segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Rabiscos

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Um conjunto de primeiros esboços de futuros artigos, para não dizerem que retenho durante muito tempo informações. Alguns serão posteriormente ampliados neste blog. Outros são os primeiros "copiões" para artigos mais técnicos.

Boa leitura!



Cepas de endiabradas leveduras


A companhia cervejeira Sam Adams desenvolveu há alguns anos a cerveja Samuel Adams Utopia, numa linha de bebidas que é chamada Extreme Beers.  Aqui, não tratarei da questão preço/mercado deste tipo exótico de cervejas.

Para quem se interessar por tais abordagens:

Deidre Woollard; Sam Adams Limited Edition Utopia Beer

Samuel Adams unveils high-octane Utopias beer: $150-a-bottle, 27% alcohol, banned in 13 states





O que me interessa no momento é que tais cervejas alcançam conteúdos de álcool de até 25% e são anunciadas como as mais fortes cervejas do mundo. Em documentário do THC, foi afirmado que o desenvolvimento de tais cepas de leveduras, por seleção, demorou 13 anos até passar-se do tradicional limite de 13 a 15% de etanol até a resistência a um meio com 25% a 27 %. Houve etapas intermediárias, como a cerveja Triple Bock, com 17,5%, em 1993, e posteriormente a Dogfish Head com 22%.

O assunto cerveja, a meu ver, encerra-se aqui, mas a utilidade deste processos em desenvolvimentos similares, para  fermentação de caldo-de-cana e xarope de milho, por exemplo, para a produção de etanol poderia ser imensa, pois o etanol é uma excreção tóxica 'das e às' próprias leveduras. A concentração de álcool sobe na mistura reacional, um meio de cultura, até um ponto que começa a matar as próprias leveduras.





A importância deste tipo de desenvolvimento para a indústria de biocombustíveis é que com leveduras mais resistentes, poderíamos partir de concentrações mais altas de açúcar (mais genericamente, carboidratos) no meio, e prosseguir até um ponto ótimo de produção de etanol. Na destilação, necessitaríamos aquecer menos água para obter etanol.

Noutras palavras, poderíamos ter o uso de menos água, e se menos água, menos gastos com a destilação, pois é um desperdício de energia ter-se de aquecer uma enorme quantidade de água (que não deseja-se extrair de coisa alguma) para obter-se o pouco de etanol (o a destilar), a aproximadamente 78°C. Assim, um meio com carboidratos mais concentrado e posteriormente, com maior concentração de etanol tornaria muito mais econômico o processo de destilação.

Detalho: se parto de um caldo de cana ou xarope de milho diluído de 15% de etanol e 85% de água, tenho de aquecer estes 85% de água até começar a destilar o etanol. Se parto de apenas 80% de água, economizo a energia destes 5% de diferença, lembrando que a água é das substâncias com maior calor específico da natureza, necessitando a maior quantidade de calor para ganhar qualquer grau de temperatura.

Em poucas palavras, reduziríamos a demanda de água e calor (energia) na produção de etanol.

Uma das vantagens que o setor de biocombustíveis teria é que pouco interessa os resultados em sabor provenientes de suas leveduras, é um segmento, como digo, muito mais "grosso" que o de bebidas. Assim, o desenvolvimento destas cepas só precisaria ter em foco o rendimento em etanol bruto.


Tu és minha luz, meu Sol,
óh, divino etanol!


De um poemeto horroroso de minha tosca autoria.



Etanol a partir de algas

Uma geração intermediária de biocombustíveis

O Prof. Pengcheng “Patrick” Fu da Universidade de Hawaii (EUA) desenvolveu uma tecnologia inovativa, produzindo etanol em escala com cianobacterias modificadas (chamadas popularmente de algas verde-azuladas). Esta fonte nova de etanol não entra em conflito com a produção de alimentos e de rações e consome ainda CO2 no seu cultivo no sistema de foto-bio-reator de baixo custo, usando a luz solar.
Fu já desenvolveu cepas de cianobacterias que produzem etanol como resíduo e ganhou uma patente mundial com a sua invenção. Em teste no laboratório de biotecnologia no Hawaii utilizou foto-bio-reatores (PBR, photo-bio-reactors) com luz artificial e com luz solar. Contatações de Fu e sua equipe apontam que a luz solar funciona mais eficientemente no processo biológico. O processo baseia-se em que transforma-se um resíduo em uma coisa útil, já que as algas verde-azuladas necessitam somente sol e como nutrientes também um pouco de açúcar, especialmente à noite, durante o período sem insolação, usando o resultado da produção tradicional de cana, como o caldo de cana, ou um pouco de melaço de milho, apresentando uma solução interessante como processo paralelo para a indústria sucroalcooleira e de xarope de milho e outros.

Brasil e outros países tropicais ganham deste modo uma segunda opção, processando o etanol a partir de uma nova matéria-prima oriunda de microalgas. Um produção compartilhada permitiria que cana-de-açúcar e algas podem atender juntos a grande demanda de etanol do mercado mundial. A produtividade de algas por hectare é no mínimo 10 a 20 vezes maior do que o rendimento da cana, dependendo só da verticalização do cultivo em altura do sistema de foto-bio-reatores verticais.


Um esquema básico do processo em grande escala -With An Oil Crisis Looming Can Ethanol Made from Algae Come to the Rescue? - Digital Journal.

Focando-nos no Brasil, poderíamos produzir mais etanol usando menos espaço. A produção em massa de etanol com algas poderia ser realizada em grande parte na região Nordeste do país, próximo aos portos marítimos, estimulando assim, conjuntamente, o aproveitamento da incidência de luz solar e a capacidade de exportação desta região carente.

Ajustes na tecnologia da empresa La Wahie Biotech já são realizados para a construção de uma planta experimental de alto rendimento, e o Dr. Pengcheng Fu recebeu recentemente convite do governo chinês para a estruturação de um projeto piloto de etanol de algas em Beijing, além da equipe da empresa La Wahie Biotech Inc. no Hawaii coordenar ações da matriz da empresa e de uma ONG, a Fundação La Wahie International, especificamente com ação no campo da produção de etanol de algas.

Uma filial brasileira, La Wahie Biotech Inc., está em fase de implantação em Aracaju, sergipe. O representante é o professor alemão, especialista em bioenergia, Hans-Jürgen Franke, que está coordenando o desenvolvimento de um sistema de foto-bio-reator de baixo custo e articulando projetos pilotos no Brasil.

O prof. Pengcheng Fu afirma que a produção de etanol com base em plantações do típico agrobusiness, como a cana-de-açúcar ou o milho é por demais lenta e dispendiosa em recursos. Por esta razão optou pelas cianobacterias, que convertem luz solar e o nocivo dióxido de carbono pela fotossíntese em oxigênio e etanol, com grandes ganhos de eficiência frente à plantas muito mais complexas e de crescimento mais lento.

Evidentemente, com o sequestro do gás de efeito estufa dióxido de carbono, e sua colocação num ciclo de biocombustíveis, além da não necessidade de desmatamento para a abertura de áreas de cultivo, a tecnologia revolucionária de produção industrial de etanol da empresa La Wahie Biotech Inc. serve ainda, para combater o aquecimento global.


Representação artística de como seria uma unidade de grande escala na etapa de fosfossíntese (Promising New Research on Cellulosic Ethanol - Fruit from the Tree).

Alguns cientistas pesquisam cianobacterias para fabricar etanol, usando diferentes cepas. Mas a técnica do Prof. Fu é única, pois resolveu inserir material genético em um tipo de cianobactéria, e a partir deste passo o produto resídual é somente etanol, separado no circuito do sistema de foto-bio-reator através de uma membrana, com grande eficiência, com o benefício que tal tecnologia permite a produção em poucos dias de grandes quantidades de etanol com custo inferior às das técnicas convencionais.

Uma pequena biografia do prof. Pengcheng “Patrick” Fu:

Começou sua formação em engenharia química, depois a complementou com biologia, tendo estudado na China, Austrália, no Japão e nos Estados Unidos. Também trabalha com a NASA, pesquisando o potencial energético das cianobacterias para provimento de alimentos, oxigênio e outras utilidades para futuras colonizações na Lua e em Marte. Possui como parceiros os pesquisadores Daniel Dean e Donavan Kealoha, ambos estudantes da Universidade.

Uma leitura extra: Ethanol from Algae - http://www.oilgae.com/


Esquema de um processo misto, produzindo tanto biodiesel quanto etanol.

Esta produção mista de etanol e biodiesel a partir de algas pode ser vista esquematicamente na figura abaixo. Aproveita-se a solubilidade diferenciada em água (carboidratos) e de biodiesel (solventes) para criar duas linhas de produto.




Dorgas, Tóchicos, tamo cuns pobrema

De um artigo da Scientifica American de dezembro de 1860:

"A cocção de folhas de coca (Erythroxylon coca), planta peruana recentemente introduzida na Europa, está chamando a atenção por possuir um poder estimulante peculiar. As folhas mastigadas em doses moderadas de 0,25 g a 0,40 g excitam o sistema nervoso e permitem que seus consumidores realizem grandes esforços musculares e resistam aos efeitos de um clima rigoroso, conferindo-lhes uma sensação de alegria e felicidade. Os nativos da Bolívia e Peru viajam até quatro dias sem se alimentar, tendo como única provisão um pequeno saco de coca. Que vantagens isso não traria para um fabricante de remédios!"



Sejamos sinceros: o homem é um animal (assim como mais alguns) que adora se drogar. Podemos discutir ação, mecanismo, intensidade, o mergulho no vício, na destruição causada pelo vício - melhor seria dizer certos vícios, pois ao que parece, eu e mais uma miríade de assumidamente viciados em cafeína não temos mínimos problemas com este alcalóide.

Além destas questões mais científicas que propriamente legais, este tema tem seguido enveredado pela "falácia da composição", em especial, quando se trata da "liberalização/legalização da maconha".



