quinta-feira, 20 de maio de 2010

Visões da ciência assistindo-se The Big Bang Theory

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Entre os diversos personagens (aqui, um tom de absoluto deboche) que conheci pelo ORKUT, colecionei algumas conceituações, frases, afirmações, análises e opiniões que merecem ser emolduradas, e se bem exploradas, poderiam gerar um sitcom.

Recentemente, somou-se a esta coleção uma maravilha do "acho que entendo disso" (ainda, que na verdade, é bem possível que o autor realmente considere-se uma autoridade no que afirma):

As ciências, incluindo entre elas a lógica e a matemática, que são construídas sobre evidências materiais.

Esta lembrou-me outra, coletada anteriormente:

Como toda ciência, matemática é antes de tudo empírica e o zero é uma dedução visual e geométrica.

Leia de novo, caro leitor. Leia atentamente. Uma das coisas que aprendi ao longo dos anos que os maiores desreferenciados de qualquer campo são exatamente aqueles que dizem as maiores besteiras com os mais elaborados discursos, e as vezes, com as rendas rotas do mais empolado comportamento blasé.

Sinceramente, prefiro algumas das maiores autoridades que conheci nas áreas que atuavam, apresentando coisas complexas, muitas vezes com meia dúzia de palavrões, e ao meio de demonstrações longas e feitas "a sangue frio", com 'giz sobre quadro', percebendo que tinham cometido um erro, retornavam ao ponto em questão e humildemente refaziam seu trabalho.

Seguidamente, em especial no caso da segunda frase "pérola" acima, sempre está disponível alguém realmente habilitado no ramo que despeja um comentário até educado, e mais que tudo útil, como na ocasião, Fernando, um matemático: -Quem leu isso e achou que deveria levar a sério por favor não leve. Esta frase distorce tudo o que significa realmente fazer matemática.

Repetidas vezes tenho divulgado aqui que matemática é linguagem lógica sobre axiomas, não é ciência no sentido popperiano, logo, não pode ser empírica. Aliás, qual seria, após uma demonstração inequívoca, o sentido de se submeter ao falseamento a "hipótese" de que a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa? Ou que a raiz quadrada de dois é um irracional? Teríamos de testar outros números dois, medir outros quadrados? Verificar se realmente são quadrados?




Uma demonstração geométrica do teorema de Pitágoras e um dos momentos gloriosos dos nerds.


Para entender-se estas e outras questões, recomendo boa parte de O Último Teorema de Fermat, de Simon Sigh ou em caso de desejar-se aprofundar, os trabalhos de CHAITIN, atual "papa" sobre a questão da separação definitiva entre Física e Matemática, que é outro ponto que seguida, e deveria dizer insistentemente, levanto.

Mas não sejamos repetitivos e avancemos sobre outros campos.

A ciência, a meu ver, hoje, funciona como um instrumento ótico, como um microscópio, com três objetivas claramente distintas.

A primeira, focada no macro dos macros, o universo como um todo, que usa destacadamente da astronomia em suas hoje diversas ferramentas, que há muito ultrapassaram o apenas visível e tenta entender o maior objeto que se pode tratar no limite do que possa ser examinado para afirmar e modelar como este se comporta. Suas conquistas: já conseguimos dizer como o universo muito certamente é, seguramente como se comportou nos últimos 13,7 bilhões de anos, com exceção de um pequeno intervalo de tempo inicial e muito provavelmente, como se comportará no futuro.

Ainda não entendemos nem como, no íntimo, tal comportamento é causado (a energia escura) e não sabemos exatamente o que seja boa parte do que o compõe (a matéria escura).

Por um linguajar mais metafórico, tocamos como cegos na tromba, nos marfins, nas patas e nas normes orelhas, avaliamos a grossa pele e sabemos exatamente que é um elefante, embora, como cegos, não saibamos nem sua real cor nem quase nada de seu metabolismo, tirando sua temperatura superficial.

Numa linguagem mais matemática ou geométrica, temos um setor de superfície, e podemos afirmar que é uma superfície curva, até que é côncava ou convexa, temos até sua angulação precisa, mas não temos o formato geral do objeto de onde ela foi extraída.

Por estas e outras, é extremamente perigoso afimar-se coisas sobre o "tudo", seja no todo de seu conjunto, seja na totalidade de sua existência no tempo. O terreno da cosmóloga completamente tarada Dra. Elizabeth Plimpton, hóspede recente da dupla principal da sitcom é, pela sua proximidade com a Filosofia, tão escorregadio quanto são suas paixões.

Onde trata-se dos componentes do que julgamos como o tudo, como são as estrelas e os demais corpos celestes, nosso conhecimento já as trata em quase mínimos detalhes, e nos restam poucas lacunas, como por exemplo aformação de planetas ao redor de determinadas estrelas degeneradas, como as estrelas de nêutrons. O terreno da Astrofísica*, o terreno de pesquisa do sedutor indiano (apenas quando bebe) Raj Koothrappali está entre os mais abrangentes e bem estruturados campos da ciência. Exatamente por ele, podemos inclusive determinar com segurança as distâncias das galáxias, exatamente pelo estabelecimento de "velas padrão", com supernovas de tipos específicos, que explodem nas mais distantes galáxias.

*Que repito sempre, deveria se chamar Astrologia, mas outra pseudociência roubou o nome antes - e não devolveu.


Um quasar e o poder de Raj.


Outra objetiva é microscópica, e procura tratar do que seja o "mínimo", até na esperança que com este possamos tratar, simultaneamente com o estudo do que seja o "máximo" e suas relações, o "tudo". A ciência se debruça (quando não pisoteia), até porque dele necessita, sobre a mais concebível e possível ausência de todas as coisas: o que seja o vácuo, o vazio, e de preferência, a caminho do "nada".

Este estudo depende de enormes exercícios de força (energia) para obter o que modelos físico-matemáticos, aquilo que Sheldon, o hilário personagem que claramente tornou-se central em The Big Bang Theory considera que o coloca acima de todos os demais seres humanos. E sabemos que ele demonstraria isso, até matematicamente.

O problema é, que como também repetidamente martelo nas cabeças alheias, a Física é apenas "matematicalizável", como gosto de dizer, mas não é a matemática. A maneira de Sheldon, podemos escrever equações e mais equações em uma lousa, com os mais coloridos pincéis atômicos (este nome sempre me foi engraçado). Estas equações e seus resultados, jamais poderão ser afirmadas como o exato comportamento da natureza, muito menos de sua composição íntima e final.

