinários, mas acredito que a aproximação é segura), pois possuem espectro de maior resolução, e perceberiam harmonias que não percebemos e odiariam harmonias que nos parecem agradáveis.
Se música é física aplicada ao humano sentir, e a aplicação estética de sons no tempo, igualmente não é matemática em si.
(Até porque não existe medida de "corda de Pitágoras" perfeita, pois não podemos representar PHI com todas as casas decimais, nem com a mais dourada das matemáticas aplicadas - recomendo ver o genial filme educativo da Disney "Donald no país da Matemática" (Donald in Mathmagic Land, 1959), e ali, descobrir porque uma certa obra de Haendel se chama "O Ferreiro Harmonioso", e por isso, posso afirmar que não existe igualmente conjunto de martelos musicalmente perfeito, pelo também limitante motivo que não existe quantidade irracional de átomos de ferro - ou qualquer um outro de uma liga -para constituí-los).
Aliás, caro leitor, na natureza não existe nem a diagonal de um quadrado perfeita em número de átomos e também nem um círculo perfeito, e deste, nenhuma esfera perfeita, e assim por diante.
Novos Princípios de Filosofia Natural
Mantendo o ad nauseam que antes citei...
"Mas olha aí Francisco, a matemática sendo específica ou não, elas não têm os mesmos princípios?"
NÃO!
Um ponto é um ponto. Uma reta é uma reta. Uma função é uma função, etc, e possuem definição formal, e disto (e nisto) advém formalismo, de lógica sobre axiomas, construindo mais lógica aplicada a até novos axiomas.
Uma partícula fundamental não é um ponto, não é uma esfera, não é nem uma curva numa superfície, apenas é tratável assim.
Inclusive, não sabemos o que seja, plenamente, nem as partículas, nem o universo.
Logo, se não sabemos fundamentalmente o que sejam as partes mais íntimas do todo e nem o todo, a fundo, não sabemos coisa alguma, apenas, tratamos com lógica limitada e evidências, construindo modelos, a realidade que nos cerca.
Esta é uma visão moderna, e sólida do que seja Física, e por consequência, toda a ciência natural, desde a Cosmologia, a mais ampla, até a Biologia ao tratar dos seres vivos (em apenas em nosso planeta ainda!).
Matemática pode fazer afirmações absurdas frente a física, ao natural, como os inúmeros paradoxos inclusive internos à matemática. Física não pode usar tais afirmações matemáticas para construir modelos algum. Ela aplica ferramentas matemáticas, mas não se constrói dela.
Por isso dizemos que construtivismo, dos quais, um dos últimos defensores foi Einstein, morreu (recomendo ler meu texto anterior).
Uma recomendação de leitura é o texto abaixo, com a ressalva de que a definição de teorema, como sendo "um enunciado que carecem de demonstração", é equivocada, pois exatamente teoremas (como o banal Pitágoras, ou o monstruoso Wiles - anteriormente chamado, como até prova em contrário, de conjectura, lendariamente, "Último Teorema de Fermat" - e sinceramente, não o gosto de chamar de Fermat-Wiles. Recomendo, aos interessados, o livro de Simon Singh) são aqueles que estão demonstrados, inequivocamente, e são a demonstração de conjecturas, como o de Pitágoras teria originado-se em medidas de egípcios sobre lados de triângulos retângulos ou triângulos com determinadas medidas que sempre apresentavam ângulos retos ou o "perdido ou não demonstrado" de Fermat, o "Último", ou a lendária de Goldbach ainda indemonstrada, e um dos diversos santos graais da Teoria dos Números.
Eliana M. S. Soares; Sobre a natureza da matemática
Um tipo "menor" de teoremas, que recentemente me vi familizarizado, são os chamados "lemas".
Como cita Simon Sigh:
Teorema é o ídolo frente ao qual o matemático se flagela.
Talvez por tudo isso, seja muito simbólico o Homem Vitruviano de Leonardo, que pelas suas proporções precisas apresenta uma idealização do humano, representando a ordem que o homem busca colocar ao mundo no quadrado que o cerca, centrado em seu sexo, fonte de sua reprodução (o "multiplicai-vos") e no círculo, a forma perfeita que representa o universo, centrada no seu umbigo, que o gerou, e em seu jogo de proporções, apresenta uma proporção bastante razoável para o número PHI, mas também, mostra que mesmo pela ação e posicionamento do homem, não pode obter um quadrado com exata mesma área de um círculo; não obtém a "quadratura do círculo", que por métodos de proporções é impossível ("por régua e compasso"), pois pi é um número irracional transcendente. (Aqui, já há uma pista que mesmo em matemática, não é possível resolver determinados problemas).
Assim, com seus pés e mãos, o homem, mesmo com todo esforço do seu cérebro a eles somado, só pode aproximar o entendimento do mundo, e tal como Leonardo mostra em suas magistrais perspectivas, a verdade está num ponto de fuga no infinito, e só pode ser posicionado pelos ângulos de objetos e paredes, mas exatamente, produz os ângulos de tudo que nos cerca, seja como realmente o for.
A verdade é aquilo que é, mas só temos como ver as suas sobras e penumbras, e que sejam produzidas pela fraca luz da vela na escuridão que é a ciência, que injustamente, as vezes até por quem quer ser o proprietário de verdades absolutas, é a chama que inicia perigosas fogueiras.
"A verdade existe. Só a mentira pode ser inventada." - George Braque
"É mais fácil desintegrar um átomo que destruir um preconceito" - Albert Einstein
“Todos as evidencias lógicas e da razão que apresentam este grande universo que a mente humana concebe são nada mais que demonstrações deste Grande Arquiteto imaterial e imutável, que coordena não somente a matéria , mas também a grande mente deste planeta, este Grande Arquiteto; MAYA, que nos ilude , para a real não-existência de todo o Absoluto do Não-Ser de ATMA.” - Do grande Tayront, originalmente na comunidade do Orkut Evolucionismo vs Criacionismo
quinta-feira, 25 de março de 2010
sexta-feira, 19 de março de 2010
Pitacos III
Pitaca, s.f. coleção de játacas.
Játaca, s.f. (liter.) narrativa oriental em que Buda, num de seus antigos nascimentos, desempenha algum papel, como herói ou simples espectador; existem numerosos livros de jácatas na Índia.
Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa Caldas Aulete
"Tenho um medo pavoroso de que um dia me declarem santo: perceberão que público este livro antes, ele deve evitar que se cometam abusos comigo."
"Há homens que já nascem póstumos." - Friedrich Wilhelm Nietzsche
"O homem que debate na internet já inicia POSThomo." - Francisco, O Herege, o personagem de mim mesmo, Dom Quixote inábil das ciências entre as plagas ORKUTtianas e outras.
Como já disse inúmeras vezes, sou um "malandro intelectual", no limiar do desonesto (e as vezes até me atirando no "abismo"), quando trata-se de defender meus pontos e apresentar minhas e de outros ideias.
Fortuitamente, se é que esta palavra aqui não é completamente inadequada, o assassinato do cartunista Glauco, de quem tanto gostava, como muitos de minha geração, envolve questões de cérebro/mente/ação de drogas. Em bate papo sobre o caso no ORKUT, mais uma vez, surgiu a portunidade de clarear alguns pontos, que aqui reproduzo, e acrescento detalhes, referências e links, procurando somar à tétrica última blogagem, pois muito mais tétrica é a mente humana.
Um jornalista portoalegrense perguntou, abertamente, em uma comunidade, a respeito do "chá do Santo Daime" (a droga/bebida conhecida como Ayahuasca , se drogados, ex-viciados, como seria o caso do rapaz que matou o cartunista Glauco, poderiam usá-la.
Minha resposta, com o meu humor ácido que procuro manter como marca, foi: Podem.
E complemento, justificando: da mesma maneira, tão banal, que um viciado em cocaína, que é um euforizante, pode passar a usar também um alucinógeno como o LSD. Da mesma maneira que um usuário de heroína, que é um opióide "entorpecente" (aqui, no sentido do típico bem-estar intenso e relaxante que causa) pode se tornar também viciado em cocaína ou anfetaminas, ou mesmo, usando LSD.
Observação: O consumo de heroína com cocaína - "speedballs" ou "moonrocks" - tem crescido, e no Brasil, o consumo de crack em meio à maconha, igualmente, além da alternância dos dois - que já existia muito entre cocainômanos, paralelamente ao consumo de bebidas destiladas.
Drogas de ações diversas não se contrapõe, não se excluem e não se substituem. Se somam. Tanto que é comum os "multi-viciados", usuários de diversas drogas de ações diversas.
Em seguida, o jornalista pergunta se é possível tratar um drogado com algo alucinógeno.
Esta pergunta se responde rapidamente: se tal tivesse nexo, poderia se tratar viciados em maconha, cocaína e heroína - e não devo me esquecer dos milenares alcoólatras - com LSD (e outros alucinógenos) há décadas. Se formos ver, até pela origem xamãnica (drogas enteógenas), os alucinógenos deveriam tratar os viciados de todos os tipos há milênios, e como princípios ativos vegetais bem conhecidos, já teriam originado fármacos.
O problema maior é que alucinógenos potencializam atos ditos "insanos".
Como trazem impulsos cerebrais das áreas mais subconscientes dos consumidores (os "sonhos acordados"), também despertam psicoses (a chamada 'bad trip'), o em algumas regiões brasileiro 'teto preto'.
O estado mental (profundo e íntimo) que o usuário já apresentava antes do consumo é ampliado pela droga. Se a ministrarmos para um indivíduo recatado e pacífico (mesmo intimamente em sua, perdão pela redundância, mente) ele poderá se tornar apático frente a uma situação de perigo, como num incêndio. Vale a pena observar o personagem de Brad Pitt em True Romance (Amor à Queima-Roupa , 1993), apático frente a gângsters armados.
Já indivíduos até pacíficos podem chegar a atos insensatos, como os de William S. Burroughs. Que se há de dizer dos naturalmente agessivos, ou dos psicopatas (mesmo leves) até mesmo sob controle próprio quando "sãos".
Ou seja, resumindo: não dá.
Lembrando o clássico da ficção científica Planeta Proibido, "devemos manter sob controle os monstros do IDI".
Esta temática toda me parece relacionada com outra tese que venho desenvolvendo há tempos, em especial, no último ano. Três falácias permanentemente rondam a segurança pública brasileira, e somam-se a um quarta, um tanto específica, que relaciona-se especialmente com a mais criminogênica (que gera crimes) das drogas, o crack, que empesta as cidades brasileiras, destacadamente, as do sul e sudeste (pelo menos pelo destaque na mídia).
Primeira fálacia: o homem é bom.
Somos descendentes de primatas carniceiros da savana africana, formadores de grupos de machos matadores e posteriormente de caçadores. Nossa história, desde trocas de pauladas e pedradas entre pequenos grupos, nos aproxima muito mais dos violentos chimpanzés do que dos tranquilos e luxuriosos bonobos. Nosso cérebro é uma máquina pronta para a produção de perversidades com o alheio.
Aqui, um "ad hitlerum invertido": prova maior é o nazismo, que levou um dos povos mais civilizados e cultos, berço da mais sofisticada matemática e ciências, da mais complexa música ocidental, a produzir nossos piores momentos.
O homem não é bom, ele é contingencialmente (e social e civilizatoriamente) mantido no que chamamos bem, e mesmo assim, muitas vezes, pela ação da força, que bem analisada, não é o bem.
Segunda falácia: a mente humana é uma Tabula Rasa, um copo vazio que pode receber os melhores licores, metaforicamente falando, um hardware que pode receber o mais inocente e produtivo software, numa analogia com a informática, sempre útil, mas limitada quando tem de se tratar de cérebro e mente.
A mente humana opera com determinados mecanicismos natos e inclusive fruto de pequenos defeitos, assim como com benefícios de pequenas características que diferenciam desde os mais limitados de nós até nossos gênios.
Não adianta apenas a educação, seja familiar ou escolar, ou mesmo as oriundas das punições judiciais, seja na ameaça/temor, seja na execução/punição. O humano agirá conforme seus impulsos.
Aqui, introduza-se, amigo leitor, se já não o foi, ao Behaviorismo, já num humano médio, e perceba que mesmo as melhores famílias, com os melhores pais que proveram as melhores escolas, produzem desde simples personalidades malévolas menores, como o seu colega "puxador de tapete" no seu trabalho até o seu vizinho de bairro, que esquarteja a esposa e filhos e os enterra no pátio.
Achou o exemplo desagradável?
Por isso mesmo que as mais antigas civilizações proveram suas crianças de "contos de fadas", os mais terríveis, para preparar a mente de suas crianças para o pior do mundo, pois sempre souberam que o homem não é bom por si, e não adianta jogar sobre ele toda a bondade e sabedoria da civilização, ainda sim, cometerá atos maus e até monstruosos e insanos, pois seu cérebro pode e assim o faz quando impulsionado a isso. Logo, João e Maria tem de saber jogar a bruxa na água fervente ou o lenhador tem de abrir a barriga do lobo.
Terceira falácia: reprimir brutalmente o crime é incivilizado.
Antes de continuarmos, ninguém aqui está falando de queimar assassinos em praça pública, ou de implantar sem critério muito bem estabelecido penas capitais.
Estamos falando que começamos a considerar que por o sistema judicial/prisional ser brando e punir por exemplo homicídios graves com penas que são (no tempo cumprido, finalmente), em outros países, correspondentes a penas por furto, por exemplo novamente, levariam e levarão os criminosos à busca de um novo caminho pelo bem.
Nada mais errado. A certeza da pouca punibilidade (nem estou tratando de impunidade) leva à mente criminosa a não temer a punição. A desestruturação do sistema prisional (que inclusive, independe do sistema judiciário e das leis em si) levam o criminoso a preferir o crime como o caminho viável, pois encontrará no sistema prisional rapidamente estrutura, e tal se comportará como um mercado (no conceito que é tratado no marketing), tanto como uma rua em São Paulo lotar-se de lojas de produtos eletrônicos ou no Rio de Janeiro de antiquários e sebos, ou, como exemplo mais que adequado, um bairro praticamente inteiro em Campinas voltar-se à prostituição (desculpe, querida Campinas, mas é fato).
