segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A Origem (X)

...de muitos erros



O fio de Ariadne - O índice deste conjunto de postagens



Falsas lembranças de ilusórias antecipações


O fenômeno chamado de déjà vu , citado em Matrix é mais uma das provas de que nosso cérebro não é a maravilha que julgamos. Ele nos trai até o ponto que podemos julgar (e muitos assim o fazem, da maneira mais ególatra e narcisista possível) de que seja a manifestação de que podem captar o futuro.

Explico o "ególatra e narcisista": muitos de nós não aceitam o simples fato que sejam apenas macacos pelados, incapazes de correr a mais de 40 km/h ou de erguer cargas que quanto muito, sejam de uns 200 kg. Mesmo os mais fortes e rápidos de nós não passam muito disto. Mas mesmo os mais aptos fisicamente de nós não poderiam mergulhar com a mais frágil foca. Em cima destes limites físicos, acrescentam não só uma até honesta pretensão de possuirem uma alma imortal, mas também, os poderes de detectar coisas à distância, mover objetos apenas com seu pensamento (até no nosso passado, pirâmides inteiras) e até mesmo, conhecer todos os fatos relacionados com um objeto, como uma colher, pelo simples fato de tocá-lo com suas miraculosas mãos (aquelas mesmas patas modificadas que eu e você temos, e que mal conseguem identificar um objeto quanto a luz falta). Não contentes ainda com essas proezas, conseguem também visualizar os eventos futuros (muitas vezes, não numa colher, mas por exemplo, olhando dentro de uma bacia com água).

Quanto ao futuro, notemos que aqui eu não estou negando que não o captemos, a priori. Estou negando que nestes casos, o estejamos captando, em mínimos detalhes, pelos mecanismos propostos, com a precisão afirmada, em todos os momentos em que se desejar ou mesmo em raros momentos de suspeita inspiração e transcendência do trivial humano.

No campo das descrições deste tipo de fenômeno, nunca se conseguiu passar do anedótico, do duvidoso, da coincidência até simplória, da imprecisão que nada soma. Exemplifico: alguém ter escrito um texto com um navio chamado Titan, que afunda tragicamente, e depois um navio Titanic ter afundado não sustenta coisa alguma além da coincidência.

Neste campo, muitos buscam as explicações mais exóticas para obterem "bases físicas" para que tenhamos a capacidade de prevermos o que o universo nos reserva, incluindo táquions (independente de a ciência afirmar se estes existem ou não, e até como sua existência tem de ser interpretada). Esquecem, inclusive, de apresentar algum mecanismo pelo qual nosso cérebro receba seja qual for, esta informação do futuro, quando já é um enorme problema explicar como capta o que se afirma em telepatia, em tempo presente, e até da sala ao lado. Uma clara falácia da argumentação negativa. Se 'acho que pode', primeiro afirmo 'que pode', depois busco, ou não, aliás, melhor - para quem o afirma - não, a evidência de que tal ocorra como descrevo.



Voltando ao fenômeno deste tipo especial de bug de nosso cérebro, notemos que guarda relação com o efeito das drogas alucinógenas, só que aqui, não mais causando a confusão no espaço, na estrutura cerebral e suas regiões de espécíficos processamentos, e sim, no tempo, com como a memória processa as informações que captamos. O que era para estar no "recente", parece-nos, momentaneamente, num distante passado.

Quanto a este tipo de argumentação por "poderes cósmicos fenomenais", especialmente no que tange a captaçao de eventos futuros, contraria a "seta do tempo" em que estamos presos desde nossa concepção, que relaciona-se com toda nossa bioquímica e a termodinâmica que a tudo no universo afeta, quando tais ilusórias “lembranças do futuro”.

Novamente explico: todo nosso cérebro (e corpo) está preso a um funcionamento que marcha com a entropia termodinâmica (como diz o comediante Marcelo Médice: vovó vai morrer, mamãe vai morrer...) e até com a entropia da informação (e talvez, antes de morrer, vovó e mamãe se esqueçam até do nome, como esquecemos permanentemente do nome da pessoa que conhecemos semana passada e até do assunto que tratamos nos textos anteriores). A memória é, exatamente por ser termodinâmica e informaticamente entrópica, não só respectivamente apenas acumuladora do passado como também degenerante.

Mas mais que isso, uma certa determinação no futuro contrariaria uma série de questões que envolvem a Mecânica Quântica e a violação experimental das desigualdades do Teorema de Bell.

