terça-feira, 2 de março de 2021

Holismo, acaso e falsos dilemas - 1

  

Holística em modelos científicos - 1






Dicionário do Google: Holístico / Holística: relativo a holismo; que busca um entendimento integral dos fenômenos; holista.


A trivial Wikipédia: Holismo (do grego holos: "inteiro" ou "todo"), também chamado Não Reducionismo, define que as propriedades de um sistema (organismos) não podem ser explicadas apenas pela soma dos seus componentes, onde o sistema total determina como se comportam as partes, conforme Jan Smuts e, a Metafísica de Aristóteles. - pt.wikipedia.org - Holismo 


De um antigo debate ainda dos tempos do Orkut, aqui, numa versão menos nervosa e mais formal.


Antes, algo sério sobre o tema:


CARNEIRO, Antônio Lineu; CARNEIRO, Sônia Maria Marchiorato. Reducionismo e holismo como perspectivas metodológicas da investigação ecológica. Educ. rev.,  Curitiba ,  n. 12, p. 13-17,  Dec.  1996. - www.scielo.br  


Destacamos:

“As abordagens holísticas surgem hoje como uma perspectiva nova de estudo na Ecologia, apesar de conceitos que têm origem no passado, como o de que os organismos e os ambientes - tais como o homem e a natureza - formam uma unidade. Deste modo, a concepção holística, global, não é inteiramente nova nas ciências naturais. Esta concepção, de outra parte, deu origem a uma das teorias polêmicas da Ecologia atual, que é a teoria Gaia - lançada por James Lovelock (1979), em colaboração com Lynn Margulis. Nesta teoria a Terra é concebida como um ser vivo: um gigantesco conjunto orgânico de processos biológicos e fisioquímicos auto-regulados, no qual tudo é e todos somos Gaia (nome que os antigos Gregos, em sua cosmovisão holística, davam à Terra como divindade). Tal abordagem, já em sua origem clássica oriental, é uma reação à fragmentação e dissociação geradas pelas investigações de enfoque reducionista. As idéias de totalidade, interconexão, integração e unidade são fundamentais ao pensamento holístico, que se caracteriza por partir de um espaço indeterminado para estudar os fenômenos, reconhecendo as coincidências significativas (o sincronismo) ou o princípio das conexões acausais ou, ainda, a transcausalidade, segundo Progroff. “



Elizabeth Teixeira. REFLEXÕES SOBRE O PARADIGMA HOLÍSTICO E HOLISMO E SAÚDE. - www.scielo.br 


Destacamos:

“O paradigma holístico emerge de uma crise da ciência, de uma crise do paradigma cartesiano-newtoniano, que postula a racionalidade, a objetividade e a quantificação como únicos meios de se chegar ao conhecimento. Esse paradigma busca uma nova visão, que deverá ser responsável em dissolver toda espécie de reducionismo. A holística força um novo debate no âmbito das diversas ciências e promove novas construções e atitudes. O planeta terra está doente, seus habitantes enfermos e seu habitat poluído e contaminado. Urge uma nova atitude, novos habitantes e novos modelos de ser/fazer ciência”



Outra abordagem séria do problema:


Reducionismo e holismo, artigo de Roberto Naime - www.ecodebate.com.br


Nos nossos arquivos: Roberto Naime - Reducionismo e holismo 


“Como o reducionismo e o holismo possuem finalidades semelhantes, a compreensão dos fenômenos da natureza e do homem, e estas abordagens são complementares. Tal proposição é evidente, embora ainda possa parecer que haja competição entre holistas e reducionistas e seus processos de aquisição de conhecimento.


O reducionismo adota a premissa de que a natureza pode ser explicada com resultante de fenômenos físicos e químicos. A natureza é entendida como o comportamento dos seres vivos e suas relações com o ambiente, incluindo o comportamento humano. Essas bases conceituais foram inicialmente introduzidas por Galileu e Newton, sendo incorporadas posteriormente na essência do método científico (SARAVIA, 1986).