Como também repito seguidamente, o construtivismo em Matemática como transponível para Física está morto e enterrado, com pás e pás de cal em cima de seu cadáver em Filosofia das Ciências e Teoria da Informação. Estamos na era definitiva do formalismo. Expliquemos isso por outra via, usando de nossos amigos nerds.

Sheldon pode configurar as mais belas, exatas e coerentes equações em seus escritos. Sem a ação experimental de Leonard Hofstadter, em sua opinião o "ser inferior" com que divide o apartamento, ou da física Leslie Winkle, que seguidamente inclusive lhe corrige equações, sem determinado apoio observacional dos amigos astrônomos de Raj, jamais vai poder afirmar que aquilo seja a "verdade" (que é coisa, como lembra Indiana Jones, tratada nas aulas de Filosofia). Assim, a equação perfeita, isolada da evidência, da verificação, de se submeter ao experimental e neste o falseamento, é como belo e poderoso anel, na mão de homenzinho maltrapilho, séculos escondido dentro de uma caverna escura, nem mesmo produzindo sombra alguma.


Teoria pura e experimentação, ainda que em enorme escala, Sheldon e Leslie, duas abordagens não concorrentes, mas complementares.


Da mesma maneira que Sheldon descobriu ao olhar-se segurando um dos anéis do filme de Peter Jackson, quando nos tornamos obcecados pelo círculo vicioso das contruções lógico-matemáticas sobre construções lógico-matemáticas, tornamo-nos monstros, e dos menos temíveis, apenas repulsivos.

As sombras que a física teórica, e qualquer outra ciência, produz, devem ser levadas à luz do mundo e comparadas com os reais objetos e fenômenos que tentam tratar, e se felizes, estabelecem-se como um modelo a ser, pelo menos temporariamente, usado. Mas de maneira semelhante aos habitantes da caverna de Platão, não temos acesso pleno ao que seja realmente a perfeita imagem dos objetos, e muitas vezes, nem de o vermos, como o elefante do cego acima.

O ciclo potencialmente infinito de construção e demonstração de conjecturas e teoremas em matemática, seja a partir de que conjunto de axiomas forem, seja a partir de que lógicas específicas forem usadas é incapaz de garantir que um elétron sob determinada situação irá para a esquerda ou para a direita, ou mesmo se puder fazer isso, não permitirá determinar se nele não há, com absoluta certeza, um outro componente que é o que determina sua massa, e assim interminavelmente.

Para a felicidade dos pesquisadores experimentais, inicialmente em Física, e consequentemente em todas as ciências formais dela decorrentes e dependentes, estamos na era da falseabilidade, de Popper, do Modus Tollens e da "estrutura de afirmações científicas", a maneira de Kuhn.

Em termos mais técnicos, e esta frase poderia ser proferida talvez no almoço por Sheldon (e até para ele), a era de Metafísicas a partir de lógicas sobre sensos comuns está morta e enterrada. Como foi dito brilhante e hilariamente por Leonard para a graciosa Penny, e espero conseguir repetir aproximadamente: -Desde os anos trinta conseguimos desenvolver inúmeras teorias lógica e matematicamente sólidas, mas nenhuma delas conseguiu resolver problema algum.

Mas seguidamente, brotam Sheldons pelo mundo (alguns não tão capazes), com a noção de que a natureza seja matemática, geométrica ou algébrica em si, e que isto basta, esquecendo que ela é natural, e nossas premissas no seu tratamento são apenas postulados científicos a partir de observações de fenômenos, nada mais. O resto, como dizemos, é esperneio de leigos (por mais preparados em física-teórica que sejam, mesmo com a ajuda de Nosso Senhor Jesus Cristo, como deve dizer a mãe de Sheldon).



Já vi quem diga que "matemática pela matemática é um divertimento, e não uma necessidade". Não pode ser afirmada besteira maior. Teorizações em Física, e suas consequentes aplicações em tecnologia e na geração de riqueza, seja expressa na forma como esta for, só são possíveis a partir de formalizações matemáticas puras. Portanto resta esperança para até os matemáticos puros no mundo científico em si, uma tradição do século XIX, dos quais um dos maiores expoentes é Einstein. A Física seguidamente esbarra na ausência de determinadas ferramentas matemáticas, como esbarrou na necessidade do desenvolvimento do Cálculo Vetorial para posteriormente permitir a Teoria da Relatividade. Hoje esbarra em diversos problemas, e exige que os matemáticos "puros", desenvolvam ferramentas para que nos problemas físicos sejam aplicadas.

Sugestão: Na série, Sheldon deveria ter como grande paixão, uma matemática ou filósofa, só para torturá-lo.

Mas o instrumento ótico que descrevi tem uma terceira objetiva, e aqui surge, para a sua vingança, o mais que caricato engenheiro Howard Wolowitz, com sua tonitroante e misteriosa mãe. O terreno dos sistemas multiparticulados, caóticos e intratáveis de maneira exata, fisicista, sheldoniana, e que não são rajnianos para estarem distantes no espaço, não são leonardamente colocáveis nas nossas bancadas para centenas de experimentos, que por sinal, são praticamente todos os objetos e sistemas do mundo que cerca o humano.


Howard, provavemente, segundos antes de ser informado que seu sistema de dejetos falhou novamente.


Por isto mesmo, as grandes empresas de software de planejamento, quando não as próprias empresas de algum porte, sem se falar dos governos, gastam milhões com equipes de matemáticos, somente para aplicações de matemática pura, visando terem ferramentas que tratem nem que seja de maneira aproximada seus problemas, e pouco interessa que na semana que vem, tal modelo tenha de ser modificado, ou mesmo completamente abandonado e substituído de cima para baixo.

A maneira que os engenheiros vêem o mundo é a da aproximação, dos coeficientes de segurança. Não nos** interessa a exata coluna da exata medida que sustente a exata viga da exata laje. Fazemos a coluna umas dez vezes maior que o necessário suportando uma viga cinco vezes maior que o necessário suportanto uma laje o dobro da necessária, pois sabemos pelas nossas equações completamente empíricas, mas que funcionam, que ais cedo ou mais tarde, algum Raj bêbado vai bater na coluna inexata, algum Leonard vai querer um equipamento 50% mais pesado em cima dela e alguma Penny vai querer mudar a decoração.