Perdão se aqui "peguei pesado", mas os links acima já mostram que a própria natureza da aleatoriedade experimentável no presente, e a lógica poderosa que nos leva a determinadas conclusões sobre a natureza aleatória mais íntima da natureza (confesso que adoro esta redundância) leva-nos a entender que o presente é cristalino, e o futuro, um mar de crescentes possibilidades a cada instante em que nos aprofundamos em seu mistério.

Por uma analogia com uma árvore, se estou subindo num tronco, acima de mim existem 3 grandes ramos a escolher, adiante, em cada grande ramo, três ou quatro ramos menores, e adiante, uns 5 galhos em média por ramo, e nestes, milhares de folhas. Se estou no tronco, como saberei em que folha tocarei?

Logo, prever o futuro não se sustenta em Física.

Notemos que as questões de que hajam múltiplos universos, até mesmo quanticamente pululando ao nosso redor, com infinitos "nós" tendo estas vivências previstas, pouco soma, pois meu amigo, o "eu" que você preveria seria este que você é e será, e como então saber se passaria certamente a ser aquele que previu e não outro, como aquele que trocou determinados números na aposta da Megasena da semana passada e acertou as seis dezenas, ou o humilde Francisco N (noutro cruel universo) que escovou os dentes um tanto mais cuidadosamente esta manhã, saiu uns segundos mais tarde de casa, e distraidamente, foi atropelado pelo caminhão do gás?

Perceba-se que afirmar que existem possibilidades não implica em que as possamos prever, e sim, que existem crescentemente possibilidades a cada instante para prevermos e menos probabilidade a cada passo adiante no tempo para permitir acertos, e repitamos, pouco interessa se existirem infinitos universos - só piora o problema.



Mas podemos tratar este problema de porque estas impressões são os bugs que os neurologistas já há décadas afirmam, por uma via mais filosófica pelo“Paradoxo da Cigana” ou "Paradoxo da Cartomante":

A previsão do futuro sempre apresenta-se como um antigo paradoxo. Se o futuro foi determinado, seria possível prevê-lo, embora fosse inútil, se não for determinado, a previsão seria meramente probabilística. Ou, qual o nexo de uma cartomante que lê cartas, ou uma cigana que lê linhas da mão, se o que ela afirma, se assim visto, exatamente no futuro "já ocorreu", já está neste futuro "cristalizado", e não pode ser mudado, ou se mutável, poderia de infinitas maneiras o ser (bastando mais e mais previsões e ações) e portanto, não poderia ser previsto exatamente.

Logo, o segredo das ciganas não são as linhas que definiram-se em minhas mãos ainda no ventre de minha mãe, nem as cartas que o destino embaralhou para uma cartomante, nem o poder mágico de ambas, mas a ingenuidade de quem nelas acredita. Mas somos uma espécie que desde seus primeiros dias, sempre procurou xamãs, e sempre apresentou em cada um de seus momentos de angústia frente ao mundo os guias que nos levassem à carcaça de animal mais próxima, ou ao arbusto de amoras mais fáceis de serem colhidas. Exatamente por quererem colher estes frutos e banquetear-se com as menos trabalhosas carnes (ou seus similares civilizados), muitos de nós exploram esta nossa natural tendência para desejarmos ter superpoderes, até nos outros. Chegamos, nisto, a quase desenvolver uma arte.



Frente a estes simples e claros fatos, nossa mente é presa no agora, e apenas acumula resquícios de cada instante porque nossos sentidos passaram e do pouco que podemos de cada coisa captar. Não somos o acumulador de perfeitos e magníficos óleos, mas sim, de picotes de aquarelas simplificadas da imensa e complexa realidade.

Recomendo: Marcus Valerio; A Liberdade e Os Hemisférios



Uma errata: acima, coloco como uma velocidade simbolicamente limitante para os seres humanos 40 km/h. O número é redondo, o texto me parece ainda estiloso mas o valor é relativamente errôneo, e como digo, sendo chato, mas exato... Na verdade, os mais rápidos seres humanos de todos os tempos são os velocistas de 100 m rasos. Usain Bolt, correndo 100 m em 9,58 s , o fez a uma velocidade média de 37,578 km/h. A controversa Florence Griffith-Joyner o fez a 34,318 km/h. Só para ter ideia de nosso pobre desemprenho físico frente a outros animais, o mesmo Usain Bolt, nos 200 m, já tem sua velocidade caindo para 37,519 Km/h. A literatura aponta a máxima velocidade humana 43 km/h, que deve ser uma tomada de instantes de determinadas acelerações em provas de velocidade. Seria covardia nos compararmos com as desajeitadas girafas e seus longíssimos membros, que correm até a 50 km/h (e como não são muito aptas nisto, entre os animais, seguidamente enfartam). Comparando-nos com animais mais próximos de nosso tamanho, perdemos para nossos amigos cães, que correm na faixa de uns 40 km/h, atingindo até 70 km/h, ou os pequenos gatos, que atingem até 48 km/h.