O entendimento é buscado pela decomposição dos fenômenos e entidades complexas em partes cada vez menores e isoladas, de forma a se adquirir o conhecimento de como são feitas e funcionam (CASTRO et al., 1998). Como estratégia de pesquisa e base para planejamento de experimentos, cujo objetivo seria o entendimento do funcionamento dos componentes de um sistema, o reducionismo tem sido muito mais bem-sucedido, sendo um complemento indispensável para o avanço do conhecimento da natureza.


Nesse caso, o reducionismo complementa o enfoque sistêmico ou holismo, consubstanciado pela Teoria Geral dos Sistemas (BERTALANFFY, 1950) de desenvolvimento recente e cuja aplicação na pesquisa é recente. O reducionismo tem desempenhado papel importante no avanço do conhecimento, em todos os campos do saber.


[...]


Foi um biólogo, o alemão Ludwig von Bertalanffy, quem inicialmente estabeleceu a chamada Teoria Geral dos Sistemas (BERTALANFFY, 1950; 1972) e posteriormente, em diversos artigos e foros científicos, ajudou a consolidar esta nova ferramenta do método científico.


A motivação principal era a busca de novas princípios, que fossem mais aplicáveis ao estudo dos seres vivos, menos contaminadas pela rigidez das leis da física clássica newtoniana, e portanto mais favoráveis ao conhecimento da suas complexas relações e interações. As interfaces entre as ciências sociais, a física e a biologia, que não eram consideradas.“


O ódio falacioso a um falso “não-holismo”


Já assistimos aos criacionistas e outros (como, por exemplo, “defensores de terapias alternativas” pseudocientíficas em Medicina) partirem para uma choradeira por uma “holística” (uma abordagem holística) para que se justifique a Ciência não poder sustentar um Materialismo Filosófico (coisa que não é seu objetivo) e tenha de aceitar no seu Materialismo Metodológico (que é seu método claro) a hipótese de certos passos serem fruto do sobrenatural ou de mecanismos misteriosos e jamais identificados.

Claro que o sobrenatural não é sequer hipótese válida, mas o objetivo desse ataque à Ciência se mostra algo que trata-se de uma falácia de apelo à ignorância nos moldes da “argumentação negativa” apresentada por Orr e outros à argumentação do design inteligente: se a Ciência não pode tratar todos os fenômenos em conjunto ou não os conhece na íntegra, do mínimo da intimidade da matéria até o máximo da escala do universo, em todos seus processos, e em especial da vida, esquecendo certos passos de fenômenos na história desses objetos, então a Ciência é falha em abraçar seu Materialismo Metodológico e, “portanto” ,a ação sobrenatural existe (seja dos atos de criação de uma divindade, seja das estruturações moleculares no maquinário celular do design inteligente dos moldes de Behe e outros, seja nos fenômenos das terapias alternativas, como as “energizações” pelas imposições das mãos, pelo “poder” dos cristais, pelas ações não claras da acupuntura, pelas “potencializações” e manutenção das formas moleculares da homeopatia, etc.

Quanto aos aspectos gerais da falácia, pegamos por exemplo, ao se discutir a evolução dos seres vivos e seus mecanismos, exigir o conhecimento da formação da primeira forma de vida, a origem da vida, ou mais tecnicamente a biopoese, talvez o exemplo mais clássico.

Outro exemplo é ao se discutir a formação do sistema solar, exigir os mecanismos mais profundos dos primeiros passos de evolução do universo, as primeiras mínimas frações de tempo de conformação mais primitiva do universo, em mecanismos que não relacionam-se em coisa alguma com a formação de estrelas muito posteriores (gerações posteriores), como é o Sol e a agregação dos planetas, num universo de 13,7 bilhões de anos para um sistema solar e nossa Terra de 4,56 bilhões de anos de idade.


Assim, os discursos de se exigir "holística" em modelos científicos dessa forma falaciosa é lamentável.


É como tentar discutir a produção de carros tendo que, necessária e obrigatoriamente, ter de também discutir a produção de aço, borracha, vidro e plásticos.