A luta contra o narcotráfico não é uma luta contra a maconha, mas contra todas outras drogas, na atualidade (no Brasil, já deveria incluir com energia as anfetaminas para fins "dietéticos"), e mesmo se excluída a maconha (ou qualquer croga), obviamente teria ainda de se tratar rigidamente o traficante de crack na porta de escolas. Aqui, algumas autoridades (com vasto volume de sociólogos) esquecem que o objetivo do traficante não é somente vender aquilo que alguém quer, mas algo que alguém não possa deixar de querer - por isso mesmo, devem receber o termo traficante, e não comerciante, que é adequado ao vendedor do pãozinho da minha esquina, que por sinal, nem gosto e nem compro, pois não o quero/gosto.

Aqui, até mesmo a minha visão liberal/libertária em economia se desfaz, e tem-se de colocar limites.

Antes tratemos um ponto, e voltemos a isto em seguida.

Por outro lado, drogas como a nicotina e o álcool, amplamente legais pelo mundo, jamais fizeram deixar de existir o tráfico. Em liberando-se a maconha, em coisa alguma faria reduzir as demais drogas e pelo contrário, seria a porta de entrada em outros consumos, além da maconha, mesmo que já legalizada (exatamente como o álcool).

Mas observemos que mesmo com a legalização de determinadas drogas, como a pouquíssimo criminogênica nicotina, pouquíssimo danosa à vida social do indivíduo (aliás, muito pelo contrário, vide uma de suas motivações, que é o contato social), ainda sim se faz descaminho (comércio internacional ilegal, erroneamente tratado por muitos como "contrabando") com cigarros, se sonega impostos, se fabrica em regimes trabalhistas mais que suspeitos e inclusive, se mata nestas atividades.

Nem falemos que falsifica-se desde simples (pois são) vodkas até complexos espumantes (como engenheiro, garanto: tem de haver grandes grupos nisto, pois envasar espumantes é atividade complexa e exigente de capital). E curiosamente, mesmo com toda a legalidade, cria-se estruturas criminosas em sua produção e comercialização, sem falar no "pequeno detalhe" que uma das drogas que mais causam crimes - em todas suas variantes - é o álcool.

Logo, legalizar maconha, ou mesmo a próxima droga a ser considerada como até "inofensiva", não vai solucionar por si problemas de impostos, de corrupção, de prisões, de apenados, de viciados, de existência de traficantes, a existência de o aparecimento de novas drogas*, e nem mesmo da violência ligada às N drogas ilegais, mesmo com a liberalização da maconha, que por sinal, não é criminogênica, e como este mesmo argumento já mostra, ao ser liberalizada, não fará com que o comerciante de 1 tonelada por mês de cocaína, aninhado num morro do Rio de Janeiro, dispare seus fuzis em direção aos caros apartamentos abaixo, mesmo se pode, agora, competir ilegalmente com a maconha legal a ser vendida mesmo na padaria de sua esquina, muito menos que o meliante da cracolândia do terreno baldio, venda a 3 reais a pedrinha suja, os quais o escravo que lhe paga busca obter enfiando uma faca na velhinha ou criança no seu bairro, ainda que a velhinha tenha ido buscar sua legal maconha, ou a criança tenha ido pagá-la (ou até buscá-la), noutra padaria perfeitamente legal, que a venda.

* Sim, pois ao que parece, os grandes traficantes sempre procurarão novas mercadorias, e pouco interessa se na Idade Média o açúcar de cana foi tratado como uma droga e hoje posso comprá-lo em sacos de 5 kg no supermercado a uma quadra de minha casa. Igualmente uma argumentação de que não se pode comparar em n variáveis e níveis açúcar à maconha ou cocaína (ou qualquer outra droga) é uma falácia, pois mesmo hoje, temos de criar e aplicar leis que proíbam o excessivo uso do inocente açúcar em alimentação escolar, por exemplo, e mesmo limitar o consumo de açúcar por toda a população, pois sempre falta aos que confundem haver a descriminalização / legalização / liberalização das drogas com alterar algo de sua nocividade.

Aliás, o que já fazemos em outros n aspectos com a legal nicotina e com o álcool.




             Na Inglaterra e na França, a propaganda de refrigerantes está banida da televisão. No México, onde a obesidade cresce num ritmo assustador, é proibido vender refrigerante nas escolas de todo o país. Na Alemanha e na Bélgica, a proibição vale até para o comércio nas imediações das escolas. Na Irlanda, celebridades não podem fazer comerciais de refrigerantes dirigidos ao público infantil. - Açúcar é o novo vilão da alimentação

             O vício do açúcar é , na minha opinião , talvez o mais comum, até mesmo mais do que o alcoolismo, disse Dr. John Yudkin . ´Há  um sem-número de pessoas  que poderiam ser esbeltas e vibrantes se não fosse pelo vício dos doces. - PURO, BRANCO E MORTAL / AÇÚCAR: O MAIS PERIGOSO INGREDIENTE ALIMENTAR DO MUNDO Sobre a nocividade, se existe verso de música que considero das mais infelizes é "Porque uma erva natural não pode te prejudicar.",  Legalize Já , de Rafael e Marcelo D2, do Planet Hemp. Sobre esta pérola de sabedoria, sempre fruto da generalização simplória, respondo que basta a experimentação, com a milenar cicuta ou com a bela espirradeira de nossos parques.


 

Números

Certos números são realmente interessantes. Por exemplo:
1/81=0,012345679012345679012345679012346790...

(1/81)*9=0,11111111111111111111111111111111...

(1/81)*18=0,22222222222222222222222222222222...

E assim por diante, logicamente, até 0,999...

E também é lógico que:

12345679*9=111111111

12345679*18=222222222

E assim por diante.

Mas, como 111=3*37:

12345679/37=333667

Ufa! Pela glória de U.R.I., quase contém o número da besta!

Mas...

333667-1=333666

333666/333=1002

1002/3=334

334-1=333

Que obviamente, nos leva a 111, e deste, 37 novamente.
Uma observação: o professor Júlio César de Mello e Souza, sob pseudônimo de Malba Tahan, dedicou-se a fazer demonstrações similares sobre este número.


Mas abordemos outro interessante número:

1/7=0,142857142857142857142857142857...

(1/7)*2=0,285714285714285714285714285714...

(1/7)*3=0,428571428571428571428571428571...

(1/7)*4=0,571428571428571428571428571428...

(1/7)*5=0,714285714285714285714285714285...

(1/7)*6=0,857142857142857142857142857142...

Para tornar mais claro:

142857

142857*2=285714

142857*3=428571

142857*4=571428

142857*5=714285

142857*6=857142

Colocando numa certa ordem:

142857=1*142857
428571=3*142857
285714=2*142857
857142=6*142857
571428=4*142857
714285=5*142857

Pegaram a ciclicidade?

Analisando melhor o número 142857:

142857/13=10989
10989/11=999

E o óbvio:

999/9=111=3*37

Mas:

142+857=999

O que também poderia ser obtido com:

142857*1001=142999857

E:

7*11*13=1001

Notemos que são três primos consecutivos.

Nota: deste número nasce a interessante brincadeira que pede-se que uma pessoa escreva um número de 3 dígitos qualquer numa calculadora, como por exemplo 123, e o repita, produzindo um número de 6 dígitos, no caso 123123. Daí, pede-se que o divida por 7 e que não necessita-se preocupar com o resto, pois ele não existe. Daí, pede-se para dividir por 11, e repete-se a aparentemente prepotente afirmação sobre o resto, e por último, pede-se, com a mesma empáfia, para dividir-se por 7.

Mas temos também que:

142857/3=47619

47619/3=15873

15873/3=5291

Percebamos aqui que 3^3=27 e que lá atrás, 81=3^4.

5291/11=481

481/13=37

Aliás:

12345679/142857=86,419839419839419839419839419839...

419839/7=59977

59977/37=1621

Ou:

59977/13=461,30769230769230769230769230769...

76923/7=10989

10989/11=999

Preciso continuar?

Mas garanto que aparece daqui a pouco algum crente dizendo que isto é um sinal de Jeová e sua ação na natureza, que propiciou-nos números tão perfeitos. Inclusive, certamente, o número de mortos descritos na Bíblia.

Falando em números perfeitos, eis um terreno fértil para inúmeros teoremas.

Falando em teoremas, o que pode "bagunçar e muito" o mundo da matemática ainda, se ultrapassar a fronteira da conjectura, é a grande conjectura de Harvey Friedman. Em termos simples, poderiam ser demonstrados todos os teoremas da teoria dos números (e doutros campos) com as mesmas técnicas que Pitágoras, Euclides, o trágico Hipaso de Metaponto, que orgulhosamente iniciei o artigo na Wikipédia, Fermat e outros provaram (ou não*) seus teoremas usando técnicas relativamente simples.

Hipaso de Metaponto

Por isso o Último Teorema de Fermat é mais corretamente chamado de teorema de Wiles, e sendo "moderno", com técnicas de nosso tempo e acumuladas por séculos, consequentemente é uma demonstração na verdade muito mais ampla que o objetivo original.

Se tal questão se demonstrar, e Fermat realmente pudesse ter obtido uma demonstração, será também perigoso afirmar ao se possuir uma demonstração pitagórico-euclidiana, que esta demonstração seja a mesma de Fermat. Pior ainda se a conjectura implicar em que possam haver multiplas provas, ou ainda infinitas.

Como há tempos escrevi, ironizando, o crivo de Erastótenes completo somente a deus pertence, se este existir.
Uma história interessante da matemática encontra-se nos chamados números amigáveis, que recebiam atributos místicos pelos pitagóricos, onde um par, (1184, 1210), ignorado pelos matemáticos anteriores, incluindo colossos como Euler, Fermat e Descartes, foi descoberto em 1866 por um adolescente, B. Nicolò Paganini I..

Infernal mesmo já é a questão dos números sociáveis, generalização dos números perfeitos e amigáveis.

