terça-feira, 22 de novembro de 2011

Uma agradável conversa sobre Física com duas senhoras - I

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Sentado num restaurante simples em Campinas, em mais um de meus n^k ("ene na capa") almoços sozinho num dia de visita em local distante de minha residência, ouço duas senhoras (posteriormente identificadas como enfermeiras) conversando sobre um documentário que assistiram que tratava de questões da Mecânica Quântica, em especial, o Gato de Schrödinger.



Claro que não resisti de me meter na conversa.

Estas senhoras estavam espantadas de como a Física "moderna" está distante dos sensos - diria populares - que temos de como realmente a natureza seja.

A partir deste primeiro ponto, do dito gato e o que representa este experimento mental, parti a conversar com elas sobre diversos pontos que mostram o quanto a natureza supera em muito nossos mais loucos devaneios de certeza, solidez, e até de nosso próprio conhecimento sobre o que ela realmente seja.


O resultado desta agradável conversa foi o "esboço mental" de um artigo simples mas geral sobre os limites da Física, o que se sabe hoje, o que nos promete o futuro e os limites que nunca ultrapassaremos.




A incerteza

Quando eu olho para uma bola de bilhar sobre uma mesa, "ela está ali" - e veremos que realmente, está num conjunto enorme de pequeníssimas regiões, que somadas, são a própria bola - e meu olhar não modifica o que seja esta apreciação, pelo menos significativamente.

Por outro lado, quando um elétron ou um quark (e alguns deles já formam os prótons e nêutrons dos núcleos atômicos) "existe", "está" em algum lugar, ou está em movimento, eu não tenho como o ver de forma alguma, até pela sua natureza de "partícula elementar". Eu passo a ter alguma informação dele quando emite um fóton, que por um mero acaso, rumará em minha direção (ou de algum instrumento meu) e impressionando-me (retina ou sensores) terei informação de sua posição ou velocidade, mas ao ter feito isso, frações mínimas de segundos atrás, como do um metro de  meus olhos até a bola de bilhar que destas partículas é formada.

Obs.: Lembremo-nos sempre que mesmo distâncias pequenas como 1 metro, e diria até microscópicas como 1 nanômetro, implicam num determinado intervalo de tempo para termos a captação de qualquer fenômeno, mesmo em velocidades enormes como a da luz. No caso, esta bola de bilhar encontra-se 3,3 x 10^-9 segundos ou 3 bilionésimos de segundos, não sejamos exageradamente preciosistas, no passado, e mesmo para o caso de um nanômetro, como colocamos, o tempo ainda seria de 3 bilionésimos de bilionésimo de segundo (3 x 10^-18 s), um valor muitíssimas vezes maior que o tempo de Planck (aprox. 5,4 x 10^-44 segundos), uma curiosa e importantíssima medida de tempo, o que veremos adiante. Sendo mais preciso, 3 x 10^-18 segundos é 6,1 x 10^26 tempos de Planck.

Bolas de bilar, minha analogia preferida para se entender a diferença entre o mundo macroscópico, das quantidades "molares" e o mundo subatômico. Temos a quase compulsão de que o menor se comporta como este exemplo do maior.


Assim, temos que o meu observar é fruto do alterar a posição ou a velocidade de uma partícula - percebam o nexo causal: repitamos, o alterar a posição ou velocidade que com emissão permitiu eu (ou instrumento) detectar a posição ou velocidade "anterior" da partícula, e não foi meu observar que alterou a posição e/ou a velocidade. Parece a mesma coisa, mas uma distorção, diria desonesta, disto, é que faz com que certos autores em busca de vítimas* e não de interessados começarem a afirmar que minha consciência é que ao observar o mundo, a altera.

* Recomendo:



Por mais esforço que faça com minha mente, não alterarei a velocidade e posição de um único elétron a um metro de distância, quanto mais, bilhões de bilhões deles formando uma bola de bilhar que seja, quanto mais, milhares de vezes mais massa nos núcleos de seus átomos.

