Potencial e Tecnologia: A Transição Cyborg - Cymek sob a Lente Biotecnológica
A possibilidade de um Cyborg evoluir para um Cymek (cérebro humano preservado em um corpo robótico, termo oriundo do universo ficcional de Duna, de Frank Herbert e posteriores) é um exercício fascinante em bionerótica e continuidade biológica, diretamente ligado ao Paradoxo do Navio de Teseu.
O foco aqui não passará por discussões éticas, mas sim a viabilidade biológica e a continuidade funcional através de substituições tecnológicas.
1. O Princípio Biológico da Substituição Progressiva
A transição de Cyborg para Cymek é, em essência, uma aplicação radical da medicina de transplantes e da engenharia de tecidos, levada ao extremo do Navio de Teseu.
Ponto de Partida (Cyborg): Um organismo ainda majoritariamente orgânico (cérebro, coração, pulmões, tronco) com aprimoramentos funcionais externos (próteses, membros biônicos). A identidade biológica reside na grande parte do corpo que ainda é humana.
Processo (O Navio de Teseu): A tecnologia permite a substituição progressiva e funcional de sistemas vitais:
Substituição do coração e pulmões por máquinas de suporte de vida (artificial hearts, blood oxygenators).
Substituição do esqueleto e da musculatura por endoesqueletos e atuadores robóticos.
A cada substituição bem-sucedida, o ser mantém a continuidade funcional e neural. O sistema nervoso central continua a receber e enviar sinais, processando a nova forma de input sensorial e output motor.
Ponto de Chegada (Cymek): O único componente orgânico restante e crucial é o cérebro e parte do tronco cerebral, que abriga a consciência e o sistema nervoso central. Este é o último "pedaço" biológico.
Antes de avançarmos, observemos a relação entre duas perguntas.
Observemos:
Se você for trocando as peças aos poucos (1º um braço, depois um fígado, etc), quando deixará de ser humano?
E se a substituição continuar sobre o cérebro, internamente ao cérebro, quando “esse ser” vira um robô?
2. Desafios Tecnológicos e Neurobiológicos
A transformação é tecnologicamente potencial, mas enfrenta enormes desafios biológicos:
A. O Desafio da Interface Neural
Para a transição para Cymek funcionar, é necessário manter a viabilidade do cérebro fora de seu crânio e corpo original, dentro de um recipiente de suporte de vida (o canister).
Suporte Biológico: O recipiente deve fornecer nutrição, remoção de resíduos, oxigenação e regulação térmica perfeitas para manter os neurônios vivos e ativos.
Interface de Comunicação: O cérebro precisa se comunicar com o corpo robótico externo (o exoesqueleto Cymek). Isso exige uma Interface Cérebro-Máquina (BCI) extremamente avançada, capaz de traduzir a intenção neural (pensamentos de movimento) em comandos de máquina e, crucialmente, reverter os inputs sensoriais do robô (toque, visão, audição da máquina) em sinais que o cérebro humano possa interpretar como experiência sensorial.
B. Continuidade e Plasticidade Biológica
O cérebro humano é notavelmente plástico. Se as partes são substituídas gradualmente, o cérebro tem tempo de se adaptar aos novos inputs e outputs (o motorista que se acostuma ao carro, mas levado à escala do corpo).
A pergunta biológica do Navio de Teseu se torna: O cérebro se adapta a ser apenas uma unidade de controle, ou a perda progressiva de interações orgânicas (hormônios, propriocepção biológica) altera fundamentalmente sua função, criando uma nova "mente" Cymek?
Tecnologicamente, é a esperança de que a função neural, a consciência e a identidade permaneçam, mesmo que o corpo seja totalmente diferente. A potencialidade está na tecnologia de suporte à vida e na nanotecnologia para interfaces neurais de alta largura de banda.
Um desdobramento
Na minissérie WandaVision, o personagem Visão e sua réplica tem um diálogo sobre o navio de teseu, onde é apresentado um desdobramento: se as partes trocadas do navio forem sendo usadas para montar outro navio, qual deles seria o verdadeiro?
Esse desdobramento - a criação de um segundo navio com as peças descartadas - foi originalmente proposto pelo filósofo inglês Thomas Hobbes no século XVII.
Na aplicação tecnológica e biológica, isso se torna a chave para entender a identidade, a replicação e a continuidade.
O Paradoxo da Dupla Replicação (Hobbes)
Quando aplicamos o cenário dos dois navios (o reformado com peças novas e o reconstruído com peças antigas) à biotecnologia e à identidade, surgem as seguintes questões cruciais sobre potencial e tecnologia:
1. O Visão Original vs. O Visão Branco
A cena de WandaVision fornece a analogia perfeita para a transição Cyborg/Cymek sob o prisma da identidade:
Navio Reformado (Visão Original de Wanda): Possui as memórias, a personalidade e a consciência do Visão, mas é construído de magia (ou seja, não possui nenhuma peça material original). Ele tem a continuidade funcional e psicológica.
