quarta-feira, 15 de julho de 2015

A gravidade de Eberlin





Primeiro, perdão, mas “pegaram” a ironia no título?

Recentemente, tive acesso pelo Facebook a um dos últimos vídeos onde surge “nosso amigo” Marcos Eberlin divulgando e defendendo suas “teorias”.

EXPRESSÃO - Teoria do Design Inteligente - Dr. Marcos Eberlin - www.youtube.com
Como sempre, no meio do choramingo aparentemente interminável que passa por negação pura e simples, filosofês simplório, as habituais falácias da “argumentação negativa”, a defesa de teleologia que não resistem à mínima análise desde David Hume, a sempre presente falácia do apelo à ignorância (normalmente à própria sobre o tema), a ignorância já conhecida em Biologia e diversos de seus campos relacionados, eis que chega-se, como diversas vezes já percebi, aos problemas graves com Física I, 101 ou similares, nos problemas com Astronomia e Astrofísica, especificamente, a formação de planetas e estrelas.

Lá pelos 33 min surge o patético - e renitente - argumento que expressa abissal desconhecimento de Astrofísica moderna, mesmo de simples Física Newtoniana, de que a “gravidade não agrega moléculas de hidrogênio e átomos de hélio”.

Deixo passar por hora até o lamentável uso de “explosão”, termo com certas tradições didáticas, sobre o que seja o “Big Bang”, inclusive, origem do tempo popular em inglês, nos esperneios de Fred Hoyle transmitidos pela BBC.

Pausa: O que raio tem a ver Big Bang com formação de estrelas em si?

Aliás, sequer Hoyle, “implicando” com o Big Bang, discutia formação de estrelas por gravidade, sequer seus “seguidores”! [Nota 1]

Também deixo passar a pérola de “átomos no início do universo”. Julgo até um jargão permitido em conversas informais.

Igualmente esqueçamos a assimetria da matéria e antimatéria ser entendida por ele, campo de ponta já há anos, desde os trabalhos primordiais sobre o tema. Aqui, um novo ataque de apelo à ignorância é aplicado, obviamente. [Nota 2]
Apenas destaco, aqui, que a tão alegada “quiralidade” que Eberlin prega - completamente em erro em Bioquímica, assim o mostram simples bactérias e até venenos de moluscos marinhos, sempre gritada para moléculas, é esquecida por ele nas partículas fundamentais. [Nota 3]
O interessante é que independente do problema da assimetria entre matéria e antimatéria não ser - como todo problema científico - uma questão que seja respondida com “então foi um designer!” (note-se o “um”), o problema não livra os erros de Eberlin em Física, pois ainda que tal assimetria exista, seus erros caem invariavelmente sobre o que seja massa e gravidade, e massa independe do que seja matéria e/ou antimatéria.

Mas concentremo-nos no “magnífico ponto” que quero tratar.

Ele afirma com todas as letras que “[...] se o Big Bang ocorresse, o universo teria de estar repleto de buracos negros [...]”, aproximadamente.

Bom, pelo menos, ele concorda, aparentemente, com a existência de um buraco negro no centro de nossa galáxia, sabe-se lá por qual raios de motivo, dentro de seu quase universo ficcional do que seja Astronomia e Astrofísica.

Pois bem, se o universo deveria estar repleto de buracos negros, devemos concordar que ele afirma isso por formações de regiões de alta densidade - sem o que não se tem sequer uma estrela como o Sol, com sua densidade média de um solvente clorado e no seu centro maior que qualquer material na Terra - e que estas regiões, exatamente por serem tão densas, seriam buracos negros.

Se tais regiões formam-se, e o discurso é dele, deve ser por dois motivos: ou os componentes do universo, por mínimos ou não que sejam, quem o faz é a gravidade, que a tudo atrai, ou ondas de pressão que comprimem tais componentes.

Esses componentes não passariam do estado “gasosamente distribuídos” - em termos leigos mas didáticos, pois a natureza é gradual - para um estado “buraco negro puro” sem passar pelas agregações “nuvem”, protoestrela - acho que isso seria demais para ele - estrelas, estrelas colapsadas dos tipos que vemos (detectamos), aliás, desde o século XIX, com as anãs brancas, depois as estrelas de nêutrons, pois faz décadas que ouvimos os “sinais” de pulsares, e inclusive neles descobrimos os primeiros planetas, mostrando a contínua agregação de planetas, e finalmente, os certos buracos negros de Eberlin. [Nota 4]

Façamos agora algumas perguntas.

Então, essa graduação e seu resultado final foram produzidas por gravidade?

Então os átomos de hidrogênio e hélio se agregam por gravidade?

Agregam-se por ondas de pressão?

Agregam-se por ação de um e/ou outro fator?

