quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Origem

... de muitos erros




Sinceramente, acho um desperdício falar bem de A Origem (Inception, 2010) como filme. O que poderia ter sido feito de elogioso sobre este filme já li e ouvi, ou foi escrito e lido (e concordo plenamente!).

Por outro lado, entrando no terreno do que há anos aprendi que se chama “catar piolhos”, vejo nele a oportunidade de tratar de um complemento a meu texto “Cérebro humano, o que ele NÃO é”, e certas coisas que discuti nos últimos tempos, sobre o funcionamento do cérebro e da mente, que sob toda a análise, são coisas, ainda que separáveis enquanto funcionamento do cérebro como um todo, inseparáveis como a operação da mente - noutras palavras, o cérebro opera sem operar a mente, como em determinados reflexos e até quando dirigimos, mas não quando a mente opera, como escrevendo este texto, que inevitavelmente, será meu cérebro operando minha mente.



Um sonho dentro de um sonho


Sonhei

Que estava sonhando um sonho sonhado
O sonho de um sonho
Magnetizado
As mentes abertas
Sem bicos calados
Juventude alerta
Os seres alados
Sonho meu
Eu sonhava que sonhava
Sonhei
Que eu era o rei que reinava como um ser comum
Era um por milhares, milhares por um
Como livres raios riscando os espaços
Transando o universo
Limpando os mormaços
Ai de mim
Ai de mim que mal sonhava
Na limpidez do espelho só vi coisas limpas
Como uma lua redonda brilhando nas grimpas
Um sorriso sem fúria, entre réu e juiz
A clemência e a ternura por amor da clausura
A prisão sem tortura, inocência feliz
Ai meu Deus
Falso sonho que eu sonhava
Ai de mim
Eu sonhei que não sonhava
Mas sonhei

Sonho de um Sonho - Martinho da Vila



Aqui, titio Freud acertou em cheio: sonhos são os “vestígios do dia”, são um descarregar de informações inúteis, uma espécie, lembrando a analogia hardware-software do cérebro, da desfragmentação e limpeza da lixeira de um sistema operacional/HD de um computador.

Assim, ao contrário da realidade virtual ligada aos sensores, a captação dos sentidos de Matrix, uma conjunção do funcionamento da mente/cérebro durante os sonhos levaria a somar, digamos meu leitor, a confusão típica dos sonhos, ainda que parcialmente dirigível, em estados de “sono mais leve”. O próprio trem pelas ruas de Los Angeles já é uma força destrutiva do argumento em, pleno filme de Christopher Nolan. Explico novamente: muitas vezes, em sonhos agradáveis, com “características de filmes”, consigo aproximadamente fazer-lhes modificações, gerar um mínimo, porém não total, controle, e aquilo que definimos como “onírico” ( e a palavra já diz tudo) predomina.



Assim, retomando, ao fundir seus sonhos com os meus, não colocaríamos a sua coerência (que nem propriamente existe em mente alguma, adiante trataremos disto) somada a minha. Somaríamos dois “universos oníricos”, e eu ter citado num texto um trem, como do dia de hoje, e “Nolan”, faria gerar confusão de um trem, até de brinquedo, por outra informação inútil, indo para uma cidade chamada “Nolan”, por exemplo, talvez passando por um túnel que fosse coberto pelas pequenas aranhas robóticas de Matrix, que citei acima.

Assim, a operação de desfragmentação e limpeza das lixeiras de nossas mentes não é um ambiente estável para o furto e a construção de golpes, até porque quem sonha também estará em meio a confusão, e não será capaz de atos conscientes, e nem minimamente coerentes. O ambiente será não o planejamento calculista de um grande ladrão e golpista, mas os versos oníricos do memorável samba-enredo acima.

Mas poderá, em meio a estas operações de recompactação e ganhos de eficiência da memória, produzir ótimos roteiros para filmes, mesmo poderosa literatura, inspirações para músicas e até solucionar dilemas de trabalho científico como o lendário caso de Kekulé.


A seguir, tratemos dos “níveis crescentes de velocidade”, e mostremos que nosso cérebro/mente, consciente ou não, é muito mais lento que nos parece uma mitológica “velocidade do pensamento”.

2 comentários:

Me disse...

Particularmente, eu gostei bastante do filme, mesmo sabendo que ele teve uma grande fuga da realidade. Achei que foi um filme interessante, que me prendeu a atenção. Cada um tira sua própria conclusão. =)

você sabe quem disse...

filme é arte, nem sempre a arte representa a realidade!!!