Igualmente, um "paradoxo sorites como falácia", alicerçado sobre esta falácia, levará a que exista uma graduação etária que leva até um momento de ruptura (no sistema do próprio crime) de idades em que é viável a criminalidade, e que cerca os criminosos da faixa mais problemática (para o criminoso) de uma "mão de obra marginal" que abastece a baixo custo as estruturas criminosas, desde as menores até as de abrangência estadual e trans-estadual (PCC, por exemplo máximo).
Esta estrutura dinâmica em fluxo e abrangente no espaço, não tem de ter a certeza de um sistema policial/judiciário/penal existente que não lhe é um impecilho poderoso. Tem de ter o pavor (este é o termo) da existência de um poderoso sistema que lhe seja opositor.
As nações mais civilizadas são implacáveis com o crime. Atuam sobre ele com permanente asfixia. A liberal Austrália, por exemplo, "paraíso de primeiro mundo", possui idade penal de 7 anos , e todos os países ditos vanaçados/ricos, sem exceção, na verdade possuem uma graduação rígida das estruturas prisionais (aqui, usemos, corrijo-me, perdoem-me mais uma vez pela redundância, correcionais) pela graduação de idade, até para não contaminar o mais novo pelo mais velho no crime (aqui, o jovem tenente do PCC, na unidade correcional, treina o aspirante, recém ingresso, e pouco interessa, neste sistema dinâmico, que um tenha 17 anos e 11 meses e o outro, 14 recém feitos).
Quanto aos liberais tratamentos que tem sido dados aos viciados em crack, "que não devem ser internados contra sua vontade", seria bom lembrar a todos, e acho que esta minha explicação poupará da descrição mais formal da "falácia bazofenta" específica, já não são há muito controladores de sua própria vontade, tanto que ficam sem comer e dormir por dias morando em meio ao lixo e sob pingos de goteiras, e por míseros 5 reais, o suficiente para a próxima "pedra", das diversas - se possível, de um dia, são capazes de enfiar facas nos olhos das próprias mães ou cortar o pescoço da primeira menininha com trocados indo buscar alguns pães na esquina (sua filha ou irmã menor, por exemplo), pois simplesmente o que opera agora, é a parte basal de seus cérebros, que ao invés de buscar respirar, beber água, comer, dormir e ter um tanto de sexo, busca a próxima dose de alcalóide, e que há muito deixou de se relacionar bem com a parte externa e mais da frente de seu cérebro, que por sinal, para seu (e mais ainda, nosso) infortúnio, mesmo quando tem férrea vontade, não é voltada para o bem, não adianta ter recebido a magnífica educação de uma família e de ótimas escolas e muito menos em que maravilhosa e rica sociedade e nação se encontre.
Neurologicamente: tornaram-se robóticos nos seus mecanismos de ação, tal como são os répteis ou os anfíbios em seus atos de sobrevivência, exatamente porque a parte basal de nosso cérebro, agora predominante em impulsionar o viciado, é a de um amniota, tão limitado em funções como é o de um lagarto ou um sapo*.
*Citando sapos, há tempos que em termos de segurança, a sociedade brasileira se comporta como o metafórico/lendário sapo, que ao ser imerso em água quente salta, mas quando aquecido lentamente, é cozinhado e não percebe.
Esta massa de cérebros em busca de alcalóide a todo o custo, produz uma massa tão perigosa que até o crime a evita, e perturba, inclusive, a já limitada capacidade do crime mais organizado de absorver uma crescente "massa de mão de obra marginal", perturbando seus negócios até dentro do próprio tráfico de drogas, basta abrir as páginas policiais de jornais. Noutros termos, se o viciado em crack até ao crime é prejudicial, quanto mais podendo ter liberdades como um cidadão plenamente dotado de seus direitos. Viciados em crack não são criminosos, são doentes graves e nocivos, como qualquer infectado com uma virose letal e contagiosa, a toda a sociedade e a si mesmos. Não se pode tratar um infectado por um vírus letal como se trata um funcionário de empresa com problemas com álcool ou cocaína. Tem de ser, pois, contingenciados.
Agora formalizando e criticando a falácia específica: os viciados em crack não podem mais ter a liberdade de serem internado apenas por sua vontade, pois não possuem mais vontade.
Acredito que eu tenha sido bem claro.
Játaca, s.f. (liter.) narrativa oriental em que Buda, num de seus antigos nascimentos, desempenha algum papel, como herói ou simples espectador; existem numerosos livros de jácatas na Índia.
Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa Caldas Aulete
"Tenho um medo pavoroso de que um dia me declarem santo: perceberão que público este livro antes, ele deve evitar que se cometam abusos comigo."
"Há homens que já nascem póstumos." - Friedrich Wilhelm Nietzsche
"O homem que debate na internet já inicia POSThomo." - Francisco, O Herege, o personagem de mim mesmo, Dom Quixote inábil das ciências entre as plagas ORKUTtianas e outras.
Como já disse inúmeras vezes, sou um "malandro intelectual", no limiar do desonesto (e as vezes até me atirando no "abismo"), quando trata-se de defender meus pontos e apresentar minhas e de outros ideias.
Fortuitamente, se é que esta palavra aqui não é completamente inadequada, o assassinato do cartunista Glauco, de quem tanto gostava, como muitos de minha geração, envolve questões de cérebro/mente/ação de drogas. Em bate papo sobre o caso no ORKUT, mais uma vez, surgiu a portunidade de clarear alguns pontos, que aqui reproduzo, e acrescento detalhes, referências e links, procurando somar à tétrica última blogagem, pois muito mais tétrica é a mente humana.
Um jornalista portoalegrense perguntou, abertamente, em uma comunidade, a respeito do "chá do Santo Daime" (a droga/bebida conhecida como Ayahuasca , se drogados, ex-viciados, como seria o caso do rapaz que matou o cartunista Glauco, poderiam usá-la.
Minha resposta, com o meu humor ácido que procuro manter como marca, foi: Podem.
E complemento, justificando: da mesma maneira, tão banal, que um viciado em cocaína, que é um euforizante, pode passar a usar também um alucinógeno como o LSD. Da mesma maneira que um usuário de heroína, que é um opióide "entorpecente" (aqui, no sentido do típico bem-estar intenso e relaxante que causa) pode se tornar também viciado em cocaína ou anfetaminas, ou mesmo, usando LSD.
Observação: O consumo de heroína com cocaína - "speedballs" ou "moonrocks" - tem crescido, e no Brasil, o consumo de crack em meio à maconha, igualmente, além da alternância dos dois - que já existia muito entre cocainômanos, paralelamente ao consumo de bebidas destiladas.
Drogas de ações diversas não se contrapõe, não se excluem e não se substituem. Se somam. Tanto que é comum os "multi-viciados", usuários de diversas drogas de ações diversas.
Em seguida, o jornalista pergunta se é possível tratar um drogado com algo alucinógeno.
Esta pergunta se responde rapidamente: se tal tivesse nexo, poderia se tratar viciados em maconha, cocaína e heroína - e não devo me esquecer dos milenares alcoólatras - com LSD (e outros alucinógenos) há décadas. Se formos ver, até pela origem xamãnica (drogas enteógenas), os alucinógenos deveriam tratar os viciados de todos os tipos há milênios, e como princípios ativos vegetais bem conhecidos, já teriam originado fármacos.
O problema maior é que alucinógenos potencializam atos ditos "insanos".
Como trazem impulsos cerebrais das áreas mais subconscientes dos consumidores (os "sonhos acordados"), também despertam psicoses (a chamada 'bad trip'), o em algumas regiões brasileiro 'teto preto'.
O estado mental (profundo e íntimo) que o usuário já apresentava antes do consumo é ampliado pela droga. Se a ministrarmos para um indivíduo recatado e pacífico (mesmo intimamente em sua, perdão pela redundância, mente) ele poderá se tornar apático frente a uma situação de perigo, como num incêndio. Vale a pena observar o personagem de Brad Pitt em True Romance (Amor à Queima-Roupa , 1993), apático frente a gângsters armados.
Já indivíduos até pacíficos podem chegar a atos insensatos, como os de William S. Burroughs. Que se há de dizer dos naturalmente agessivos, ou dos psicopatas (mesmo leves) até mesmo sob controle próprio quando "sãos".
Ou seja, resumindo: não dá.
Lembrando o clássico da ficção científica Planeta Proibido, "devemos manter sob controle os monstros do IDI".
Esta temática toda me parece relacionada com outra tese que venho desenvolvendo há tempos, em especial, no último ano. Três falácias permanentemente rondam a segurança pública brasileira, e somam-se a um quarta, um tanto específica, que relaciona-se especialmente com a mais criminogênica (que gera crimes) das drogas, o crack, que empesta as cidades brasileiras, destacadamente, as do sul e sudeste (pelo menos pelo destaque na mídia).
Primeira fálacia: o homem é bom.
Somos descendentes de primatas carniceiros da savana africana, formadores de grupos de machos matadores e posteriormente de caçadores. Nossa história, desde trocas de pauladas e pedradas entre pequenos grupos, nos aproxima muito mais dos violentos chimpanzés do que dos tranquilos e luxuriosos bonobos. Nosso cérebro é uma máquina pronta para a produção de perversidades com o alheio.
Aqui, um "ad hitlerum invertido": prova maior é o nazismo, que levou um dos povos mais civilizados e cultos, berço da mais sofisticada matemática e ciências, da mais complexa música ocidental, a produzir nossos piores momentos.
O homem não é bom, ele é contingencialmente (e social e civilizatoriamente) mantido no que chamamos bem, e mesmo assim, muitas vezes, pela ação da força, que bem analisada, não é o bem.
Segunda falácia: a mente humana é uma Tabula Rasa, um copo vazio que pode receber os melhores licores, metaforicamente falando, um hardware que pode receber o mais inocente e produtivo software, numa analogia com a informática, sempre útil, mas limitada quando tem de se tratar de cérebro e mente.
A mente humana opera com determinados mecanicismos natos e inclusive fruto de pequenos defeitos, assim como com benefícios de pequenas características que diferenciam desde os mais limitados de nós até nossos gênios.
Não adianta apenas a educação, seja familiar ou escolar, ou mesmo as oriundas das punições judiciais, seja na ameaça/temor, seja na execução/punição. O humano agirá conforme seus impulsos.
Aqui, introduza-se, amigo leitor, se já não o foi, ao Behaviorismo, já num humano médio, e perceba que mesmo as melhores famílias, com os melhores pais que proveram as melhores escolas, produzem desde simples personalidades malévolas menores, como o seu colega "puxador de tapete" no seu trabalho até o seu vizinho de bairro, que esquarteja a esposa e filhos e os enterra no pátio.
Achou o exemplo desagradável?
Por isso mesmo que as mais antigas civilizações proveram suas crianças de "contos de fadas", os mais terríveis, para preparar a mente de suas crianças para o pior do mundo, pois sempre souberam que o homem não é bom por si, e não adianta jogar sobre ele toda a bondade e sabedoria da civilização, ainda sim, cometerá atos maus e até monstruosos e insanos, pois seu cérebro pode e assim o faz quando impulsionado a isso. Logo, João e Maria tem de saber jogar a bruxa na água fervente ou o lenhador tem de abrir a barriga do lobo.
Terceira falácia: reprimir brutalmente o crime é incivilizado.
Antes de continuarmos, ninguém aqui está falando de queimar assassinos em praça pública, ou de implantar sem critério muito bem estabelecido penas capitais.
Estamos falando que começamos a considerar que por o sistema judicial/prisional ser brando e punir por exemplo homicídios graves com penas que são (no tempo cumprido, finalmente), em outros países, correspondentes a penas por furto, por exemplo novamente, levariam e levarão os criminosos à busca de um novo caminho pelo bem.
Nada mais errado. A certeza da pouca punibilidade (nem estou tratando de impunidade) leva à mente criminosa a não temer a punição. A desestruturação do sistema prisional (que inclusive, independe do sistema judiciário e das leis em si) levam o criminoso a preferir o crime como o caminho viável, pois encontrará no sistema prisional rapidamente estrutura, e tal se comportará como um mercado (no conceito que é tratado no marketing), tanto como uma rua em São Paulo lotar-se de lojas de produtos eletrônicos ou no Rio de Janeiro de antiquários e sebos, ou, como exemplo mais que adequado, um bairro praticamente inteiro em Campinas voltar-se à prostituição (desculpe, querida Campinas, mas é fato).
Igualmente, um "paradoxo sorites como falácia", alicerçado sobre esta falácia, levará a que exista uma graduação etária que leva até um momento de ruptura (no sistema do próprio crime) de idades em que é viável a criminalidade, e que cerca os criminosos da faixa mais problemática (para o criminoso) de uma "mão de obra marginal" que abastece a baixo custo as estruturas criminosas, desde as menores até as de abrangência estadual e trans-estadual (PCC, por exemplo máximo).
Esta estrutura dinâmica em fluxo e abrangente no espaço, não tem de ter a certeza de um sistema policial/judiciário/penal existente que não lhe é um impecilho poderoso. Tem de ter o pavor (este é o termo) da existência de um poderoso sistema que lhe seja opositor.
As nações mais civilizadas são implacáveis com o crime. Atuam sobre ele com permanente asfixia. A liberal Austrália, por exemplo, "paraíso de primeiro mundo", possui idade penal de 7 anos , e todos os países ditos vanaçados/ricos, sem exceção, na verdade possuem uma graduação rígida das estruturas prisionais (aqui, usemos, corrijo-me, perdoem-me mais uma vez pela redundância, correcionais) pela graduação de idade, até para não contaminar o mais novo pelo mais velho no crime (aqui, o jovem tenente do PCC, na unidade correcional, treina o aspirante, recém ingresso, e pouco interessa, neste sistema dinâmico, que um tenha 17 anos e 11 meses e o outro, 14 recém feitos).