**Sim, eu pertenço aos "loompa-loompa da ciência", como chama Sheldon os engenheiros.



Ao nosso lado estão os físicos empíricos, de objetos triviais, como os sistemas turbulentos e os diversos fluidos, como os gases, o ar, os ventos, as correntes, os fluxos dos rios (aquelas bobagens que chamamos de águas, esgotos, geração de energia). Aqueles que lidam com calor, que é coisa que sem determinado volume de testes, e este número é enorme, não funciona. Os ferreiros e oleiros da tecnologia, que são os desenvolvedores de materiais, que martelam metais pré-historicamente conhecidos para transformá-los em peças inimagináveis há 10 anos, que insistem na loucura que é transformar algo que o sem visão chama de um tijolo e no máximo um caco de porcelana em um abrasivo incomparável, uma lâmina afiadísima, uma peça praticamente a prova de desgaste ou um supercondutor. Os cozinheiros da ciência, que são os químicos, que a partir de previsões razoáveis, testam e testam, dias e noites a fio, tanto do que se compõe determinadas coisas como compor determinadas coisas que antes não existiam, seja para adicionar à alimentos, eliminar pragas ou uma trivial cura de doença até então não curável. Coisas banais, do nosso dia a dia.

Aqui, junto a nós, colocamos a enorme família dos trabalhadores das ciências biológicas, desde a aparentemente matemática e exata genética até os especializados na biologia de determinado primata superestimado em importância, os médicos, pois a meu ver, não existe ciência mais complexa no todo que a biologia, e por isso mesmo, como diria o grande Mayr, é única.

Pensamos em um mundo funcional, não exato. Somos Kuhnianos por natureza, e pensamos que qualquer comentário sobre Kuhn e citações sobre ferro aqui será uma ofensa, embora pretendemos que o lado bom de sermos práticos, acima de tudo, seja considerada uma virtude.

BAZZINGA!





Alguns anexos

Alguns simpáticos e suaves como os filosofares de Raj quando bêbado, outros aos berros como os da mãe de Howard.





Relatividade e sua aplicação

Durante muito tempo, a Relatividade, mesmo como teoria física pura, só foi uma curiosidade e fonte de tratamentos sem grandes aplicações práticas, como a Cosmologia.

A sua aplicação mais evidente, nos reatores e armas nucleares, vinha de uma consequência do equivalente energia-matéria, da Relatividade Geral. Mas isto não era uma aplicação em si da relatividade, muito menos, da Relatividade Especial, ou, como até einstein gostava, "Teoria dos Invariantes", por causa de seus dois postulados.

Mas os GPS não funcionam sem correções relativísticas, logo, não existe navegação hoje, sem a Relatividade a corrigir defasagens espaço-temporais de longa duração a altas velocidades. Mas a relatividade, lá na sua origem, só existe graças ao desenvolvimento do Cálculo Tensorial.

Logo, por estas e muitas outras, sem matemática pura, sem física. Sem física, sem tecnologia. Sem tecnologia, sem produção de bens e serviços.




Vácuo


Não existe o que seja vácuo absoluto em Física a partir de um determinado nível de tratamento.

Mesmo mais absoluto vácuo de partículas mássicas ou bósons está sempre preenchido por campos, predominante e claramente o gravitacional, visto que estamos no universo, obviamente.

Em Gravitação em Loop, o espaço vazio, independentemente do campo, está sempre repleto por um grafo espaço-tempo. Mas pouco interessa neste momento esta teorização.

Zero não é nada. Vácuo não é vazio. Vazio ainda sim, não é o que possa se chamar de nada. Aliás, nem mesmo é um espaço euclidiano. Aliás, mais um conjunto de motivos para se entender que Física não é Matemática nem Filosofia e vice versa.

Tanto não é, que o espaço-tempo não pode ser tratado euclidianamente, em divisão infinitesimal por pontos. As propriedades do vácuo, que implicam nas unidades de Planck, caracterizam o vácuo com propriedades de mínima partição, e isto guarda íntima relação com as teorizações da gravidade em loop.


Campo magnético
 
Matemática pura e suas aplicações

Estude-se Economia, Engenharia, ou Administração, profissões que são as principais em termos de ganhos para qualquer ambiente coorporativo ou empresarial e vamos ver se não precisa-se matemática pura sendo ou tendo sido desenvolvida na retaguarda.

Matemáticos "puros" são chamados para resolver problemas de desenvolvimento de embalagens, estruturas, distribuições estatísticas e logística, e disto tem muitas vezes de desenvolver novos campos em matemática.


Empirismo em matemática

Soluções por "empirismo" em matemática são "lindinhas", "quase umas Pennys", mas não resolvem, a depender do sistema, coisa alguma, pois há sistemas de equações, por exemplo, que são instáveis para soluções por Cálculo Numérico, e há problemas, como o "problema do caixeiro viajante" (ou "problema do carteiro") que se levam em conta todas as variáveis, são até isolucionáveis em tempo prático (na verdade, dentro da própria existência do planeta Terra e dos Sol).

Logo, mesmo para sistemas que tenham de ser tratados por cálculo numérico, "chutes", aproximações, etc, de forma alguma soluções por lógica, algebrizações, novas ferramentas matemáticas podem ser desprezados. O método de "La Cochambre" ou método NASCO*** torna-se necessário.

*** Acochambrar, em francês amacarronado, e NAS COxas.

Daí a constante necessidade de se demonstrar novos teoremas, em tentar burlar estas limitações práticas, que é, em suma, a busca de ferramentas mais eficientes, quando não, as únicas que possam ser eficazes.

Existem os que julgam que por cálculos "experimentais", como por exemplo com uma calculadora possa se demonstrar, por uma sucessão de números que se leve a deduzir/induzir uma demonstração inequívoca de uma conjetura, a proposiçao de um teorema.

Aqui existe um erro comum em quem confunde cálculo numérico e seus empirismos com o que seja Matemática pura e seus teoremas. Mesmo uma série eternamente realizada de "experimentos" em cálculo (seja a mão, calculadora ou sofiticados computadores) jamais chega-se a produzir uma conclusão definitiva sobre uma conjectura matemática.

Exemplo: podemos conjecturar, como parece que o fez num segundo momento Fermat sobre a questão de soluções inteiras para x^n+y^n=z^n para n>2 e testar números sem fim nesta proposição.

Mas jamais chegaremos a concluir que definitivamente jamais haverá ou não uma solução em inteiros que atenda a tal equação diofantina. O máximo que concluiremos é que até o momento, não encontramos nenhuma solução.

O mesmo se dá para hoje ainda em aberta conjectura de Goldbach. Testamos enorme quantidade de números pares e concluimos que sempre são soma de dois primos, mas ainda não podemos dizer, obviamente, que não existe número par que não seja formado pela soma de dois primos.

Voltando à conjectura de Fermat, anteriormente chamada até erroneamente de "último teorema de Fermat", hoje melhor chamado de Teorema de Wiles, é conveniente lembrar que Gerd Faltings, lá por 1983, demonstrou que a conjectura de Fermat, para n>2 apresentaria, conclusiva e inequivocamente, finitas soluções (note que finitas, não infinitas, mas não "nenhuma"). E tal foi um feito à época.

