E “ajuste fino”, esta grosseria
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Um argumento “dose para elefante”
ou
“Passos do elefantinho” para entender porque seleção natural não pode ser negada.
Muito me é interessante os criacionistas afirmarem-se "contra" a seleção natural.
Ora, se é inegável, peguemos os exemplos destacados, que entre os enormes proboscídeos, nossos amigos elefantes, existiram diversas imensas variedades, como os mamutes, os dinotérios, os mastodontes e o Platytibelodon, todos extintos e perfeitamente diferenciáveis, todos derivados (dentro de uma argumentação criacionista) do "baramin" elefante (para não lotarmos ainda mais a arca do pobre Noé), e hoje só restam o elefante asiático e o africano, em sua variedade da savana e da floresta (o que reforça a "microevolução do baramin elefante"), então é óbvio que as variedades extintas foram selecionadas, seja por mudança climática (mamute), seja por uma determinada alteração no ambiente que não permitiu mais seu sustento (o gigantesco dinotério). Logo, pela própria argumentação criacionista, a seleção natural ocorreu.
Nota:
Não nos esqueçamos do seguido "pensamento em mola" e não "em catraca", aparentado com o "em escada" vs "em árvore" que aplicam aos processos evolutivos.
Da mesma maneira que afirmam a genética não permitir acréscimo de informações (a resiliência de uma mola, voltando ao estado original) ― alguns autores que tratam genética de maneira termodinâmica inadequada insistem nisso ― afirmam que passos de variações em somatório, processo estocástico - não podem ocorrer.
Algo que qualquer observação do processo histórico das espécies domésticas, como os primeiros passos de Darwin, já mostra-se errôneo.
2
Ajuste fino, esse ‘filosofês’ um tanto grosseiro
Em conversa recente com meu amigo Marino Martins, bioquímico, tive a percepção que pode ter surgido um argumento interessante contra os criacionistas que usam dessa argumentação para afirmar um design inteligente na maior escala do universo possível, a partir das constantes físicas e das próprias lei físicas.
A conversa nasceu a partir desse artigo:
Haskell, M. Fine-tuning the Universe. Nature 461, 134 (2009). https://doi.org/10.1038/461134a - https://www.nature.com/articles/461134a
Obs.: Fico devendo ainda a tradução do diálogo apresentado nesse artigo.
O argumento apresentado por meu amigo Marino é simples.
Os criacionistas apresentam um universo feito para a vida, o que é uma proporcional e imensa tolice, pois o que sejam as janelas para a vida tal como a conhecemos estreitam-se entre temperaturas polares e as desérticas, exigem água líquida e toda uma ecologia para podermos ter de ursos polares e focas à bactérias, além de peixes com presença em seus corpos de fluidos que impeçam o congelamento.
Aqui, desprezam que onde há vida já no sistema solar mostra-se a superfície de um planeta de 5,972 × 10^21 toneladas, apenas de alguns quilômetros de profundidades até raras bactérias flotando numa altitude limitada de uma atmosfera de mais pouco mais de dezena de quilômetro de altitude, frente um sistema solar que apenas entre o Sol e Júpiter soma 1,991 × 10^27 toneladas, de onde a vida ocupa, mesmo considerando o planeta todo como seu habitat - um erro claro - 0.0003% da massa do sistema solar.
Qualquer cálculo para a galáxia ou o universo torna o resultado ainda pior, pois a massa do Sol, em termos de massas estelares, é pequena, e hoje sabemos que nosso sistema solar não prima por ser dotado dos mais massivos planetas.
Assim, podemos afirmar, no máximo, que o universo abriga a vida, nada mais.
Mas meu amigo Marino concentra-se num ponto esquecido, que não é uma distribuição no espaço (como o fiz aqui em relação à massa do substrato que é o “universo” - e somente a ínfima Terra temos até o momento de amostra, infelizmente). Ele foca-se no tempo, no histórico da vida sobre a Terra.
Esqueçamos as extinções, tanto os grandes eventos - um alerta que o universo claramente tenta eliminar a vida seguidamente - assim como as extinções constantes de espécies, que mostra para o passado um permanente ‘genocídio’.