Quanto aos liberais tratamentos que tem sido dados aos viciados em crack, "que não devem ser internados contra sua vontade", seria bom lembrar a todos, e acho que esta minha explicação poupará da descrição mais formal da "falácia bazofenta" específica, já não são há muito controladores de sua própria vontade, tanto que ficam sem comer e dormir por dias morando em meio ao lixo e sob pingos de goteiras, e por míseros 5 reais, o suficiente para a próxima "pedra", das diversas - se possível, de um dia, são capazes de enfiar facas nos olhos das próprias mães ou cortar o pescoço da primeira menininha com trocados indo buscar alguns pães na esquina (sua filha ou irmã menor, por exemplo), pois simplesmente o que opera agora, é a parte basal de seus cérebros, que ao invés de buscar respirar, beber água, comer, dormir e ter um tanto de sexo, busca a próxima dose de alcalóide, e que há muito deixou de se relacionar bem com a parte externa e mais da frente de seu cérebro, que por sinal, para seu (e mais ainda, nosso) infortúnio, mesmo quando tem férrea vontade, não é voltada para o bem, não adianta ter recebido a magnífica educação de uma família e de ótimas escolas e muito menos em que maravilhosa e rica sociedade e nação se encontre.
Neurologicamente: tornaram-se robóticos nos seus mecanismos de ação, tal como são os répteis ou os anfíbios em seus atos de sobrevivência, exatamente porque a parte basal de nosso cérebro, agora predominante em impulsionar o viciado, é a de um amniota, tão limitado em funções como é o de um lagarto ou um sapo*.
*Citando sapos, há tempos que em termos de segurança, a sociedade brasileira se comporta como o metafórico/lendário sapo, que ao ser imerso em água quente salta, mas quando aquecido lentamente, é cozinhado e não percebe.
Esta massa de cérebros em busca de alcalóide a todo o custo, produz uma massa tão perigosa que até o crime a evita, e perturba, inclusive, a já limitada capacidade do crime mais organizado de absorver uma crescente "massa de mão de obra marginal", perturbando seus negócios até dentro do próprio tráfico de drogas, basta abrir as páginas policiais de jornais. Noutros termos, se o viciado em crack até ao crime é prejudicial, quanto mais podendo ter liberdades como um cidadão plenamente dotado de seus direitos. Viciados em crack não são criminosos, são doentes graves e nocivos, como qualquer infectado com uma virose letal e contagiosa, a toda a sociedade e a si mesmos. Não se pode tratar um infectado por um vírus letal como se trata um funcionário de empresa com problemas com álcool ou cocaína. Tem de ser, pois, contingenciados.
Agora formalizando e criticando a falácia específica: os viciados em crack não podem mais ter a liberdade de serem internado apenas por sua vontade, pois não possuem mais vontade.
Acredito que eu tenha sido bem claro.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Inteligência II
Valores e o humano
Definamos dois conceitos simplificados em Ética, que é a "ciência filosófica" da moral (reparemos as aspas).
Sócrates (em pé, de verde oliva), por Rafael, detalhe de 'A Escola de Atenas'. O julgamento deste filósofo é um exemplo, ou talvez uma metáfora, de que a lei e seu cumprimento podem ser completamente imorais.
Existem conceitos de moral que são claramente universais. Um exemplo, pelo menos a princípio, é o "não matar". Pensando sobre tais temas, Kant chegou a conclusão que conceitos morais deste tipo são universais porque o seguir o seu contrário, ou seja, tornar banal matar levaria inexoravelmente a humanidade à extinção. Igualmente, o estuprar impediria a liberdade sexual de qualquer indivíduo. Assim, os classificou como 'universais' por este raciocínio relativamente simples.
A cena de estupro de Irreversível, um filme que mostra que uma jornada de vingança pode resultar em completa imoralidade.
Retornando ao aparentemente óbvio matar, percebamos que matar em legítima defesa (inclusive de terceiros), ou o matar nas "guerras morais" (como por exemplo, o enfrentar do nazifacismo na 2a Guerra Mundial) torna-se, paradoxalmente ao raciocínio de Kant, um matar moral. Logo, não matar não é propriamente uma moralidade absoluta, sendo relativa sob diversas variáveis, como o contexto histórico.
Uma análise mais profunda, levará a chegar-se que os universais de Kant sempre são relativizáveis, embora se mostrem uma tendência clara, lógica, para a própria sobrevivência da sociedade, da civilização e por fim, da humanidade. Então, chamemos tais valores morais, até para simplificar nosso texto, de universais, porém passíveis de críticas (nosso objetivo aqui não é de forma alguma uma discussão sobre Ética num nível mais profundo que o necessário).
Já valores morais que sejam mais culturais, como por exemplo o caso que considero perfeito da monogamia/poligamia, seja a poliginia, seja a poliandria. Estes tipos de valores morais (que podem incluir até regras do que chamamos de etiqueta) são determinados em processos históricos e culturais pelo que Nietzsche coloca como os valores determinados pela classe dominante (quando não impostos por esta). Estes, são sempre relativos, já a uma análise superficial. Abordando este argumento por outra via, nada existe de imoral, a não ser, por exemplo para o Catolicismo, de imoral em si na poliginia dos Mórmons, dos Muçulmanos ou da poliandria do Tibete.
Mormon Polygamy - Frequently Asked Questions
Obviamente, por motivos que qualquer um percebe como determinantemente orientados pela nossa natureza de mamíferos, a poliginia é mais frequente na história e na geografia que a poliandria. Da mesma maneira, as relações homossexuais (que seriam outra forma de valoração moral relativa na história) sempre foram muito mais frequentes como aceitáveis e até cultuáveis entre homens e não tanto entre mulheres, até pelo fator simbólico fálico do que, como mamíferos, encaramos como penetração, ou a relacionada simbologia do pênis, desde obeliscos até a gíria "espada" dos humoristas do Caceta & Planeta (lembrando, vaginum em latim relaciona-se com bainha, o objeto que guarda a espada ou faca). Não temos escape, o cultural reflete o biológico e o linguístico é contruído pelo cultural, logo...
Retornando aos valores morais, um homem moral, numa sociedade poligâmica, tendo um harém de 100 esposas, continuará moral se lhes prover cuidados e sustento, embora, garanto, talvez se satisfaça muito mais com elas do que elas com ele (o que pode até, por ironia, ser considerado uma imoralidade).
The Harem por John Frederick Lewis
Porém, um homem ocidental, monogâmico, que administre temerariamente suas finanças, e abandone a própria sorte sua única esposa grávida - não empregada/desprovida de renda - será, obviamente, imoral (forçando um caso, admito, mas há anos assumo que, na busca de exemplos, chego na fronteira de um desonesto intelectual completo quando quero sustentar meus pontos).
Logo, o possuir ou não possuir uma esposa/esposo não é determinante em si, nem de moralidade, nem de inteligência, pois o que seja inteligência, mostramos anteriormente, não será de forma alguma associado diretamente à moralidade, seja sob que análise, seja pelos 'relativos de Nietzsche' ou 'universais de Kant'.
Portanto, um estudo como o da London School of Economics, especialmente nas frases abaixo:
"Para ele, a inteligência ajuda o homem a escapar das consequências da infidelidade."
"Para o homem moderno, o mais importante é a estabilidade da relação e a família."
Leva-me a concluir que:
1) O que é considerado fidelidade conjugal seja uma fidelidade a um padrão de comportamento na formação de família (ou conjugal, se preferirem) definido como monogâmico, e que não possa ser, por acordo entre as partes unicamente interessadas, embora até expesso em lei*, definido como desejável.
*Legislações são muitas vezes, uma das formas de imposição da moral relativa da classe dominante.
2) A inteligência específica é apenas um bom senso financeiro, não propriamente o que caminhe para a genialidade. Explico noutras palavras: qualquer pessoa minimamente dotada deduz que não pode gastar mais do que ganha (o que já entraria em contradição com gênios como Mozart e Wagner, que sendo compositores, tenho certeza que eram hábeis em aritmética, mas um desastre em suas finanças). Logo ser minimamente inteligente já conduz a um não ter mais esposas/amantes do que se possa sustentar (ou que gerem despesas maiores que se possa cobrir), ou não perder valores na separação (o que por si só já denota um padrão moral relativo, de que homens tenham de sustentar mulheres, suas conjuges, ou, também, que a partilha seja sempre prejudicial ao homem, ao invés de apenas justa).
3) Também podemos analisar, que sob um casamento na verdade em ruínas, um homem que trai inicia uma relação fiel e mais proveitosa, que infelizmente, por um contexto até de tempo, tem de passar por um período que aos olhos de muitos, possa parecer uma infidelidade.
4) Mas pode ser, sob este claro bom senso até financeiro, um apego a fidelidade apenas por um motivo interesseiro, o que poderíamos chamar de avareza, e não, propriamente, uma moralidade.
Acredito que poderia colocar com mais um pouco de esforço um bom número de variantes que colocariam as conclusões rígidas deste estudo como duvidosas.
Assim, mais uma vez, coloco que analisar questões humanas extremamente complexas por abordagens reducionistas é mais que arriscado.
Lembrando sempre Mayr, na máxima que é título de livro, Biologia, ciência única, e parafraseando Dobzhansky, talvez nada se afirme em moral humana que não seja iluminável pela evolução.
Uma das razões de nosso sucesso evolutivo foi a coletivização de nossas fêmeas, relacionada com a associação entre nossos machos, em grupos coordenados (tal comportamento é nítido nos chimpanzés) que nos levou aos grupos de caça.
Se fôssemos comos os gorilas, disputando aos sopapos e mordidas um grupo de fêmeas, ainda estaríamos assim. Porém, e aqui Freud acertou na mosca, se fôssemos absolutamente promíscuos e desenfreadamente sexuais em nossas relações sociais, não seríamos diferentes dos bonobos. Logo, somos um sucesso evolutivo pois paramos de disputar parceiros sexuais e produzimos um processo civilizatório pois criamos padrões ditos morais de comportamento. Somos um primata que acertou um meio termo em seu comportamento sexual/social. De limitarmos os estupros ao mínimo, reduzirmos o matar a ser moral apenas quando necessário exatamente em função de impedí-lo, construímos aquilo que consideramos como os ápices de nossa civilização.
Se monogamia, poligamia, fidelidade ou infidelidade foram colocados em facetas pingadas nesta lapidação do humano, é um processo acessório ao fruto do desenvolvimento da inteligência, e não uma consequência direta, inseparável e tendenciosa desta.
Alguns comentários adicionais
Se existe aristotelismo classificatório ao qual me dou o luxo, é de separar o que seja o que defino como psicopata do que defino como um sociopata. Um psicopata, a meu ver, é normalmente limitado intelectualmente, comete atos brutais cheios de ritualística que beiram o insano, pois não obtém coisa alguma com aquilo a não ser a satisfação de uma desejo pessoal sabe-se lá com que motivação. O psicopata clássico seria Jack, O Estripador. Outro, mais próximo de nós brasileiros, seria o Maníaco do Parque. Tanto são patológicos em suas "almas", que o que os motiva é pessoal e intranferível.
Existem psicopatas que dividem-se em uma personalidade até moral e carismática, filantropa e humanitária, o mais perfeito dos senhores de nossas sociedades, e no seu outro lado, podem ser monstros com os piores e mais repulsivos vícios (e não necessariamente são limitados intelectualmente, muito pelo contrário). Um exemplo que conheço deste quadro é o de John Wayne Gacy (um caso tão grave que gerou uma nova maneira de se investigar este tipo de delito nos EUA).
Uma observação: as chamadas "lesões cerebrais menores" são associadas ao comportamento psicopático, o que explicaria uma não ligação direta com limitação intelectual.
Algumas das "atividades artísticas" de Jack, O Estripador. Para mais fotos, e para quem tiver estômago, recomendo a fonte: Crime Scene Photos.
Já os sociopatas (na minha definição, fique bem claro) possuem objetivos que poderiam ser nobres como grandes postos, riqueza, a felicidade de um povo. Claro, que aqui, usarei um ad hitlerum: Hitler, o sociopata clássico. Não possuem ritualística insana. Não realizam ato algum que não faça parte de seu objetivo. Podem, inclusive, ser gênios em seus campos de talentos, e até pessoas relativamente afáveis, dados seus focos, como com crianças e cães.
Um distinto senhor germânico, em seu dia a dia.
Para entender-se o quão diferentes são, e a óbvia diferença de escala de seus atos, observem estas fotos, que mostram suas "obras" ou comportamentos. O perigo é que nem a família de Jack, O Estripador o seguiria como um líder. Já no caso da outra classificação, não podemos dizer historicamente o mesmo.
Uma das belíssimas imagens de Triumph des Willens (O Triunfo da Vontade) de Leni Riefenstahl. O problema nunca foi a qualidade artística da propaganda, mas os objetivos ocultos de toda a inteligência que estava por trás dela.
Aviso: o meio empresarial, assim como o chamado ambiente coorporativo, está cheio de sociopatas "leves". O que trato como 'personalidades malévolas'. São exemplos estelionatários dos mais diversos tipos, os indivíduos sedutores por excelência (aquele típico vendedor de carro usado ruim e terreno em duna de areia na praia, como certa vez foi dito de determinado ex-presidente brasileiro), o administrador temerário mas que salva o seu butim na última hora, o colega de trabalho que "lhe dá - e a todos - bolas nas costas", etc. Notemos que nenhum destes casos seriam indivíduos limitados intelectualmente. Recomendo, aqui, o livro MENTES PERIGOSAS: O PSICOPATA MORA AO LADO, de Ana Beatriz Barbosa Silva .
Observemos, finalmente, que exatamente uma certa brutalidade, uma certa desinibição moral, uma certa "maldade", até poderíamos dizer, é que nos levou de sermos vítimas nas savanas africanas aos matadores dos leões. A vítima por milhões de anos passou a ser o algoz. Confesso que não vejo muita utilidade no mito de Órion, o herói caçador mas estuprador, mas vejo poderosa simbologia no mito de Osíris e Hórus, em que o filho vingativo mata o assassino de seu pai bondoso (pois os bondosos, por sua natureza, normalmente são as vítimas permanentes), que fundou a agricultura, e ergue uma grande nação. Por fim, não há mal por si, há o que relativamente classificamos como o mal, com foco em construirmos a civilização.