E uma história interessante dentro da história da Matemática, de um "gênio pagão":


A vida de Ramanujan - www.educ.fc.ul.pt


E "seu" número, 1729, e a curiosa história que o envolve:

Lembro que uma vez ir vê-lo quando ele estava doente em Putney . Eu tinha montado na cabine número de táxis 1729 e observou que o número pareceu-me mais uma estúpidez, e que eu esperava que não fosse desfavorável presságio . "Não", respondeu ele, "é um número muito interessante, é o menor número expresso como a soma de dois cubos de duas maneiras diferentes."

Reza a lenda que a demonstração pelo amigo do indiano levou meses para ser apresentada.

Para mais: 1729 (number), que me leva a desejar escrever um artigo sobre os "números táxi", que relaciona-se com o paradoxo dos números interessantes, que foi com que torturei-os até aqui, e espero ter despertado impulsos quase suicidas de debates insanos em alguns crentes pitorescos (quando não perturbados).


Se quiseres que as pessoas acreditem em alguma coisa realmente muito, muito absurda, basta acrescentar um número a ela. - Charles Seife, em 'Proofiness: The Dark Arts of Mathematical Deception'



Probabilidades e coincidências

Ocorreu interessante coincidência dos testes 1225 e 1226 da Megasena, quando saíram as dezenas 31,40,50 e 55 repetidas. E a dezena 31 saiu novamente no teste 1227.



É evidente que ninguém jogará sempre estas 4 dezenas, a não ser por algum motivo como a idade dos irmãos, por exemplo - em suma, uma razão mística e/ou sentimental. Mais evidente ainda é que ninguém em plena atribuição de suas faculdades mentais deve ter pensado que por um acaso, a dezena 31 passaria a sair permanentemente em cada sorteio.

Esta questão relaciona-se com a distribuição de dois lançamentos de dados seguidos, que como observou primordialmente Cardano, no livro Liber de Ludo Aleae, concluiu que a distribuição de 2 dados deve ser obtida dos 36 pares ordenados de resultados, e não apenas dos 21 pares (não-ordenados).

Expliquemos: sair o número 6, num primeiro lançamento, possui probabilidade óbvia de 1/6. No segundo lançamento também. Mas a probabilidade de sair o número 6 nos dois lançamentos não pode ser tratada como 1/36 (1/6*1/6), pois a questão é "quando" sairá o 6, pois ele pode sair no primeiro, no segundo ou nos dois lançamentos. A medida que o número de lançamentos cresce, obviamente, ele pode cada vez mais sair em cada um, além de em diversos, assim como em todos. Ou seja, como diríamos popularmente: "uma hora ele sai!".

Gosto de explicar esta questão por uma pergunta específica, que inclusive, já foi desesperadora para um Físico criacionista que tentava discutir probabilidades em reações químicas e mutações (como se tal fosse assim), e destas, as probabilidades da formação das primeiras moléculas vivas e da variação da genética.

Qual a probabilidade de sair uma vez o número 6 em um milhão de lançamentos de dados?

Podemos dizer com segurança que será um número muito próximo de 100%. Ou, noutras palavras, que temos certeza que a não ser que o dado seja o dito "dado viciado", o 6 sairá alguma vez. Novamente: "uma hora ele sai!".

Por outro lado, podemos afirmar com certeza que a probabilidade de em 1000 lançamentos sair apenas o número seis, e mais ainda em 1 milhão de lançamentos, é praticamente nula, numa situação que é tão óbvia quanto a não permanente presença da dezena 31 nos próximos inúmeros sorteios da Megasena do início deste texto.

Noutras palavras muito mais simples, é evidente que em algum momento, não saírá o número 6 (ou a dezena 31) e saírá algum de todos os números ou dezenas restantes - aquilo que chamamos de "resultados possíveis". Aliás, se são "possíveis", é por que saem!

Da mesma maneira, a probabilidade de sair um mesmo resultado da Megasena, as mesmas seis dezenas, dois sorteios seguidos, é muito pequena. Mas após um sorteio qualquer, o mesmo conjunto de dezenas sair novamente é o mesmo de toda semana, assim como após cada lançamento de dado, ao sair qualquer número, o mesmo ou qualquer número tem probabilidade de sair em 1/6 na próxima rodada.

Tudo em probabilidades mais complexas depende da pergunta feita, do texto da questão.

Para entender-se isto mais profundamente, é interessante se conhecer o que seja distribuição em probabilidades, e sua variação, como a para dados e Megasenas (e similares), como a distribuição de Poisson:

A distribuição Poisson - leg.ufpr.br

Poisson distribution - Wiki en

Pelo mesmo caminho, podemos pensar que ao mantermos uma perseguição a 6, ou a um determinado número na roleta, como o lendário vermelho 27, algum dia "ele chegará". Vide o gráfico que cresce para atingir 100% na distribuição de Poisson. Daí táticas de "dobrar a aposta", para a qual as roletas são "blindadas" com o ZERO e o DUPLO ZERO*, variando na roleta europeia e na roleta norteamericana. Novamente em termos populares: "uma hora o vermelho 27 sai!"



* O jogo de roleta também é blindado a "dobradores" de apostas pelo simples fato que quando se "cobre" uma das formas de 50% menos o ZERO e o ZERO-ZERO, como par e ímpar, maior e menor, e vermelho e preto, a cada dobrada estamos seguindo as potências de 2, logo, o que chamaria do "dilema de Sessa" - em números, quando se chegar a 34a "dobrada", partindo de 1 dólar, se ultrapassará sobre a mesa o maior volume de fortuna que Bill Gates já teve, 90 bilhões de dólares, e quando se ultrapassar a 44a, o PIB dos EUA, na casa dos 16 trilhões. Mas invariavelmente, as chances de ganho a priori já são menores que 50%. Numa aposta altamente lucrativa em ganhos, como no número "na cabeça", digamos, o vermelho 27, a aposta já é paga em 36 vezes o apostado, mas repitamos, 'morre-se' no ZERO e no ZERO-ZERO.

Noquemos que havendo 36 números na roleta entre vermelhos e pretos, mais o ZERO e o ZERO-ZERO, as chances para qualquer número "na cabeça" estão na escala de 1/37 a 1/38, e pela própria argumentação que me parece evidente que podemos lançar um dado seis vezes e não sair o número 6, pela própria distribuição, igualmente podemos ficar bem mais de 34 rodadas sem tirar, digamos, o vermelho 27. Por isso que estratégias de "dobrar a aposta" tem suas tremendas limitações.



Estes possíveis erros dos criadores de jogos há muito se esgotaram, e é notório o caso de Descartes, que ao perceber um erro numa loteria francesa, apresentou-o a investidores, e ao ganhar seguidas vezes para seu grupo, após investigação do tesouro real, foi nomeado consultor do rei. Por motivo similar, hoje, os melhores golpistas e jogarores altamente técnicos, assim como fraudadores criminalmente recuperados são sempre os melhores desenvolvedores, consultores e fiscais de questões de segurança, seja no sistema financeiro, seja em cassinos.

Aqui, cito o que chamo de "axioma da fechadura": Não existe fechadura que alguém crie que alguém não consiga arrombar.

Isto é uma máxima em segurança de informações, e podemos ter quase certeza (expressão que na verdade é uma contradição em termos), ou melhor, enormes chances, que o visto no filme Quebra de Sigilo (Sneakers, 1992,  IMDB), com um algorítimo que "quebre" códigos baseados primos por sua fatoração e primos, ocorrerá (ainda mais com o que chamo de a colossal "pressão da lei de Moore").

Existem outras distribuições, como a de Erlang (Wiki en), a Gama (Wiki en), e a utilíssima distribuição de Weibull (Wiki en), aquela que é adequada para se saber que a medida que o tempo passa* que, por exemplo, nossos carros estraguem, canos da pia furem e relógios parem** (mesmo os caríssimos), como todos nós sabemos que tendencialmente a 100%. Aqui, tenho de concordar com um detalhe do argumento absurdo da entropia dos criacionistas em uma de suas partes: tudo degenera.

* Que é para nosso mundinho primata tratável como contínuo.
** E inclusive morramos, como máquinas biológicas que somos. Pois nos diz desde os gregos a lógica que sendo Sócrates combinação de processos, estes falham, e logo, Sócrates é mortal.



Pela glória de U.R.I., uma coincidência!


Falando de números, falando de probabilidades e falando do jogo de roleta, lembremos que ela apresenta números de 1 a 36, mais o 0 ou 0 e 00.

Lembrando a lendária história de Gauss, aos 10 anos de idade, e sua soma de números inteiros consecutivos, temos que 1+36=37, 2+35=37, 3+34=37..., obviamente, somam-se os zeros, mas estes, ao que me parece, não somam.

Claro que voltamos ao nosso destacado número primo 37.

Se temos 18 somas destas, de 1+36=37 até 18+19=37, temos 18*37=666, o que nos mostra claramente que o quadrúpede unicórnico róseo e invisível quer nos mostrar que jogos de azar são coisas do mal, excetuando-se para aqueles que os exploram.




A mariposa que Darwin previu, Xanthopan morgani


Charles Darwin era um também um apaixonado pelas orquídeas. Estudando determinadas espécies em sua estufa, percebeu que suas formas não são engenhos elaborados para atrair insetos para que sejam polinizadas e perpetuem sua espécie. Certa vez, recebeu de um amigo uma orquídea natural de Madagascar que atraiu-lhe a atenção, a Angraecum sesquipedale, a qual possui um receptáculo de nectar que mede 28 cm.

O grande naturalista previu que em algum ponto de Madagascar deveria ter um inseto capaz de extrair o nectar dessa orquidea, no caso, uma mariposa que tivesse uma probóscide de comprimento de 28 cm. Por esta afirmação, chegou a ser ridicularizado por vários pesquisadores.
Muito tempo depois da morte de Darwin (quarenta anos depois, segundo a Wiki es), dois entomólogos filmaram a mariposa-esfinge (Xanthopan morgani praedicta, sendo praedicta do latim prevista), esvoaçando acima da flor, desenrolando sua língua de 28 cm e introduzindo-a no canal de nectar da Angraecum sesquipedale, sendo que enquanto sorvia o néctar, a mariposa inseria sua face na flor, e ao fazer isso, sua testa roçava os grãos de pólen. Ao terminar, a mariposa enrolava sua língua, e voava com a testa carregada de pólen para outra orquídea, atrás de outra dose de néctar, fertilizando deste modo outra flor.
Parceiras como esta orquídea e a mariposa evoluíram gradualmente para uma intimidade cada vez maior e continuam a evoluir ainda hoje. Os pesquisadores atualmente chamam coevolução este modo de evolução em que uma espécie impulsiona o desenvolvimento de outra espécie, sendo responsável por grande parte da diversidade da vida, abrangendo milhões de novas espécies.