Então esse processo teria de ocorrer?

Então ainda ocorre?

Então estrelas formam-se?

Estou simplesmente chocado!

Perdão, encerro o meu caso.

Não, tenho mais uns detalhes a tratar.

O desconhecimento e certos pitorescos dogmas pessoais sem base alguma de Eberlin em Física são tão lamentáveis que ele fala de “força esférica”.

Traduzindo de sua estranha linguagem em campos próximos de outras Ciências e minimamente distantes de sua limitadíssima especialidade, acredito que ele estava se referindo a uma força que atraia todos os corpos homegeneamente para o centro de uma esfera, como é nosso caso bem claro na superfície de nosso planeta.

É, lamento, mas nem no senso comum o dito senhor é minimamente embasado.

A Terra (e praticamente qualquer corpo celeste) não é uma esfera, e daí vem o conceito de geoide, já bem sólido nos tempos de Gauss.


timeandnavigation.si.edu


Didaticamente: Quando estou do lado de uma montanha, não sou atraído para o centro da Terra. Sou atraído para o centro da Terra e um tantinho para o lado da montanha. O mesmo vale até para uma xícara de café em minha mesa. Questões complexas da gravidade quantizada, que sequer como teorização sólida existe, deixemos para outra oportunidade.

Mas o balanço de tais forças, numa massa significativa como a da Terra, é evidentemente “para o centro”, e mesmo para qualquer nuvem de gás ou a mais fina poeira, mesmo nas distâncias de escala estelar, para o centro de massa de tal… perdão pela redundância … massa!

Agora, se “o lugar geométrico dos pontos do espaço equidistantes de um ponto dado (centro)” é uma (casca) superfície esférica, e que infinitas cascas esféricas com mesmo centro formam um sólido que chamamos esfera, é outra questão, e em tais cascas, quando ali colocados vetores de forças que seriam, dada a distância do ponto central, equipotentes, e portanto, submetidos a mesma força, é o que faz os celestes acima de determinada escala, por sua plasticidade (vide a Geologia) e até fluidez tenderem ao formato esférico, como nos mostram já luas de centenas de quilômetros de diâmetro, e no contraponto, com a ação da pseudoforça centrífuga, que gosto de chamar de ‘centrifugação’ e eliminar longas discussões e explicações, estrelas de alta rotação parecerem mais gigantestas tangerinas, assim como a própria Terra é desde os tempos iniciais de escola “achatada nos pólos”.


A estrela Celaeno - www.brighthub.com.[Nota 5]



Então, por n vias, tenho de não só perguntar do que esse senhor está falando, assim como tenho de alertá-lo que seu discurso mais que amador no campo, lamentável, é autodestrutivo.

Poderia poupá-lo de aprender o que seja realmente a tabela periódica e sua relação com a enorme Ciência hoje que é a Astrofísica, na nucleossíntese estelar, desde o fundamental artigo B2FH.

Sinceramente, prefiro divulgar Ciência divertindo-me em refutá-lo facilmente.

Falando em refutá-lo, no campo já o fiz, muito mais detalhadamente para seu erro grosseiro em Física: Scientia est potentia - Estrelas, proto-estrelas, atomos e...

Mas resumamos para quem me lê:

Se estrelas agregam-se, e tal é astronomicamente evidente, e amostralmente em número astronômico (ironia), produzem núcleos maiores, tem ao chegar ao trio ferro-níquel-cobalto de explodir, produzindo ondas de pressão, e produzir o que seja “poeira”, no sentido de material finamente pulverizado, e a agregação continua, no que sejam planetas, por exemplo, e até no que seja esse que aqui digita.

Somos poeira de estrelas.” - Carl Sagan

A questão é, sinceramente, banal, mas é evidente que processos como a formação de determinados sistemas solares muito diferentes dos nossos, que já sabemos que existem, assim como detalhes dos nossos próprios gigantes gasosos são problemas ainda prolíficos para a pesquisa, mas o básico dos processos, não.

A Física envolvida, no fundamental, é Newtoniana, e nos comportamentos, para espaços de tempo limitados, Keplerianas, mas dizer-se um mistério insondável, igualmente, não.


Questões muito mais complexas, sobre o próprio comportamento dos turbilhões que são as galáxias espirais, no geral da “poeira”, no sentido em Relatividade, mesmo passando por processos locais que são Newtonianos, também são prolíficos para a pesquisa, mas o mecanismo, mesmo para distâncias que são já galáticas, ainda sim é gravidade e ondas de pressão.

Um último ponto: “momento angular do sistema solar, o retorno”.

Como diz a minha geração que conviveu em Porto Alegre nos anos 80:

Ainda esse assunto?

