terça-feira, 17 de junho de 2014

Dados lançados, cartas na mesa, células na lâmina


e uma verdadeira "Lei de Borel"

Qualquer pessoa que pense em probabilidades mesmo em jogos triviais como os dados e as cartas sabe, diria intuitivamente, que não cairá - melhor dizendo - dificilmente cairá uma sequência de 10 lançamentos seguidos com o dado mostrando para cima o número 6 (basta lembrar a dificuldade que é tirar os cinco dados iguais, o "general" no jogo de mesmo nome, ou "pôquer com dados"). Da mesma maneira que ao se jogar cartas embaralhadas sobre uma mesa não cairão banalmente ordenadas por naipe (de ouro a paus) e em cada naipe de Ás a Rei.

Mas aqui entra o Lema de Borel Cantelli, que demonstra que tal combinação, numa sequência infinita de lançamentos ou distribuição de cartas, propiciará uma sequência tão grande quanto se queira, ou cartas que “cairão” exatamente como afirmo.
É evidente que em associações de moléculas polimerizantes, como os aminoácidos e as bases nitrogenadas, não produzirão numa polimerização e associação, combinações colaborantes, aleatórias* não produzirá jamais num recipiente um unicórnio, ainda que nós, os crentes de U.R.I., isso não aceitemos.

* E aqui as combinações são imensamente mais complexas, longas e "distribuídas" que dados de seis lados ou cartas de quatro naipes e 13 faces.
As combinações não serem possíveis aleatoriamente, em tempo hábil num universo limitado em idade sob determinadas condições**, não implica, em se removendo o teleológico, o pretendido ser vivo, por mais simples ou mais complexo que o seja, de não ser, quando "se chega nele" ao acaso, perfeitamente factível.
** Já que acredito que ninguém acredita que um beija-flor ou uma petúnia sobrevivessem no vácuo quando uma supernova de geração anterior a do Sol explodiu - se acha este discurso desconexo e até insano, não esqueça que em suma, fixistas afirmam isso, logo, todo fixista é obrigado a ser um criacionista quando se usa de argumentações cosmológicas para o passado da vida e da própria Terra.
Explico aqui por outra via este pensamento: cair um conjunto de dados perfeitos que seja/represente o unicórnio é impossível, mas pelo meio do caminho, uma combinação, fruto do biológico/estocástico, que resulte no cavalo, na zebra, no asno, no pônei da Mongólia, e até pelo caminho diversos equinos, e antes, ungulados até com chifres, ímpares e centrais, constituídos de pelos agrupados, como todos os rinocerontes e seus parentes, é mais que factível. Isso sem falar em todas as etapas de todos os ancestrais dos hoje equinos em toda a história da vida, passo probabilístico a passo probabilístico, por milhões de gerações, desde uma simples - simplíssima - bactéria.

A. synthetocorus , uma mostra que os mamíferos já produziram coisas impensáveis até para quem pensou num unicórnio o achando impressionante. - markgelbart.wordpress.com


Logo, na exata medida que a "lei de Borel" dos criacionistas é uma falácia (e mais que isso, uma simples mentira) e a falácia de Hoyle uma modelagem errônea de como se dá o biológico, tanto na polimerização, quanto na biopoese, quanto na genética, exatamente pelo combinatório possível, numa área diminuta do permissível, fisicamente factível, do completamente permitido pelo infinito do lema de Borel Cantelli e pela genética que não constrói um 747, mas compõe pelos seus processos e mecanismos algo tão complexo em milhões de anos (seja um cavalo, seja talvez até algo parecido com um unicórnio, e talvez até de cor rosa, porém certamente visível).
Toda a vida é portanto o resultado, seja em sobreviventes, seja em já extintos, das combinações possíveis, não os passos de um projeto, e se tal projeto existe, é da fé de quem nele acredite, mas certamente, indetectável e indelével.

Assim, acrescento ao clássico texto de Paley que o relojoeiro até pode existir***, mas esconde sua ação com artimanhas muito superiores a que qualquer habilidade de artesão que a ele se atribua.

Sutil é o senhor...Nota 1


*** Observação: E a própria real autoria do design sempre é discutível, como demonstramos neste artigo.
Lembrando que digo e repito que toda afirmação de ação de uma divindade sobre sua criação implica em esta ser um incapaz, o “artesão atrapalhado”, como o diz Francis Collins.
Tentar mostrar tal artesão atrapalhado e incapaz por argumentos matemáticos é uma tolice a emoldurar outra, quando não, pintando com mentiras reluzentes a madeira rota de argumentos teleológicos há muitos enterrados.


Notas

1. Título que diz muito de teístas e deístas honestos, quando tratam de como conciliam a ação de suas divindades no mundo, frase oriunda do título do livro de Abraham Pais, "Sutil é o Senhor...": A Ciência e a Vida de Albert Einstein (comentários sobre o livro em www.fisica.ufmg.br )


Leitura adicional e diria, obrigatória


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