A queda de dominós que é a memória (II)


Como já afirmamos, a operação da memória por “pilhas de neurônios”, em sua estrutura não monolinear, fractal, e um tanto caótica em funcionamento pode fazer-nos lembrar até de casos pessoais interessantes, que ilustram muito bem o imperfeito hardware que é o cérebro e os bugs que possui o software que é a mente humana. Nada melhor para ilustrar isso, que agora, tardiamente, citar alguns exemplos de meu próprio "mau funcionamento".

- Que edifício é aquele?

Lá pelos meados dos anos 90, ao caminhar pelo centro de São Paulo, deparei-me com certo edifício ao longe, de tal maneira que podia ver sua fachada inteira (detalhe: sou do tempo em que se estudava uma "formação profissional", e sou desenhista arquitetônico, e conhecido profissionalmente por desenhar bem e sempre tive bom raciocínio espacial). Sua imagem se tornou um tanto inconveniente, pois "lá no fundo", sabia que ali estava um prédio relacionado com alguma coisa importante, marcante, mas não conseguia me lembrar o que seria. Passados alguns dias, já em outro ponto da cidade, sem a menor associação com o edifício, vi passar na rua um caminhão dos bombeiros. Imediatamente, me veio qual edifício era. Hoje chamado Edifício Praça da Bandeira, foi chamado Joelma, e assisti, ainda criança, à transmissão ao vivo de seu terrível incêndio.


- Onde está meu diploma?

Durante determinado fase de negociação para determinado trabalho de consultoria, necessitei iniciar protocolos de inscrição no Conselho Regional de Química, que no final não se efetivou, pois também a consultoria não avançou além da fase de negociação. Após poucos meses, precisei de meu diploma de Eng. Químico para outra finalidade. Eis que o infeliz sumiu em meio aos meus organizados documentos. Passam-se dias de algumas procuras eventuais, à altas horas da noite, e nada do já desgraçado aparecer. Por sei lá que motivo, necessito ir ao cartório eleitoral, então, em detrminada rua central de Porto Alegre. Eis que ao cruzar por determinada praça, vejo um monumento relacionado à proclamação da república. Imediatamente, me lembro que o diploma estava dentro do envelope com os documentos necessários para aquele específico trabalho não "fechado", para o fim de registro em órgão "federal" (relacionado com república) e até exatamente em que pasta se encontrava.

- Certo prédio em Curitiba...

Recentemente, ao percorrer os arredores da região central de Curitiba, avistei determinado prédio que possui um desenho interessante, parecendo uma enorme arquibancada de uma meia dúzia de degraus (agradeço se me informarem do que raios tal prédio seja!).

Imediatamente, lembrei-me de o ter visto, da janela da casa de minha tia, no ano de 1981, quando nesta cidade ela morou, e em passagem rumo ao Rio, lá estive, e nunca mais estive nem próximo naquele bairro. Durante todos estes anos (quase 30) nunca mais tinha lembrado de tal coisa, nem mesmo, lembro de como era a casa desta tia, que poucos anos morou em Curitiba. Nossa memória não só é frágil como um tanto ineficiente, como, por este exemplo, podemos ver que guarda completas inutilidades, claramente, ocupando espaço precioso.

Vemos aqui, que em termos de memória, muitas vezes só necessitamos derrubar o dominó certo, e constatamos que existem dominós muito mais perenes que outros.




Conceitos, Termos, Memes e Núons


Tenho de deixar bem claro que pouquíssimo entendo de Memética. Só o necessário para não parecer um completo ignorante no tema.



Muito do que os memes representam e modelam [NOTA 1] já foi, "nas entrelinhas", tratado por mim neste conjunto de artigos.

