segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Pseudociências - 3



Revolucion​ários gênios


Algumas notas e observações sobre certos males que nos atormentam pela internet, e embora muitos insistam que seja paranoia, comprometem até nosso futuro.


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Após uma lida "diagonal" no trabalho de certos personagens que circulam pela internet*, que aqui nem nos é útil citar exemplos, tal o volume de tolices e delírios, meu frequente diagnóstico:


COT, que é aquela coisa igual ao TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo, apenas com as letras da sigla em ordem alfabética, COMO AS COISAS DEVEM SER!


( Piada inesquecível dos primórdios do Twitter. )

* Inclua-se aqui: refutadores da relatividade, refutadores da evolução biológica e sua teoria, refutadores da mecânica quântica, exóticos refutadores até da existência de átomos, ‘espiritóides’ relutantemente negando neurociência e insistindo em evidências e “demonstração” de seus (incluindo familiares) fantasmas (apenas com outros nomes), defensores de homeopatia e conspirações científicas diversas, como céticas negações de visitas de extraterrestres, entre inúmeras outras.
Uma citação:

“As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”. - Umberto Eco - www.brasilpost.com.br


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São tão patológicos quanto a velhinha que “colecionava” comida vencida, que assisti em documentário sobre o tema (Hoarding: Buried Alive), ou uma campineira notória, que assisti pelo final dos anos 2000, que não conseguia caminhar pela rua sem recolher sacos de lixo e os levar para casa, ou o primeiro caso que conheci, de um senhor que não conseguia colocar fora classificados de jornal, pelo conteúdo, não pelo uso do papel (na verdade, um dos sintomas mais típicos).


Lembremo-nos que por vezes são úteis, como o grande " ’ajuntador’ de livros e escritos" Thomas Phillipps.




Como bem descrito no livro de Simon Singh, O Último Teorema de Fermat, alguns destes revolucionários, como os falsos demonstradores de teoremas (pseudomatemáticos), os  gênios incompreendidos e injustiçados, somado ao "COT", possuem a frustração de uma formação medíocre ou insucesso na vida profissional e pessoal, e sobre delírios de grandeza, de fama, depositam toda sua energia.


“Quase todas as “soluções” são escritas num nível muito elementar (usando noções de matemática do ginásio e talvez alguns trabalhos não-digeridos da teoria dos números), mas isso pode ser bem complicado de entender. Socialmente os candidatos são pessoas com uma educação técnica, mas uma carreira fracassada*, e tentam obter sucesso com a demonstração do problema de Fermat. Eu entreguei alguns manuscritos para médicos que diagnosticaram uma esquizofrenia aguda.**”

Simon Singh; O Último Teorema De Fermat, Apêndice 7: Carta sobre o Prêmio Wolfskehl, pg 301.

* Aqui eu colocaria não uma generalização tão direta, e diria rude, mas a inclusão, talvez muito maior, de um desejo de grandeza (“ego trip”) dada a frustração com o que se faz, uma percepção recolhida e mal sublimada de mediocridade. Ser medíocre, diluído nas massas, não implica propriamente no que seja fracasso, e muitas pessoas intelectualmente medíocres - especialmente para campos formais, como por exemplo a Matemática, são bem sucedidas, inclusive algo entre ricas e simplesmente felizes, mas o humano muitas vezes não se satisfaz com aquilo que até outro dia era seu maior desejo. Numa situação totalmente opostas, conhecemos muitas pessoas até imensamente capacitadas intelectualmente em certos campos, como novamente a Matemática, ou mesmo campos artísticos - que naturalmente podem propiciar grandes ganhos - que não obtém qualquer sucesso na vida, quando não, encontram-se em triste fracasso.


Sobre o sucesso de homens de inteligência média (para aquilo que é normalmente associado diretamente pela maior parte das pessoas como inteligência), é sempre bom lembrar o grande Charles Darwin:

“Eu não tenho nenhuma grande rapidez de apreensão ou sagacidade que é tão notável em alguns homens inteligentes, por exemplo, Huxley. Por isso, sou um crítico pobre: um papel ou livro, quando a primeira leitura, geralmente excita a minha admiração, e é somente após considerável reflexão que eu percebo os pontos fracos. Meu poder de seguir um trecho de comprimento de pensamento puramente abstrato é muito limitado; e, portanto, eu nunca poderia ter obtido (sucesso) com a metafísica ou matemática.”

THE LIFE AND LETTERS OF CHARLES DARWIN – DAY 28 OF 188 - www.turtlereader.com


Muito da grandeza de Darwin, para muitos que o leram, está precisamente na sua clara humildade, e em tempos anteriores a certa construção da Filosofia da Ciência, toda sua obra apresenta-se como uma submissão de hipóteses e evidências de corroboração ao que chamamos falseamento.

Retornando aos nossos genéricos “lelés”, isso sem falar no muito frequente efeito Dunning-Kruger.


**Neste caso, já tive experiências pessoais, principalmente via as redes sociais, que tornaram-se terreno fértil para a manifestação pública deste tipo de personagens, mais a minha avaliação - e que fique bem claro que uma “hipótese” de um leigo - de que algumas pessoas com dislexia apresentam leves “distúrbios de conduta” e tornam-se um tanto obsessivas em demonstrar coisas que imaginam, “refutando” o que sequer entenderam (por causa, claro, de sua limitação típica para textos longos).

Nisso entra o detalhe que, por exemplo, a demonstração de Andrew Wiles para a conjectura de Fermat tem, fora a complexidade da Matemática de seu nível, em torno de 250 páginas. Assim como não conheço livro acadêmico de certos campos, como a dita “Física Moderna” (Relatividade e Mecânica Quântica, alvos principais desse tipo de personagem) que não “pare de pé”, isso sem falar da sempre prolixa Biologia, que por natureza já é volumosa em descrições e argumentações, outro alvo, ainda mais com suas relações com conflitos com diversas teologias.

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