Nossos atos são nossos anjos bons e maus, sombras fatais que caminham ao nosso lado. - Beaumont e Fletcher
Francis Beaumont (1584-1616) e John Fletcher (1579-1625), dramaturgos ingleses que escreveram quase sempre em colaboração. O sucesso de suas peças, em seu tempo, superou de muito o das peças de Shakespeare.
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Definamos dois conceitos simplificados em Ética, que é a "ciência filosófica" da moral (reparemos as aspas).
Sócrates (em pé, de verde oliva), por Rafael, detalhe de 'A Escola de Atenas'. O julgamento deste filósofo é um exemplo, ou talvez uma metáfora, de que a lei e seu cumprimento podem ser completamente imorais.
Existem conceitos de moral que são claramente universais. Um exemplo, pelo menos a princípio, é o "não matar". Pensando sobre tais temas, Kant chegou a conclusão que conceitos morais deste tipo são universais porque o seguir o seu contrário, ou seja, tornar banal matar levaria inexoravelmente a humanidade à extinção. Igualmente, o estuprar impediria a liberdade sexual de qualquer indivíduo. Assim, os classificou como 'universais' por este raciocínio relativamente simples.
A cena de estupro de Irreversível, um filme que mostra que uma jornada de vingança pode resultar em completa imoralidade.
Retornando ao aparentemente óbvio matar, percebamos que matar em legítima defesa (inclusive de terceiros), ou o matar nas "guerras morais" (como por exemplo, o enfrentar do nazifacismo na 2a Guerra Mundial) torna-se, paradoxalmente ao raciocínio de Kant, um matar moral. Logo, não matar não é propriamente uma moralidade absoluta, sendo relativa sob diversas variáveis, como o contexto histórico.
Uma análise mais profunda, levará a chegar-se que os universais de Kant sempre são relativizáveis, embora se mostrem uma tendência clara, lógica, para a própria sobrevivência da sociedade, da civilização e por fim, da humanidade. Então, chamemos tais valores morais, até para simplificar nosso texto, de universais, porém passíveis de críticas (nosso objetivo aqui não é de forma alguma uma discussão sobre Ética num nível mais profundo que o necessário).
Já valores morais que sejam mais culturais, como por exemplo o caso que considero perfeito da monogamia/poligamia, seja a poliginia, seja a poliandria. Estes tipos de valores morais (que podem incluir até regras do que chamamos de etiqueta) são determinados em processos históricos e culturais pelo que Nietzsche coloca como os valores determinados pela classe dominante (quando não impostos por esta). Estes, são sempre relativos, já a uma análise superficial. Abordando este argumento por outra via, nada existe de imoral, a não ser, por exemplo para o Catolicismo, de imoral em si na poliginia dos Mórmons, dos Muçulmanos ou da poliandria do Tibete.
Mormon Polygamy - Frequently Asked Questions
Obviamente, por motivos que qualquer um percebe como determinantemente orientados pela nossa natureza de mamíferos, a poliginia é mais frequente na história e na geografia que a poliandria. Da mesma maneira, as relações homossexuais (que seriam outra forma de valoração moral relativa na história) sempre foram muito mais frequentes como aceitáveis e até cultuáveis entre homens e não tanto entre mulheres, até pelo fator simbólico fálico do que, como mamíferos, encaramos como penetração, ou a relacionada simbologia do pênis, desde obeliscos até a gíria "espada" dos humoristas do Caceta & Planeta (lembrando, vaginum em latim relaciona-se com bainha, o objeto que guarda a espada ou faca). Não temos escape, o cultural reflete o biológico e o linguístico é contruído pelo cultural, logo...
Retornando aos valores morais, um homem moral, numa sociedade poligâmica, tendo um harém de 100 esposas, continuará moral se lhes prover cuidados e sustento, embora, garanto, talvez se satisfaça muito mais com elas do que elas com ele (o que pode até, por ironia, ser considerado uma imoralidade).
The Harem por John Frederick Lewis
Porém, um homem ocidental, monogâmico, que administre temerariamente suas finanças, e abandone a própria sorte sua única esposa grávida - não empregada/desprovida de renda - será, obviamente, imoral (forçando um caso, admito, mas há anos assumo que, na busca de exemplos, chego na fronteira de um desonesto intelectual completo quando quero sustentar meus pontos).
Logo, o possuir ou não possuir uma esposa/esposo não é determinante em si, nem de moralidade, nem de inteligência, pois o que seja inteligência, mostramos anteriormente, não será de forma alguma associado diretamente à moralidade, seja sob que análise, seja pelos 'relativos de Nietzsche' ou 'universais de Kant'.
Portanto, um estudo como o da London School of Economics, especialmente nas frases abaixo:
"Para ele, a inteligência ajuda o homem a escapar das consequências da infidelidade."
"Para o homem moderno, o mais importante é a estabilidade da relação e a família."
Leva-me a concluir que:
1) O que é considerado fidelidade conjugal seja uma fidelidade a um padrão de comportamento na formação de família (ou conjugal, se preferirem) definido como monogâmico, e que não possa ser, por acordo entre as partes unicamente interessadas, embora até expesso em lei*, definido como desejável.
*Legislações são muitas vezes, uma das formas de imposição da moral relativa da classe dominante.
2) A inteligência específica é apenas um bom senso financeiro, não propriamente o que caminhe para a genialidade. Explico noutras palavras: qualquer pessoa minimamente dotada deduz que não pode gastar mais do que ganha (o que já entraria em contradição com gênios como Mozart e Wagner, que sendo compositores, tenho certeza que eram hábeis em aritmética, mas um desastre em suas finanças). Logo ser minimamente inteligente já conduz a um não ter mais esposas/amantes do que se possa sustentar (ou que gerem despesas maiores que se possa cobrir), ou não perder valores na separação (o que por si só já denota um padrão moral relativo, de que homens tenham de sustentar mulheres, suas conjuges, ou, também, que a partilha seja sempre prejudicial ao homem, ao invés de apenas justa).
3) Também podemos analisar, que sob um casamento na verdade em ruínas, um homem que trai inicia uma relação fiel e mais proveitosa, que infelizmente, por um contexto até de tempo, tem de passar por um período que aos olhos de muitos, possa parecer uma infidelidade.
4) Mas pode ser, sob este claro bom senso até financeiro, um apego a fidelidade apenas por um motivo interesseiro, o que poderíamos chamar de avareza, e não, propriamente, uma moralidade.
Acredito que poderia colocar com mais um pouco de esforço um bom número de variantes que colocariam as conclusões rígidas deste estudo como duvidosas.
Assim, mais uma vez, coloco que analisar questões humanas extremamente complexas por abordagens reducionistas é mais que arriscado.
Lembrando sempre Mayr, na máxima que é título de livro, Biologia, ciência única, e parafraseando Dobzhansky, talvez nada se afirme em moral humana que não seja iluminável pela evolução.
Uma das razões de nosso sucesso evolutivo foi a coletivização de nossas fêmeas, relacionada com a associação entre nossos machos, em grupos coordenados (tal comportamento é nítido nos chimpanzés) que nos levou aos grupos de caça.
Se fôssemos comos os gorilas, disputando aos sopapos e mordidas um grupo de fêmeas, ainda estaríamos assim. Porém, e aqui Freud acertou na mosca, se fôssemos absolutamente promíscuos e desenfreadamente sexuais em nossas relações sociais, não seríamos diferentes dos bonobos. Logo, somos um sucesso evolutivo pois paramos de disputar parceiros sexuais e produzimos um processo civilizatório pois criamos padrões ditos morais de comportamento. Somos um primata que acertou um meio termo em seu comportamento sexual/social. De limitarmos os estupros ao mínimo, reduzirmos o matar a ser moral apenas quando necessário exatamente em função de impedí-lo, construímos aquilo que consideramos como os ápices de nossa civilização.
Se monogamia, poligamia, fidelidade ou infidelidade foram colocados em facetas pingadas nesta lapidação do humano, é um processo acessório ao fruto do desenvolvimento da inteligência, e não uma consequência direta, inseparável e tendenciosa desta.
Alguns comentários adicionais
Se existe aristotelismo classificatório ao qual me dou o luxo, é de separar o que seja o que defino como psicopata do que defino como um sociopata. Um psicopata, a meu ver, é normalmente limitado intelectualmente, comete atos brutais cheios de ritualística que beiram o insano, pois não obtém coisa alguma com aquilo a não ser a satisfação de uma desejo pessoal sabe-se lá com que motivação. O psicopata clássico seria Jack, O Estripador. Outro, mais próximo de nós brasileiros, seria o Maníaco do Parque. Tanto são patológicos em suas "almas", que o que os motiva é pessoal e intranferível.
Existem psicopatas que dividem-se em uma personalidade até moral e carismática, filantropa e humanitária, o mais perfeito dos senhores de nossas sociedades, e no seu outro lado, podem ser monstros com os piores e mais repulsivos vícios (e não necessariamente são limitados intelectualmente, muito pelo contrário). Um exemplo que conheço deste quadro é o de John Wayne Gacy (um caso tão grave que gerou uma nova maneira de se investigar este tipo de delito nos EUA).
Uma observação: as chamadas "lesões cerebrais menores" são associadas ao comportamento psicopático, o que explicaria uma não ligação direta com limitação intelectual.
Algumas das "atividades artísticas" de Jack, O Estripador. Para mais fotos, e para quem tiver estômago, recomendo a fonte: Crime Scene Photos.
Já os sociopatas (na minha definição, fique bem claro) possuem objetivos que poderiam ser nobres como grandes postos, riqueza, a felicidade de um povo. Claro, que aqui, usarei um ad hitlerum: Hitler, o sociopata clássico. Não possuem ritualística insana. Não realizam ato algum que não faça parte de seu objetivo. Podem, inclusive, ser gênios em seus campos de talentos, e até pessoas relativamente afáveis, dados seus focos, como com crianças e cães.
Um distinto senhor germânico, em seu dia a dia.
Para entender-se o quão diferentes são, e a óbvia diferença de escala de seus atos, observem estas fotos, que mostram suas "obras" ou comportamentos. O perigo é que nem a família de Jack, O Estripador o seguiria como um líder. Já no caso da outra classificação, não podemos dizer historicamente o mesmo.
Uma das belíssimas imagens de Triumph des Willens (O Triunfo da Vontade) de Leni Riefenstahl. O problema nunca foi a qualidade artística da propaganda, mas os objetivos ocultos de toda a inteligência que estava por trás dela.
Aviso: o meio empresarial, assim como o chamado ambiente coorporativo, está cheio de sociopatas "leves". O que trato como 'personalidades malévolas'. São exemplos estelionatários dos mais diversos tipos, os indivíduos sedutores por excelência (aquele típico vendedor de carro usado ruim e terreno em duna de areia na praia, como certa vez foi dito de determinado ex-presidente brasileiro), o administrador temerário mas que salva o seu butim na última hora, o colega de trabalho que "lhe dá - e a todos - bolas nas costas", etc. Notemos que nenhum destes casos seriam indivíduos limitados intelectualmente. Recomendo, aqui, o livro MENTES PERIGOSAS: O PSICOPATA MORA AO LADO, de Ana Beatriz Barbosa Silva .
Observemos, finalmente, que exatamente uma certa brutalidade, uma certa desinibição moral, uma certa "maldade", até poderíamos dizer, é que nos levou de sermos vítimas nas savanas africanas aos matadores dos leões. A vítima por milhões de anos passou a ser o algoz. Confesso que não vejo muita utilidade no mito de Órion, o herói caçador mas estuprador, mas vejo poderosa simbologia no mito de Osíris e Hórus, em que o filho vingativo mata o assassino de seu pai bondoso (pois os bondosos, por sua natureza, normalmente são as vítimas permanentes), que fundou a agricultura, e ergue uma grande nação. Por fim, não há mal por si, há o que relativamente classificamos como o mal, com foco em construirmos a civilização.
Nossos atos são nossos anjos bons e maus, sombras fatais que caminham ao nosso lado. - Beaumont e Fletcher
Francis Beaumont (1584-1616) e John Fletcher (1579-1625), dramaturgos ingleses que escreveram quase sempre em colaboração. O sucesso de suas peças, em seu tempo, superou de muito o das peças de Shakespeare.
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sábado, 6 de março de 2010
Inteligência
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A capacidade de resolver problemas e alguns de seus problemas
Dentro de uma definição que reconheço como mais clássica, inteligência é a capacidade de resolver problemas.
Dentro desta definição, Pitágoras e Euclides, mais ainda, pelas ações nas coisas físicas, em primórdios da invenção com bases científicas e engenharia, Arquimedes e Heron de Alexandria seriam homens extremamente inteligentes, pois aplicaram a razão, na fusão de conceitos, para resolver problemas, tanto teóricos, como os dois primeiros, como de coisas práticas, como os segundos.
Mas se é inteligência a capacidade de resolver problemas, e for definido como um problema chegar-se ao poder de uma grande nação, e realizar as maiores barbáries com foco em seus desejos pessoais, Calígula, Nero (que é citado, até determinada fase de sua vida, como um excelente administrador), Cômodo e Heliogábalo foram homens extremamente inteligentes.
As Rosas de Heliogábalo, por Lawrence Alma-Tadema, 1888.
Obs.: A escolha de romanos foi apenas por foco, destaque e comodidade, não por preconceito.
Logo, por esta definição, como muitas vezes o que seja inteligente seja exatamente a resolução de um problema que impede a mais terrível das ações imorais, inteligência não implica em moralidade.
Ao longo dos últimos anos, cresceu a construção de classificações (a maldição da razão que denomino "aristotelismos classificatórios") iniciando-se, acredito, por uma classificação de sete diferentes inteligências por Howard Gardner:
Inteligência Linguística - Caracteriza-se pela grande capacidade de se expressar tanto oralmente quanto na forma escrita. Pessoas com tal tipo de inteligência possuem uma grande expressividade, também tem um alto grau de atenção, uma concentração em questões a serem enfrentadas e uma alta sensibilidade para entender pontos de vista alheios. É considerada uma inteligência fortemente relacionada ao lado esquerdo do cérebro e dita como uma das inteligências mais comuns. Lembremos: somos animais comunicantes por linguagem articulada, estruturada e complexa. Logo, ser inteligente linguisticamente foi até uma necessidade no gênero humano.