É o alterar permanente do mundo que forma nossa percepção, e não nossa percepção que nos dá 'poderes cósmicos fenomenais' de alterar ao menos que seja a posição de uma partícula coloidal num movimento Browniano, berço observacional dos comportamentos aleatórios da natureza.

Para uma leitura digerível e sem sacrifícios tremendos de Física + Matemática (normalmente, para não profissionais da área, uma quase impossibilidade, ou normalmente, um tédio inútil):

Princípio da Incerteza de Heisenberg - www.gta.ufrj.br


Esta blogagem merece ser revista e traduzida: The Paradoxes of Quantum Mechanics


A produção de par

As partículas "vetores" da energia, na forma de radiação eletromagnética, os fótons, formam pares de partículas, no caso, uma partícula e uma antipartícula (como o elétron e o anti-elétron).

Tratei isto divertidamente aqui: Um fóton

Mas realizando a dificílima façanha mental que é traduzir o lusitano, mais formalmente:

A produção de par é um processo de interação eletromagnética do fóton com o campo elétrico do núcleo do átomo. Dessa interação resulta que o fóton "deixa de existir", formando-se um par de partículas elétron/pósitron. Chama-se 'materialização de energia' a este processo, uma vez que se produzem partículas materiais a partir de radiação eletromagnética. Pela lei da conservação da massa-energia, a produção de pares apenas ocorrerá se o fóton tiver uma energia superior a 1,022 MeV que é o dobro da energia equivalente à massa de um elétron em repouso: hυ>2mec^2.* A energia cinética do par elétron/pósitron será tanto maior quanto maior for o excesso de energia do fóton em relação a 1,02 MeV. Além disso este processo somente ocorre na presença de matéria, dado que é necessária uma troca de quantidade de movimento com um núcleo pesado para que se conserve a energia e a quantidade de movimento.

Ref.: Produção de pares - www.lip.ualg.pt




* Noutras palavras, só é possível esta transformação quando o fóton tem frequência superior a determinado valor (que relaciona-se com a energia pela Lei de Planck, E=hf, ou E=hv), o que nos leva a raios gama, e com a correspondência da massa com a energia pela universalmente famosa, mais que popular e seguidamente pouco entendida de fato E=mc^2 da Relatividade Geral, já que para haver determinada quantidade de massa (o elétron e o pósitron), tem-se de por esta relação, também de dispor de determinada quantidade de energia.




Então, se tal ocorre, "hoje", num passado remoto, de muito mais densidade e temperatura (Big Bang, obviamente) uma quantidade enorme de energia pode ter produzido toda a massa (e talvez algo a mais, já veremos) que hoje vemos pintando este fundo preto que é o limite visível, ou melhor, invisível de nosso universo, mas...


O que é - realmente - o universo?


Tal como para as duas agradáveis senhoras, em breve eu não respondo.






Não resisti!



Não resisti... de novo!
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domingo, 13 de novembro de 2011

De Criacionistas a Einstein

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Ou "como existem pessoas que tem dificuldade em aceitar o mundo como ele é".


Há algum tempo, nas "plagas orkutianas", encontrei um criacionista (sim, lá eles ainda abundam!) que tinha - e certamente ainda deve ter - uma certa relutância em entender a naturalidade de uma notícia recentemente divulgada sobre fósseis que ficaram expostos com uma seca na Argentina.

Ele argumentava - se é que dá para dizer que criacionistas fazem isto - que não seria muito coerente o que a notícia afirmava que fósseis entre 10 mil e 1 milhão de anos ficaram expostos, pois se eram no mesmo leito do rio, na mesma camada de sentimentos, deveriam ser todos da mesma idade.

Claro que o objetivo por trás disto é aquela velha lenga-lenga de Terra Jovem, 6000 anos, Dilúvio Universal, "todos os animais mortos ao mesmo tempo", etc.