O argumento tem seguidamente percorrido a internet, nos circos... perdão, círculos criacionistas, e é um típico argumento de “Terra Jovem”.

Um exemplo:

pontodevistacristao.weebly.com - Origem do sistema solar

Destaquemos, para poupá-los de ler o crentês pseudocientífico:

A formação Nebular dos planetas requer a contração de uma nuvem de gás devido à gravidade, e então o sol e os planetas se condensam a partir da nuvem em rotação. Há dois principais problemas com essa ideia. Primeiro, semelhante a uma patinadora em rotação sobre seu próprio eixo quando encolhe seus braços de encontro a seu corpo, o gás em contração faria com que o sol girasse em uma rotação muito rápida. Contudo, a rotação real do sol é devagar demais para sustentar tal teoria. O sol possui apenas 2 por cento do movimento circular ou momento angular do sistema solar. Observa-se que as nuvens gasosas no espaço geralmente se expandem ou permanecem constantes em tamanho, mas não se contraem. Para uma nuvem típica, as forças exteriores de um gás são muito mais fortes do que o puxão da gravidade para dentro.


Pois bem, o problema está simplesmente em achar-se (como no passado gente do quilate de um Laplace até colocou), que o sistema solar fosse como um disco num prato de toca-disco, com uma nuvem de estrutura rígida em rotação, enquanto foi e bem analisado ainda é um turbilhão.

Essa visão “histórica” da nuvem que produziu o sistema solar - e similares produzem todos os demais, talvez com raras exóticas exceções por captura de corpos - resultou na reemergência da hipótese nebular.[Nota 6]

A nuvem se aproximava mais de uma quantidade de borra de café num espresso em agitação, ou a mistura de ingredientes numa batedeira, com formação de turbilhões e variações das velocidades tangenciais (“órbitas”) das partículas.

Assim como se evidencia pela alta rotação do Sol e Júpiter, ali ocorre o fenômeno da “concentração” do momento angular, no didático exemplo da bailarina, mas o fenômeno neste caso é mais local, não geral para toda a nuvem.

Uma observação: a questão é tão pouco rígida, e mais próxima do que seja “fluida”, que o Sol tem rotação de 25 dias no equador e 34 nos pólos, o que para um raciocínio de “disco na vitrola e bailarina” já seria uma contradição. Júpiter já tem “dia” de quase 10 dias, o que por um raciocínio “bailarina”, mesmo para corpos totalmente “rígidos” (a própria Geologia já exige as aspas), já seria uma contradição com a Terra, e mesmo essa, entre os planetas rochosos, uma contradição com Marte, um tanto mais que a metade em diâmetro, com muito menos massa e um dia um tanto maior que o nosso.

Nunca podemos pensar num modelo simples para o que seja a rotação e a translação em conjunto dos planetas e do Sol, e ainda mais, mesmo para termos Keplerianos, para intervalos de tempos muito grandes.[Nota 7]
Portanto, como já foi dito por uma amigo, e ele é do ramo:

- Eberlin, vai dormir!


Notas


2. Uma referência trivial, e um bom início para familiarizar-se com a questão: www.seara.ufc.br - Antimatéria


3.




4.







6.

7.



Complementos

1
A professora Maria Cristina Ribeiro, no Facebook, alertou-me que a matéria agrega-se devido a existência da matéria escura. A matéria escura é o "esqueleto" do Universo (em sua maior escala). Ao que respondi que tudo dá a entender que somos meio que um "resíduo" no universo.

Noutras palavras, a matéria que julgamos “convencional”, como as estrelas e seus produtos e subprodutos, que são os átomos que entre todas as coisas nos formam, com a exceção clara do hidrogênio, que é oriundo dos processos mais remotos no tempo do universo, na nucleossíntese primordial, desempenha um papel secundário no universo como um todo, sendo sua conformação e aparência na maior escala, a distribuição e “organização das galáxias” conduzida pela matéria escura


Como complementei: - Quem manda na coisa, na maior escala, o componente significativo, é a matéria escura, formando para as galáxias o que eu chamo de "estrutura de esponja de banho".

Cada ponto na modelagem computacional abaixo é um aglomerado de galáxias.

www.mpa-garching.mpg.de


2

Um dos problemas da colocação axiomática de certas características do universo por Newton é que, sendo eterno, pela contínua agregação pela gravidade, não tardaria a todos os corpos estarem concentrados num único ponto.

Seria uma consequência inexorável de um universo de infinitas estrelas e outros corpos, harmoniosamente distribuídos. Isso foi apontado por filósofos de seu tempo, e um de seus problemas permanente na formulação de uma Cosmologia - não de uma Mecânica.

Obs.: Filósofos fazem isso por raciocínios similares aos “argumentos cosmológicos”, impondo “tempos infinitos” sobre características e comportamentos constantes.