Gostaria de citar o termo "carreata". Sua existência, lexicamente, é recente, mas seu uso se espalhou entre a população, na mídia - que troca informações entre  populações à distância e massivamente - tanto, que finalmente, "lexificou-se", vide: Wikcionário.

Todos nós tivemos nosso primeiro momento em que fomos apresentados ao termo "carreata", e se na leitura, o lemos com o "ca", o "rê", o "á" e o "ta", temos estes "submemes" que estão em nossa mente/memória, prontos a processar outros memes novos, pela leitura, e compô-los, e até identificar que possui associação com o que seja "carros" e seus componentes, talvez até associá-lo com o que seja uma campanha política ou conceitos relacionados. Memes não só contaminam como formam simbioses, são comensais e apresentam analogias com diversas questões do biológico.

[NOTA 1] Tem gente que acha e discute ferozmente, de maneira na verdade ridícula, achando que memes sejam algo como "blocos sólidos", ou "componentes mecânicos" que andam "pela mente" e pelo cérebro. Pior ainda se consideram que "nadam pela mente", que nem é propriamente algo que possa ser definido de uma maneira estrutural, espacial, e sim, deve ser tratado, ainda que por similaridade e limitadamente, como um software operando. Devemos salientar, também, que memes não são nem mesmo como os bits e bytes da informática, e suas composições, associações, adições não podem ser tratadas como entes lógicos tão formais e rígidos.

Nem só de palavras vivem os memes, ainda que a unidade mínima do pensamento e da linguagem é o significado da palavra, e este é expresso muitas vezes em nosso pensar por outras palavras. ''É no significado que o pensamento e a linguagem se unem, criando condições para o desenvolvimento do pensamento linguístico e da fala intelectual''[NOTA 2]. Claro que ao ver uma vaca pela primeira vez, os hebreus não tinham palavra para descrevê-la, nem por isso deixou-se de então desenvolver-se (surgir) um meme para "a grande cabra de lisos chifres" ou coisa parecida, nem o desenho que certamente fizeram em suas reuniões ao redor de fogueiras, com varetas e dedos na areia. Igualmente, indígenas norteamericanos cunharam termo para cavalo com um "grande cachorro".

Estes termos, como nosso "mãe", o inglês "mother" e o alemão "Mutter" evoluiram, evoluem permanentemente até mesmona composição de suas sonoridades, e evoluirão pela nossa história, mesmo neste mais básico dos termos humanos, a partir de memes, passando de pessoa para pessoa, de geração para geração, de população para população, até em sua mínima sonoridade, como percebemos nos diversos e filigranamente fragmentados sotaques, mesmo entre cidades próximas.



Quanto a sotaques, o próprio Noel Rosa, que aqui nesta série citei com diversas utilidades, escreveu um samba ironizando o nascimento do "chiado" típico dos cariocas ("shhhhharuto", é meme que até hoje mantenho, resquício da única vez que o ouvi). Recentemente, uma peça de teatro sobre a "era do rádio", teve de treinar seus atores para a pronúncia "estalada do T" e "rasgada do R" típicas da época. Logo, nem mesmo o que consideramos hoje como típico deixa de evoluiu e ser fruto de um processo evolutivo. O cultural é por excelência, memético.

[NOTA 2] Aqui, serei o mais honesto possível e colocarei a referência de parte disto:

Vygotsky E O Papel Das Interações Sociais Em Sala De Aula

Algo interessante para se ler:

Variantes lingüísticas (variação lingüística)

Leonardo Taveira; Intérpretes originais de canções de Noel Rosa: uma comparação de suas pronúncias com as sugestões de pronúncia neutra para o português brasileiro cantado; XVIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação (ANPPOM); Salvador - 2008

E para se entender o quanto mudaram até os simples e "Ts" os "Rs": Carmen Miranda e Aurora Miranda - 'Cantoras do Rádio' (1936)





Claro que nossos elementos de linguagem mais profundos são relacionados até com nossas etnias e seus grupos linguísticos (embora elementos basais, uma linguagem neural profunda já esteja lá disponível [NOTA 3]). Assim, um bosquímano, com seus "estalidos" e os chineses, com sua língua tonal, em que certos "cantares" na pronúncia ganham significados que para nós são num primeiro momento ininteligíveis para nós, pronuciadores de rígidos e padronizados fonemas - mas nem tanto.