E notemos que não por cálculo numérico, que como vimos acima, não prova lhufas alguma.

Como se diz: demonstração é o ídolo frente o qual o matemático se flagela.

Solucionar equações ou encontrar valores interessantes em funções, ou valores de questões de interesse físico, é outra coisa.

Os pares de primos na conjectura de Goldbach.

Sobre números na natureza

Uma pergunta que sempre deve ser feita até a físicos, que insistam que a natureza é matemática e intrinsicamente numérica é:

Qual o valor de comprimento de um metro, numericamente?

Note-se que não queremos saber quanto é o metro comparado a outras unidade de comprimento, como oscilações de um fóton, comprimentos de onda, diâmetros de átomos, etc.*(4) Queremos saber qual o número que o representa.

Sobre isso, devemos lembrar que medida alguma possui representação absoluta em um número puro, mesmo as Unidades Naturais.

Medidas, são pois, sempre comparações. E afirmamos mais:

Na natureza não existe número, nem mesmo o que seja quantidade, a pleno.

Basta entender-se implicações e evidências da Mecânica Quântica, ou fenômenos triviais no quântico, fundamento inclusive da própria origem do universo, como a Produção de Par.

*(4)Note-se, que aqui, sempre se comparou um comprimento, não diferende de meu braço, com outro, ainda que por aí, na natureza.



O metro original e monumental e o comprimento de onda, dois padrões de comprimento, mas jamais um número em si.


Mais uma vez, referenciemos o brilhante trabalho de Chaitin e outros, para quem quiser entender o "nível da arte" de separar-se Física de Matemática hoje:

http://www.cs.auckland.ac.nz/~chaitin/

E destaco:

http://www.cs.auckland.ac.nz/~chaitin/sciamer3.pdf

Não contentes em expressarem-se sobre, digamos, vigas exatas e exatamente por isso inexistentes na natureza, os patologicamente atraídos por certezas em lápis e folhas de papel tem julgado que podem tanto provar suas fés como provar que ninguém as pode possuir de alguma forma*(5).

A respeito disso, faço minhas as palavras de Luc Ferry, filósofo, professor universitário e ex-ministro da educação da França:

- Eu sou descrente, sou agnóstico, mas o ateísmo militante sempre me pareceu absurdo. Primeiro, porque respeito as religiões, mas também porque não se pode evidentemente demonstrar a inexistência de deus mais do que a sua existência.

*(5) Aqui, cuidado, pois quem me conhece sabe o tirano que sou com afirmações de fé que tratem de determinadas definições, diria freudianas, de divindades, especialmente, as dos diversos criacionistas, que tentam colocar deus desde a sua própria biologia até a conecção entre sódio e cloro para produzir sal de cozinha, quanto mais a de seus mais antigos ancestrais, quando não, como ferramenta até para que a mulher de outros tenham os dedos cortados quando pintarem as unhas.

Atente-se para o evidentemente, pois a impossibilidade de demonstração da inexistência da divindade é demonstrável. Mas novamente cuidado, pois a existência de determinadas divindades, como a judaico-cristã dos criacionistas, que nem propriamente é a dos judeus nem dos cristãos em geral, demonstrável como uma tolice completa, quanto mais seus próprios feitos.

Somado a isso, alguns personagens pitorescos, e matemática e física não além do secundário, e mesmo alguns, com forte formação acadêmica, tentam, com idéias em papéis, as vezes com erros já nas primeiras linhas, fazerem considerações sobre desde a objetiva do macro do universo, sua origem única e última, até as mais recôndidas intimidade da matéria, no que eu considero que é o pior tipo de pseudociência que existe, que é aquela que para ser percebida como tal, necessita ser mais cuidadosamente examinada.

Sobre os gênios com idéias velhas e inúteis julgando-as novas e brilhantes, já escrevi:

Fantástico como surge um grande inventor ou um filósofo a cada minuto, que exatamente pela sua ignorância específica, pode contar com a irresponsabilidade e cair no ridículo de tentar construir um moto contínuo ou provar a divindade, apesar dos metros de livros que nunca leu, e séculos de trabalho sério e honesto mostrando o contrário.

Pobres diabos que assinam em baixo da própria soberba infantil.

Portanto, antes de fazerem afirmações e trazerem suas tolices aos nossos olhos e ouvidos, os gênios incompreendidos devem revisar seus conceitos.




Limites e a cruel vida dos químicos

Fui aluno de um mestre brasileiro da Físico-Química, Willy Günther Engel, que foi um dos raros químicos com trabalho puramente teórico que conheci. Ele trabalhava com um tratamento a maneira de Newton, da Mecânica Clássica, da Cinética Química, que é o campo da química que trata desde a velocidade em que se dão reações químicas tão lentas como a corrosão dos melhores aços, até o tipo de combustão especialmente veloz dos mais potentes explosivos, que ocorre internamente às moléculas envolvidas, assim como as triviais reações como a neutralização do hidróxico de sódio com o ácido clorídrico, em meio aquoso, produzindo aquele exótico sal que conhecemos como cloreto de sódio, o detestado pelas moças que sofrem de retenção de líquido, o sal de cozinha.

____NaOH + HCl → NaCl + H2O

Esta reação é tão rápida no meio aquoso que sob certo aspecto, enfrentaria em velocidade as mais violentas explosões. Falta só o detalhe da energia desprendida. Mas sem problemas, pois a combustão de um tanque "maracanã" de refinarias de petróleo, aqueles com até 70 metros de diâmetro, produz tanta energia como algumas reações nucleares, apenas, não no mesmo tempo a caminho do instantâneo.

Cinética química é um campo dos mais difíceis de se afirmar coisas "duras", inflexíveis. Por isso mesmo, quando nós, engenheiros químicos projetamos um sistema de reações e operações físico-químicas (como as de separação, como a destilação), recomendamos que se inicie com uma escala pequena, as plantas piloto, pois temos extrema confiança que não se pode ter plena confiança nos modelos da cinética química e da físico-química, e sempre acontece algum imprevisto, alguma mudança de variáveis intratável denro de um exatismo matemático.*(6) Numa experiência própria, tem sempre uma tubulação, que naquela escala, esfria e permite a cristalização de um determinado fluido, entupindo e travando um sistema inteiro, ou, com notório caso, quando entra o humano, sempre algum estagiário aperta na hora errada o botão errado, muda durante instantes uma temperatura, e onde era para acontecer determinada reação, acontece outra, e onde era para apenas haver a modificação de um gás, passa a haver a formação de um polímero, um plástico no linguajar dos reles mortais que não são engenheiros químicos e químicos, e um reator de centenas de milhares de dólares vira uma enorme rolha de polipropileno.