Prontamente respondi, sem grande esforço, nem de pesquisa nem de "imaginação".

Recentemente encontrei outro que apaixonou-se pelos "argumentos de erosão" (um ex.), em especial, que se a "erosão ocorre a determinada taxa, a altura do Everest aponta para ele ter uma determinada idade". Sim, pasmem! Algo tão "brilhante" quanto dizer que como costumo cortar minhas unhas 1 mm de cada vez, a cada 7 dias, estas determinam que pelo seu comprimento, no "mindinho" de mais ou menos 1,1 cm, tendo anteriormente 1,2 cm, eu não possa ter de idade mais que esta última semana![Nota 1]

Respondamos agora, rapidamente, que a questão maior entre os criacionistas (e outros personagens similares) a respeito deste tipo de argumentação infeliz por "Terra Jovem" relaciona-se com uma certa dificuldade de entender a Terra e sua geologia como um processo constante, embora, no seu "motor" mais profundo, imperceptível aos olhos humanos diretamente.

Explico: percebemos um vulcão em atividade, da mesma maneira banal que percebemos um carro em movimento, ou mesmo, a gavinha de uma trepadeira crescendo, dia após dia. Mas temos uma certa dificuldade para entender (na média das mentes humanas, por favor, estudioso e preparado leitor!) continentes inteiros movendo-se na mesma velocidade que nossas unhas crescem.[Nota 1]

Excelente representação artística de Leandro Sanches da Costa de um dos animais do passado do Rio Grande do Sul (leandrosanchesarte.blogspot.com)



Deste modo, é difícil para a cabecinha (sim, isso mesmo, na ofensa) criacionista de "Terra Jovem" aceitar que a geologia, os tectonismos, permitem que um mastodonte enterrado na fronteira do Uruguai com a Argentina hoje possa vir a, num "dobramento", ficar numa camada acima da onde meu esqueleto tenha sido enterrado, mesmo que milhões de anos depois, ainda mais num futuro de 100 milhões de anos de agora, tempo este menor que aquele que nos separa de certos amniotas de minha terra natal, soterrados por derramamentos vulcânicos colossais, que soterraram parcialmente imensa planície, formando a hoje bela Serra Gaúcha.[Nota 2]

www.earthsci.unibe.ch


Estas acumulações (as vezes de resíduos em baixios) mais as erosões de variantes no tempo rios, levam a similares a antiquíssimos (ou muito mais) mastodontes aparecerem com fósseis (que podem ter sido para lá também arrastados, variante que ainda não tínhamos colocado) de répteis dezenas de milhões de anos mais antigos, e estes, reunido, entremeados com molusco de centenas de milhões de anos de idade.[Nota 3]

www.earthsci.unibe.ch

Estas fraturas e dobramentos, que outrora foram atribuídas aos catastrofismos, especialmente o "Dilúvio Universal Bíblico", são o que permitem ainda mais ininteligíveis à mente criacionista inclinações de leitos marinhos inteiros, agora face de montanhas, como as que abrigam os fósseis da fauna magnífica em designs básicos do Cambriano, nas montanha do Canadá.

Um amonite dos alpes franceses (fossilspictures.wordpress.com).



Em suma, nada tem de ser o mundinho pacífico e de poucos acontecimentos rápidos, e de lentos movimentos imperceptíveis, dos criacionistas de "Terra Jovem". Por isso que lhes é tão difícil entender que conchas no alto do Himalaia não são restos do Dilúvio, colocados lá pela baixa das águas, e sim, fundo de mares, erguidos aquelas alturas por milhões de anos de movimentos de placas de milhares de quilômetros quadrados e de dezenas de quilômetros de espessura.

www.earthsci.unibe.ch


Mas não dá para se exigir muito de mentes que acham que suas mães são descendentes de costelas de certo senhor moldado do barro por um fantasmão providente, indeciso, volta e meia arrependido, seguidamente homicida, e que não ajudava seu povo preferido quando este enfrentava na guerra povos com carros (de ferro, sejamos tolerantes com o todo poderoso deus dos judeus e derivados).[Nota 4]

The Burgess Shale (records.viu.ca).