Exemplo de inteligência linguística oral, por exemplo, é o grande orador grego Demóstenes. Na escrita, poderia citar banalmente uma dúzia, mas me concentrarei em dois, pelas peculiaridades de seus casos.
Sartre é, obviamente, um exemplo de inteligência linguística. Não só se dedicou a Filosofia como também a literatura. Quando lhe foi encomendado um roteiro sobre Freud, por John Huston, após alguns meses entregou um gigantesco livro, "massa de literatura intratável pelo cinema". Após conversa amigável com John Huston, passados mais alguns meses, refez o roteiro, e o entregou... maior.
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em Copacabana, uma mostra que inteligências similares formam sólidos casais, e muitas vezes, com idéias comuns sobre determinados pontos da vida, como expresso na frase de Simone: A morte dele nos separou. A minha não irá nos unir.
Primeira nota: um determinado tipo de inteligência não implica em ser hábil ou adequado num outro contexto, onde os modelos de processos são diversos daqueles de seu ambiente.
Citando Og Mandino, adaptado: "Queres ver um talentoso condutor de carruagens ir a miséria? Coloca-o a plantar uvas."
Caryl Chessman foi um ladrão e estuprador, notório pela alcunha de "Red Light Bandit" (Bandido da Luz vermelha), autodidata em direito e revelou-se um capaz escritor.
Segunda nota: a área do cérebro responsável por capacidades até notáveis não implica na atividade de outras, como, por exemplo, aquelas responsáveis pela moralidade.
Inteligência Lógica - Este perfil de inteligência possibilita uma alta capacidade de memorização e um talento para lidar com matemática e lógica. Pessoas com tal tipo de inteligência tem facilidade para encontrar soluções para problemas complexos, aliada muitas vezes à capacidade de dividir estes problemas em problemas menores e os resolver rumo a uma resposta final. São pessoas consideradas por teóricos da inteligência como organizadas e disciplinadas. É citada por autores como relacionada a processamentos profundos do lado direito, mas classicamente, o raciocínio lógico é relacionado ao lado esquerdo do cérebro, e tal concorda que lógica, e matemática - que é lógica sobre axiomas - é uma linguagem.
Claro que citaria Euler, Gauss, Fermat (que inclusive era um matemático amador, não um homem de carreira na matemática).
Carl Friedrich Gauss, o "Príncipe dos Matemáticos". Não contente em ser o maior matemático do mundo em seu tempo, fez importantes descobertas em Física e até anatomia, assim como era um poliglota.
Mas também citaria Galois, precoce mas intempestivo, apressado e sem método, capaz de se meter nas mais perigosas escaramuças e tal foi a razão de sua morte.
Citaria Einstein, e sua capacidade transcendente de visualizar mentalmente comportamentos da natureza, mas igualmente e com mesma capacidade de perder tempo enorme em dedicar-se a não analisar, mas refutar com modelo contraditório o aleatório do quântico, e portanto, não dispor na verdade de uma inteligência muito bem descrita que surgirá neste texto, que permite entender-se a natureza como ela é, e não como nos tenta impor nossos raciocínios, no que posso chamar de "construção sobre nossos enganos".
Einstein foi igualmente incapaz, segundo seus próprios relatos, de construir relação estável e prazerosa com sua primeira esposa, e biógrafos não tratam sua relação posterior com muito carinho, igualmente. Mas destaquemos o que não é pessoal e íntimo, e sim o que é público: qual "QI de repolho" do planeta diria, após conhecer qualquer coisa sobre a vida de Einstein, que tenha sido "organizado"?
É relatado que certa vez perguntou, após ser interpelado por estudantes, em qual direção estava indo antes da conversa, para saber se já tinha almoçado (coisa que segidamente esquecia de fazer). Relata-se também que costumava calçar meias de cores diferentes e abotoar errado seu característicos casacos de lã.
Por outro lado, Einstein, e em especial recomendo "Como Vejo o Mundo", é um claro humanista, um moralista até ferrenho em inúmeros campos, ao ponto que personalizou o que viria a ser citado como "o sábio perfeito". Nossas noções de perfeição muitas vezes, nascem de avaliação pelo público do que sejam aspectos mais amplos, e não de relativas fidelidade conjugais ou do vestir-se elegantemente.
Evidentemente citaria Newton, perseguidor de desafetos e rivais. Stephen Hawking o trata como "uma pessoa não agradável". Provavelmente tendo morrido virgem, era incapaz, claramente, de contruir relações de amizades profundas, e lendo seus escritos de alquimia, detecto ali mostras de uma área imensa de sua mente dedicada ao que praticamente chamaria de delírio.
Recomendo, para conhecer este lado "magia negra" de Newton, a excelente coletânea:
COHEN, I. Bernard, WESTFALL, Richard S. (orgs.). Newton: textos, antecedentes, comentários. Rio de Janeiro : Contraponto. 524 p.
Uma resenha em: Dilhermando Ferreira Campos; NEWTON: TEXTOS, ANTECEDENTES E COMENTÁRIOS
Muito do comportamento de Newton e Einstein seria explicado pela Síndrome de Asperger.
Nota 3: O cérebro e sua mente é como um repolho. Algumas folhas serem atacadas por larvas não implica em o conjunto todo ser deteriorado, nem mesmo em algumas folhas serem perfeitas.
Inteligência Motora, também chamada de Física ou Cinestésico-Corporal - A inteligência de quem possui um grande talento na expressão corporal e tem uma noção perfeita do espaço, da distâncias e da profundidade. Estes indivíduos tem um controle sobre o corpo maior que o normal, sendo capazes de realizar movimentos complexos, graciosos ou então a execução de força com enorme precisão e facilidade. É a inteligência tipicamente relacionada ao cerebelo, porção do cérebro que controla os movimentos voluntários do corpo, e no planejamento do que será executado, em coordenação com o córtex. É o tipo de inteligência mais diretamente relacionada à coordenação e capacidade motora. Está presente em esportistas de esportes ditos como os mais complexos, tais como os saltos ornamentais e a ginástica artística (que prefiro continuar a chamar de olímpica), a ginástica acrobática do leste europeu e os acrobatas de circo, assim como aos lutadores de artes marciais altamente estilísticas, como o Kung Fu.
Exemplos de inteligência motora, embora ache que aqui errei em algum momento.
Um exemplo máximo de inteligência motora foi Bruce Lee, que além de um lutador e artista marcial excepcional, era graduado em Filosofia e capaz de expressar-se com extrema segurança em entrevistas. Necessariamente, não poderia ser chamado de simpático pela maioria das pessoas, mas jamais foi chamado de desagradável ou similar. Autor de diversos escritos sobre artes marciais, foi criador de toda uma nova filosofia em artes marciais, de toda uma conceituação, com fortes influências da Filosofia, com "o estilo sem estilo", o "estilo da água", que sendo fluida, é capaz de destruir o mais forte rochedo, como ele mesmo citava. Procurou quebrar com o formalismo do Kung Fu tradicional, pela obsessão das artes marciais tradicionais pelo estritismo dos movimentos.
Os diretores de cinema de ação de Hollywood chamam determinados atores de "gênios físicos". Após observarem coreografias, são capazes de em poucos dias, repetir movimentos de artes marciais, lutas de rua, montanhismo ou qualquer atividade física que seja necessária.
Não necessariamente, sabemos, conseguem se manter longe de agressões à esposas ou esposos, funcionários e serviçais, guardas de trânsito ou de manterem a si próprios longe de vícios ou de todo o tipo do que os norteamericanos chamam de "encrenca".
Entre os lutadores, poderíamos citar Cassius Clay/Muhammad Ali, "o falastrão", que além de um lutador brilhante era conhecido pela capacidade de falar em público. Em contrapartida, podemos citar o semelhante Mike Tyson, incapaz até mesmo de seguir regras básicas e óbvias do "nobre esporte".
Entre os esportistas de esportes coletivos, poderíamos citar gênios como Pelé, e suas contrapartes perturbadas como Maradona (aqui, me pouparei de links ;) ). No basquete, Michael Jordan ou "Magic" Johnson (que mesmo com sua contaminação por HIV, jamais teve a carreira, tanto dentro das quadras quanto fora, perturbadas), e Earl "The Goat" Manigault, um talento inigualável do basquete perdido em meio às drogas (filme sobre sua vida).
Nota 4: Aparentemente, nenhum tipo de inteligência implica necessariamente no que chamamos de equilíbrio, sensatez ou bom senso.
Inteligência Espacial, também chamada de Visual - Este perfil de inteligência, possibilita uma enorme facilidade para criar, imaginar e desenhar imagens em duas e três dimensões, na expressividade em artes plásticas. Seus portadores possuem uma grande capacidade de criação em geral mas principalmente tem um enorme talento para as artes gráficas, o expressar-se graficamente. Pessoas com este perfil de inteligência tem como principais características a criatividade e a sensibilidade, sendo capazes de imaginar, criar e enxergar coisas que quem não tem este tipo de inteligência desenvolvido, em geral, não consegue. E acrescento: podem existir pessoas que visualizam perfeitamente o que querem expressar, mas não o conseguem com o próprio corpo diretamente, como por exemplo, através de pincéis e cinzel, mas o conseguem como os animadores de computação gráfica, por uma ferramente indireta e apoiadora.
Há igualmente, os grandes arquitetos, que só conseguem expressar-se com suas mãos apoiadas, por um processo um tanto cartesiano, pois não possuem controle absoluto (e este é muito raro, na verdade, vide o notório caso de Giotto, e a lendária história do seu traçar de um círculo, independente dos fatos perfeitamente aceitos.)
Aqui, Leonardo Da Vinci e Miguelângelo seriam exemplos gritantes, com destaque para que Leonardo somaria a esta inteligência uma imensa capacidade em outros campos, como a inteligência lógica, o talento para a poesia (no que Miguelângelo não ficaria atrás) e música, além de uma capacidade enorme para a engenharia, um pecado de Miguelângelo, que enfrentou inclusive problemas banais por puro descuido no transporte do Davi.
Leonardo, por diversos autores do campo (com os quais concordo inteiramente), é considerado a mais complexa e abrangente inteligência da história.
Um aparte sobre Miguelângelo: já mais que comprovadamente homossexual, foi nitidamente nos seus relacionamentos um homem honesto. Mesmo sendo assediado por duas das mulheres mais ricas de seu tempo, Contessina de'Medici/Bardi e Vittoria Colonna, e comprovadamente mulheres bonitas (até para os padrões atuais), jamais cedeu a tais encantos. Seria mais ou menos, ironizando, hoje, que Fred Mercury ter jamais se interessado por Giselle Bundchen ou Megan Fox, sendo estas, filhas de Bill Gates ou Warren Buffett (num misto de riqueza com poder político de um Vladimir Putin ou Barack Obama). Não traiu sua sexualidade, nem tampouco, talvez, seus verdadeiros afetos.
Vittoria Colonna, por Sebastiano del Piombo.
Porém, os dois tinham uma peculiar característica em comum: primam nas suas biografias por terem recebido dinheiro e não cumprido trabalhos, e por pouco não conduzidos às duras leis de seu tempo sobre o que chamamos de estelionato.
Mais uma vez, a imensa inteligência, até em diversos campos, não necessariamente é ligada à moralidade, direta e inquebrantavelmente.
Stephen Hawking é um exemplo de um gigante do raciocínio lógico, que possui grande raciocínio espacial, na construção dos modelos que usa para compreender fenômenos físicos, e que nasceram inclusive de sua incapacidade de expressar-se facilmente por linguagem matemática, digamos, mais algébrica.
Inteligência Musical - É considerada um tipo raro de inteligência. Um mostra clara disso é o quanto admiramos grandes compositores e grandes músicos. Para somar este argumentos, basta lembrar que existem muito mais diretores de cinema, até entre os grandes, que os grandes compositores de trilhas sonoras. É caracterizado que os indivíduos com este perfil tem uma grande facilidade para escutar músicas ou sons em geral e identificar diferentes padrões e notas músicais. Eles conseguem ouvir e processar sons além do que a maioria das pessoas consegue, sendo capazes também de criar novas músicas e harmonias inéditas. Pessoas com este perfil é como se conseguissem “enxergar” através dos sons. Algumas pessoas tem esta inteligência tão evoluida que são capazes de aprender a tocar instrumentos musicais sozinhas. Assim como a inteligência espacial, este é um dos tipos de inteligência fortemente relacionados a criatividade.
Como exemplo máximo da inteligência musical, é mais que conveniente (e fácil) sempre citar-se Mozart, que não só foi um grande compositor, como iniciou sua carreira fantasticamente cedo, e somado ao fato de ser um compositor e regente, foi um poderoso instrumentista (coisa que outros grandes compositores, como Beethoven e Haendel, na verdade, não foram plenamente), e num caso raríssimo, indo além do que Bach foi, em dois instrumentos (ou melhor, famílias de instrumentos) de mecanicidades (em termos mais simples, a maneira como são executados) completamentes diferentes, no caso o cravo/piano e o violino.
A magnífica sequência de Amadeus, provavelmente fictícia, mas que dá muito idéia do gênio musical de Mozart: Mozart Vs Salieri.
Embora Bach e Haendel não tenham pontos significativos que desabonem suas biografias, Beethoven poderia ser muito aproximado de Newton como misógino e desagradável no tratar com outra pessoas. Possuia também histórico de não cumprir muito com acordos de trabalho. Mozart teve uma vida tumultuada financeiramente assim como um tanto desregrada. Vivaldi, mesmo tendo sido sacerdote, seria o que poderiamos classificar como um Casanova nos seus relacionamentos - este, por sua vez, um gênio a seu modo, e curiosamente, oriundo da mesma cidade. Mas entre os grandes compositores, me atrevo a dizer que o mais imoral, pela própria visão que possuia de quem o financiava, tenha sido Wagner.
Vivaldi, cá entre nós, não retratado propriamente como um sacerdote;
Camille Paglia classifica, nas entrelinhas, a inteligência musical como essencialmente masculina ("There is no female Mozart because there is no female Jack the Ripper." - "Não existe Mozart mulher porque não existe Jack, O Estripador, mulher."), no que tenho de estatisticamente concordar, no que seja composição, com ela, pois entre a quantidade significativa de grandes compositores para trilhas sonoras, por exemplo, o grande campo de trabalho para compositores, apenas um destacado é - perdão, foi - mulher, no caso Shirley Walker. Nem falemos dos compositores eruditos do passado.