*(6) Tal como meu mestre Willy fazia, é conveniente usar modelos clássicos e confiáveis sobre o comportamento de experimentos, adaptá-los a novos campos, e não propor modelos completamente teóricos e depois ver se com aquilo se faz o mundo obedecê-los. Por outra via, como ironizou Leonard, os físicos arranjam soluções perfeitas para a criação de galinhas, infelizmente, elas tem de ser esféricas e se encontrarem no vácuo.

A principal razão para isso é que, por exemplo, em reatores químicos, não existe "pistão", que é como denominamos uma massa teórica de reagentes se deslocando no espaço de um tubo de espessura infinitesimal, não existe deslocamento de fluido que não possua turbulência, não existe mistura que realmente seja perfeita e ão existe aquecimento ou resfriamento que não apresente alguma ineficiência e que não produza regiões um tanto desastradas. Resumindo, não existe reator ideal, só os malditos, instáveis e até perigosos reatores reais.

É curioso, que após propormos nossos sistemas, nossos processos, como chamamos, os passamos aos engenheiros mecânicos, que confiando em sua absoluta desconfiança, onde poderia se operar com uma parede de aço de 5 cm, ou parafusos de 12 mm, colocam paredes de 10 cm e parafusos de 25 mm, pois eles sabem, perdão pelos termos, "que merda acontece", e normalmente, muita, ainda mais, que pode acontecer crescentemente no tempo. Os equipamentos projetados pelos engenheiros mecânicos, normalmente, são colocados sobre estruturas dos engenheiros civis, que utilizam os mesmo critérios, quase paranóicos, ali em cima citados, de pilares, vigas e lajes.

Os loompa-loompa da ciência são seres paranóicos por sua própria natureza, admito, mas infelizmente, o mundo gira ao redor de nossos esforços, inclusive, o de produzir agradáveis cereais matinais com alto teor de fibras adequados a quando Sheldon fica estressado.


Engenheiros, invariavelmente, cercando algum empresário.

BAZZINGA!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Do Caos ao Cosmos e Vice-versa

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Cronos e Zeus


A mitologia grega descreve sobre a origem do mundo (e aqui mundo entenda-se como "tudo"), que inicialmente só havia o grande Caos, habitados pelos monstros dos fenômenos naturais chamados Titãs, conduzidos na manutenção do caos vingente pelo deus Cronos (o tempo). Cronos, que tinha como esposa Réia, que pode-se associar com a natureza em sua (perdão pela redundância) natureza geradora, produzia seus filhos. Temendo ser destronado de seu poder, mal os filhos de Cronos nasciam, os engolia.

Cronos era pois voraz como descrito nos belos versos de William Shakespeare:

Tempo voraz, ao leão cegas as garras
E à terra fazes devorar seus genes;
Ao tigre as presas hórridas desgarras
E ardes no próprio sangue a eterna fênix.

Pelo caminho vão teus pés ligeiros
Alegres, tristes estações deixando;
Impões-te ao mundo e aos gozos passageiros,
Mas proíbo-te um crime mais nefando:

De meu amor não vinques o semblante
Nem nele imprimes o teu traço duro.
Oh! Permite que intacto siga avante

Como padrão do belo no futuro.
Ou antes, velho Tempo, sê perverso:
Pois jovens sempre há-de o manter meu verso.

Saturno (Cronos) devorando seus filhos, por Goya.


Réia escondeu Zeus e deu a Cronos uma pedra enrolada num pano, a qual engoliu considerando que livrara-se de mais um pretendente ao seu trono. Zeus, maduro, chefiou a rebelião de uma posterior geração dos deuses, destronando Cronos e assumindo o mundo e ordenando-o, aprisionando os Titãs. Tem-se então a era do Cosmos, a ordem que se evidencia no mundo.

Encerrando o papo mitológico, associemos com a história da Cosmologia, ou o estudo do universo em seu quadro mais amplo.


Uma breve história da Cosmologia

Após a apresentação ao mundo da Teoria da Relatividade Geral por Einstein, e sendo este já estabelecido como um sólido modelo do comportamento da natureza (ainda que não plenamente aceito nem experimental nem observacionalmente corroborado), muitos cientistas e até matemáticos debruçaram-se sobre a teoria com vistas a deduzir a partir dela comportamentos da natureza em seus diversos aspectos. Termodinâmica, Teoria da Eletricidade, movimentos planetários, os mais diversos aspectos foram atacados, com excelentes e outros nem tanto resultados.

O matemático russo Alexander Friedmann debruçou-se para algo que talvez jamais tenha sido pensado, nem mesmo por Einstein: o universo como um todo. Com uma ótica que poderíamos chamar de "será que isto muda o que pensamos sobre o que seja o tudo", embora talvez, não com esta intenção diretamente, chegou a conclusão, sobre as equações de campo de Einstein, que o universo, o cenário onde se dava o físico, estando a relatividade correta para tratar o universo como um todo, não era um uma paisagem imutável, estática, fixa, onde as coisas se moviam. As coisas se moviam, mas também o cenário mudava, se deformava, não localmente, mas no todo. Nascia a noção que o universo não era um cenário euclidiano, cartesiano, onde Galileu e Newton pensaram em pontos movendo-se, equacionáveis nas dimensões e no tempo. As próprias dimensões, no todo, e inclusive o próprio tempo, mudavam desde um tempo anterior, em expansão ou contração de seu quadro como um todo.

Notemos que afirmei expansão ou contração. Estabelecido isto e derrubado pelo menos teoricamente um universo proposto por Einstein, um tanto aristotélico, apenas uma geometria riemanniana deformada de um universo euclidiano clássico, estaria a resposta ao problemático ou a ser dada pelos astrônomos. Com a observação de Hubble, ao final dos anos 1920, que, primeiro, o que chamavamos universo era apenas um "universo ilha" (nomezinho, sinceramente, bem ridículo) que hoje chamamos de galáxia, no caso "Via Láctea", citando influência mais uma vez dos deuses gregos, e que diversas nuvens que há séculos viamos em meio às estrelas não eram nuvens "ali", mas imensamente mais distantes, e as partículas das 'nuvens' eram estrelas aos milhões, tão numerosas quanto as estrelas que parcialmente conseguimos ver na própria "Via Láctea", eram algumas entre muitas galáxias de um universo muito maior, e que, muito mais importante para o problema "movimento", estavam genericamente em afastamento; chegou-se a uma nova afirmação: além de mutante no tempo, o universo se expande.

Nota: de forma adequada, o conteúdo do universo é tratado como uma "poeira", em Cosmologia.

