quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

O Universo Sem Início

O Modelo do Estado Estacionário

O Modelo do Estado Estacionário (ou Teoria do Estado Estacionário) propõe um universo que não tem princípio nem fim, permanecendo essencialmente o mesmo em qualquer ponto do tempo ou do espaço. Proposta originalmente em 1948 por Fred Hoyle, Hermann Bondi e Thomas Gold, a teoria surgiu como uma alternativa elegante ao que Hoyle pejorativamente chamou de "Big Bang".



1. O Princípio Cosmológico Perfeito

Enquanto o modelo do Big Bang aceita que o universo muda drasticamente ao longo do tempo (expandindo e resfriando), o Estado Estacionário baseia-se no Princípio Cosmológico Perfeito. Este princípio dita que o universo é homogêneo e isotrópico não apenas no espaço, mas também no tempo. Para esses cientistas, um universo que surgiu de um "ovo primordial" parecia uma ideia metafísica demais e cientificamente insatisfatória.

2. A Criação Contínua de Matéria

Para conciliar a expansão observada do universo (descoberta por Edwin Hubble) com a ideia de que a densidade deve permanecer constante, a teoria propunha algo radical: a criação contínua de matéria.

  • À medida que as galáxias se afastam, nova matéria (geralmente átomos de hidrogênio) surgiria espontaneamente no espaço vazio.

  • A taxa necessária para manter o equilíbrio seria baixíssima: cerca de um átomo por metro cúbico a cada bilhão de anos, tornando-a quase impossível de detectar diretamente.

3. O Declínio da Teoria

O modelo começou a perder força na década de 1960 devido a duas descobertas fundamentais:

  • Evolução de Galáxias: Observações mostraram que galáxias distantes (que vemos como eram no passado) são diferentes das galáxias próximas, provando que o universo muda com o tempo.

  • Radiação Cósmica de Fundo (CMB): Em 1964, a detecção do "eco" térmico do Big Bang foi o golpe final. O Estado Estacionário não conseguia explicar a existência dessa radiação uniforme em todo o céu de forma convincente.


Extra


Um filme inspirador


O insight para o Modelo do Estado Estacionário não veio de um laboratório, mas de uma sessão de cinema em 1948.

O Filme: The Dead of Night 

Os três proponentes da teoria — Fred Hoyle, Hermann Bondi e Thomas Gold — foram assistir a um filme de terror britânico chamado The Dead of Night. O filme é uma obra de antologia com várias histórias de fantasmas, mas o que os fascinou foi a sua estrutura narrativa.

O filme termina exatamente da mesma maneira que começa. É uma narrativa circular: o protagonista acorda de um pesadelo, apenas para descobrir que os eventos do pesadelo estão começando a acontecer novamente na vida real, criando um ciclo infinito.

Observação: No Brasil, esse filme costuma ser traduzido como Na Noite do Terror ou mantido como The Dead of Night

O "Momento Eureka" de Thomas Gold

Ao saírem do cinema, eles começaram a discutir a estrutura do filme. Thomas Gold teve o estalo:

"E se o universo fosse como esse filme? Algo que se expande e muda localmente, mas que, em larga escala, sempre volta a apresentar o mesmo aspecto, sem nunca ter tido um início ou um fim?"

A Lógica do Insight

A ideia era que, embora o universo estivesse se expandindo (como o filme que avança na trama), ele permanecia o mesmo porque algo novo estava sempre sendo criado para preencher os espaços (como o ciclo do filme que se reinicia).

  • No Filme: O final leva de volta ao começo, mantendo a história "estacionária" em sua estrutura eterna.

  • No Universo: A criação de matéria compensa a expansão, mantendo a densidade "estacionária" através do tempo.


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