A natureza está repleta de parcerias íntimas e benéficas entre flores e polinizadores. Eu aponto sempre o caso que redescobri, ainda adolescente, logicamente não tão fantástico, da coevolução da mamangava e da flor do maracuja, em que os órgãos sexuais da flor coincidem na posição para cobri de pólen as costas do inseto.

Polinização e Polinizadores de Maracujás; Xylocopa Latreille, 1802 - zoo.bio.ufpr.br
A vida consiste, grande parte, numa maravilhosa teia de espécies interativas, e interdependentes adaptadas umas as outras na qual, não podemos nos esquecer, também fazemos parte.

Editado e adaptado de Diih Loddiges (pseudônimo); Orquídea de Darwin - flickr.com




Mantendo o fio da navalha de Ockham



Quem assistiu, assistiu, quem perdeu, infelizmente não recuperará mais, alguns embates meus com notório personagem "orkutiano", criador de um novo "sistema religioso", baseado na busca da felicidade pela reprodução de seus genes (mais ou menos como cobrir a Terra de meus filhos, para "minha felicidade", e degenerar a espécie humana de vez, pois qualquer medíocre criador de cães sabe que diversidade é bom para uma raça, quanto mais para uma espécie), derrubador da falseabilidade de Popper (embora tenha se estrebuchado em tentar derrubar meu impassível corvo vermelho - MODUS PONENS, NUNCA MAIS!) e tenha enveredado por discutir fenômenos superlúmicos com uma argumentação considerando um feixe de luz como uma alavanca rígida.*


Everyone knows genetic diversity produces the strongest offspring. Why not put a little mocha in your latte? (Todo mundo sabe que a diversidade genética produz a mais forte prole. Por que não colocar um pouco de mocha no seu latte?) - Rajnesh Koothrappali, o "Raj", de The Big Bang Theory, apresentando as verdades da genética para Sheldon, a respeito de sua linda irmã.




Após receber pela cabeça três demonstrações matemáticas de que não se pode considerar um efeito cinemático de uma projeção de um feixe de luz com o que seja realmente (e isto é importantíssimo!) um fenômeno superlúmico, até mesmo um movimento correlato com o movimento angular da fonte do efeito cinemátio (a projeção), continua me devendo 500 reais de uma aposta.

Como diz minha "concubina", fica de esmola. Em caso de renitência, demonstração pelo meu "urinar num muro", com 6 variações, mais uma vez demostrando que não pode ser comparado com fenômenos superlúmicos, e elevando a aposta para uns 5000.

* Uma alavanca rígida implica que se eu pegar um cabo de vassoura, por exemplo, e o girar em um segundo, sua ponta percorrerá o seu comprimento, proporcional a um arco de curva, em também um segundo. Experimentem fazer isso com um tubo de PVC de 6 metros e verão que se cria um determinado fenômeno de inércia, e para não serem processados por atentato ao pudor - ou obviamente forem do sexo feminino - experimentem fazer o mesmo com um jato de água. Mesmo no cabo de vassoura, já aviso, a rigidez é na verdade ideal, e não real - sempre há uma flexão, pela inércia, e dependendo da velocidade, mesmo o mais forte material se deformará. A projeção de um feixe de luz, como um laser, quando projetada numa tela, não faz com que o ponto projetado se comporte como um movimento propriamente dito. Isto é apenas um efeito cinemático (do termo oriundo de 'cinema') e não pode ser comparado a um deslocamento de qualquer tipo, ou muito menos a um fenômeno superlúmico.

Mas destaquemos: no "embate", eu nunca afirmei que estes fenômenos fossem um deslocamento trivial ou mesmo uma transmissão de informação! Aliás, pois exatamente eu sei do que se tratam fenômenos superlúmicos. A questão, aqui, é que meu "oponente" fez uma afirmação absurda até em Mecânica. Como sempre digo, "só lamento".

Para mais informações:

Wiki- en: Faster-than-light

Ou, mais "pesado", só para uma amostra: James Lloyd, et al; Characterization of apparent superluminal effects in the focus of an axicon lens using terahertz time-domain spectroscopy; Optics Communications 219 (2003) 289–294


Para conhecer-se muito mais e ver a imensa produção científica séria que se faz nesta área, nada melhor que o bom onisciente Google e a pesquisa: "superluminal effects".

Mas o mais interessante é que tal personagem alega que possui uma demonstração inequívoca que como o universo, aliás, o tudo-que-existe, formou-se. Ou seja, conclui uma demonstração de uma cosmogênese. Tremei Hawking, tremei Guth, tremei Penrose, tremei todos vós, óh físicos de ponta e cosmólogos de todos os campos! E tal se dá pela navalha de Ockham!



Em suma, o personagem afirma: o universo (tudo) surgiu do nada (mas claro que em sua argumentação o "seu nada" não é um nada "nada" - óh, monstruosidade linguística) pois coisa alguma pode ser mais simples que o nada (!), e portanto, deste "nada" surgiram as coisas (podem ser as partículas), e como tal concorda com a navalha (ENORME SIC), esta teoria é correta!

Divirtam-se:  A Origem do Universo, segundo Jocax

Repetirei uma nota de outra blogagem:

Todo aquele que faz retumbantes afirmações sobre suas descobertas, em ciência, desde sua primeira apresentação, está fadado, ainda sem nenhuma exceção na história da ciência, a se colocar no palco do ridículo dos mais patéticos fiascos, e a causa disto é a não "revisão por seus pares", razão pelo qual a ciência tem se mostrado a  vela no escuro cuja luz ainda não pôde (sic) ser de forma nenhuma ofuscada pela chama da fogueira das vaidades.

Nota: monstruosidades linguísticas podem ser facilmente obtidas, especialmente quando se trata o nada, muito bem definido na Filosofia. Se o nada é realmente nada, não pode "ser", "ter", seja determinadas características, sejam até determinadas potencialidades. Logo, não existiria um "nada especial". O que existe, se existe, seria um estado muito simples e primordial, de qualquer coisa, aliás, a Cosmologia trata muito bem disto. Mas jamais afirma que seja "nada", à plena análise, muito menos, que seja a coisa mais simples que exista. Simplesmente, seria a coisa mais antiga, que por sua modificação, deu origem ao nosso universo, e nada além, afirmável, deste.


Deixarei para outra vez tratar de determinados erros tristes desta "demonstração" (como se tal existisse em Física ou qualquer ciência "popperiana", e mesmo que teorema tivesse outras implicações e definições em Física Teórica, diferentemente do que possui em Matemática, Lógica e Teoria da Informação, por exemplo).

Concentrar-me-ei no uso indevido da navalha, pois julgo estar maduro neste campo o suficiente para agora tratá-lo.

O que a navalha afirma, de maneira simplíssima:

Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenómeno, a mais simples é a melhor.

Ou, mais contemporaneamente:

Entre duas teorias que explicam igualmente os mesmos fatos, a mais simples é a correta (sic, pois na verdade, deverá ser a mais provável).

Antes de continuarmos, recomendo, e tal já bastaria:

Algumas advertências sobre o mau uso da Navalha

Percebamos que a navalha não afirma que as coisas são compostas de coisas "mais simples". Aqui, novamente repito texto meu:

Agradeço a este texto de Or, apenas só agora totalmente lido por mim* pois aborda aqui um erro sobre o que seja "complexidade" de alguns personagens que aplicam a navalha de Ockham como uma ferramenta lógica na Física e Cosmologia, de maneira tortuosa e absurda.

Fios de carbono, nanofios, são de uma simplicidade geométrica característica, e uma composição que pode beirar ao 99,99..% de carbono puro, a depender de sua produção. Mas podem formar, no macro, as mais complexas geometrias que a topologia e o engenho humano puder imaginar.

Por outro lado, gelatina, como quando em uma simples fôrma na fórma (sic de novo, por pura birra) de um tronco de cone, como um copo de plástico, é extremamente simples, pois a definimos como homogênea, como toda gelatina, e quanto a sua forma, em apenas uma linha. Mas quimicamente, sendo um gel de uma proteína, de peso molecular de centenas de milhares de átomos e um polímero de aminoácidos, é de uma complexidade extrema. Assim, o que seja complexidade passa por uma questão de valor atribuído pelo humano. As coisas na natureza, à plena análise, não são simples nem complexas, mas sim, regiões de agregação, até o que se conceitua pelo simples termo "agregado". As coisas são, pois, compostas, e não especificamente o que se possa dizer "complexas".

A coisa já estaria resolvida neste ponto, mas o personagem insiste, ou insistia, pois as vezes eles cansam, em usar de uma falácia pitoresca, para justificar a perfeição da navalha como uma "ferramenta lógica" (que não é) e uma "lei física universal" (que não pode ser).

Ele apresenta que tendo por exemplo um balde, e dito que nele haveria ou um diamante finamente lapidado, enorme, e uma pedra de granito, qual deveria ser minha escolha?

Pelo critério de "provável", no sentido de probabilidade, é elementar que seria uma pedra de granito.

Aqui, o personagem berra que a navalha nos leva a escolha mais simples.

FALSO!