Outro mais matemático que um físico, Georges Lemaître, derivando as equações de Friedmann, que repitamos, já eram soluções para as soluções de campo de Einstein, encontrou que o universo, estando em expansão, e considerando-se que, como tudo mostra, a natureza seja conservativa, teria num passado remoto se encontrado extremamente denso, com todas as partículas subatômicas (aqui, hoje, uma enorme bobagem) condensados num único 'átomo primordial', um "ovo cosmico" que conteria toda a matéria.

Nota: algo, analiso, como uma gigantesca anã branca, uma massa de nêutrons, prótons e elétrons misturados.

Desenvolvimentos em outros campos, também de aplicações da Teoria da Relatividade voltadas para a Astrofísica, apontaram que núcleos atômicos e elétrons não poderiam se adensar além de determinada, desculpe mais uma vez pela redundância, densidade, pois ao ultrapassar-se para determinada massa um limite de compressão, chamado de limite de Chandrasekhar, só teríamos nêutrons, e não mais prótons e elétrons (ou seja, não teríamos "núcleos", nem mesmo átomos) e a partir de outro limite, de Tolman-Oppenheimer-Volkoff, nem mesmo teríamos nêutrons, e ainda nem sabíamos, então, o que teríamos. Os desenvolvimentos da Mecânica Quântica concordavam que Lemaître, neste "ovo", estava errado, mas no quesito "do denso ao rarefeito", estava correto. Logo, o universo teria partido de uma altíssima densidade, e consequente temperatura para o estado que hoje observamos.

Uma pérola: "Não há a menor indicação de que a energia nuclear será obtida. Isso significaria que o átomo teria que ser rompido." - Albert Einstein, em 1932.


Lemaître e Einstein, talvez na ocaião em que Einstein disse que a matemática dele era poderosa, mas sua física lamentável.


Posteriormente, retomado o problema do "ovo" por George Gamov, tratando o problema com novos conhecimentos de Mecânica Quântica e síntese de núcleos atômicos, concebeu um novo "ovo cósmico", no qual, somente a partir de um estado inicial, teriam sido produzidos os núcleos dos isótopos de hidrogênio, os núcleos dos isótopos de hélio e um parcela pequena de (não dos) isótopos de lítio.

Digamos que o ovo cósmico tenha recebido uma casca, embora ainda não soubéssemos como era sua 'clara e gema' (aliás, nem que embrião de animal ali estava). O animal em sua adolescência, digamos, já conhecíamos, pois o trabalho sobre nucleossíntese estelar, uma teoria em grande parte desenvolvida por Bethe e Fred Hoyle, já apontava para a origem dos demais núcleos e átomos.

Nota: A teorização de Gamov recebeu o irônico nome de Alpha-Bethe-Gamov (lembrando Alfa-Beta-Gama; α, β, γ, as três primeiras letras do alfabeto grego), devido aos nomes de Ralph Alpher, Hans Bethe. Alpher era um doutorando orientado por Gamov, e Bethe na verdade nem era um pesquisador relacionado ao trabalho. Mais detalhes desta ironia estão citados no artigo da Wikipédia.

Com um tratamento ainda mais completo do problema nos anos 1930, pelo estadunidense Howard Robertson e pelo britânico Arthur Walker, houve a demonstração que a hoje chamada métrica FLRW (Friedmann, Lemaître, Robertson e Walker) seria a única em uma variedade (um conceito matemático) pseudoriemanniana (próxima de uma geometria que não é euclidiana) que é homogênea e isotrópica (noutras palavras, isto significa um resultado geométrico não ligado especifica e estritamente às equações da relatividade geral, que sempre eram supostamente certas - absolutas - por Friedmann e Lemaître).

Nota: homogeneidade - composição homogênea - e isotropicidade - propriedades homogêneas - são postulados fundamentais da Cosmologia para o que seja e para tratar o universo.

Mesmo no, podemos dizer, leito de morte, pois morreria um ano depois, Lemaître, em 1965, receberia a notícia que seu "ovo cósmico", mesmo modificado, teve confirmação observacional por Penzias e Wilson e passou a ser adotada como teoria padrão para o mais amplo comportamento e história da natureza, mesmo tendo tido como adotado o nome jocoso de Big Bang, cunhado por Hoyle.

Posteriores de denvolvimentos acrescentaram períodos de expansão extremamente acelerada, especialmente o modelo inflaciónário de Alan Guth, e toda uma teorização em Mecânica Quântica aplicada que mostra como o universo se compôs ao longo de cada faixa de volume/densidade/temperatura pela qual passou. Este período é tratado, ainda conjecturalmente, também pelas "complementares" da teoria da relatividade, como a VSL (Variable Speed of Light, velocidade variável da luz), tratando períodos em que a velocidade da luz, uma constante fundamental da natureza, não era do valor nem do comportamento que hoje temos.


Ilustração para um com fase inflacionária (http://www.nikon.com/).

Noutro momento e por outra abordagem, viu-se a Astrofísica em conjunto com a Cosmologia obrigada a considerar a hipótese da existências de uma determinada quantia de massa, além da fácil astronomicamente de ser observada, para explicar o comportamento das galáxias como corpos, forcemos os termos, "mutuamente orbitantes", e acrescentou-se o conceito de "matéria escura", que foi posteriormente observada, especialmente pelos seus claros efeitos indiretos. Destaquemos que "matéria escura" não é algo transcendente ao já conhecido na física, apenas algo não detectável por ser, óbvio dos óbvios, escuro.

Nota: Galáxias não são "sistemas solares enormes", que rorbitam ao redor de um corpo predominantes massivo, como é o Sol para nossos planetas, nem mesmo ao redor de buracos negros supermassivos em seus centros. Isto é um erro muito comum. Os buracos negros supermassivos são de massa de milhões de vezes a massa do Sol, mas a galáxia é de massa de até centena de bilhões de massas solares. As galáxias giram como um conjunto completo, em mútuas atrações e mantidas, digamos, por uma gravitação comum, não centralizada num corpo.

A partir de mais precisas observações, sempre complementares às pioneiras observações de Hubble, determinou-se que a expansão do universo é acelerada. Acrescentou-se uma misteriosa força, que até por infelicidade para quem não se aprofunda no tema, chamou-se "energia escura", que não guarda associação alguma mais que o adjetivo com a matéria escura, e se comporta como uma força ainda desconhecida na natureza que aumenta a já conhecida tendência do universo em sua maior escala sempre aumentar de volume.