A Terra não pode abrigar vida em toda sua história, e tanto que mesmo com o surgimento da vida lá pelos estimados 3,8 bilhões de anos atrás, o período anterior, especificamente por uma questão de temperatura superficial, não permitia a vida.
Claro que podemos aqui cruzar por uma argumentação de que mal a temperatura foi adequada, a Cinética Química e a Termodinâmica - intimamente relacionadas, conduziram à formação de vida, o que faz esse autor aqui confiar numa tendência natural do universo de formar vida, uma obrigatoriedade termodinâmica da vida, mas tal não passa de uma conjectura a qual temos acrescentado dados, e nada além da Terra por enquanto temos.
Mas essa vida surgida na Terra ainda passa um tanto mais de bilhão de anos sem produzir qualquer complexidade além de células isoladas, e uma boa parte delas sem mais complexidade nessas células que as bactérias possuem.
Divulgação:
Formas de vida complexas teriam surgido há 2,1 bilhões de anos
Pesquisadores franceses encontraram, no Gabão, fósseis dos organismos multicelulares mais antigos já registrados
https://veja.abril.com.br/ciencia/formas-de-vida-complexas-teriam-surgido-ha-21-bilhoes-de-anos/
Para mais artigos científicos sobre Grypania spiralis:
https://en.wikipedia.org/wiki/Grypania
“Grypania é um fóssil primitivo em forma de tubo do éon Proterozóico. O organismo, com tamanho superior a um centímetro e forma consistente, poderia ser uma bactéria gigante, uma colônia bacteriana ou uma alga eucariótica. Os mais velhos fósseis prováveis de Grypania datam de cerca de 2300 milhões de anos atrás (redatados dos 1870 milhões anteriores) e o mais jovem estendeu-se até o período Ediacarano. Isso implica que o intervalo de tempo desse táxon se estendeu por 1200 milhões de anos.”
Para o trabalho divulgado:
Albani, Abderrazak El; Bengtson, Stefan; Canfield, Donald E.; Bekker, Andrey; Macchiarelli, Roberto; Mazurier, Arnaud; Hammarlund, Emma U.; Boulvais, Philippe; Dupuy, Jean-Jacques (2010-07-01). "Large colonial organisms with coordinated growth in oxygenated environments 2.1 Gyr ago". Nature. 466 (7302): 100–104. doi:10.1038/nature09166. ISSN 0028-0836. PMID 20596019
Maxmen, Amy (2010-06-30). "Ancient macrofossils unearthed in West Africa". Nature News. doi:10.1038/news.2010.323
Sobre o pesquisador principal: https://en.wikipedia.org/wiki/Abderrazak_El_Albani
Retornando ao ponto de meu amigo Marino, a pergunta que tem de se fazer aos criacionistas é:
De que vida (então) eles estão falando?
Percebamos que a taxa de formas de vida inteligente na Terra, incluindo aqui todo o clado primata, não pode ser afirmada além - forcemos o argumento - além de 65 milhões de anos de um histórico da vida de 3,8 bilhões, ou seja 1,7% do tempo das formas de vida sobre a Terra, e isso apenas em um clado de centena de milhões de espécies já existentes, obviamente em grande número já existentes.
E logo, essa vida, seja qual for, tem-se de perguntar:
Esse “ajuste fino”, apenas aqui na Terra, se dá em qual momento na história? Ele vale para qual período?
Para uma análise mais detalhada dos erros e falácias desse argumento, recomendamos:
Argumento do Ajuste-fino - Naturalismo Wiki
https://naturalismo.fandom.com/pt-br/wiki/Argumento_do_Ajuste-fino
Nos nossos ar quivos:
https://docs.google.com/document/d/1JNB7Mc0mGLzYPe8-wIs4UXXfpgRiHh1OXEXHkqLuyRQ/edit?usp=sharing
Estamos todos conectados, entre nós, biologicamente; à Terra, quimicamente e ao Universo, atomicamente.
Não somos melhores do que o Universo. Somos parte dele.
― Neil DeGrasse Tyson
"Clausura cognitiva: espaço ocioso entre orelhas de burro." - @bschopenhauer
E os que citam versículos
com chatice implacável,
de maneira imperdoável,
moem meus testículos!
― Francisco, O Herege (o personagem que criei ainda nos tempos da rede social Orkut)
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