Coisa alguma em Paleontologia e Geologia necessita ser a harmonia de evidências infantilmente simples que exigem os criacionistas.



Na profundidade do inconsciente humano, existe uma necessidade de um universo lógico, que faça sentido. Mas o universo real está sempre um passo adiante da lógica. - de Citações Reunidas do Muad'Dib, escrito pela Princesa Irulan - Duna, de Frank Herbert.


Para um boa leitura sobre a - podemos dizer violenta - formação e comportamentos das grandes cadeias de montanhas do planeta:
http://en.wikipedia.org/wiki/Geology_of_the_Himalaya

http://en.wikipedia.org/wiki/Geology_of_the_Alps

http://en.wikipedia.org/wiki/Geology_of_the_Andes#Geology

Em especial, sobre os "dobramentos" nos Alpes:

http://www.geo.arizona.edu/geo5xx/geo527/Alps/geology1.html


Já em passagem por uma comunidade de Astronomia, encontrei-me com um dos dedicados criacionistas que se dedicam a discutir a "veracidade" do Big Bang com argumentos mistos de Física de secundário (e ainda por cima das piores) e argumentos teleológicos (vide meu artigo sobre o Argumento do Relojoeiro de Paley) o que sejam os fundamentos da cosmologia. Neste "debate", enveredamos eu e outro participante, já com o criacionista há páginas em fuga, o velho "toca pedra e corre", sobre a dificuldade de aceitação de determinados comportamentos da natureza tal como ela é, inclusive por Einstein, e dogmas que regem os pensamentos de até mesmo pensadores extremamente dotados como o grande físico.

No caso de Einstein a questão maior foi a aleatoriedade, o acaso (tratei disso em Einstein, a relutância contra a Mecânica Quântica e outras "fisiquices").

O que me impressiona é a quantidade de pessoas que insistem de maneira quase desesperada em aceitar o indeterminismo (até mesmo o do nosso entendimento/modelagem do mundo - a aleatoriedade subjetiva) e insistir numa natureza profunda determinista da natureza (contrário à uma aleatoriedade objetiva). Mal pecebem que ao agarrarem-se a isto com suas primatas unhas e dente, negam exatamente a liberdade que afirmam (o seu "lívre-arbítrio) ou condenam seu fantasmão providente a ser o autômato preso às próprias primeiríssimas decisões/desígnios, sem jamais poder alterar o mundo como o seja.

Ora, se afirmam que seu fantasmão providente altera o mundo no macro, como por exemplo, extirpando um câncer de seus filhinhos (embora não podendo devolver-lhe uma simples ponta de dedo!) não aceitam que ele poss operar mudando a direção de um simples elétron "aleatoriamente aos nossos olhos", mudando a trajetória de um simples dado.

Repete-se aqui, similarmente, noutra escala, o fenômeno de não conseguir aceitar os fenômenos da velocidade do crescimento de uma unha, agora, em um tiro no próprio pé da teologia primária.

Resumamos o nosso argumento:

1.Se não existe aleatoriedade alguma na natureza, todos os eventos são determináveis.
2.Se só existe determinismo, toda a história do mundo, desde seu princípio mais remoto, está cristalizada num determinismo.
3.1.Se todos os fatos estão cristalizados em uma história determinada, não existe liberdade (logo, livre-arbítrio é contraditório com determinismo).
3.2.Se todos os fatos estão cristalizados em uma história determinada, não existe milagre algum, pois a divindade não pode modificar o que já designou (considerando, obviamente, que ela exista, mesmo numa posição teísta mais elaborada).
4.Se existe o milagre no macro, como a cura de um câncer, obviamente passa a ser possível o milagre no micro, e tal seria correlato com a aleatoriedade, como temos no quântico.
5.De 4, temos que a aleatoriedade, mesmo na ótica teísta, é inerente à natureza e concordante com a alegada liberdade que temos.