Por outro lado, com a mesma capacidade de operar duas áreas de hemisférios que a própria Paglia aponta, mulheres grandes instrumentistas são conhecidas desde a antiguidade, e poderia citar o caso destacado da virtuose Clara de Wieck/Clara Schumann esposa de Robert Schumann, que ao que tudo indica, era o "homem" da casa, sendo equilibrada entre trabalhar e sustentar a família, enquanto o gênio enfrentava suas crises e a frustração de ter lesões por movimentos.
Acredito que não necessito repetir alguma nota feita acima.
Em tempo, Schumann, ao longo de seu envelhecimento, apresentou clara doença mental, inclusive, ouvindo permanentemente uma nota musical.
Inteligência Interpessoal ou Social é um tipo de inteligência ligada a capacidade natural de liderança.
E aqui, intrometo que nascem inúmeros perigos.
Os indivíduos com este perfil de inteligência são extremamente ativos e em geral causam uma grande admiração nas outras pessoas. São os lideres práticos, aqueles que chamam a responsabilidade para sí. Eles são calmos (a meu ver não necessariamente na aparência), diretos e tem uma enorme capacidade para convencer as pessoas a fazer tudo o que ele achar conveniente (ou o que percebeu como o mais coerente frente aos duros fatos, destaque-se). São capazes também de identificar as qualidades das pessoas e extrair o melhor delas organizando equipes e coordenando trabalho em conjunto.
Aqui, citarei Churchill. Tomava sopas com as mãos, bebia intensa e constantemente, somado a enormes charuros e claramente ligava o mínimo para o físico, embora como aristocrata e claramente elitista (o que lhe levava a uma notória arrogância) mantinha-se muito bem trajado.
Igualmente, era um capaz escritor, um gênio da oratória e um conhecedor profundo da língua inglesa.
Retrato de Churchill, por Graham Sutherland. Ao vê-lo, em comemoração dos seus 80 anos, odiou-o, mas em público o elogiou como "um belo exemplar de arte moderna".
Citaria Catarina, a Grande*. Após Euler ter sido retirado da corte de Frederico II, segundo consta, pois Isabel Cristina, sua esposa, afirmou que não gostaria de ter "aquele caolho" (Euler tinha uma degeneração nos olhos) em seu convívio. Catarina, prontamente tendo sabido do tratamento ao grande matemático, fez questão de destacar que faria questão de ter o "Grande Cíclope da Matemática" em meio a sua corte. Este irônico incidente dá origem as bases do que viria a ser depois uma limitada mas sólida revolução científica na Rússia.
*Ela própria, como mulher altamente capacitada, exemplo de déspota esclarecido, se enquadraria numa certa dualidade moral, pois sua vida amorosa, tudo mostra, poderia por padrões de qualquer sociedade, ser considerada um tanto criticável.
Saladino, um líder interpessal nítido, era tão moral que é citado como tal por Dante, no Inferno, e sem oposição alguma da Igreja em assim ser citado. Igualmente, Dante coloca Júlio César como tal, e como grandes traidores, na avaliação do grande escritor o pior dos pecados, Bruto e Cássio, desbalanceando Judas, o único de Jesus.
Líderes não preocupam-se com preconceitos, aparências ou status pré-estabelecidos por critérios diversos dos mais coerentes, preocupam-se com resultados globais, e muitas vezes, levam os fins como imensamente mais importantes que os meios, o que gera a infelicidade de que, neste setor do que seja inteligência, poderia se citar inúmeros dos maiores monstros da história da humanidade.
Não necessariamente, inteligência interpessoal implica em simpatias.
Também já percebi que seguidamente, argumenta-se que inteligência interpessoal implica em aparência, em estética. Nada mais errado. A atriz em destaque hoje, Megan Fox, mostra-se claramente uma beleza universal, mas tem recebido comentários de ser profundamente desagradável. Caso conhecido de mulher bonita, universalmente falando, que aliava uma enorme capacidade de agradar e se relacionar tanto com seu público como fama foi Jayne Mansfield, que além de tocar piano e violino, falava cinco línguas, foi avaliada com um QI acima da média* e tinha formação superior em artes dramáticas, contrastando com uma clássica melancólica que foi sua rival nas telas Marilyn Monroe, que, sejamos realistas, não poderia ser enquadrada como cerebralmente capacitada em coisa alguma. Para não dizerem que fui cruel, era uma cantora relativamente talentosa.
Muitas vezes, a inteligência interpessoal suplanta até deficiências de outros campos de atividades específicos. Sandra Bullock não é uma atriz considerável como brilhante, e provavelmente nunca o será. Porém, é raríssima uma entrevista com colegas de todos os sub-ramos de atividade com que trabalhou que não a elogiem como "ótima pessoa", e suas aparições públicas em poucas palavras, muitas vezes com autodepreciação, uma ferramenta instantânea de atrair simpatia, cativam plateias, mesmo de figuras de "ego tão inflado" como são os artistas de fama mundial.
Sobre autodepreciação, é a ferramenta de humor dos maiores comediantes, em especial os criadores de seus próprios personagens, como o foram Chaplin e Jerry Lewis. Sua ferramenta de humor é levar a desgraça alheia, segundo Mark Twain a única fonte de todo o humor, para si próprios. Não se esperaria jamais de um Chaplin ou de Jerry Lewis uma agressão a platéia que assistia uma recepção de um prêmio, o que sempre se pode esperar (e já se assistiu) de um Jim Carrey, embora, reconheço, tenha talento para o humor e até o drama.
*Fique bem claro que considero que testes de QI avaliam muito bem e com pecisão quem consegue responder com eficiência questões de testes de QI, que numa definição mais abrangente de capacidade cerebral, e se mostra isso claramente nesta blogagem, são muito limitados, até pseudocientíficos (vide o exemplo famoso do grande matemático Poincaré, e teve um resultado medíocre num deles, pois ficava perdido em dezenas de soluções e análises diversas do perguntado).
Muitas vezes inteligências interpessoais são complementares em líderes que entram em equilíbrio de seus campos de controle. Aqui, cito o exemplo a ser seguido do General Leslie Groves e de Oppenheimer, no Projeto Manhattan. Groves se dedicava aos recursos e atividades típicas das questões militares, como segurança. Oppenheimer se concentrou na coordenação das atividades ligadas à Ciência e Tecnologia necessárias ao objetivo do projeto. Em outras palavras, liderança não implica em controle total e completo, em centralização de toda a atividade/projeto.
Para conhecer-se um tanto desta relação, e um bocado dos dramas do Projeto Manhattan, recomendo o filme O Início do Fim (Fat Man and Little Boy) de 1989.
Como sinceramente gosto do que chamo de um ad Hitlerum "invertido", o exemplo contrário seria Hitler, que achava que era um estrategista melhor que a totalidade dos seus generais, e confundia resultados obtidos pela excelência das forças que controlava com o que seria uma suposta excelência sua.
Inteligência Intrapessoal ou Emocional é o tipo considerado mais raro de inteligência e também relacionado a liderança. Os possuiridores de inteligência interpessoal tem uma enorme facilidade em entender o que as pessoas pensam, sentem e desejam. Ao contrário dos lideres interpessoais que são ativos, os lideres intrapessoais são mais reservados, exercendo a liderança de um modo mais indireto, através do carisma e influenciando as pessoas através de idéias e não de ações.
Os maiores filósofos morais, como Sócrates (ainda que sua real existência seja discutida) enquadram-se neste território. Aristóteles, quando claramente orienta Alexandre a invadir a Pérsia, enquadra-se neste campo (somando-se aqui o fato que o grande filósofo possuia imensa capacidade em mais alguns campos, e claras deficiências em outros).
Os grandes líderes religiosos, quando tomados como personagens históricos, igualmente. Mesmo Maomé, comprovadamente analfabeto, inclui-se neste caso. Ghandi, quando quebra com um modelo de revolução pela força, também.
Porém, Mao Tse-Tung, que era nitidamente um líder reservado e intrapessoal, tanto que argumentou seguidos anos com o poder chinês para convergirem para outro caminho, seguidamente enveredou por dogmas pessoais inverossímeis e atos imorais em grande escala. Mesmo sendo um gênio na mobilização das massas (e estatisticamente, talvez o maior deles) sua vida sexual parece um completo tumulto, para se dizer o mínimo.
Freud e os grandes fundadores da psicologia e do que mais tarde viria a ser chamado de neurociência, são igualmente gênios da inteligência intrapessoal. Tanto que a perfeita análise de boa parte do que hoje sabemos que sejam os sonhos nascem de Freud analisar em seus próprios o que fossem o que chamava de "os vestígios do dia".
Assim, concluímos, por diversos casos, que tal classificação de inteligências não implica estas em serem garantias de moral.
Muito do acima foi tirado, espero educada e honestamente, de A Evolução do Conceito de Inteligência.
Posteriormente, foram acrescentados alguns tipos de inteligência, que colocarei por ordem de sobrevivência à análise.
Inteligência Naturalista ou Ambiental - A inteligência daqueles cérebros que conseguem perceber padrões e inter-relações na natureza. É a inteligência típica de Darwin, que levou ao comentário que recentemente assisti na THC, com a seguinte frase irônica, sobre outros pensadores e naturalistas de seu tempo, aproximadamente: "Como não percebemos isto antes?".
Além de um método criterioso, Darwin percebeu relações e comportamentos, processos e fenômenos claros, inclusive, com a ausência de uma noção de genética, que outros pensadores não visualizaram, e mesmo visualizando, como Wallace, não o perceberam ao mesmo nível de totalidade.
Uma percepção naturalista muitas vezes ultrapassa a dogmatização da lógica pessoal, configura-se por uma destruição de avaliações que na verdade, podem perfeitamente ser enormes erros.
O exemplo que me parece claro aqui não é da Biologia, que prima por se comportar como um campo bastante caótico e multifragmentado do conhecimento (Mayr: Biologia, Ciência Única), mas da Física. Os fundadores da Mecânica Quântica perceberam que os modelos com novos postulados, contrários à toda a história da Física, eram mais importantes que preconceitos, e que a natureza se comportava como se comporta, e não como Einstein, destacadamente entre muitos, desejava que se comportasse.
Como afirmamos acima, uma inteligência específica ou diversas combinações não implicam em bom senso, mas percebe-se que o bom senso pode nascer de um determinado tipo de inteligência.
Percebemos também, que frente aos rígidos fatos, uma inteligência naturalista pode produzir resultados cientificamente mais poderosos que uma inteligência lógico-matemática. Aliás, seguidamente alerto sobre isso, sendo o que chamaria uma de minhas "bandeiras e cruzadas intelectuais".
Surgiram definições de inteligência como a Espiritual. Sinceramente, não a vejo como diversa da Interpessoal , e aguardo que consigam com que se mostre diversa do que chamo da nuance da tenacidade, que é o que caracteriza determinadas personalidades de serem inquebrantáveis em seus princípios e "marchas" por algum fim. Igualmente discordo que seja a capacidade de lidar com "questões fundamentais da existência". Isto os filósofos, que possuem a inteligência linguística fazem, e ao que parece, muitas vezes, conduziram até populações inteiras para o erro.
Por outro lado, considero que a chamada Inteligência Prática possa ser a fusão da Motora com a Lógica e a Espacial, aliadas, por sua vez, a uma imensa força de vontade em alguns casos. Thomas Edison seria um exemplo, mais capacidade cientificamente George Washington Carver outro (com o adicional que este meu ídolo intelectual era filho de escravos e um negro em um estado - ainda mais - e país racista). Vatel, o grande mestre de cerimônias, administrador de propriedades e, mais que tudo, um dos maiores mestres da cozinha de todos os tempos, assim como inúmeros mestres em diversas "artes menores" ao longo da história, como marcineiros e produtores de diversas artes decorativas, se enquadrariam nesta útil combinação. Percebamos que é difícil separar o que seja o design de uma invenção ou de uma cadeira magistralmente feita, por exemplo, de uma escultura.
Um machado de pedra e magistrais cadeiras da marcenaria amish, exemplos da mesma útil combinação de inteligências que propiciaram a civilização.
Curiosamente, talvez esta útil combinação tenha sido a mais útil de todas, pois no nosso passado, certamente, foi muito mais útil construir machados de pedra do que olhar para as estrelas, ou ver padrões em fluxos de água num rio, ou mesmo, observar as cores de uma ave ou flor, e foi o que permitiu, até posteriormente, alguns tocarem melhores músicas em primitivas flautas, ou pintarem melhores imagens em paredes de cavernas, ou ainda, criarem os primeiros rudimentos de contabilidade.
Adiante, trataremos de opiniões que julgo perigosas, como a recente conclusão sobre pesquisa da London School of Economics, sobre a relação entre fidelidade masculina e o que seja inteligência.
Como a natureza, a inteligência tem seus espetáculos. - Marcel Proust, em Os Prazeres e os Dias.
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A capacidade de resolver problemas e alguns de seus problemas
Dentro de uma definição que reconheço como mais clássica, inteligência é a capacidade de resolver problemas.
Dentro desta definição, Pitágoras e Euclides, mais ainda, pelas ações nas coisas físicas, em primórdios da invenção com bases científicas e engenharia, Arquimedes e Heron de Alexandria seriam homens extremamente inteligentes, pois aplicaram a razão, na fusão de conceitos, para resolver problemas, tanto teóricos, como os dois primeiros, como de coisas práticas, como os segundos.
Mas se é inteligência a capacidade de resolver problemas, e for definido como um problema chegar-se ao poder de uma grande nação, e realizar as maiores barbáries com foco em seus desejos pessoais, Calígula, Nero (que é citado, até determinada fase de sua vida, como um excelente administrador), Cômodo e Heliogábalo foram homens extremamente inteligentes.
As Rosas de Heliogábalo, por Lawrence Alma-Tadema, 1888.