[NOTA 3] Aqui, recomendo: PERUZZO, TREVISOL e SCHONS; LINGUAGEM E PENSAMENTO: DA ESTRUTURA AO FUNCIONAMENTO NOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM


Acredito que o pensar de meus amigos falantes de mandarim e cantonês seja processado parcialmente com o "tempero" de sons, coisa que nós só temos exatamente quando pensamos musicalidades. Já bosquímanos devem acrescentar algo parecido com o código Morse, dado o grande peso de seus estalos na sua comunicação. Pensamos, na maior parte das vezes, em termos de palavras. Já quando pensamos espacialmente, como fazem os artistas plásticos, especialmente os escultores, os arquitetos e nós, os rígidos nas medidas engenheiros e nossa típica falta de plástica, pensamos por formas. Mas pela própria descrição de Temple Grandin, a grande veterinária autista, ela própria, em sua moléstia, pensa por formas (aqui, seu problema mostra-se exatamente por predominantemente pensar por formas). Já o colosso da Física Stephen Hawking passou, pelas suas limitações físicas, a pensar Física não pela álgebra, mas por gráficos e formas.


Já as fatias da realidade que processamos mentalmente, até os fragmentos da memória em tratamento pela, mente, destacados como mostrei do "continuum da realidade percebida"[NOTA 4] pela imagem de picotes de aquarelas simplificadas da imensa e complexa realidade [NOTA 5], são mentalmente analisados e decompostos em “partículas elementares” da significação, dos elementos mais profundos de linguagem, e do pensamento, que por uma analogia com os elétrons dos circuitos e outras partículas do subatômico que constituem a matéria, são chamados no jargão do meio de núons (do grego noûs, “mente, pensamento”), algo como as "qualidades fundamentais de Locke", mas definidas com um mais atual rigor matemático.


[NOTA 4] Novamente, crédito a quem merece: BIZZOCCHI, Aldo.; COMO PENSAMOS A REALIDADE; Publicado em Scientific American Brasil, ano 7, n.º 82, março de 2009

[NOTA 5] Já lhe infectei com este meme, caro leitor? Seguidamente, é um truque de grandes autores, e Christopher Nolan o fez com muitos, se assistiu (espero) o filme.



Estes são os mínimos impulsos de neurotransmissores e eletrólitos, que tratei ao longo deste conjunto de textos. Tem-se de entender que não são quantizáveis, como cargas pontuais como o fez Robert Andrews Millikan com o elétron em sua carga em 1909. Como repetimos quase ao ad nauseam, o funcionamento do cérebro e sua mente são muito mais caóticos e por quantidades variadas em cada mecanicismo. Se aproximariam, desculpe a até grosseria, do encanamento de um edifício de apartamentos. Pela luz no banheiro do apartamento 701 e pela medição da água do condomínio você pode estimar que a belíssima vizinha que lá mora está tomando banho, mas garanto que você não tem como afirmar que não seja seu namorado enorme lutador de MMA, seu pai delegado de polícia do interior de visita ou mesmo quanta água, lá, naquela específica e exata unidade, naquela saída especificamente, se esteja gastando, a cada segundo, nem mesmo durante um tanto de tempo.

Atenção: esta passagem é apenas uma exemplificação, ficcional...

Por esta associação que confesso "tosca", se entende porque do muito da série de motivos que fazem a mente humana e o próprio cérebro serem objetos científicos de difícil estudo, e de porque a analogia com um computador ser bastante limitada, pois não existem as definidas e visíveis conexões onde se toque com precisíssimas agulhas de um amperímetro, e mesmo se existissem, ainda sim, um microampere alí não corresponde a exatamente tal conjunto de núons, nem mesmo, a determinado inexistente bit de um meme (aliás, as vezes o que faz o impulso numa determinada fase do processo não é uma corrente elétrica, e sim, um punhado de moléculas de neurotransmissores, até os modos de operação se alternam, intrincadamente).




Esta caracterização difusa de seu funcionamento que leva o cérebro a só poder ser estudado pela ciência pela observação indireta de sua operação, como quando desde Freud e outros observou-se as paralisias causadas pela em voga histeria, ou pelos diversos testes hoje apresentados pela neurociência, ou ainda, num nível mais físico, pela observação indireta de seus fenômenos eletromagnéticos, como fazemos com a tomografia de emissão de pósitrons, (Positron Emission Tomography, PET).

Uma tomografia de emissão de pósitrons mostrando a atividade cerebral em repouso, operando linguagem e música conjuntamente, e operando linguagem e música isoladas (The Brain an Nervous System - Human Diseases and Conditions).