Navio Reconstruído (Visão Branco): É construído com as partes materiais originais (o corpo de Vibranium), mas sem as memórias e a personalidade. Ele tem a continuidade física e material.
Conclusão Tecnológica:
No contexto de Cyborgs, isso sugere que a continuidade material é menos importante que a continuidade de dados/função.
2. Implicações para a Transição Cyborg - Cymek
Se um Cyborg passa pelo processo do Navio de Teseu para se tornar um Cymek, substituindo suas partes orgânicas por robóticas:
O Novo Cymek: Mantém o Padrão/Forma e a Consciência. Ele é o Navio Reformado — a identidade é preservada apesar da mudança radical de material (orgânico para mecânico).
A Réplica Biomimética: Se alguém pegasse os órgãos descartados do Cyborg (as partes originais) e os usasse para reconstruir o corpo original, esse novo ser (a réplica) teria a continuidade material, mas sem a mente original (a menos que a mente fosse duplicada, o que é outro paradoxo). Ele seria o Navio Reconstruído.
O Potencial Tecnológico: O desafio biológico e tecnológico não está apenas em manter o cérebro (o Navio Reformado) vivo, mas sim em garantir que não haja vazamento ou cópia do padrão de dados para criar uma réplica (o Navio Reconstruído), pois isso resultaria em duas identidades funcionais e distintas, mesmo que apenas uma possua o material original.
Em última análise, o debate entre os dois Visões (e os dois navios) sugere que, na era da cibernética, a identidade funcional (o software e a mente) supera a identidade material (o hardware e o corpo).
Definições
Bionerótica
A Bionerótica não é um termo cientificamente ou academicamente padronizado na biologia ou engenharia atual, mas é um termo amplamente utilizado em contextos de ficção científica, especialmente em videogames (como Mass Effect) e literatura, para descrever um campo de estudo ou tecnologia muito específico.
A Bionerótica é um campo de estudo ou tecnologia hipotético que se concentra na integração, manipulação e potencialização de sistemas biológicos utilizando componentes e princípios da energia (ótica, térmica, elétrica) e da engenharia.
É essencialmente a engenharia de sistemas biológicos com foco na energia, na comunicação de dados e na sua fusão com componentes não biológicos.
O que a Bionerótica Abrange (Contexto Ficcional/Potencial)
Manipulação Bioelétrica: Envolve o estudo e a utilização dos campos bioelétricos de um organismo para fins além da função natural, como gerar campos de força, descarregar energia ou potencializar a comunicação neural.
Aprimoramento Óptico/Neural: Criação de interfaces neurais avançadas (BCIs) que não apenas se comunicam com o sistema nervoso, mas o otimizam, talvez usando luz (ótica) ou energia direcionada para aumentar a velocidade de processamento de dados e a comunicação sináptica.
Sistemas de Energia Integrados: O desenvolvimento de fontes de energia autônomas e miniaturizadas que são integradas diretamente ao corpo do Cyborg para alimentar seus aprimoramentos, aproveitando, por vezes, a própria energia química do corpo.
Engenharia de Tecidos Potencializada: A criação de tecidos ou órgãos bioengenheirados que possuem capacidades elétricas ou ópticas aprimoradas além da natureza humana, como músculos que geram pulsos eletromagnéticos ou olhos que detectam espectros de luz muito mais amplos.
Em suma, enquanto a Cibernética lida com o controle e a comunicação em organismos e máquinas (o "Cyborg"), a Bionerótica se concentraria mais na energia e no potencial de poder derivado da integração biológica e tecnológica.
“Ciborgue de substituição total”
No filme e respectivo mangá Alita: Anjo de Combate, Alita ("Gally" na versão original em japonês, e em vários outros países) é definida pela expressão “ciborgue de substituição total”, apenas seu cérebro é biológico (o que gera uma certa contradição no termo, perceba-se) - pt.wikipedia.org - Gunnm
Cymek
Um Cymek era uma forma avançada de máquina pensante que outrora fora um humano vivo, mas que em algum momento fora convertido em um ciborgue: um corpo robótico controlado por um cérebro humano herdado. Eles viveram cerca de dez milênios antes do estabelecimento da Guilda Espacial.
O cérebro humano do Cymek era mantido em um recipiente de preservação preenchido com eletrofluido. Nesse estado, e com manutenção frequente, o cérebro podia viver por dezenas de milhares de anos e controlar corpos robóticos intercambiáveis através de dispositivos mentais. - dune.fandom.com - Cymek
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