Acho que isto foi um Q.E.D..

Como dizemos a quem nega a aleatoriedade: Jogue um dado!

A irracionalidade de uma coisa não é argumento contra sua existência, mas sim uma condição dela. - Nietzsche


Notas


1. A velocidade média de crescimento é de 1cm a cada 3 meses (3,3 mm por mês; 4 cm por ano) para as unhas da mão e metade desta velocidade para as unhas do pé. - www.gustavoalonso.com.br

Falando em crescimento das unhas, para irritar mais um pouco "nossos amigos" criacionistas e fixistas, que volta e meia chegam ao disparate de afirmar que um cavalo, por exemplo, no passado, não pode ter sido do tamanho de um chachorro (especiações, mutações, etc, fora, aqui, por favor), nem que você faça um pônei argentino de 50 cm de altura escoiceá-lo:



KERI SUTHERLAND; Why your nails are growing 25 per cent faster than your grandparents' did - www.dailymail.co.uk

2. Algumas leituras com referências sobre a fauna de minha terra (quando na verdade, ela nem ficava onde está):
     b) www.cprm.gov.br
     c) www.mapress.com

planta.cn
3. Um corte da bacia sedimentar do Paraná. Milhões de anos de erosão levaram a centenas de metros de deposição de sedimento:

altamontanha.com
Para ler sobre os diversos processos que formaram a Serra do Mar e no que ela relaciona-se com a profunda acumulação que é a bacia do Paraná, em texto muito didático:

Pedro Hauck; Origens e evolução da Serra do Mar

4. Juizes 1:19 "Esteve o Senhor com Judá, e este despovoou as montanhas; porém não expulsou os moradores do vale, porquanto tinham carros de ferro." - sdblisboa.com


Recomendação de leitura

Com a palavra, um mestre, traduzido por uma pessoa que muito tem se dedicado à tradução e divulgação de textos clássicos na questão religião* vs ciência.

Nada em Biologia Faz Sentido Exceto à Luz da Evolução; Theodosius Dobzhansky (1900-1975)

*Aqui leia-se criacionismo.


Quando começa a existir para os outros, o pensamento é como o filho que se desliga da mãe ao iniciar a própria existência. Schopenhauer



Extras

I

Pré-Sal 1

Tamanho das reservas

Ainda não se conhecem com exatidão o tamanho das reservas tratados como "pré-sal" sob as águas brasileiras. As estimativas situam-se numa faixa de 40 bilhões a 80 bilhões de barris. As avaliações divulgadas são apenas as que englobam as principais áreas que já passaram por processo de licitação: campos de Tupi e Iara, na Bacia de Santos, e Parque das Baleias, na Bacia de Campos. Nessas três regiões as estimativas atingem 14 bilhões de barris, valor suficiente para tornar as reservas conhecidas do Brasil o dobro das de até então. Perfurações posteriores a estas em novos poços e conclusão de testes para quantificar as reservas de Guará já elevarão provavelmente estas reservas. Fator mais importante que apenas a quantificação das jazidas é  determinação de sua viabilidade comercial, o ser extraído com custos viáveis. As estimativas da Petrobras apontam para um sucesso na faixa de 87% dos poços perfurados, ainda que outras companhias tem apontado a descoberta de poços não viavelmente produtivos.

Em breve, texto a ser lançado no meu Knol sobre o tema: Petróleo Pré-Sal

II



Spud Raincoat, uma capa de chuva produzida na Espanha, a partir de um bioplástico de tecnologia alemã feito de amido de batata e outros recursos naturais, biodegradável e compostável. - super.abril.com.br
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terça-feira, 1 de novembro de 2011

Evoluções e Combinatória IV

Finalmente, terminemos o deixado para trás em "Evoluções e Combinatória".