Favor não confundir, embora até eu poderia dizer que é tentador, os nobres mas difusos núons com os psions, dos místicos, um pouco de humor, que caem no caso que tratei da angústia que a muitos de nós aflige e as oportunidade de vida fácil que sobre isso alguns de nós aproveitam.


Pausinha para se recuperar o ar: quando gênios da literatura permeiam suas enomes fábulas morais, honestas até mesmo quando orientadas por forte fé, como as obras de C.S.Lewis, Tolkien e tantos outros, é arte, com um nobre propósito. Quando trata-se destes conhecedores profundos das soluções fáceis pelos "infinitos poderes das remotas civilizações superiores que ninguém conhece" - a não ser eles mesmos -, o resultado (lixo) e os objetivos (o engano do otário que a cada minuto nasce, como bem disse Crowley, ver anexos abaixo) são outros.

Temos de nos perguntar, agora, se alterações no encanamento dos núons, no edifício dos memes, na arquitetura deste prédio onde opera a mente, alteram a mente que lá funciona, além dos casos mais graves que já mostramos e mais alguns que mostraremos, o quanto e o como.




Inspiradores e temerários anexos




Teach us Your secret, Master! yap my Yahoos.
Then for the hardness of their hearts, and for the
softness of their heads, I taught them Magick.


But...alas!

Teach us Your real secret, Master! how to become
invisible, how to acquire love, and oh! beyond all,
how to make gold.

But how much gold will you give me for the Secret
of Infinite Riches?

Then said the foremost and most foolish; Master, it
is nothing; but here is an hundred thousand
pounds.

This did I deign to accept, and whispered in his ear
this secret:

A SUCKER IS BORN EVERY MINUTE


Aleister Crowley - THE BOOK OF LIES - [185] 88

Numa humilde tradução deste:

Ensina-nos o Seu segredo, Mestre! berre os meus "IARÚ".
Então, para a dureza de seus corações, e para a suavidade
de suas mentes, eu os ensino a Mágica.

Mas ... infelizmente!

Ensina-nos o Seu verdadeiro segredo, Mestre!
como se tornar invisível, como adquirir o amor, e oh!
além de tudo, como fazer ouro.

Mas quanto ouro vocês me darão pelo Segredo
das Riquezas Infinitas?

Então disse o primeiro e mais estúpido: Mestre,
não é nada, mas aqui estão cem mil libras.

Isto eu aceitei condescendente, e sussurrei em seu ouvido
este segredo:

UM OTÁRIO NASCE A CADA MINUTO





Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro, onde animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da “história universal”: mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer. — Assim poderia alguém inventar uma fábula e nem por isso teria ilustrado suficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto humano dentro da natureza. Houve eternidades em que ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido. Pois não há para aquele intelecto nenhuma missão mais vasta que conduzisse além da vida humana. Ao contrário, ele é humano, e somente seu possuidor e genitor o toma tão pateticamente, como se os gonzos do mundo girassem nele. Mas se pudéssemos entender-nos com a mosca, perceberíamos então que também ela boia no ar com esse páthos e sente em si o centro voante deste mundo. Não há nada tão desprezível e mesquinho na natureza que, com um pequeno sopro daquela força do conhecimento, não transbordasse logo um odre; e como todo transportador de carga quer ter seu admirador, mesmo o mais orgulhoso dos homens, o filósofo, pensa ver por todos os lados os olhos do universo telescopicamente em mira sobre seu agir e pensar. — Friedrich Wilhelm Nietzsche



Má compreensão do sonho. — Nas épocas de cultura tosca e primordial o homem acreditava no sonho conhecer um segundo mundo real; eis a origem de toda metafísica. Sem o sonho, não teríamos achado motivo para uma divisão do mundo. Também a decomposição em corpo e alma se relaciona à antiquíssima concepção do sonho, e igualmente a suposição de um simulacro corporal da alma, portanto a origem de toda crença nos espírito e também, provavelmente, da crença nos deuses: “Os mortos continuam vivendo, porque aparecem em sonho aos vivos”: assim se raciocinava outrora, durante muitos milênios. — Friedrich Wilhelm Nietzsche


O “puro espírito” é uma pura estupidez: retire o sistema nervoso e os sentidos, o chamado “envoltório mortal”, e o resto é um erro de cálculo — isso é tudo!… — Friedrich Wilhelm Nietzsche



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