A escolha no caso, foi pelo mais provável. Pois pelo mais simples, seria pelo diamante, que é, se puro, apenas composto de carbono, e possui poucas contaminações, enquanto o imensamente mais complexo é o granito, que é composto de quartzo e feldspato, arranjos cristalinos complexos e moleculares muito mais diversos que uma rede cristalina de átomos de carbono.
Mesmo para questões de idêntica complexidade, como dois granitos, não poderia ser usada a navalha, que nem permite escolhas probabilísticas ou mínimas adivinhações, e sim, escolhas de processos, de hipóteses, de explicações, e mesmo nisso, veremos, é inadequada e perigosa se usada imprudentemente.

O granito rosa no RS é, na região de Itapoã, próximo à Porto Alegre, abundante, mas é raro no mundo. O acinzentado é muitíssimo mais comum. Mas poderia eu, com base nesta proximidade, de probabilidades, afirmar qual deles estaria sob um balde?

Evidente que não!

Quanto mais usar tal método sem o que chamaria de contundência para definir os mais profundos e primordiais processos da natureza. Pior ainda, para a "origem de tudo-que-existe" (o que já é uma afirmação mais perigosa ainda que apenas tratar da origem de nosso universo).

Mas nem para questões mais amplas e observacionais, hoje, ela se presta para isso. Vide as estrelas e as "superterras" (planetas similares à Terra em composição, mas maiores). O nosso sistema solar mostra-se como uma anomalia quanto às superterras. Mas não podemos dizer pela navalha de Ockham que pela distribuição mais harmoniosa entre tamanhos de planetas de outros sistemas planetários, com intermediários em massa e tamanho entre as "terras" e os gigantes gasosos, todos os sistemas assim o sejam. Detalhe: uma curva mais gaussiana em distribuição é mais simples geometricamente que uma cheia de altos e baixos.

O nosso sistema solar como não é do tipo que seja facilmente detectável, possui um baricentro bem harmonioso, tanto que não detectamos facilmente seus homólogos pelo universo. Podemos afirmar que por suas órbitas serem mais simples, mais próximas de círculos, e sua dança pelo espaço ser mais simples, que outros como ele não existem ou que os mais complexos, de órbitas elípticas não existem, mesmo frente às colossais evidências do contrário, a caminho de 1000 planetas?

Evidente que não. A navalha é um "Critério de Prudência", um "Princípio da Economia", um "Princípio de Parcimônia", e para a escolha de hipóteses, nada mais, e jamais para comprovar estas hipóteses, lembrando o corvo de Poe, que supomos preto.

Karl Menger afirma: "é inútil fazer com pouco o que requer mais".

Mas a mais poderosa na minha apreciação é a argumentação de Popper. Imaginemos Galileu e a bola de canhão em Pisa que cai por um gráfico que mostre altura (h) versus tempo (t). Por um uso dogmático, diria, da navalha, se pensaria em obter uma reta h vs t e não uma curva parabólica, pois a equação de uma reta y=ax+b (h=gt+h0) é obviamente menos complexa que a equação de uma parábola y=ax^2+bx+c (h=(gt^2)/2+v0*t+h0).

Mas os dados conduzem a se obter uma parábola. Logo, a explicação não é a "mais simples", mas a adequada, e pouco interessa se será a imensamente mais complexa.

Para uma leitura extra sobre esta questão, o excelente texto:

Guilherme de Ockham - www.projetoockham.org

Onde destaco:

Quando se diz que a teoria mais simples é a correta não se quer dizer que a teoria mais fácil de se entender é a correta. Em primeiro lugar porque simplicidade é um critério pessoal e subjetivo. Além disso a natureza certamente não tem vocação para a simplicidade; apesar de algumas leis fundamentais da física serem expressas de forma surpreendentemente simples (como as leis de Newton), isto não significa que a explicação mais simples seja sempre a correta, ou que seja correta num número maior de vezes.
...
Sendo assim, o princípio da economia de Ockham se revela uma diretriz, não uma regra; uma indicação de qual caminho seguir, não um sentido obrigatório; ou seja, apenas bom senso sistematizado, que no fundo é tudo do que trata o método científico.

E acrescento este parágrafo, de interessante conjunto de apontamento:

Este é um critério lógico de escolha, portanto uma tese com ornamentos absurdos, não apenas será menos convincente, como também, terá menos probabilidade de estar correta. Por isso, Ockham usou a “navalha” para liquidar com os universais da teoria do realismo, insistindo que, uma explanação válida tem que ser baseada em fatos simples e observáveis.
O método Crítico Científico - http://www.adorofisica.com.br/

Os complexos orbitais atômicos também servem de evidência desta argumentação de Popper, frente a um idéia de "plugs" nos átomos e elétrons como planetas ao redor dos núcleos.

eurotrib.com
Por aplicação nestes moldes da navalha, chegariamos (ou ainda estaríamos) nisto:


E deixemos uma coisa bem clara, como já tratamos por outra abordagem, acima; as coisas não se compõe de outras mais simples, elas simplesmente se compõe de outras coisas. Se assim fosse em "descenso", este teria de ser infinito, e necessitaria, até para manter uma afirmada lógica, e aqui Kant fez um estrago irrecuperável em todas as afirmações que caem nestas dicotomias da razão, que as coisas sempre se compusessem de outras, mas a natureza não é lógica, é natural, e pouco se importa com nossos juízos.

Mas mesmo se fossem compostas infinitamente, e notem o que estou dizendo, já num absurdo, não implica em que porque se compõe, terem de passar a existir num momento no tempo, pela própria navalha dogmaticamente usada, pois tal coisa nos parece, "mais simples", pois passar a existir é mais complexo que se compor, pois acrescenta o tempo num existir/ou não sem tempo. Novamente em termos mais simples: apenas existir, eternamente, é mais simples que o processo de surgir, que implica em surgirem mais elementos. Como disse certa vez um bacharel de Filosofia que li, e adotei a frase: Filosofia é terreno escorregadio.

Aqui, mesmo Kant, como sempre digo, errou, e colocou o tempo como um cenário, e não como um dos produtos da natureza, apriorizando-o.

Por esta e outras que tenho uma repulsa tão grande aos "neopositivistas lógicos", quanto tenho pelos crentes e criacionistas. insistindo em tentar espanar o pó de cal de cadáveres do pensamento humano, com suas imposições de mitos. Mitos são apenas mitos, inclusive, os científicos (sim, eles existem!), os das verdades indiscutíveis, oriundas de lógica suposta como invencível e inexorável no avanço do conhecimento da verdade, mesmo sem se ter mais evidências que miragens de novos enganos e até cinzas de velhos erros.

Queima o que adoraste e adora o que queimaste. - São Remígio - Apóstolo dos francos


Propulsão por faquires e astronômicas distâncias

Eu tenho de confessar que no passado já fui um leitor de livros mais ávido, mas infinitamente mais intolerante, o primeiro por ter hoje muito mais coisas para ver e meios para ler e o segundo por até certo ponto ser tão ignorante que levava qualquer coisa que fugisse do realista e possível (estamos aqui tratando do científico e tecnológico, em ficção científica, por exemplo e foco), a tal ponto era assim que ao menor sinal de irrealidade ou de afirmação estapafúrdia largava o livro na mesma hora, sem considerar nem ao menos o contexto histórico de seu autor.

Mas uma exceção foi Gustave Le Rouge; O Náufrago do Espaço (originalmente La Guerre des Vampires, 1909), que li no final de meu primário, maravilhado inclusive com a descrição que fazia de brâhmanes, e a imagem de um em profunda meditação há anos com as orelhas pregadas numa árvore, a tal ponto que suas orelhas foram expandidas, acompanhando o engrossamento do tronco, nunca me saiu da cabeça.


Recentemente encontrei tal livro num sebo. Não o comprei, mas me levou a escrever este pequeno texto. Ele conta a odisseia em Marte de um engenheiro francês, Robert Darvel, levado a Marte pelo poder telecinético de monges brâhmanes.

Para um bom texto sobre a ficção deste período histórico, recomendo:

A ingenuidade sincera de autores de outros tempos eu tolero, deve ser coisa de virar um primata mais idoso.

Aliás, pela honestidade e estilo, até isto hoje eu tolero:
Hector Savinien Cyrano de Bergerac; L’Autre monde ou les états et empires de la Lune; 1657.

E diga-se de passagem, até jornadas propulsionadas por gansos eu acho no passado válidas:

Renato da Silva Oliveira; O Que É Ficção Científica

Isaac Asimov; O Início e O Fim - O verdadeiro Cirano - Primeira edição em 1977.



Agora fechemos este texto com o "pequeno problema". Nossas noções de transpor as distâncias planetárias com foguetes químicos, as estelares com propulsores iônicos e atômicos, ou formas exóticas de matéria, sem falar na manipulação do espaço e do tempo, da própria geometria do espaço. Nossas noções de engenharia para transpor as distâncias astronômicas estão como as lanças de ponta de pedra estão para nossos computadores. Com o detalhe que alguns autores menos prepotentes que escondem no terreno do mistério como funcionam seus propulsores, todos os demais, na verdade, colocam gansos a propelir suas naves, apenas as chamam de trilítio, anti-matéria, dobras-espaciais, ou outra coisa similar.

Para não ficarmos na enrolação literária barata, em breve trataremos dos números que caracterizam as distâncias astronômicas e dos problemas que trazem.



KPC



A Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), é um mecanismo de resistência de bactérias a um grupo de antibióticos. Ao adquirir tal enzima (também chamada de beta-lactamase), a bactéria se tornou resistente a um grupo de antibióticos, os baseados na estrutura química betalactama (daí antibióticos betalactâmicos ou carbapenêmicos), incluindo os mais potentes contra infecções.

Para maiores informações:

www.bacteriakpc.com.br

Superbactéria KPC – O que é? Como tratar? Prevenção e Sintomas

É um erro de se chamar de uma "superbactéria", pois a doença que causa não é das mais intensas/nocivas, e como toda bactéria, nem das doenças mais contagiosas (neste papel, os vírus são os senhores do mundo, vide a infantil catapora, dentre as mais contagiosas doenças). O que ela apresenta é uma grande dificuldade de ser eliminada dos organismos os quais infecta.