5.Bases nitrogenadas




Quando a complexação molecular chegou ao acima, a natureza não necessitava de mais peças para perpetuar esta mesma complexação ao nível de moléculas e tinha o suficiente para perpetuar as estruturas produzidas.

Noutras palavras, mesmo passando temporariamente pelo "mundo de RNA", quando chegamos as quatro bases do DNA*, com sua capacidade de multiplicação/perpetuação que é a genética, não necessitou produzir mais peças para seu jogo.

A geometria necessária, com suas peças de perfeito encaixe, tinha sido alcançada. Mesmo com os riscos de ser perturbada por outras peças de encaixa possível, como o carcinogênico benzopireno, como visível abaixo:


Mostremos o benzopireno ampliado, para que se destaque como o design perfeito (pegaram a ironia?) da natureza leva muitas vezes ao seu próprio desastre.



*E aqui, mesmo com alguma variação que tenha ocorrido, pode ter havido até uma hipotética seleção química, similar à natural da evolução darwiniana. As "molecularidades" menos aptas não sobreviveram, e nós podemos ser (junto com todos os descendentes de L.U.C.A.), a única química que apresentou-se apta a faixa de temperatura e pressões da Terra, desde as profundezas dos mares e rochas até altitudes de ar rarefeito, assim como dos mais frios pontos dos polos até os mais tórridos desertos e fontes quentes, de águas alcalinas, ácidas e até chaminés vulcânicas submarinas, ferventes e sulfurosas.



Não se faria necessário chegar-se a mais bases, como as "7 bases" proposta no roteiro da comédia Evolução (que no roteiro original era um filme de terror/catástrofe/ficção), e um certo caminho de mínimos gastos de energia química foi o mecanismo suficiente.

Somos, mais que tudo, os conjuntos econômicos e eficientes de moléculas em colaboração que sobrevivem às condições da Terra.

Nesta questão, alguns criacionistas e "outros personagens" perguntam "por que o código não evoluiu?". É o mesmo que perguntar por qual motivo teria o alfabeto, suficiente para escrever um poema de 14 versos, de aumentar para escrever um livro de 1000 páginas.

Deste sistema eficiente, econômico, mas sujeito à defeitos, e exatamente destes defeitos, surgiu o processo evolutivo, agora em combinatória de envólucros destas unidades químicas de reprodutibilidade, as células.

Mas aqui, noutro jogo, os processos combinatórios fundamentais passaram a ser outros.


Apêndices

Recomendo ler: Franklin Rumjanek; O mundo sem RNA


Mais pestes



No recente filme Contágio, esta capacidade de combinatória das moléculas mostra mais de seus paradoxais e possíveis problemas, quando genética de morcegos, incorporada por um vírus, ao passar para um porco (mais próximo de um humano, como ocorre também com o vírus da gripe, oriundo das aves domésticas), torna-se letal para os humanos..



No filme apresenta-se, para minha felicidade, a questão de que pela própria diversidade humana, sempre haverão os completamente imunes, que não necessariamente passarão suas vantagens aos seus descendentes, exatamente pela reprodução sexuada e instabilidade da genética, que nos trouxe até os mais de 7 bilhões que acabamos de passar a ser.

Sobre o filme, sem belicismos além do necessário - sem por exemplo, o explodir-se vilas e cidades de Epidemia, de 1995 - com um verdadeiro contexto de colaboração internacional (como se há de esperar numa pandemia), com os sempre presentes humanos interesses de lucro e com os ainda mais presentes comportamentos de preservação de núcleo familiar e até de etnia, trata da questão com uma seriedade e cientificismo que talvez jamais tenha sido usado no cinema, até apresentando a problemática questão do forte sistema federativo dos EUA para tais questões. As questões de progressão - R0  - (mesmo com um sutil e desprezável erro) são bem mostradas, até para a própria curva S que a doença produzirá,
já apontado como solução num razoável filme para televisão sobre o tema, WW 3 , onde aprendi que a catapora está entre as doenças mais rapidamente contagiosas conhecidas pelo homem, assim, um agente "acoplado" ao vírus da catapora, gerando imunização, seria mais rápido em propagação que outro vírus mais lento em contágio. Perderíamos muitos indivíduos, talvez populações específicas (como vilas de determinada etnia, de determinados e limitados laços familiares), mas nossa população como um todo ainda seria a excessiva que aí está.