Em termos quase infantis, e lembrando o modelo do balão, usado didaticamente para explicar a expansão do universo, o balão continua a ser soprado, mas o soprador cada vez o faz com mais ar e mais rapidamente.


astrovn.blogspot.com



Ainda se discute, até pelas liberdades que o trabalho primordial de Friedmann permitia, se o "ovo cósmico" não teria sido fruto da contração de uma exótico ou igual ao nosso cosmos "anterior" (note-se as aspas), passando esta contração por um "rebote" (bounce) iniciando a fase de expansão, a partir do primeiro instante do Big Bang (que agora destaquemos, não é a "explosão inicial", e sim, a expansão na qual ainda estamos). Neste campo de fronteira, entram as ainda conjecturais, e tomadas de hipóteses ad hoc, teorias das cordas, em suas diversas formas, e a minha teoria de ponta favorita, que é a gravidade quântica em loop (ou "laço", como preferem meus amigos lusitanos).

Dicas de leitura:


Havendo bounce, e podendo ter o universo fases de contração e expansão, e havendo outras variáveis e mudanças de comportamento que permitam, o universo pode ser cíclico, e surgem os diversos modelos cíclicos para o universo, incluindo, entre eles, o que utilizam-se de todas as teorias de ponta citadas a cima, inclusive, simultaneamente. Em cada um destes ciclos, até mesmo o tempo é produzido, e como pensou com acerto Agostinho, o tempo inicia-se com a criação, e no - até só neste - ciclo de expansão de nosso universo, de um período de absoluto caos, chegamos a eras de formações de núcleos atômicos, átomos, moléculas e todos os corpos celestes, incluindo a bolinha rochosa em que pisamos.



Um quadro bastante completo da evolução do universo.


Temos, pois, após quase 100 anos, um quadro completo da ordem que Zeus colocou ao mundo caótico e compacto de Cronos, na construção do modelo do cosmos que hoje observamos e tratamos com física um tanto mais próxima de nossos pequenos problemas diários, desde pequenas partículas na água até o comportamento de estrelas gigantescas.

Mas...


Tomando tomismos
até pelas nossas primatas cabeças


Durante o período medieval, especialmente devido a Tomás de Aquino, o pensamento humano adquiriu sentidos de um exatismo quase delirante. Deus era não só revelado, e inclusive incorporado indubitavelmente no personagem mítico/histórico Jesus, como era dedutível por demonstrações simples (acalmemo-nos, pois adiante, veremos que tal "demonstrou-se pó"). Se o "ser dos seres", a origem suprema, primeira e última do mundo era conhecida, todo o resto seria, com um certo esforço.

Logo, nasceu uma física descritivista, exatista, cartesiana, em Kepler, Galileu e mais que todos, Newton, e todos os corpos seriam tratáveis desde o primeiro momento da história do mundo até o seu final. O determinismo se implantava, e Laplace o culminou com um discurso simples: conhecendo-se a velocidade e posição de qualquer corpo, se conheceria todas as posições e velocidades de todos os corpos pela história. O cosmos de Zeus era tão claro e evidente que até em momentos de algum devaneio, Kepler julgava os planetas como necessariamente associados aos sólidos geométricos perfeitos.


Sólidos e esferas perfeitos e determinando as posições e órbitas dos planetas, o delírio - ainda que honesto - de Kepler.


Nesta marcha descritivista-determinista, acrescida da perfeição dos balanços entre massas e energia dos químicos em todo o seu campo e dos físicos dedicados ao calor e a sólida termodinâmica em construção, levou aos típicos homens vitorianos como Lord Kelvin a pronunciar uma pérola do diâmetro de:

"Agora, não há mais nada novo para ser descoberto pela Física. Tudo o que nos resta são medições cada vez mais precisas." - em palestra para a British Association for the Advancement of Science em 1900.

Mas lá atrás, Bacon apontava para o empirismo, Kant para os limites da razão, e Hume devastava qualquer teleologia, e logo deus algum podia ser justificado pelo projeto que víamos no homem ou na natureza (como se fosse possível dizer um e outro). Enquando isso, em pleno século XIX, Nietzsche e outros "fragmentavam" a razão, e com curtas máximas, tornavam em pó qualquer esperança de filosofia construir algo sólido por si, mas ainda não com suficientemente fortes golpes de marreta, a ponto de formar um novo piso onde o conhecimento pudesse ser erigido.


Bacon e Nietzsche, cada um a seu tempo e seu modo, jogando tijolos na vidraça das certezas alheias.


Mesmo com o espasmo do Positivismo Lógico, em que lógica contruiria, matemática, matemática contruiria física, esta química, esta biologia, esta sociologia e por consequência, tornaria a política científica a razão já não se mostrava porto tão seguro. Assim, uma visão cristã-tomista-idealista-franco-anglosaxã-ocidental seria a única racional, a única e incontestável verdade, inexoravelmente a ser até imposta ao mundo, pois afinal, como mostra-se nos livros de então, e nas mentes por eles condicionadas, todo o resto era estupidez, ignorância ou insanidade.

Lembremo-nos de uma anterior pérola: "A razão poderia só por si levar-nos a concluir que a Terra se move como um planeta, se a Autoridade não nos salvasse desse erro." - Oresme, aproximadamente em 1370. Mudando-se alguns termos e dados, a "Autoridade" permanecendo, nada teria mudado.

Como bem mostravam poucos fuzileiros ingleses metralhando milhares de rebeldes de colônias, montados a cavalo e armados com algo como arcabuzes medievais, era óbvio e evidente de que lado a 'verdade' estaria.

Não tardou os filósofos da linguagem trincarem a lógica e dar-lhes novas faces, os lógicos neste novo mundo lógico aliados de outros brilhantes matemáticos fatiarem a matemática em inúmeras divisões e nos intervalos jogarem paradoxos e novos campos aparentemente insanos, os mecânicos quânticos, já em seus primeiros momentos terem feito em pó o determinismo e contruírem todo um novo mundo, rico e produtivo em aplicações e produtos, todos amparados num modelo "insano", e aliados aos que sempre desejaram tratar o caótico, modelarem o mundo dos redemoinhos nas poças de lama às galáxias com impensáveis modelos de variáveis que atuam completamente separadas mas formam um conjunto de "gestos" característicos e, paradoxalmente, determinados.

Uma máxima adequada a este momento no texto: Só os mortos e os loucos nunca mudam de opinião. - James Russell

Estes pensadores, junto com toda uma nova maneira de pensar sobre a história do mundo, apresentaram uma nova Biologia, filha do caos e do acaso, em meio a um mundo - ambiente - caótico e mutável, não mais fruto de um senhor acima de suas cabeças, mas senhora - dentro de limites do possível - de seu próprio e imprevisível destino. Logo o homem era também fruto de instintos múltiplos e sofisticados, não fruto de uma máquina lógica perfeita e transcendente colocada em seu cérebro. Seu cérebro era a nova máquina caótica, pois biológica, a ordenar - ou desordenar - como lhe aprouvesse o mundo, enquanto vivo e por sua primata e até agressiva vontade.