A relatividade de Einstein apresentou os mesmo problemas - lembremo-nos, para um universo estático - e levou a Einstein a colocar a “constante cósmica”, evitando a inexorável concentração.

Recomendo:


O QUE É A GRAVIDADE? - www.cpenelopefournier.com

GÊNIOS DA CIÊNCIA (2ª EDIÇÃO) - SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL - ED. Nº 7 - NEWTON, O PAI DA FÍSICA MODERNA - DUETTO - www.livrariadafisica.com.br




O Problema da Constante Cosmológica - www.fis.ufba.br


O que e Cosmologia? - Mario Novello - PDF do livro, parcial

12 comentários:

C.J. disse...

Esse senhor, o Ameberlin, já passou de todos os limites da ignorância. Me pergunto seriamente se não houve uma "troca de valores monetários" no processo de formação acadêmica dele, porque acho impossível alguém tão néscio ter até mesmo uma simples graduação.

Unknown disse...

Chico! Mesmo de longe, e agora de perto (to morando em SP), tenho lido suas postagens por aqui. Aquele cria que vocês modificaram, que virou membro da tropa de choque evolucionista e, logo após, doutorando em genética na Universidade de São Paulo está aqui para endossar o caldo contra esse farsante! Taca-lhe o pau na física, que não domino, e podes deixar o resto pra mim.

Abraços,
All

Unknown disse...

Sou um cientista, tenho Wikipedia.

Unknown disse...

Sou um cientista, tenho Wikipedia.

Francisco disse...

/\

Basta a Wikipédia para refutar as tolices de Eberlin em Física e aparece personagem de "mimimi curto".

Dá dó.

Unknown disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Unknown disse...

Hahaha, certo.

Francisco disse...

Não falei?

J. Moreira disse...


Há muitos artigos publicados em revistas especializadas que dão razão ao Dr. Marcos Eberlin. Creio que aqueles que esgrimam neste debate com fórmulas da gravidade newtoniana ensinada a colegiais e tem referência na Wikipédia estão demonstrando que estão longe de abordar um assunto que exige domínio da Relatividade Geral de Einstein para começar a falar com algum conhecimento de causa.

Regular black holes and black universes
Por: Bronnikov, K. A.; Dehnen, H.; Melnikov, V. N.
GENERAL RELATIVITY AND GRAVITATION Volume: 39 Edição: 7 Páginas: 973-987 Publicado: JUL 2007
Cosmic microwave background radiation of black hole universe
Por: Zhang, T. X.
ASTROPHYSICS AND SPACE SCIENCE Volume: 330 Edição: 1 Páginas: 157-165 Publicado: NOV 2010

Cosmic black holes - from stellar to supramassive black holes in galaxies
Por: Camenzind, M
ANNALEN DER PHYSIK Volume: 15 Edição: 1-2 Páginas: 60-74 Publicado: JAN-FEB 2006

Francisco disse...

Pára!-pára!-pára! e inclusive, que se dane o Novo Acordo Ortográfico!

É sério que apareceu personagem que acha que citando artigo sobre buracos negros e radiação cósmica de fundo vai salvar a tonteira, a tolice, a bobagem colossal de Eberlin sobre a formação de estrelas, que no mecanismo básico É - releia o É - newtoniana, tanto pelas velocidades quanto intensidade do campo gravitacional, que encontra ampla bibliografia tanto do ponto de vista teórico como de observações em diversas de suas fases?

A coisa começa a ficar realmente divertida!

PS:

Aprendam, bando de pessoas confusas: não interessa na questão "citar a Wikipédia", basta ver as referências que são citadas na Wikipédia sobre o tema, todas acadêmicas e inclusive, o estado da arte no tema, detalhe do qual fogem aparentemente por pura estupidez - quando não desespero - e serve como amostra que para expor facilmente os erros básicos de Eberlin no tema, em sua teimosia simplesmente insana, são explicáveis em termos e conceitos até pela Wikipédia.

Observação: Bom, merece postar um comentário ridículo desses e ainda por cima, usar imagem caucasiana - meio igrejinha estelionatária de esquina - de Jesus orientando alguém.

Unknown disse...

E O F Quimento é formado em que ? Da aulas em quais universidades ? da palestras no exterior ? é convidado por universidades ou grandes institutos estrangeiros ? ha sim é so um palpiteiro do faceboque kkkkkkkk , senta la claudia , a inveja é uma merda kkkkk

Francisco disse...

Não é de gargalhar o desespero para tentar defender o amontoado de erros do Eberlin nessa área (esquecendo dos erros nas outras)?

Chega a dar dó.

Minto. Dá coisa alguma.