terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Espaço - 1

Além da fronteira final, a fundação de nossa existência



Neste texto não tratarei da entidade que mede-se em unidades de comprimento e suas demais dimensionalidades, o cenário relativo onde ocorrem os eventos físicos. Tratarei de um espaço muito mais simples. Aquele que você percebe quando lhe tiro de uma praça arejada, ampla, cheia de árvores e brutalmente lhe coloco num quarto, poderia dizer uma caixa, onde você só poderia ficar de pé sem nem conseguir girar, quanto mais, deitar-se para ter uma hora de sono sequer. É deste espaço muito mais trivial, muito menos ligado à mais sofisticada Física, mas profundamente relacionado à simples sobrevivência de que tratarei.


Lembro que tive meu primeiro contato com a grandiosa série Fundação (Wiki, uma Wikia), do ”bom doutor” Isaac Asimov aos meus 17 ou 18 anos. Só neste último ano de 2013 que fui finalmente a ler, pelo menos a trilogia básica, e perdão pela redundância no estilo, fundamental.


Três dos personagens principais de fundação. - jovemnerd.com.br


Em Fundação, a sede do “Império Galáctico” (homogeneamente humano, fique bem claro) é o planeta Trantor, que pode ser visualizado de maneira rápida quando lembramos de Coruscant, do universo ficcional de Star Wars. Trantor é descrito como tendo 194 bilhões de quilômetros quadrados, formando uma única cidade.

Como sei que Asimov era “muito bom de contas”, basta ler seu texto sobre gases de efeito estufa em sua coletânea de textos de divulgação científica
O Início e O Fim, e como no texto de Fundação tem-se a ideia de que Trantor tenha oceanos (ou massas d’água, sejamos mais precisos), o raios de tal planeta deixa de ser algo um tanto maior que Marte (uns 3929 km contra nosso vizinho vermelho com 3396 km) e pode passar, para a mesma cobertura de oceanos da Terra para algo como uns 7500 km, algo a caminho dos planetas do tipo ausente no nosso sistema solar, as ditas “super-terras”.


O que chama atenção é que Asimov coloca a população de Trantor em 40 bilhões de habitantes, o que leva a necessitar tal planeta de ser abastecido por 25 planetas vizinhos.

Claro que admiro a competência do “bom doutor” como autor de ficção, mas nos meus grosseiros rabiscos sobre futurologia, e no que tenho mais toscamente ainda esboçado como pequenos contos futuramente a publicar em ficção científica, a coisa não se dará assim.

Dificilmente abasteceremos mundos com qualquer outra coisa além de nossa genética e antes desta, com o maquinário - talvez robótico e reprodutivo - da
terraformação. Cada uma de nossas colônias será independente em recursos, dependente talvez quando muito de tecnologia na forma de informação, de projetos e de notícias da “terra natal anterior”.

Uma população destas para uma área destas (o autor considera também habitação sob as massas d’água, mas desconsideremos isso por hora) levaria a uma densidade demográfica de 206 habitantes por km², o que é algo confortável como a nossa Inglaterra, com seus  quase 390 habitantes por km². Mas sabemos que países ricos não são propriamente o supra-sumo da sustentabilidade com seus próprios recursos, no que tange a alimentos.


Lembro que os recursos minerais podem ser proporcionais a uma significativa “casca” so planeta, relacionada a seu volume, a energia, basicamente à estrela ao redor do qual orbita, mas a sua ocupação, biologicamente falando, fortemente limitada por sua área, inclusive para o volume que sejam os oceanos, que dependem, como observa-se na Terra, fundamentalmente a ação da luz solar sobre área, e não de seu volume.

Então, discutindo com o “bom doutor”, diria que um limite para a densidade demográfica dos planetas do futuro, seria una 70 habitantes por km², ou para uma área aproveitável de um planeta geograficamente similar à Terra, com uma população de uns 10 bilhões de habitantes*, considerando os humanos com tamanho não muito diverso do atual ,e duvido que algum dia fiquemos em planetas de baixa gravidade menores que uma garça grande ou em planetas de alta gravidade maiores que um gorila grande, ou mesmo, se mudarmos nossa geometria básica para algo que suporte gravidades terríveis, algo maior que um touro médio, com seus 500 kg.

* O que concordaria com certos valores previstos de estabilização da população humana no próprio planeta Terra.



O próprio Brasil, hoje com uns 3% da população mundial, já é uma “amostra significativa” deste fenômeno de estabilização, que na verdade, é uma consequência de uma limitação.



Uma densidade desta permitiria a produção de alimentos, a conservação de espécies “amigas” dos imigrantes e as nativas* e toda a produção industrial para uma civilização da escala que já colonize mundos, os modifique, e talvez até os construa.

* Se houverem - o que pode produzir imensos problemas éticos, que pretendo tratar nesta série.


Asimov coloca a população do seu império em um quadrilhão, o que dá uma boa distribuição de população por planetas da nossa galáxia, a Via Láctea, já pelo que sabemos de sua variedade e dispersão de planetas humanamente ocupáveis, claro que num cenário de terraformação da ficção científica, pois pelos próximos alguns séculos, sequer poderemos ocupar significativamente Marte, que é praticamente, em termos astronômicos, como visitar a casa de nosso vizinho.




Paul Ehrlich já alertava nos anos 1960: “A batalha para alimentar toda a humanidade acabou. Nas próximas décadas, centenas de milhões de pessoas vão morrer de fome, apesar de qualquer plano de emergência iniciado agora. A esta altura, nada pode impedir o aumento substancial da mortalidade mundial." - garotosintelectuais.blogspot.com.br


Ele errou e subestimou nossa capacidade de enfrentar o problema e aumentar nossa produção de alimentos, mas com mudanças de datas e escalas, esta frase será confirmada.


Mas antes destas aventuras e inigualáveis em nossa história, mesmo quando se considera pequenas parcelas de tais projetos, temos de resolver nossos por hora “pequenos” problemas, que podem estar expressos em nossas fontes de energia, como nos vemos como espécie em ralação as demais, como nos vemos como espécie capaz de “salvar o mundo” e a nós próprios, pois como disse o mestre H. G. Wells, dado o caráter finito no tempo de nosso mundo, e dada a transposição disso para qualquer mundo que se venha a habitar, “ou o universo, ou nada”.

Assim, já na obra de Asimov temos uma mensagem com profunda moral que pode ser bem ajustada à nossa situação em nosso planeta, nestes últimos 10 mil anos em que desenvolvemos a escrita, e começamos a marcha acelerada do acúmulo do conhecimento e de um já mínimo controle dos processos naturais que nos cercam, e deve nos servir de sério alerta sobre nossos poderes:


[...] o tronco de árvore podre, até o instante exato em que a rajada de vento da tempestade o parte ao meio, tem todo aspecto de poder que sempre teve.




Recomendações de leitura, antes de avançarmos nesta série:




Provavelmente sim, em 2050. Mas isso vai trazer alguns problemas