Criacionistas insistem, assim como os que negam a mente como mecanicismo cerebral, na peculiar falácia de que, por similaridade, um carro em movimento, com o motor funcionando, não seja feito de metal, borracha, vidro e plásticos, e portanto não pode ter seus mecanicismos.


Há apelos desnecessários à Mecânica Quântica (e qualquer campo da Física ou mesmo de Ciência), que não explicam a divindade consciente nem mesmo dualismo mente-cérebro (ou alma / espírito, como queiram).


Caminhos teológicos destes são, sobre toda análise, mistificação barata ou charlatanismo.


A evolução, o fato (processo), e a Teoria (Sintética) da Evolução, o modelo que o trata, se sustentam independentemente de modelos mais profundos e "anteriores", como a Biopoese e a Bioquímica, e estas, da Química e da Mecânica Quântica e a própria origem das partículas que tudo compõe.


Este tipo de discurso de "sempre mais para o fundo e para trás" é típico de amadores sobre o tema, ou crédulos tentando discutir o que ‘acham’ que conhecem.


Modelos podem ser construídos pelas evidências mais próximas, sem a necessidade de uma "teoria de tudo" (e do conhecimento da história de tudo).


A história das espécies, na Paleontologia, pode ser tratada sem que se saiba, nem a totalidade (no tempo), nem a amplidão (no espaço) das formas de vida do passado. Basta aquilo que se mostra, e constituir-se, especialmente neste campo, do cladograma (“árvore”) de determinado "clado" ou conjunto de "clados".


Por similaridade também, seria o mesmo que para conhecer-se o processo de produção de um carro, ter-se de conhecer a história de cada átomo de ferro de seu aço, desde a formação em estrelas de gerações anteriores ao Sol.


Observação: Seguidamente encontramos algum infeliz querendo discutir Biopoese e Evolução com base em "teologia",normalmente, mais uma repetição de fideísmo a doutrinas de alguma denominação menor e características pregações repetitivas de pastores com orientação fundamentalista.

De um de meus personagens, “Francisco, O Herege”:


“Nada se faz no criacionismo a não ser jogando sombras na evolução.”



O sempre odiado “Acaso”


Uma anotação sobre “aleatoriedade” e evolução:



Num sentido amplo, mutações são aleatórias pois sua origem está, entre outros fatores, na aleatoriedade do universo inteiro, nas radiações, nas partículas ionizantes, oriundas do caos que é o universo (sistema mais multiparticulado de todos) e da Mecânica Quântica.


Mas num sentido estrito, não se pode afirmar que a mutação de um gene seja aleatória (com o sentido de caos produzível) em si, pois ao que parece, os marfins de um elefante não transformam-se em chifres, "miraculosamente".


Mas que o sistema todo é ao acaso (dotado de uma aleatoriedade objetiva [Nota]), é uma obviedade, e as evidências estão aí, e a teoria — e evidências — da Química Quântica com isso corrobora. Mas como todo sistema na natureza, apresenta certos limites de comportamento (vide chifres e marfins acima) e trata-se no caso dos crias, de apenas tentar distorcer um conceito extremamente complexo.


Nota:


“A aleatoriedade objetiva de Epikuros [Epicuro de Samos] é a aleatoriedade da ausência de causas, é aquela associada a estruturas e processos que não são determinados por nenhuma causa, que negam todo recurso a antecedentes; uma estrutura com aleatoriedade objetiva é impossível de descrever completamente; um processo aleatório objetivo tem comportamento impossível de se prever e controlar, e se o repetirmos a partir de estados iniciais e causas idênticas produzirá efeitos diferentes que são determinados de um modo totalmente ao azar.


Exemplos são a desintegração de um átomo radioativo e a emissão de um fóton por um átomo excitado; não existe nenhum modo de prever o momento exato de ocorrência de tais fenômenos.” 

— Tipos de Aleatoriedade - www.mat.ufrgs.br 

Nos nossos arquivos: Tipos de Aleatoriedade - Mat UFRGS

 

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