terça-feira, 14 de junho de 2016

Pontos cosmológicos - 1


Pequenas notas cosmológicas a partir de debates, diálogos, quando não, nervosos bate-bocas pelas redes sociais nesses últimos anos.

Ponto: o mais fundamental “ente” na Geometria, sendo, pois, aquele que todos os outros entes compõe, como a reta, o plano e o espaço, e seus segmentos, adimensional e geometricamente indefinível (axiomático e intuitivo).

Cosmologia: A ciência do maior objeto que se pode estudar, que é o universo em sua maior amplitude possível, do seu comportamento, evolução, como um todo.



O início

Pelas soluções de Friedmann para as equações de campo de Einstein, sabe-se que a métrica do universo varia. Noutras palavras, o espaço-tempo não é estático, estando, por essas soluções, ou em expansão ou em contração.


Pelas observações de Hubble e outras, sabe-se que está expandindo em sua maior escala.


Logo, no passado, o universo teve maior densidade e temperatura (pois pode ser entendido, para efeitos de simplificação do modelo e de entendimento, como um gás).


Este é o básico. Disto, com acréscimos para a composição e como se dá em maiores detalhes essa expansão, sabemos que não esteve sempre nesta sua atual apresentação, e teve este “início” de alta densidade e temperatura, não sendo propriamente esse início propriamente um evento de “criação”*, pois as soluções de Friedmann admitem um ponto de flexão de uma fase anterior de contração.

*  “O Big Bang é o mito científico da Criação.” - Mário Novello ( ou www1.folha.uol.com.br )


O pensar em 4D


Uma observação sobre quem pretende discutir, ou sequer entender Cosmologia:

Percebi ao longo dos anos que a maior parte das pessoas tem dificuldade em entender que uma imagem 3D típica da didática em Cosmologia, como os cones de luz, representa uma projeção de uma variedade riemanniana - ou similar - 4D, independente da nossa impossibilidade de pensar em quatro dimensões, e praticamente só o fazer por tais analogias com alguma instrução.

Um texto típico dessa questão:
Um cilindro, com um plano limitado "correndo" normal (perpendicularmente) ao longo de um eixo que representa o tempo, é uma representação 3D dos fenômenos físicos 3D, que projetados a cada instante, dão o plano.

timedimension.png
Tempo como uma dimensão: à esquerda é um filme de um planeta orbitando um sol e uma lua que orbita o planeta; à direita é uma representação espaço-tempo dele. - coffeeshopphysics.com

Mas o espaço (o plano) é crescente, e portanto, a mais adequada representação do universo (num primeiro momento!), em especial nos deslocamentos da luz, é um cone.
cone-de-luz.png

Mas o universo, pela aceleração da expansão da métrica na atualidade, e no passado, na inflação, é melhor ainda representado por um "sino", ou "cálice".
big bang.jpg




Uma questão epistemológica


Uma questão epistemológica fundamental é da mesma maneira que pelas soluções de Friedmann já tínhamos uma pista de que o universo deveria estar se contraindo ou se expandindo, e pelas evidências confirmou-se a expansão, e mais recentemente temos que está em expansão acelerada, não podemos afirmar de forma “dogmática” de que num determinado momento tal aceleração reduza-se até o valor nulo, ou por algum processo desconhecido, torne-se uma contração.

Sempre as afirmações são limitadas pelo que seja demarcação e falseabilidade.

Mais “popperianamente”, afirmamos, de uma maneira mais “rígida” por Filosofia da Ciência:
“Até evidência em contrário, para todas as observações até o momento, podemos afirmar que o universo encontra-se em expansão acelerada.”


Tais gráficos - e até a poderosa matemática que a eles produz  são representações para os modelos limitados que dispomos.


O universo é natural, e não “lógico” ou ”físico”, muito menos “matemático”. Os modelos físicos, construídos por matemática aplicada, que é linguagem sobre axiomas, é que produzem modelos, mas a natureza não é isto.


Logo, o universo "é o que é", apenas podemos representá-lo, e modelar seu comportamento, com analogias matemáticas (nestas, geométricas), como o cilindro, ou ainda melhor, um "sino".


Extras
1

Para futuro texto de que nossa individualidade é uma ilusão e que realmente somos uma “região de organização”, uma coletividade de células e que nossa autoconsciência é na verdade um processo ilusório da própria mente (cérebro operando)
“Desde o momento da concepção, quando 23 cromossomos de um macho e 23 cromossomos de uma fêmea transformam-se na primeira célula de um novo ser humano, somo definidos por nossa divisão interna. Nossa única identidade é uma falta de identidade.”
- Deus – Uma biografia, Jack Miles

2

Capturado no Facebook:

"Abdicar da razão de forma consciente é o pior tipo de traição, pois você está traindo a si mesmo. Sem a razão você perde qualquer tipo de individualidade que você possa vir a ter." - Wellton Enishi

Lembra:
“Acima de tudo sê fiel a ti mesmo, Disso se segue, como a noite ao dia, Que não podes ser falso com ninguém.” - Shakespeare, Hamlet I 3 v. 78-80

3

Da dificuldade de comunicação e dos riscos do homônimos em assuntos técnico-científicos:

“Desde que duas pessoas resolvam comunicar-se, é absolutamente necessário que passem a dar aos objetos, conceitos e idéias o mesmo nome, sob pena de, no mínimo, reduzir-se o nível de entendimento. O que comumente se denomina de “mero problema de terminologia” talvez fosse mais bem tratado como “magno problema de terminologia”.
- Martins, Eliseu; Contabilidade de custos - 9. ed. - São Paulo : Atlas, 2003.

4

Sobre o princípio antrópico:
“Embora goze de ampla aceitação na comunidade científica a afirmação de que alterações nas características físicas de nosso universo seriam incompatíveis com a vida como a conhecemos, alguns cientistas sugerem que a faixa de compatibilidade entre tais características e a vida pode ser mais ampla do que se supõe. Já se escreveu muito sobre isso. Veja, por exemplo, John Barrow e Frank Tipler, The anthropic cosmological principle (Nova York: Oxford University Press, 1986); John Barrow, The constants of nature (Nova York: Pantheon Books, 2003); Paul Davies, The cosmic jackpot (Nova York: Houghton Mifflin Harcourt, 2007); Victor Stenger, Has sciencefound God? (Amherst, Nova York: Prometheus Books, 2003); e as referências contidas nessas obras.” - Brian Greene; A Realidade Oculta

5

Uma máxima universal, num alerta a todos os campos:

“Contra a estupidez os próprios deuses lutam em vão.” - Friedrich Von Schiller

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