quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Pitacos II

O Acaso

Primeiramente, leitor, tenho de explicar que estou dividindo meu tempo entre um trabalho bastante pesado, preparação para uma avaliação e um artigo longo.

Neste meio tempo, gasto um pouco do meu tempo nas pausas com os velhos debates no Orkut (coisa mais patológica impossível). Um, recentemente, renderá sozinho uma blogagem "remendo", que é esta que agora lhes apresento.







Diversas "produções" de partículas, todas elas, aleatórias. (www.pd.infn.it)







Nem só de criacionistas, ufologistas delirantes (existem ufologistas honestos), e toda uma orda de pseudos que habitam o mundo vive a vela na escuridão em sua luta para se manter acesa. Existem também os deterministas absolutos, que no fundo, querem sustentar um teísmo basal na natureza, ou um panteísmo estrito e delimitado, no qual tudo que exista na natureza tenha de ter um motivo, talvez porque transpassem para o mundo (no sentido de tudo-que-existe) a curiosa máquina de fazer previsões e detecção de regularidade que julgam perfeitas que é seu cérebro e a mente que nela habita. (Quando não são teístas, só tem uma visão igualmente errõnea de mundo.)

Noutra postagem tratei das radiações e da aleatoriedade em sua ação sobre as mutações:

Mutações, radiações e aleatoriedade

Então, aos moldes do O argumento do relojoeiro de Paley, escreverei na forma de uma "estorinha", como o acaso (que recentemente, ganhou de minha mão reforço em seu artigo na Wikipédia) permeia todos os momentos de nossas vidas, como se estas fosse o importante, quando na verdade, é o que regeu toda a história da vida na Terra e até a "contrução" do universo como hoje o vemos, inclusive, presos à superfície de nosso também ao acaso planetinha.

A estorinha aos moldes de Paley que contarei, que pode perfeitamente ser uma historinha, será contada como se fosse uma argumentação para um garoto teimoso, que acha que todas as coisas no universo, até as insanas partículas subatômicas, tenham de ter uma causa para fazerem qualquer coisa que façam.



Produção de par (cse.ssl.berkeley.edu)

Um fóton



(Se desejarem chamar por aí de Argumento do Fóton Perdido de Quiumento, ficarei feliz.)


Viaja desde o início dos tempos um feliz fotonzinho pelo espaço, e sem mais nem menos, porque é da sua natureza, produz um par de partículas.

fóton → elétron + pósitron

Como sempre o fez, diversas vezes, para frações de segundo, posteriormente, anularem-se e reproduzirem o fóton tal par de partículas, ao longo de toda a história de sua vida de fóton.

Mas desta vez, cruza por outro fóton que fez o mesmo, e o pósitron produzido anulou-se com o elétron de outro par.

O elétron restante, iniciou feliz viagem, agora isolado, pelo universo, e ganhou energia de outro fóton que absorveu pelo meio do caminho (de longa e distante viagem, aleatoriamente emitido por um núcleo quente de uma estrela distante), e rumou para uma atmosfera de um planetinha.

Lá, trombou com uma molécula girando e vibrando insandecida pelo espaço, aquecida pelos fótons de estrela próxima. Errou o primeiro átomo, errou o segundo, mas acertou o terceiro.

Ao ionizá-la, o átomo mais suscetível no momento, ganhando energia de outros aleatórios fótons viajando no espaço, desprendeu-se, e no momento de seu desprendimento, saiu do caminho de uma partícula de alta energia, vinda do mais distante recanto da galáxia.

Esta partícula que agora pode passar, entre as bilhões que chegam do espaço a cada segundo, viaja pela turbulenta atmosfera, onde trilhões de moléculas, íons e átomos isolados dançam, trocando aleatriamente fótons emitidos ao acaso, atinge o DNA de uma célula reprodutiva de um primata, modificando um pouco, e tal será ótimo, o ângulo do dedão da mão do futuro filhote a nascer.

Milhares de gerações depois, um primata deste descendente, que acha que coisas na natureza não acontecem ao acaso, fruto de incontáveis emissões de fótons e desaparecimentos de partículas e suas produções ao acaso, sem causa alguma, simplesmente porque as aprtículas assim o são, esperneia desesperadamente porque acha que o universo tenha de se comportar com MOTIVOS, porque assim o quer.

Esqueceu o primata, que exatamento as incontaveis gerações e absoções de partículas, sem motivo nenhum, PORQUE ASSIM O SÃO, é que permitiu que ele pudesse digitar no seu teclado, e simultaneamente, segurar um copo de água com seu polegar, de mutação herdada, dfaquele fóton, milhares de anos atrás, que em momento aleatório, sem causa alguma, produziu no momento certo duas partículas.



Alguns adendos

Podemos prever plenamente a tragetória de uma bala, por exemplo?

Não. Pois átomos são decompostos, alteram suas posições e modificam a trajetória. Por isso mesmo, como mostra Gamow, o grande físico, em seu livro "Um, Dois, Três, Infinito", o mais perfeito cubo, no mais estável gás, é um perfeito dado, aleatório em seu resultado.



Dados padrão de Las Vegas, cubos bastante perfeitos e balanceados, e exatamente por isso, aleatórios, tal como mostrou banalmente Gamow.


Podemos prever um eclipse?