Obs.: A escolha de romanos foi apenas por foco, destaque e comodidade, não por preconceito.
Logo, por esta definição, como muitas vezes o que seja inteligente seja exatamente a resolução de um problema que impede a mais terrível das ações imorais, inteligência não implica em moralidade.
Ao longo dos últimos anos, cresceu a construção de classificações (a maldição da razão que denomino "aristotelismos classificatórios") iniciando-se, acredito, por uma classificação de sete diferentes inteligências por Howard Gardner:
Inteligência Linguística - Caracteriza-se pela grande capacidade de se expressar tanto oralmente quanto na forma escrita. Pessoas com tal tipo de inteligência possuem uma grande expressividade, também tem um alto grau de atenção, uma concentração em questões a serem enfrentadas e uma alta sensibilidade para entender pontos de vista alheios. É considerada uma inteligência fortemente relacionada ao lado esquerdo do cérebro e dita como uma das inteligências mais comuns. Lembremos: somos animais comunicantes por linguagem articulada, estruturada e complexa. Logo, ser inteligente linguisticamente foi até uma necessidade no gênero humano.
Exemplo de inteligência linguística oral, por exemplo, é o grande orador grego Demóstenes. Na escrita, poderia citar banalmente uma dúzia, mas me concentrarei em dois, pelas peculiaridades de seus casos.
Sartre é, obviamente, um exemplo de inteligência linguística. Não só se dedicou a Filosofia como também a literatura. Quando lhe foi encomendado um roteiro sobre Freud, por John Huston, após alguns meses entregou um gigantesco livro, "massa de literatura intratável pelo cinema". Após conversa amigável com John Huston, passados mais alguns meses, refez o roteiro, e o entregou... maior.
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em Copacabana, uma mostra que inteligências similares formam sólidos casais, e muitas vezes, com idéias comuns sobre determinados pontos da vida, como expresso na frase de Simone: A morte dele nos separou. A minha não irá nos unir.
Primeira nota: um determinado tipo de inteligência não implica em ser hábil ou adequado num outro contexto, onde os modelos de processos são diversos daqueles de seu ambiente.
Citando Og Mandino, adaptado: "Queres ver um talentoso condutor de carruagens ir a miséria? Coloca-o a plantar uvas."
Caryl Chessman foi um ladrão e estuprador, notório pela alcunha de "Red Light Bandit" (Bandido da Luz vermelha), autodidata em direito e revelou-se um capaz escritor.
Segunda nota: a área do cérebro responsável por capacidades até notáveis não implica na atividade de outras, como, por exemplo, aquelas responsáveis pela moralidade.
Inteligência Lógica - Este perfil de inteligência possibilita uma alta capacidade de memorização e um talento para lidar com matemática e lógica. Pessoas com tal tipo de inteligência tem facilidade para encontrar soluções para problemas complexos, aliada muitas vezes à capacidade de dividir estes problemas em problemas menores e os resolver rumo a uma resposta final. São pessoas consideradas por teóricos da inteligência como organizadas e disciplinadas. É citada por autores como relacionada a processamentos profundos do lado direito, mas classicamente, o raciocínio lógico é relacionado ao lado esquerdo do cérebro, e tal concorda que lógica, e matemática - que é lógica sobre axiomas - é uma linguagem.
Claro que citaria Euler, Gauss, Fermat (que inclusive era um matemático amador, não um homem de carreira na matemática).
Carl Friedrich Gauss, o "Príncipe dos Matemáticos". Não contente em ser o maior matemático do mundo em seu tempo, fez importantes descobertas em Física e até anatomia, assim como era um poliglota.
Mas também citaria Galois, precoce mas intempestivo, apressado e sem método, capaz de se meter nas mais perigosas escaramuças e tal foi a razão de sua morte.
Citaria Einstein, e sua capacidade transcendente de visualizar mentalmente comportamentos da natureza, mas igualmente e com mesma capacidade de perder tempo enorme em dedicar-se a não analisar, mas refutar com modelo contraditório o aleatório do quântico, e portanto, não dispor na verdade de uma inteligência muito bem descrita que surgirá neste texto, que permite entender-se a natureza como ela é, e não como nos tenta impor nossos raciocínios, no que posso chamar de "construção sobre nossos enganos".
Einstein foi igualmente incapaz, segundo seus próprios relatos, de construir relação estável e prazerosa com sua primeira esposa, e biógrafos não tratam sua relação posterior com muito carinho, igualmente. Mas destaquemos o que não é pessoal e íntimo, e sim o que é público: qual "QI de repolho" do planeta diria, após conhecer qualquer coisa sobre a vida de Einstein, que tenha sido "organizado"?
É relatado que certa vez perguntou, após ser interpelado por estudantes, em qual direção estava indo antes da conversa, para saber se já tinha almoçado (coisa que segidamente esquecia de fazer). Relata-se também que costumava calçar meias de cores diferentes e abotoar errado seu característicos casacos de lã.
Por outro lado, Einstein, e em especial recomendo "Como Vejo o Mundo", é um claro humanista, um moralista até ferrenho em inúmeros campos, ao ponto que personalizou o que viria a ser citado como "o sábio perfeito". Nossas noções de perfeição muitas vezes, nascem de avaliação pelo público do que sejam aspectos mais amplos, e não de relativas fidelidade conjugais ou do vestir-se elegantemente.
Evidentemente citaria Newton, perseguidor de desafetos e rivais. Stephen Hawking o trata como "uma pessoa não agradável". Provavelmente tendo morrido virgem, era incapaz, claramente, de contruir relações de amizades profundas, e lendo seus escritos de alquimia, detecto ali mostras de uma área imensa de sua mente dedicada ao que praticamente chamaria de delírio.
Recomendo, para conhecer este lado "magia negra" de Newton, a excelente coletânea:
COHEN, I. Bernard, WESTFALL, Richard S. (orgs.). Newton: textos, antecedentes, comentários. Rio de Janeiro : Contraponto. 524 p.
Uma resenha em: Dilhermando Ferreira Campos; NEWTON: TEXTOS, ANTECEDENTES E COMENTÁRIOS
Muito do comportamento de Newton e Einstein seria explicado pela Síndrome de Asperger.
Nota 3: O cérebro e sua mente é como um repolho. Algumas folhas serem atacadas por larvas não implica em o conjunto todo ser deteriorado, nem mesmo em algumas folhas serem perfeitas.
Inteligência Motora, também chamada de Física ou Cinestésico-Corporal - A inteligência de quem possui um grande talento na expressão corporal e tem uma noção perfeita do espaço, da distâncias e da profundidade. Estes indivíduos tem um controle sobre o corpo maior que o normal, sendo capazes de realizar movimentos complexos, graciosos ou então a execução de força com enorme precisão e facilidade. É a inteligência tipicamente relacionada ao cerebelo, porção do cérebro que controla os movimentos voluntários do corpo, e no planejamento do que será executado, em coordenação com o córtex. É o tipo de inteligência mais diretamente relacionada à coordenação e capacidade motora. Está presente em esportistas de esportes ditos como os mais complexos, tais como os saltos ornamentais e a ginástica artística (que prefiro continuar a chamar de olímpica), a ginástica acrobática do leste europeu e os acrobatas de circo, assim como aos lutadores de artes marciais altamente estilísticas, como o Kung Fu.
Exemplos de inteligência motora, embora ache que aqui errei em algum momento.
Um exemplo máximo de inteligência motora foi Bruce Lee, que além de um lutador e artista marcial excepcional, era graduado em Filosofia e capaz de expressar-se com extrema segurança em entrevistas. Necessariamente, não poderia ser chamado de simpático pela maioria das pessoas, mas jamais foi chamado de desagradável ou similar. Autor de diversos escritos sobre artes marciais, foi criador de toda uma nova filosofia em artes marciais, de toda uma conceituação, com fortes influências da Filosofia, com "o estilo sem estilo", o "estilo da água", que sendo fluida, é capaz de destruir o mais forte rochedo, como ele mesmo citava. Procurou quebrar com o formalismo do Kung Fu tradicional, pela obsessão das artes marciais tradicionais pelo estritismo dos movimentos.
Os diretores de cinema de ação de Hollywood chamam determinados atores de "gênios físicos". Após observarem coreografias, são capazes de em poucos dias, repetir movimentos de artes marciais, lutas de rua, montanhismo ou qualquer atividade física que seja necessária.
Não necessariamente, sabemos, conseguem se manter longe de agressões à esposas ou esposos, funcionários e serviçais, guardas de trânsito ou de manterem a si próprios longe de vícios ou de todo o tipo do que os norteamericanos chamam de "encrenca".
Entre os lutadores, poderíamos citar Cassius Clay/Muhammad Ali, "o falastrão", que além de um lutador brilhante era conhecido pela capacidade de falar em público. Em contrapartida, podemos citar o semelhante Mike Tyson, incapaz até mesmo de seguir regras básicas e óbvias do "nobre esporte".
Entre os esportistas de esportes coletivos, poderíamos citar gênios como Pelé, e suas contrapartes perturbadas como Maradona (aqui, me pouparei de links ;) ). No basquete, Michael Jordan ou "Magic" Johnson (que mesmo com sua contaminação por HIV, jamais teve a carreira, tanto dentro das quadras quanto fora, perturbadas), e Earl "The Goat" Manigault, um talento inigualável do basquete perdido em meio às drogas (filme sobre sua vida).
Nota 4: Aparentemente, nenhum tipo de inteligência implica necessariamente no que chamamos de equilíbrio, sensatez ou bom senso.
Inteligência Espacial, também chamada de Visual - Este perfil de inteligência, possibilita uma enorme facilidade para criar, imaginar e desenhar imagens em duas e três dimensões, na expressividade em artes plásticas. Seus portadores possuem uma grande capacidade de criação em geral mas principalmente tem um enorme talento para as artes gráficas, o expressar-se graficamente. Pessoas com este perfil de inteligência tem como principais características a criatividade e a sensibilidade, sendo capazes de imaginar, criar e enxergar coisas que quem não tem este tipo de inteligência desenvolvido, em geral, não consegue. E acrescento: podem existir pessoas que visualizam perfeitamente o que querem expressar, mas não o conseguem com o próprio corpo diretamente, como por exemplo, através de pincéis e cinzel, mas o conseguem como os animadores de computação gráfica, por uma ferramente indireta e apoiadora.
Há igualmente, os grandes arquitetos, que só conseguem expressar-se com suas mãos apoiadas, por um processo um tanto cartesiano, pois não possuem controle absoluto (e este é muito raro, na verdade, vide o notório caso de Giotto, e a lendária história do seu traçar de um círculo, independente dos fatos perfeitamente aceitos.)
Aqui, Leonardo Da Vinci e Miguelângelo seriam exemplos gritantes, com destaque para que Leonardo somaria a esta inteligência uma imensa capacidade em outros campos, como a inteligência lógica, o talento para a poesia (no que Miguelângelo não ficaria atrás) e música, além de uma capacidade enorme para a engenharia, um pecado de Miguelângelo, que enfrentou inclusive problemas banais por puro descuido no transporte do Davi.
Leonardo, por diversos autores do campo (com os quais concordo inteiramente), é considerado a mais complexa e abrangente inteligência da história.
Um aparte sobre Miguelângelo: já mais que comprovadamente homossexual, foi nitidamente nos seus relacionamentos um homem honesto. Mesmo sendo assediado por duas das mulheres mais ricas de seu tempo, Contessina de'Medici/Bardi e Vittoria Colonna, e comprovadamente mulheres bonitas (até para os padrões atuais), jamais cedeu a tais encantos. Seria mais ou menos, ironizando, hoje, que Fred Mercury ter jamais se interessado por Giselle Bundchen ou Megan Fox, sendo estas, filhas de Bill Gates ou Warren Buffett (num misto de riqueza com poder político de um Vladimir Putin ou Barack Obama). Não traiu sua sexualidade, nem tampouco, talvez, seus verdadeiros afetos.
Vittoria Colonna, por Sebastiano del Piombo.
Porém, os dois tinham uma peculiar característica em comum: primam nas suas biografias por terem recebido dinheiro e não cumprido trabalhos, e por pouco não conduzidos às duras leis de seu tempo sobre o que chamamos de estelionato.
Mais uma vez, a imensa inteligência, até em diversos campos, não necessariamente é ligada à moralidade, direta e inquebrantavelmente.
Stephen Hawking é um exemplo de um gigante do raciocínio lógico, que possui grande raciocínio espacial, na construção dos modelos que usa para compreender fenômenos físicos, e que nasceram inclusive de sua incapacidade de expressar-se facilmente por linguagem matemática, digamos, mais algébrica.
Inteligência Musical - É considerada um tipo raro de inteligência. Um mostra clara disso é o quanto admiramos grandes compositores e grandes músicos. Para somar este argumentos, basta lembrar que existem muito mais diretores de cinema, até entre os grandes, que os grandes compositores de trilhas sonoras. É caracterizado que os indivíduos com este perfil tem uma grande facilidade para escutar músicas ou sons em geral e identificar diferentes padrões e notas músicais. Eles conseguem ouvir e processar sons além do que a maioria das pessoas consegue, sendo capazes também de criar novas músicas e harmonias inéditas. Pessoas com este perfil é como se conseguissem “enxergar” através dos sons. Algumas pessoas tem esta inteligência tão evoluida que são capazes de aprender a tocar instrumentos musicais sozinhas. Assim como a inteligência espacial, este é um dos tipos de inteligência fortemente relacionados a criatividade.
Como exemplo máximo da inteligência musical, é mais que conveniente (e fácil) sempre citar-se Mozart, que não só foi um grande compositor, como iniciou sua carreira fantasticamente cedo, e somado ao fato de ser um compositor e regente, foi um poderoso instrumentista (coisa que outros grandes compositores, como Beethoven e Haendel, na verdade, não foram plenamente), e num caso raríssimo, indo além do que Bach foi, em dois instrumentos (ou melhor, famílias de instrumentos) de mecanicidades (em termos mais simples, a maneira como são executados) completamentes diferentes, no caso o cravo/piano e o violino.
A magnífica sequência de Amadeus, provavelmente fictícia, mas que dá muito idéia do gênio musical de Mozart: Mozart Vs Salieri.