Esperando que toda esta salada de rascunhos tenha sido útil ou no mínimo agradáveis, até a próxima!
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sábado, 1 de janeiro de 2011

Design Inteligente, a (Contra)Argumentação de Massimo Pigliucci

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Da série "vamos traduzir grandes autores e chutar os ARGHmentos desta gente", o original:

Massimo Pigliucci ;
Design Yes, Intelligent No: A Critique of Intelligent Design Theory and Neocreationism;
Volume 25.5, September / October 2001

Massimo Pigliucci é professor adjunto de biologia evolutiva e filosofia na Universidade de Stony Brook, em Nova York, um membro da Associação Americana para o Avanço da Ciência, e autor de Denying Evolution: Creationism, Scientism, and the Nature of Science (Negando Evolução: Criacionismo, Cientificismo e a Natureza da Ciência). Seus ensaios podem ser encontradas em rationallyspeaking.org.


Design Sim, Inteligente Não:
Uma Crítica da Teoria do Design Inteligente e Neocriacionismo.
As reivindicações por Behe, Dembski e outros criacionistas do "design inteligente" que a ciência deve ser aberta a explicações sobrenaturais e que estes devem ser autorizados nos currículos escolares acadêmico, bem como do público são infundadas e baseadas em um engano de tanto o design na natureza e de que a teoria neodarwinista da evolução é tudo que necessita-se para tratar o tema.

Nota deste tradutor: sobre explicações sobrenaturais em ciências naturais, nem necessito aqui fazer qualquer explanação, basta linkar meu artigo sobre o princípio de demarcação.

Entre os principais expoentes da dita teoria do Design Inteligente (DI), já que assim este novo tipo de criacionismo é chamado, é William Dembski, um filósofo matemático e autor do livro The Design Inference (1998a). Nesse livro, ele tenta mostrar que deve haver um projetista inteligente por trás dos fenômenos naturais, como a evolução e a origem do Universo (veja Pigliucci 2000 para uma crítica detalhada). O argumento de Dembski (1998b) é que a ciência moderna, desde Francis Bacon tem ilicitamente caido em duas das famosas quatro tipos de causas de consideração de Aristóteles por completo, assim, restringindo desnecessariamente o seu próprio poder explicativo. A ciência é, portanto, incompleta, e a teoria do design inteligente irá corrigir este triste estado de coisas, se apenas os evolucionistas de mente fechada permitissem Dembski e companhia fizessem o trabalho.

Nota deste tradutor: novamente, para entender-se porque o DI  é  um criacionismo, um Q.E.D. em Porque o Design Inteligente é um Criacionismo.

As Quatro Causas de Aristóteles em Ciência


Aristóteles identifica causas materiais, aquilo da qual alguma coisa é feita; causas formais, a estrutura da coisa ou fenômeno; causas eficientes, a atividade imediata produzindo um fenômeno ou objeto; e as causas finais, propósito de qualquer objeto que estamos investigando. Por exemplo, digamos que queremos investigar as "causas" da Ponte do Brooklyn. A causa material englobaria uma descrição dos materiais físicos que entraram em sua construção. A causa formal é o fato de que se trata de uma ponte sobre um curso de água, e não tanto um conjunto aleatório de peças ou de outro tipo de estrutura ordenada (como um arranha-céu). As causas eficientes foram os projetos elaborados pelos engenheiros e do trabalho de homens e máquinas que realmente montou o material físico e colocou-os no lugar. A causa final da Ponte do Brooklyn foi a necessidade de pessoas para caminhar e andar entre duas massas de terra sem se molhar.

Notemos que a causa final depende, no caso, da evidência iniciativa humana, sua racionalidade aliada de suas capacidades, em especial, a de avaliar questões no tempo, com destaque para o que chamamos futuro, um determinado tipo específico de teleologia (o artigo da Wiki pt possui algumas tendenciosidades teístas e até questões contraditórias com o atual estado da Filosofia, mas presta-se a entender-se o sentido desta palavra).


A Ponte do Brooklyn.


Dembski afirma que Bacon e seus seguidores acabaram com tanto as causas formais e finais (as causas chamados teleonômicas, porque respondem à pergunta de por que algo é) para ciência livre da especulação filosófica e aterrou-a firmemente em declarações empiricamente verificáveis. Isso pode ser verdade, mas muita coisa se alterou com a obra de Charles Darwin (1859). Darwin estava se dirigindo a uma questão científica complexa de uma forma sem precedentes: ele reconheceu que os organismos vivos são claramente destinados a fim de sobreviver e reproduzir-se no mundo em que vivem, e ainda, como um cientista, ele trabalhou no quadro de explicações naturalistas de tal projeto. Darwin encontrou a resposta em sua bem conhecida teoria da seleção natural. A seleção natural, combinada com o processo básico de mutação, torna possível o desenho (projeto) na natureza sem recorrer a uma explicação sobrenatural porque a seleção é, definitivamente, não aleatória, e tem, portanto, potência "criativa" (ainda que inconsciente). Os criacionistas geralmente não entendem este ponto e acham que a seleção só pode eliminar os menos aptos, mas uma visão poderosa de Darwin era que a seleção também é um processo cumulativo análogo a uma catraca, que pode construir coisas ao longo do tempo, enquanto os passos intermédios são igualmente vantajosos.

Nota: nem só de mutações vive a evolução, tendo também papel importantíssimo a deriva genética. Sob toda análise, os seres vivos não são fixos em sua genética, e esta modifica-se no tempo, modificando-se as características das populações, que é como realmente a vida organiza-se, e não no nosso conceito de espécie, que é uma classificação humana, mais que tudo.


Uma catraca. Permite o movimento em rotação livre num sentido, mas sempre estanca o movimento no sentido contrário.

Darwin tornou possível colocar todas as quatro causas aristotélicas de volta à ciência. Por exemplo, se fôssemos perguntar quais são as causas dos dentes de um tigre dentro de um quadro darwiniano, nós iríamos responder da seguinte maneira: A causa material é fornecido pelos materiais biológicos que compõem os dentes, a causa formal é o maquinário genético e de desenvolvimento que distingue os dentes de um tigre de qualquer outro tipo de estrutura biológica, a causa eficiente é a seleção natural promovendo algumas variantes genéticas do tigre ancestral sobre seus concorrentes, e a causa final é fornecida pelo fato de ter dentes estruturados de uma certa forma faz com que seja mais fácil para um tigre conseguir a sua presa e, portanto, para sobreviver e reproduzir-se - as únicas "metas" de cada ser vivo.




Portanto, design é uma parte muito importante da ciência moderna, pelo menos sempre que há uma necessidade de explicar uma estrutura aparentemente destinada (como um organismo vivo). Todas as quatro causas aristotélicas são totalmente restabelecidas dentro da esfera da investigação científica, e a ciência não é mutilada pelo desrespeito de algumas das causas de agir no mundo. Então o que resta do argumento de Dembski e de outros defensores da DI? Eles, como William Paley (1831) bem antes deles, cometem o erro de confundir concepção natural e design inteligente, rejeitando a possibilidade da primeira e concluindo que todo o projeto, por definição, deve ser inteligente.

Acredito que tratei à exaustão, embora ainda possa e deva jogar toneladas de pedras sobre a sepultura da argumentação de Paley: O argumento do relojoeiro de Paley.



Variações de crânios e seus dentes de carnívoros "dentes de sabre", todos aparentados proximamente aos atuais felinos (What big teeth you have…).
Para referências das questões sobre evolução dos felinos e sua separação entre os felinos "dentes de sabre" e os atuais, ver os Apêndices.

Crânios de felinos atuais, todos descendentes de uma mesmo ancestral comum, apenas variações de um design básico (Felid (Cat) Skull Reproductions - Arizona Dry Bones).


Fica-se com a sensação de que Dembski está sendo hipócrita sobre Filosofia antiga. É evidente, por exemplo, que o próprio Aristóteles nunca em suas causas teleonômicas implicou design inteligente na natureza (Cohen, 2000). Seu mentor, Platão (em Timeu), já havia concluído que o criador do universo não poderia ser um deus onipotente, mas no máximo que ele chamou de Demiurgo, um deus menor que evidentemente "bagunça" com o universo com resultados mistos. Aristóteles acreditava que o alcance de Deus era ainda mais limitado, essencialmente, o papel de força motriz do universo, sem nenhuma interação adicional direto com sua criação (isto é, ele foi um dos primeiro deístas). Em Física, onde ele discute as quatro causas, Aristóteles trata a própria natureza como um artesão, mas claramente sem premeditação e inteligência. Um tigre transforma-se em um tigre, pois é da sua natureza fazê-lo, e essa natureza é devido a alguma essência física que lhe é dada pelo seu pai (hoje diríamos DNA), onde se inicia o processo de eliminação. Aristóteles faz essa rejeição clara de Deus como uma causa final (Cohen 2000) quando diz que as causas não são externas ao organismo (como um designer seria), mas interno a ele (como a biologia moderna do desenvolvimento demonstra claramente). Em outras palavras, a causa final de um ser vivo não é um plano de intenção, ou objetivo, mas simplesmente intrínseco nas mudanças no desenvolvimento do organismo. O que significa que Aristóteles identificou as causas finais com as causas formais na medida em que os organismos vivos estão em uma única causa. Ele rejeitou a chance e aleatoriedade (como fazem os biólogos modernos), mas não colocou um designer inteligente em seu lugar, contra o argumento de Dembski. Tivemos que esperar até Darwin para um avanço na concepção de Aristóteles sobre a causa final dos organismos vivos e de biologia molecular moderna para alcançar um entendimento da sua causa formal.

Complexidade Irredutível


Há dois argumentos adicionais propostos por teóricos do DI para demonstrar o design inteligente no universo: o conceito de "complexidade irredutível" e o critério de "complexidade-especificação". A complexidade irredutível é um termo introduzido neste contexto pelo biólogo molecular Michael Behe em seu livro Darwin's Black Box (1996). A idéia é que a diferença entre um fenômeno natural e um designer inteligente é que um objeto de design é planejado com antecedência, com premeditação. Enquanto um agente inteligente não é limitado por um processo evolutivo passo-a-passo, um processo evolutivo é a única maneira da natureza poder continuar, dado que não tem capacidade de planejamento (este pode ser submetido à complexidade incremental). A complexidade irredutível, então surge quando todas as partes de uma estrutura tem que estar presentes e funcionais ao mesmo tempo para que funcione, indicando, segundo Behe, que a estrutura foi projetada e não poderia ter sido construída gradualmente pela seleção natural.