Recomendo, relacionado à conceitos técnicos no filme: Basic reproduction number ; o que sejam fômites.

O filme apresenta, também de maneira extremamente sensata, os problemas de produzir-se uma vacina, os tempos envolvidos (ao contrário das soluções fáceis e beirando o absurdo de Epidemia) e em contrapartida, o que esforços de escala militar ("eisenhowerianos") poderiam nos proporcionar quando executados.

Um comentário: não vi ainda apontamentos na internet sobre o tema, mas cai-se no mesmo erro de confundir "homeopatia" com "fitoterapia". Um extrato ou preparado de forsítia não é um preparado homeopático, nem mesmo um preparado que se use deste modo e pelos mais que suspeitos e pseudocientíficos princípios e métodos da homeopatia. Aliás, divulgue-se, fitoterapia funciona tanto que às vezes que até pode matar. Se exatamente funciona para o que pretende-se, e se tem base científica e até parte de eficiente empirismo, é outra questão. Mas não é uma solução de uma molécula por mais água e álcool que o volume do planeta Terra*, e que cure pelo estúpido princípio místico/metafisicóide que "semelhante cura semelhante", fique bem claro. Um medicamento, ainda que absolutamente empírico, tradicional, "alternativo", diria quase "uma pajelança" de fitoterapia (valeria aqui até soluções de vísceras de insetos** ou moluscos, o raciocínio é o mesmo) pode conter um princípio ativo farmacológico de excelente resultado***, e muitas vezes, ser de uma toxidade que tenha de ser modificada, quando explorado pela indústria farmacêutica.

* Uma solução acima de determinado "C" - diluição de razão 100 - a homeopatia afirma exatamente isso.

** No terreno da ficção, o filme O Curandeiro da Selva (Medicine Man, 1992, IMDB, Wiki) mostra exatamente isso. Não é  planta de uma determinada região amazônica que impede uma tribo de ter câncer, e sim, uma formiga nesta planta.

*** Seguidamente, descobre-se que não é muito eficiente para aquela moléstia, e sim, para outra, até então nem pensada.

Aliás, se tal "protocolo" de usar-se chás de indígenas fosse algo da homeopatia, indústrias não investiriam milhões em pesquisas verificando o que fazem os pajés e xamãs de nossas florestas americanas (e da Ásia, Oceania e África) para tratar alguns de seus aldeões.

A combinatória química, mesmo produzindo erros, produz há milhões de anos úteis acertos, e o acaso que levou uma planta a gerar proteção contra as lagartas que comem suas folhas é o mesmo acaso que pode dar-nos hoje ou no futuro proteção contra um vírus ou bactéria que possa diminuir nossa população.

O mesmo acaso que nos fenômenos mais basais da vida, produz a luz que ilumina e dá sentido a tudo que se vê nos seres vivos, a evolução.
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Extras

Dois inventos interessantes, do ponto de vista ambiental:

Airdrop Irrigation, um sistema de irrigação para locais inóspitos e cuja agricultura sofra pelos longos períodos de seca, desenvolvido pelo australiano Edward Linnacre, o aparelho captura o ar quente que é resfriado por uma rede de tubos até o solo, onde atinge 100% de umidade e condensa. A água produzida é armazenada embaixo da terra e usada para irrigar a base da plantação, através de um sistema de mangueiras.




Ecoclean - Com duas entradas para o esfregão - uma para dispensar a sujeira e outra com água limpa, este balde inteligente não mistura as duas. Além disso, enquanto um convencional usa de 5 a 7 litros de água por vez, o Ecoclean precisa de apenas um litro.


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