Dentro de determinados limites, sim, da mesma maneira que omesmo afirmaríamos para a bala. Mas como tratamos na blogagem ESTAMOS NUM SISTEMA CAÓTICO, o sistema solar (quanto mais a galáxia e mais ainda o universo) é um sistema de múltiplos pontos, todos eles enormes aglomerações de partículas subatômicas.

Logo, podemos determinar (no sentido físico, limitado, estatístico, de uma medição, e seus erros inerentes) os eclípses, mas num tempo limitado, mesmo esquecendo o que sejam erros de medida.

Assim, em 100 anos, podemos fazer previsões, em mil, também, mas em um bilhão, de forma alguma.

Determinável no sentido físico (ciência) não é o intrinsicamente determinável (o natural), pois sempre aconcecem desvios de percurso causados pelo quântico, tal como aconteceu com o nosso fóton de nossa estorinha, tal como acontece com nossa Lua.

Se em dúvidas do que seja esta separação entre o que seja nossa ciência (fundamentalmente Física) do que seja a real natureza (aliás, tolice minha, pois só ela, para todos os efeitos, é real), leia Ovelhas no campo, a cor dos cisnes e dos corvos.

Um texto do site do Instituto de Matemática da UFRGS, que acho que muito se presta a dar uma idéia básica sobre aleatoriedade:

Hoje, sabemos que a Natureza não é totalmente determinista.
De um lado temos os fenômenos naturais macroscópicos que são deterministas, embora sejamos forçados a considerar muitos deles como imprevisíveis e incontroláveis, dotados de uma aleatorieadade subjetiva, pois que não conhecemos, e talvez nunca conheceremos, todas suas causas e estados.
Por outro lado, para fenômenos microscópicos a situação é radicalmente diferente; aí imperam estados de comportamento bizarro e que obedecem somente ao acaso. São fenómenos aleatórios objetivos, como o pulo de um eléctron de um nível energético a outro, sem passar por estágios intermediários e sem existir nenhuma causa determinando o instante de pulo.
Sob um ponto de vista estritamente matemático, usamos matemática determinista para investigar os fenômenos previsíveis e usamos matemática probabilista para investigar tanto os fenómenos de aleatoriedade subjetiva como os de aleatorieadade objetiva.



A certa altura do "debate" (notem as aspas), o determinista afirma que aqueles que são evolucionistas E ateus (notem, pelo destaque, a falácia*), usam o acaso como um 'deus ex machina', que "eles" sabem que quando usam o acaso como origem da vida (?), causa das coisas (?), etc, percebem que não podem descobrir (?) o que aconteceu realmente e usam o 'acaso das lacunas' para "tapar o buraco" e ninguém questiona pra não estragar o remendo.

(Com pequenas adaptações minhas, o discurso desconexo foi este.)

Mas, responde-se a isto:

-Ao olharmos para o céu, vemos o passado do universo, até 13 bilhões de anos no passado.

-Na geologia, vemos o passado da Terra, em mais perfeitos e exatos detalhes.

-Na paleontologia, vemos o passado da vida.

-Nas ciências experimentais simulando e modelando a bioquímica, apontamos possíveis (dentre diversos e geologicamente plausíveis) modelos químicos para a origem da vida (e os progressos recentes tem mostrado que até o momento, apenas os passos geológicos-naturais são necessários).

E estas evidências e estes fenômenos, que são fenômenos macro na natureza, não tem coisa alguma com a mais íntima natureza (o micro) ser aleatória e produzir eventos completamente ao acaso.

* Evolucionistas e ateus não são palavras fundidas em nexo uma na outra. Falácia da Falsa Dicotomia, pois associa em contrapartida que ser teísta implica em ser criacionista ou fixista.
É até triste e deprimente, ver rastejar nas falácias o crente.

Uma questão em química, pertinente a questão


A própria DETERMINÂNCIA das reações químicas possibilita a origem da vida ( e muito da evolução e da prórpia vida em sues metabolismos estáveis), tanto que aminoácidos se formam da atmosfera com simples faíscas.

Mas o que seja esta DETERMINÂNCIA, ou tendência, é o que deterministas não entendem.
Uma aulinha básica:

Um mol (aproximadamente 6 seguido de 23 zeros de moléculas) de H2 mais meio mol de O2 sempre dará um mol de água.

Mas os casos mínimos, e inclusive, decomposições que ocorrem, se dão ao acaso. A natureza é um sistema de equilíbrios dinâmicos, não de coisas determinadas e fixas.

De onde, com toda a segurança, afirmamos:

O acaso das mínimas partes da natureza é a causa de todos os seus macro comportamentos.

Ou, o que irritou profundamente nosso opositor, de maneira mais simples: O acaso é causa.

Como escrevemos na Wikipédia "Ligações externas"


Alguns pontos interessantes do debate com Jorge (o nome do relutante personagem), que é um exemplo perfeito do raciocício dogmático sobre a natureza ter de ter causas e consequentemente ter de ser determinista.

Participações brilhantes de meus amigos Ivan Eugênio da Cunha e Roberto Parra, que sendo de formação em Física, ali são transcritos com algumas pequenas modificações, pois este debate pretendo transformar num artigo, e estes serão coautores (aqui a democracia é dirigida, desculpem-me).

Ao longo do tempo, espero (tudo depende, em suma, do acaso ;) ) este texto será modificado e estruturado, mas acredito que como já está, permita o entendimento de minúcias das questões envolvidas.

Até a próxima, talvez, pois sempre alea jacta est!

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