O exemplo de Behe de um objeto irredutivelmente complexo é uma ratoeira. Se você tirar qualquer um dos elementos mínimos que fazem o trabalho a armadilha vai perder sua função, por outro lado, não há nenhuma maneira de montar uma ratoeira gradualmente a partir de um fenômeno natural, porque não vai trabalhar até o último pedaço ser montado. Premeditação e, portanto, o design inteligente, é necessário. Claro que é. Afinal, como ratoeiras comprados em lojas de ferragens são realmente produtos de origem humana, sabemos que eles são inteligentemente projetados. Mas o que dizer de estruturas biológicas? Behe alega que, embora a evolução pode explicar muita coisa da diversidade visível entre os organismos vivos, não é suficiente quando chegamos ao nível molecular. A célula e vários dos seus componentes fundamentais e vias bioquímicas são, segundo ele, irredutivelmente complexa.




O problema com esta afirmação é que ela está em contradição com a literatura disponível sobre estudos comparativos em microbiologia e biologia molecular, que Behe ignora convenientemente (Miller 1996). Por exemplo, os geneticistas estão continuamente mostrando caminhos bioquímicos que são parcialmente redundantes. A redundância é uma característica comum dos seres vivos em diferentes genes estão envolvidos na mesma ou em parte, funções sobrepostas. Enquanto isto pode parecer um desperdício, modelos matemáticos mostram que a evolução por seleção natural para produzir redundância molecular porque quando surge uma nova função, é necessário que não pode ser realizada por um gene que já está fazendo outra coisa, sem comprometer a função original. Por outro lado, se o gene se repetiu (por mutação), uma cópia é livre de constrangimentos imediatos e pode lentamente divergir na estrutura do original, eventualmente, assumir novas funções. Este processo leva à formação de "famílias" de genes, grupos de genes que claramente se originaram a partir de uma seqüência de DNA único ancestral, e que agora são diversificados e executam uma variedade de funções (por exemplo, a globina, que varia de proteínas permitindo a contração muscular às envolvidas na troca de oxigênio e dióxido de carbono no sangue). Como resultado da redundância, as mutações podem derrubar os componentes individuais das vias bioquímicas, sem comprometer a função global ao contrário das expectativas de complexidade irredutível.

(Observe que os criacionistas, que nunca perdem uma oportunidade, também tentaram alegar que a redundância é outra evidência de design inteligente, porque um engenheiro iria produzir sistemas de backup -sistemas redundantes - para minimizar falhas catastróficas se a componentes primários pararem de funcionar. Apesar de muito inteligente, esse argumento ignora mais uma vez a biologia: a maioria dos genes duplicados acaba como pseudogenes, literalmente, pedaços de lixo molecular que, eventualmente, são perdidas para sempre para qualquer utilidade biológica [Max 1986].)

Para sermos corretos, existem vários casos em que os biólogos não sabem o suficiente sobre os constituintes fundamentais da célula para serem capazem de supor ou demonstrar a sua evolução gradual. Mas isto é um argumento da ignorância, e não evidência positiva de complexidade irredutível. William Paley lançava exatamente o mesmo argumento para afirmar que é impossível explicar o aparecimento do olho por meios naturais. No entanto, os biólogos sabem hoje de vários exemplos de formas intermediárias do olho, e há evidências de que essa estrutura evoluiu independentemente várias vezes durante a história da vida na Terra (Gehring e Ikeo 1999). A resposta para a clássica pergunta criacionista "Para que serve meio olho?" é "Muito melhor em tudo do que nenhum olho!"


Os estágios da evolução do olho em artigo de Nilsson e Pelger, com n igual ao número de gerações que passam-se em seu modelo (Nilsson, D.-E., and S. Pelger. 1994. A pessimistic estimate of the time required for an eye to evolve. Proc. Roy. Soc. Lond. B 256:53-58; JERRY COYNE; The biggest problem in selling evolution: how fast can selection create complexity?, ).

No entanto, Behe tem um ponto sobre a complexidade irredutível. É verdade que algumas estruturas simplesmente não podem ser explicadas por processos lentos e cumulativos da seleção natural. De sua ratoeira para Paley visualizando a ponte do Brooklyn, a complexidade irredutível é realmente associada com o design inteligente. O problema para a teoria do DI é que não há nenhuma evidência até agora de complexidade irredutível em organismos vivos.



O critério da complexidade-especificação


William Dembski usa uma abordagem semelhante à Behe para suas pretensões criacionistas, em que ele também quer demonstrar que o design inteligente é necessário para explicar a complexidade da natureza. Sua proposta, no entanto, é tanto mais geral e mais profundamente falha. Em seu livro The Design Inference, (A Inferência do Design, Dembski 1998a) afirma que existem três tipos essenciais de fenômenos da natureza: "regular", aleatório, e projetado (que ele supõe ser inteligente). Um fenômeno regular seria uma simples repetição explicável pelas leis fundamentais da física, por exemplo, a rotação da Terra em torno do sol. Fenômenos aleatórios são exemplificados pelo lançar de uma moeda. Projeto entra em qualquer momento em que dois critérios são satisfeitos: complexidade e especificação (Dembski, 1998b).

Há vários problemas com este cenário organizado. Primeiro de tudo, deixando de lado por um momento o projeto, as escolhas ainda não estão limitados a regularidade e aleatoriedade. Caos e teoria da complexidade têm demonstrado a existência de fenómenos de auto-organização (Kauffman 1993; Shanks e Joplin 1999), situações em que a ordem espontânea aparece como uma propriedade emergente de interações complexas entre as partes de um sistema. E esta classe de fenômenos, longe de ser apenas uma invenção da imaginação matemática, como Behe afirma, são reais. Por exemplo, certos fenômenos meteorológicos, como furacões não são regulares nem aleatórios, mas são o resultado de processos de auto-organização.


Um furacão e a galáxia M-51, exemplos de sistemas onde organização surge naturalmente.


Em resposta a alguns de seus críticos, Dembski (2000) afirma que o design inteligente não significa melhor projeto. A crítica de um design de qualidade inferior tem sido usada pelos evolucionistas que perguntam por que Deus faria um trabalho tão desleixado com a criação que mesmo um simples engenheiro humano pode facilmente determinar onde estão as falhas. Por exemplo, porque é que os seres humanos têm hemorróidas, varizes, dores lombares e dores nos pés? Se você assumir que foi "inteligentemente" projetado, a resposta deve ser que o designer foi bastante incompetente, algo que dificilmente agradaria um criacionista. Em vez disso, a teoria da evolução tem uma única resposta para todas essas perguntas: os seres humanos evoluíram o bipedalismo (andar com uma postura ereta), só muito recentemente, e a seleção natural ainda não plenamente adaptou nosso corpo à esta nova condição (Olshansky et al 2001). Nossos parentes mais próximos dos primatas, os chimpanzés, gorilas e outros, são melhor adaptados ao seu modo de vida e, portanto, são menos "imperfeitos" do que nós!

Dembski é, naturalmente, correto em dizer que o design inteligente não significa melhor projeto. Assim como a ponte do Brooklyn é uma maravilha da engenharia, não é perfeita, o que significa que teve de ser construído dentro das condições e limitações dos materiais e tecnologias disponíveis, e ainda está sujeita às leis naturais e decadência. A vulnerabilidade da ponte a ventos fortes e terremotos, e sua inadequação para suportar um volume de tráfego maior que para os quais foi construída não pode ser visto como semelhante à dor nas costas causadas por nossa recente história evolutiva. No entanto, a imperfeição dos organismos vivos, já apontado por Darwin, faz desaparecer a ideia de que eles foram criados por um criador onipotente e todo-bondade, que certamente não seria limitado pelas leis da Física que Ele mesmo teria criado a partir do zero.


Os Quatro Tipos Fundamentais de Design e Como Reconhecê-los

Dadas estas considerações, eu gostaria de propor um sistema que inclui sugestões tanto a Behe quanto Dembski, ao mesmo tempo mostrando porque ambos estão errados em concluir que temos evidência de design inteligente no universo. A Figura 1 resume a minha proposta. Essencialmente, eu acho que existem quatro tipos possíveis de design na natureza que, em conjunto com as categorias de Dembski de fenômenos "regulares" e aleatórios, e a adição de fenômenos caóticos e auto-organização, verdadeiramente esgotam todas as possibilidades conhecidas por nós. A ciência reconhece o regular, o aleatório, e os fenômenos de auto-organização, bem como os dois primeiros tipos de projeto descrito na figura 1. Os outros dois tipos de projeto são em princípio possíveis, mas eu afirmo que não existe nem evidência empírica, nem razão lógica para acreditar que eles realmente ocorrem.

O primeiro tipo de projeto é o não-inteligente-natural, e é exemplificado pela seleção natural dentro da biosfera da Terra (e possivelmente em outros lugares do universo). Os resultados deste projeto, como todos os organismos vivos na Terra, não são irredutivelmente complexos, o que significa que eles podem ser produzidos por incremental, contínua (embora não necessariamente gradual) mudança com o tempo. Esses objetos podem ser claramente atribuídos a processos naturais também por causa de outras duas razões: eles nunca são ótimos (no sentido de engenharia) e são claramente o resultado de processos históricos. Por exemplo, eles estão cheios de lixo, peças não utilizadas ou subutilizadas, e assemelham-se a objetos similares, ocorrendo simultaneamente ou anteriormente no tempo (ver, por exemplo, o registro fóssil). Observe que alguns cientistas e filósofos da ciência se sentem desconfortáveis em considerar este "projeto" porque eles igualam o termo com inteligência. Mas eu não vejo nenhuma razão para adotar tal limitação. Se algo é moldado ao longo do tempo, por qualquer meio, de tal forma que cumpre uma determinada função, então foi concebido e é simplesmente a questão de como o design ocorreu a se concretizar. Os dentes de um tigre são claramente destinados para a eficiência em cortar a carne de sua presa e, portanto, para promover a sobrevivência e reprodução dos tigres ostentam tais dentes.