Embora Bach e Haendel não tenham pontos significativos que desabonem suas biografias, Beethoven poderia ser muito aproximado de Newton como misógino e desagradável no tratar com outra pessoas. Possuia também histórico de não cumprir muito com acordos de trabalho. Mozart teve uma vida tumultuada financeiramente assim como um tanto desregrada. Vivaldi, mesmo tendo sido sacerdote, seria o que poderiamos classificar como um Casanova nos seus relacionamentos - este, por sua vez, um gênio a seu modo, e curiosamente, oriundo da mesma cidade. Mas entre os grandes compositores, me atrevo a dizer que o mais imoral, pela própria visão que possuia de quem o financiava, tenha sido Wagner.
Vivaldi, cá entre nós, não retratado propriamente como um sacerdote;
Camille Paglia classifica, nas entrelinhas, a inteligência musical como essencialmente masculina ("There is no female Mozart because there is no female Jack the Ripper." - "Não existe Mozart mulher porque não existe Jack, O Estripador, mulher."), no que tenho de estatisticamente concordar, no que seja composição, com ela, pois entre a quantidade significativa de grandes compositores para trilhas sonoras, por exemplo, o grande campo de trabalho para compositores, apenas um destacado é - perdão, foi - mulher, no caso Shirley Walker. Nem falemos dos compositores eruditos do passado.
Por outro lado, com a mesma capacidade de operar duas áreas de hemisférios que a própria Paglia aponta, mulheres grandes instrumentistas são conhecidas desde a antiguidade, e poderia citar o caso destacado da virtuose Clara de Wieck/Clara Schumann esposa de Robert Schumann, que ao que tudo indica, era o "homem" da casa, sendo equilibrada entre trabalhar e sustentar a família, enquanto o gênio enfrentava suas crises e a frustração de ter lesões por movimentos.
Acredito que não necessito repetir alguma nota feita acima.
Em tempo, Schumann, ao longo de seu envelhecimento, apresentou clara doença mental, inclusive, ouvindo permanentemente uma nota musical.
Inteligência Interpessoal ou Social é um tipo de inteligência ligada a capacidade natural de liderança.
E aqui, intrometo que nascem inúmeros perigos.
Os indivíduos com este perfil de inteligência são extremamente ativos e em geral causam uma grande admiração nas outras pessoas. São os lideres práticos, aqueles que chamam a responsabilidade para sí. Eles são calmos (a meu ver não necessariamente na aparência), diretos e tem uma enorme capacidade para convencer as pessoas a fazer tudo o que ele achar conveniente (ou o que percebeu como o mais coerente frente aos duros fatos, destaque-se). São capazes também de identificar as qualidades das pessoas e extrair o melhor delas organizando equipes e coordenando trabalho em conjunto.
Aqui, citarei Churchill. Tomava sopas com as mãos, bebia intensa e constantemente, somado a enormes charuros e claramente ligava o mínimo para o físico, embora como aristocrata e claramente elitista (o que lhe levava a uma notória arrogância) mantinha-se muito bem trajado.
Igualmente, era um capaz escritor, um gênio da oratória e um conhecedor profundo da língua inglesa.
Retrato de Churchill, por Graham Sutherland. Ao vê-lo, em comemoração dos seus 80 anos, odiou-o, mas em público o elogiou como "um belo exemplar de arte moderna".
Citaria Catarina, a Grande*. Após Euler ter sido retirado da corte de Frederico II, segundo consta, pois Isabel Cristina, sua esposa, afirmou que não gostaria de ter "aquele caolho" (Euler tinha uma degeneração nos olhos) em seu convívio. Catarina, prontamente tendo sabido do tratamento ao grande matemático, fez questão de destacar que faria questão de ter o "Grande Cíclope da Matemática" em meio a sua corte. Este irônico incidente dá origem as bases do que viria a ser depois uma limitada mas sólida revolução científica na Rússia.
*Ela própria, como mulher altamente capacitada, exemplo de déspota esclarecido, se enquadraria numa certa dualidade moral, pois sua vida amorosa, tudo mostra, poderia por padrões de qualquer sociedade, ser considerada um tanto criticável.
Saladino, um líder interpessal nítido, era tão moral que é citado como tal por Dante, no Inferno, e sem oposição alguma da Igreja em assim ser citado. Igualmente, Dante coloca Júlio César como tal, e como grandes traidores, na avaliação do grande escritor o pior dos pecados, Bruto e Cássio, desbalanceando Judas, o único de Jesus.
Líderes não preocupam-se com preconceitos, aparências ou status pré-estabelecidos por critérios diversos dos mais coerentes, preocupam-se com resultados globais, e muitas vezes, levam os fins como imensamente mais importantes que os meios, o que gera a infelicidade de que, neste setor do que seja inteligência, poderia se citar inúmeros dos maiores monstros da história da humanidade.
Não necessariamente, inteligência interpessoal implica em simpatias.
Também já percebi que seguidamente, argumenta-se que inteligência interpessoal implica em aparência, em estética. Nada mais errado. A atriz em destaque hoje, Megan Fox, mostra-se claramente uma beleza universal, mas tem recebido comentários de ser profundamente desagradável. Caso conhecido de mulher bonita, universalmente falando, que aliava uma enorme capacidade de agradar e se relacionar tanto com seu público como fama foi Jayne Mansfield, que além de tocar piano e violino, falava cinco línguas, foi avaliada com um QI acima da média* e tinha formação superior em artes dramáticas, contrastando com uma clássica melancólica que foi sua rival nas telas Marilyn Monroe, que, sejamos realistas, não poderia ser enquadrada como cerebralmente capacitada em coisa alguma. Para não dizerem que fui cruel, era uma cantora relativamente talentosa.
Muitas vezes, a inteligência interpessoal suplanta até deficiências de outros campos de atividades específicos. Sandra Bullock não é uma atriz considerável como brilhante, e provavelmente nunca o será. Porém, é raríssima uma entrevista com colegas de todos os sub-ramos de atividade com que trabalhou que não a elogiem como "ótima pessoa", e suas aparições públicas em poucas palavras, muitas vezes com autodepreciação, uma ferramenta instantânea de atrair simpatia, cativam plateias, mesmo de figuras de "ego tão inflado" como são os artistas de fama mundial.
Sobre autodepreciação, é a ferramenta de humor dos maiores comediantes, em especial os criadores de seus próprios personagens, como o foram Chaplin e Jerry Lewis. Sua ferramenta de humor é levar a desgraça alheia, segundo Mark Twain a única fonte de todo o humor, para si próprios. Não se esperaria jamais de um Chaplin ou de Jerry Lewis uma agressão a platéia que assistia uma recepção de um prêmio, o que sempre se pode esperar (e já se assistiu) de um Jim Carrey, embora, reconheço, tenha talento para o humor e até o drama.
*Fique bem claro que considero que testes de QI avaliam muito bem e com pecisão quem consegue responder com eficiência questões de testes de QI, que numa definição mais abrangente de capacidade cerebral, e se mostra isso claramente nesta blogagem, são muito limitados, até pseudocientíficos (vide o exemplo famoso do grande matemático Poincaré, e teve um resultado medíocre num deles, pois ficava perdido em dezenas de soluções e análises diversas do perguntado).
Muitas vezes inteligências interpessoais são complementares em líderes que entram em equilíbrio de seus campos de controle. Aqui, cito o exemplo a ser seguido do General Leslie Groves e de Oppenheimer, no Projeto Manhattan. Groves se dedicava aos recursos e atividades típicas das questões militares, como segurança. Oppenheimer se concentrou na coordenação das atividades ligadas à Ciência e Tecnologia necessárias ao objetivo do projeto. Em outras palavras, liderança não implica em controle total e completo, em centralização de toda a atividade/projeto.
Para conhecer-se um tanto desta relação, e um bocado dos dramas do Projeto Manhattan, recomendo o filme O Início do Fim (Fat Man and Little Boy) de 1989.
Como sinceramente gosto do que chamo de um ad Hitlerum "invertido", o exemplo contrário seria Hitler, que achava que era um estrategista melhor que a totalidade dos seus generais, e confundia resultados obtidos pela excelência das forças que controlava com o que seria uma suposta excelência sua.
Inteligência Intrapessoal ou Emocional é o tipo considerado mais raro de inteligência e também relacionado a liderança. Os possuiridores de inteligência interpessoal tem uma enorme facilidade em entender o que as pessoas pensam, sentem e desejam. Ao contrário dos lideres interpessoais que são ativos, os lideres intrapessoais são mais reservados, exercendo a liderança de um modo mais indireto, através do carisma e influenciando as pessoas através de idéias e não de ações.
Os maiores filósofos morais, como Sócrates (ainda que sua real existência seja discutida) enquadram-se neste território. Aristóteles, quando claramente orienta Alexandre a invadir a Pérsia, enquadra-se neste campo (somando-se aqui o fato que o grande filósofo possuia imensa capacidade em mais alguns campos, e claras deficiências em outros).
Os grandes líderes religiosos, quando tomados como personagens históricos, igualmente. Mesmo Maomé, comprovadamente analfabeto, inclui-se neste caso. Ghandi, quando quebra com um modelo de revolução pela força, também.
Porém, Mao Tse-Tung, que era nitidamente um líder reservado e intrapessoal, tanto que argumentou seguidos anos com o poder chinês para convergirem para outro caminho, seguidamente enveredou por dogmas pessoais inverossímeis e atos imorais em grande escala. Mesmo sendo um gênio na mobilização das massas (e estatisticamente, talvez o maior deles) sua vida sexual parece um completo tumulto, para se dizer o mínimo.
Freud e os grandes fundadores da psicologia e do que mais tarde viria a ser chamado de neurociência, são igualmente gênios da inteligência intrapessoal. Tanto que a perfeita análise de boa parte do que hoje sabemos que sejam os sonhos nascem de Freud analisar em seus próprios o que fossem o que chamava de "os vestígios do dia".
Assim, concluímos, por diversos casos, que tal classificação de inteligências não implica estas em serem garantias de moral.
Muito do acima foi tirado, espero educada e honestamente, de A Evolução do Conceito de Inteligência.
Posteriormente, foram acrescentados alguns tipos de inteligência, que colocarei por ordem de sobrevivência à análise.
Inteligência Naturalista ou Ambiental - A inteligência daqueles cérebros que conseguem perceber padrões e inter-relações na natureza. É a inteligência típica de Darwin, que levou ao comentário que recentemente assisti na THC, com a seguinte frase irônica, sobre outros pensadores e naturalistas de seu tempo, aproximadamente: "Como não percebemos isto antes?".
Além de um método criterioso, Darwin percebeu relações e comportamentos, processos e fenômenos claros, inclusive, com a ausência de uma noção de genética, que outros pensadores não visualizaram, e mesmo visualizando, como Wallace, não o perceberam ao mesmo nível de totalidade.
Uma percepção naturalista muitas vezes ultrapassa a dogmatização da lógica pessoal, configura-se por uma destruição de avaliações que na verdade, podem perfeitamente ser enormes erros.
O exemplo que me parece claro aqui não é da Biologia, que prima por se comportar como um campo bastante caótico e multifragmentado do conhecimento (Mayr: Biologia, Ciência Única), mas da Física. Os fundadores da Mecânica Quântica perceberam que os modelos com novos postulados, contrários à toda a história da Física, eram mais importantes que preconceitos, e que a natureza se comportava como se comporta, e não como Einstein, destacadamente entre muitos, desejava que se comportasse.
Como afirmamos acima, uma inteligência específica ou diversas combinações não implicam em bom senso, mas percebe-se que o bom senso pode nascer de um determinado tipo de inteligência.
Percebemos também, que frente aos rígidos fatos, uma inteligência naturalista pode produzir resultados cientificamente mais poderosos que uma inteligência lógico-matemática. Aliás, seguidamente alerto sobre isso, sendo o que chamaria uma de minhas "bandeiras e cruzadas intelectuais".
Surgiram definições de inteligência como a Espiritual. Sinceramente, não a vejo como diversa da Interpessoal , e aguardo que consigam com que se mostre diversa do que chamo da nuance da tenacidade, que é o que caracteriza determinadas personalidades de serem inquebrantáveis em seus princípios e "marchas" por algum fim. Igualmente discordo que seja a capacidade de lidar com "questões fundamentais da existência". Isto os filósofos, que possuem a inteligência linguística fazem, e ao que parece, muitas vezes, conduziram até populações inteiras para o erro.
Por outro lado, considero que a chamada Inteligência Prática possa ser a fusão da Motora com a Lógica e a Espacial, aliadas, por sua vez, a uma imensa força de vontade em alguns casos. Thomas Edison seria um exemplo, mais capacidade cientificamente George Washington Carver outro (com o adicional que este meu ídolo intelectual era filho de escravos e um negro em um estado - ainda mais - e país racista). Vatel, o grande mestre de cerimônias, administrador de propriedades e, mais que tudo, um dos maiores mestres da cozinha de todos os tempos, assim como inúmeros mestres em diversas "artes menores" ao longo da história, como marcineiros e produtores de diversas artes decorativas, se enquadrariam nesta útil combinação. Percebamos que é difícil separar o que seja o design de uma invenção ou de uma cadeira magistralmente feita, por exemplo, de uma escultura.
Um machado de pedra e magistrais cadeiras da marcenaria amish, exemplos da mesma útil combinação de inteligências que propiciaram a civilização.
Curiosamente, talvez esta útil combinação tenha sido a mais útil de todas, pois no nosso passado, certamente, foi muito mais útil construir machados de pedra do que olhar para as estrelas, ou ver padrões em fluxos de água num rio, ou mesmo, observar as cores de uma ave ou flor, e foi o que permitiu, até posteriormente, alguns tocarem melhores músicas em primitivas flautas, ou pintarem melhores imagens em paredes de cavernas, ou ainda, criarem os primeiros rudimentos de contabilidade.
Adiante, trataremos de opiniões que julgo perigosas, como a recente conclusão sobre pesquisa da London School of Economics, sobre a relação entre fidelidade masculina e o que seja inteligência.
Como a natureza, a inteligência tem seus espetáculos. - Marcel Proust, em Os Prazeres e os Dias.
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