Disto, chegamos num mundo completamente fragmentado, de inúmeras forças políticas e opções, que nem mesmo plenamente pode entender o mundo e tratá-lo por modelos absolutos, numa forte e muito mais sólida razão, agora a "única verdadeira verdade", que não é mais que uma nuvem de poeira em permanente agitação, adaptando-se ao seu recipiente que é o universo do humano.

Noutras palavras sem ranço pegajoso de pós-modernismo - antes que algum amigo pergunte se abusei do álcool - o mundo é agora um sem número de combinações de escolhas e desejos humanos, acoplado a um pensamento racional, filosófico e científico, que mostra a si mesmo que nunca é a afirmação da verdade, mas a afirmação daquilo que ainda não provamos que é a mentira, ou melhor dizendo, o que não seja falso. Ainda noutros termos, apenas agora realmente buscamos solidamente nossas confiáveis "certezas", numa multidão de inumeras correntes de anseios, as vezes digladiando-se entre si.

Nunca fomos mais biológicos e seguros que agora, não se apegando a falsos deuses, e hereticamente, adentramos o templo de Olímpia, fizemos em pedaços a estátua de Zeus e recolocamos, ao invés da ordem do cosmos, o caos de Cronos em seu lugar.



Reconstituição digital da estátua de Zeus em Olimpia (ironicamente, de http://www.bible-archaeology.info/).



De alguns debates interessantes, com temas relacionados, há algum tempo no Orkut.


O QUE SEJA A MATÉRIA:
um bocado de vazio com um tanto de caos

A natureza, sob toda a análise, não se mostra um sistema newtoniano, laplaciano e "outrosanos" e sim, como diz o cosmólogo brasileiro Mário NOVELLO, um sistema de equilíbrios "tendendo a relativa estabilidade", como "uma bola de gude rodopiando numa bacia".

O problema é que a bacia contantemente se agita. Vivemos no caos sob limites.

Claro que uma primeira entrada num debate sobre física, abre as portas para algum personagem escrever: "Francisco, muito boa a explicação sobre o... nada!"

Como respondi então: -Cuidado! Pois um "nada" de um tijolo, caindo de uma janela, encontra com o "nada" de sua cabeça e faz um senhor estrago.



Nossa conceituação sobre o que seja vazio, ou mesmo o que seja algo denso,muitas vezes, é na verdade, fruto de uma visão que a impenetrabilidade e solidez causada pela natureza mais íntima da matéria, do que sejam os sólidos e os fluidos, das forças interativas, sejam similares a visão dos gregos e outros povos da antiguidade, do tempo em que se pensava em "átomos" num sentido completo de algo indivisível e minimamente componente da matéria e de elementos, quant muito quatro ou cinco, que ao se associarem, produzam a matéria.

Ao que um membro da comunidade onde se travava a questão, de nome Gustavo, imediatamente também coloca: -Essa definição de "nada" é realmente um pouco complicada, até porque o muito pouco não é nada, mas como disse Richard Feynman muito bem sobre esse assunto: "Se você acha que entendeu alguma coisa sobre mecânica quântica, então é porque você não entendeu nada."

Como sempre, em debates e bate-papos sobre este tipo de assunto, surgem os "new agers":  "Eu já tinha lido algo similar há uns 8 anos, "O Ponto de Mutação" Fritjof Capra."

Recomendo sempre muito, senão extremo, cuidado com este livro. Algumas coisas tem nexo e são sérias, como que a natureza hoje é entendida mais holisticamente e menos deterministicamente, que a Física encontrou extremas limitações, senão definitivas, etc. Mas sobre isto, que encontra-se em qualquer artigo sério sobre o tema, empilham-se misticismos. (É de se destacar a página onde sabe-se lá com que coragem compara uma página de equações físico-matemáticas com textos em sânscrito.)

Newton foi outro que praticamente distorceu as leis que ele mesmo tinha desenvolvido com o intento de provar a existência de Deus (curiosamente, de preferência o hebraico). Vale a pena procurar o livro sobre os trabalhos "extras" de Newton, de COHEN e WESTFALL, "Newton: textos, antecedentes, comentários" (uma resenha), que inclui uma "barbaridade de barbaridades" sobre ocultismo e mostra o quanto sua química era fraca, inferior a dos árabes da Idade Média.

Como é bom que se recomende, mente aberta não quer dizer acreditar em tudo, assim, como muito bem dito pela minha amiga, doutora em paleontologia, Silvia Gobbo, nem abrir demais a ponto que o cérebro caia.

"A realidade é apenas uma ilusão, ainda que muito persistente." - Albert Einstein



Mais observações cosmológicas e filosóficas
e provando, nas entrelinhas, que não sabemos coisa alguma


Concepção artística de múltiplos universos emergindo de um Big Bang. Invariavelmente, estas representações são inadequadas, quando não, levam à concepções errôneas até da geometria de tais fenômenos e estruturas conjecturais.

Respondendo a uma pergunta de uma comunidade de Filosofia: Será que o desconhecido é finito?

Se a informação advém de qualquer distância em tempo, sendo o universo finito mas em expansão, jamais teremos informações de suas regiões mais longínquas em afastamento. Logo, nesta hipótese, o desconhecido pode ser finito, mas continuará desconhecido.

Se podemos ter informação do "tudo-que-existe", além do universo ou universos e os contendo, mesmo se finito(s) ou infinito(s), continua sendo a hipótese anterior, válida nas expansões locais. A única coisa que o universo seja confiavelmente é um bolsão espaço-temporal, o cenário onde acontecem todos os eventos da Física, o maior objeto que se pode estudar, e mesmo assim, só parcialmente.

Se durarmos mesmo uma eternidade, a primeira hipótese continua válida. Se não durarmos, igualmente haverá o desconhecido.

Se conhecermos todo o comportamento da natureza evidenciável, ainda sim não poderemos conhecer o tudo, logo, o desconhecido permanesce como tal.

Só podemos estabelecer conhecimento na confiança de modelos e nas evidências mais repetíveis como observáveis. Além disso, nada, ou o desconhecido. Kant já tinha se preocupado com tais questões metafisicamente, e Bacon, a meu ver pai da filosofia da ciência, pelo empirismo.

Pergunta fundamental, que deve se manter permanentemente viva: o universo é o tudo que existe? Talvez Cronos tenha muitos gêmeos, e até inúmeros irmãos mais velhos e mais novos.