Nota: aqui somo ao excelente texto de Massimo que além de eficientes para cortar carne, os nossos amigos de "patas de veludo" de todos os tamanhos e em toda sua já longa história, desde quando nos matavam pelas planícies africanas, possuem a abertura mandibular perfeita para abocanhar as traqueias de suas vítimas, os caninos para aprisioná-las e asfixiá-las e no passado, até cortá-las de lado a lado, até, talvez, no abdômen. Assim, o conjunto inteiro os mostra como um design natural de excelente projeto para fazer o que fazem melhor dentre os mamíferos: matar.


Representação artística (Dr. Gizmo And Ted Hammond) e fotografia mostrando quão adequadas são para matar as armas dos felinos.

O segundo tipo de design é o inteligente-natural. Esses artefatos geralmente são irredutivelmente complexos, como um relógio desenhado por um ser humano. Eles também não são ideais, o que significa que comprometem-se claramente com as soluções para problemas diferentes (trade-offs - econômicos para a sua finalidade, "suficientes") e estão sujeitos às restrições das leis físicas, materiais disponíveis, a perícia do projetista, etc. Os seres humanos podem não ser os únicos a gerar esses objetos, os artefatos de uma civilização extraterrestre poderiam cair nesta mesma ampla categoria.

Nota: aqui, vale, por exemplo, lembrando a ponte do Brooklyn, de que não necessita suportar o mais absurdo tráfego em toda a sua pretendida eternidade, pois como nós engenheiros aprendemos, os riscos nulos implicam em custos infinitos. Assim, os projetos humanos são o necessário e seguro, jamais o ideal.

O terceiro tipo de projeto, que é difícil, senão impossível, de distinguir a partir do segundo, é o que eu chamo de inteligência sobrenatural desleixada. Os objetos criados dessa maneira são essencialmente indistinguíveis de artefatos humanos ou por ETs, exceto que eles seriam o resultado do que os gregos chamavam de um Demiurgo, um deus menor, com poderes limitados. Alternativamente, eles poderiam ser devidos a um deus onipotente maldoso que só se diverte com produtos de qualidade inferior. A razão pela qual o design inteligente-sobrenatural-desleixado não é distinguível de alguns casos (mas por todos os meios não todos) do design inteligente natural é a famosa terceira lei de Arthur C. Clarke: do ponto de vista de uma civilização tecnologicamente menos avançada, a tecnologia de uma civilização muito avançada é indistinguível de mágica, essencialmente (como o monolito, em 2001: A Space Odyssey - 2001: Uma Odisséia no Espaço). Eu estaria muito interessado se alguém pudesse sugerir um caminho contornando a lei de Clarke.

Notas:

1) Novamente, caímos na demonstração de mesmo por uma civilização poderosíssima, até inimaginável, ainda sim, em algum momento, tem-se de chegar a uma biopoese e uma evolução ou uma criação.

2) Na verdade, é o representado por Clarke em seu conto O Sentinela, levado ao cinema em "2001", de Kubrick , com a modificação que no conto se lê como a civilização nos conduz a utilizar instrumentos. De certa maneira, uma ignorância tolerável literariamente por Clarke, pois o uso, por exemplo de um osso como prolongamento dos braços e até instrumentos muito mais "finos", já é conhecido por nossos primos orangotangos (por exemplo), separados de nós há bem mais de 3 milhões de anos, e o evento do conto se dá há 3 milhões de anos atrás, e exatamente como apresentado por Clarke, chimpanzés atiram pedras, e são igualmente separados de nós há mais tempo. Só os Ardipithecus ramidus já levam a ancestralidade humana, mesmo com discussões sobre suas ramificações, para uns 4 milhões de anos atrás.

Uma civilização extremamente avançada, propiciando um passo da evolução humana, na visão de Arthur C. Clarke, aqui, na magnífica obra de Kubrick.


Finalmente, temos o design inteligente-sobrenatural-perfeito, que é o resultado da atividade de um deus onipotente e todo-bondade. Esses artefatos seriam tanto irredutivelmente complexo e ótimos. Eles não seriam limitados por qualquer trade-offs ou por leis da física (afinal, Deus criou as próprias leis). Enquanto este é o tipo de Deus, no qual muitos cristãos fundamentalistas acreditam (apesar de algumas acabar com a parte onibenevolente), é evidente, a partir da existência da maldade humana, bem como das catástrofes naturais e doenças, que Deus não exista. Dembski reconhece essa dificuldade e, como já se referiu, admite que o seu design inteligente poderia mesmo ser devido a uma civilização muito avançada extraterrestre, e não a uma entidade sobrenatural em tudo (Dembski 2000).

Nota: aqui, os pensadores ateístas do século XIX, como por exemplo Sébastien Faure, como em Doze Provas da Inexistência de Deussem falar em todo estrago que Friedrich Nietzsche apresenta para a fé cristã-judaica-islâmica e sua pregação (pois não é argumentação nem justificação) de uma divindade bondosa, apresentariam argumentos muito mais sólidos que qualquer conjunto de centenas de páginas que aqui eu escrevesse, e no meu caso, em muito pior estilo.

Conclusões

Em resumo, parece-me que os principais argumentos dos teóricos do Design Inteligente não são novos nem convincentes:
  1. Simplesmente não é verdade que a ciência não trata todas as causas aristotélicas, sempre que projeto precisa ser explicado;
  2. Enquanto a complexidade irredutível é certamente um critério válido para distinguir entre os designs inteligentes e não-inteligentes, estas não são as únicas duas possibilidades, e os organismos vivos não são irredutivelmente complexos (e.g., ver Shanks and Joplin 1999);
  3. O critério de complexidade-especificação foi respeitado pela seleção natural, e não pode, portanto, uma forma de distinguir design inteligente de não-inteligente;
  4. Se o projeto sobrenatural existe em tudo (mas onde está a evidência ou lógica convincente?), este certamente não é do tipo que a maioria dos religiosos provavelmente subscrevem, e se confunde com a tecnologia de uma civilização muito avançada.

Portanto, as afirmações de Behe, Dembski e outros criacionistas (e.g., Johnson 1997) que a ciência deve ser aberta a explicações sobrenaturais e que estes devem ser autorizados nos currículos escolares acadêmicos, bem como do público são infundadas e baseadas em um engano de ambos design na natureza e do que a teoria neo-darwinista da evolução (Mayr e Provine, 1980) seja tudo sobre o assunto.

Agradecimentos

Gostaria de agradecer Melissa Brenneman, Will Provine, e Niall Shanks por observações perspicazes sobre versões anteriores deste artigo, assim como a Michael Behe, William Dembski, Ken Miller, e Barry Palevitz pela indulgência na correspondência e discussões comigo sobre estes assuntos.


Referências

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Apêndices


Citações de Nietzsche

Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje! — NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência, §125.


No cristianismo, nem a moral nem a religião têm qualquer ponto de contado com a realidade. São oferecidas causas puramente imaginárias (“Deus”, “alma”, “eu”, “espírito”, “livre arbítrio” — ou mesmo o “não-livre”) e efeitos puramente imaginários (“pecado”, “salvação”, “graça”, “punição”, “remissão dos pecados”). Um intercurso entre seres imaginários (“Deus”, “espíritos”, “almas”); uma história natural imaginária (antropocêntrica; uma negação total do conceito de causas naturais); uma psicologia imaginária (mal-entendidos sobre si, interpretações equivocadas de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, os estados do nervus sympathicus com a ajuda da linguagem simbólica da idiossincrasia moral-religiosa — “arrependimento”, “peso na consciência”, “tentação do demônio”, “a presença de Deus”); uma teleologia imaginária (o “reino de Deus”, “o juízo final”, a “vida eterna”). — Esse mundo puramente fictício, com muita desvantagem, se distingue do mundo dos sonhos; o último ao menos reflete a realidade, enquanto aquele falsifica, desvaloriza e nega a realidade. Após o conceito de “natureza” ter sido usado como oposto ao conceito de “Deus”, a palavra “natural” forçosamente tomou o significado de “abominável” — todo esse mundo fictício tem sua origem no ódio contra o natural (— a realidade! —), é evidência de um profundo mal-estar com a efetividade… Isso explica tudo. Quem tem motivos para fugir da realidade? Quem sofre com ela. Mas sofrer com a realidade significa uma existência malograda… A preponderância do sofrimento sobre o prazer é a causa dessa moral e religião fictícias: mas tal preponderância, no entanto, também fornece a fórmula para a décadence… — Friedrich Nietzsche
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Artigos sobre evolução de felinos

* No qual deve-se destacar:

The felid family consists of two major subgroups, the sabretoothed and the feline cats... (A família dos felídeos consiste de dois subgrupos principais, os dentes de sabre e os gatos felinos...).
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  • Nilsson, D.-E., and S. Pelger. 1994. A pessimistic estimate of the time required for an eye to evolve. Proc. Roy. Soc. Lond. B 256:53-58 - PDF - www.phylosophy.org
Abstract - rspb.royalsocietypublishing.org / adsabs.harvard.edu

Considerações teóricas do design do olho permitem encontrar rotas ao longo das quais as estruturas ópticas dos olhos podem ter evoluído. Se a seleção sempre favorece um aumento na quantidade de informação espacial detectável, uma área determinada sensível à luz irá gradualmente tornar-se uma lente de foco do olho, através da prossecução de pequenas melhorias de design. O limite máximo para o número de gerações necessárias para a completa transformação pode ser calculado com um mínimo de suposições. Mesmo com uma consistente abordagem pessimista, o tempo necessário se torna incrivelmente curto: apenas algumas centenas de milhares de anos.