sexta-feira, 30 de maio de 2025

Nossos ancestrais, talvez Neandertais

O Legado Genético dos Neandertais: Quais etnias tiveram mais cruzamentos com eles no passado?

Gemini da Google e Francisco Quiumento

A história da humanidade é tecida por migrações, encontros e, surpreendentemente para muitos, pelo cruzamento entre diferentes espécies de hominídeos. Graças aos avanços da genética populacional, hoje sabemos que nossos ancestrais, os Homo sapiens, não apenas coexistiram com os Neandertais (Homo neanderthalensis), mas também se reproduziram com eles. Essa interação deixou uma marca indelével em nosso genoma, revelando quais populações atuais carregam mais desse legado ancestral.

As evidências genéticas apontam para uma conclusão clara: as etnias cujos ancestrais migraram para fora da África foram as que tiveram maior taxa de cruzamento com os Neandertais. A grande maioria das pessoas vivas hoje fora do continente africano possui uma pequena porcentagem de DNA Neandertal em seus genomas, geralmente variando entre 1% e 4%. Isso indica que os eventos mais significativos de hibridização ocorreram após a saída dos humanos modernos da África.

Ao detalhar essas interações, percebemos distinções importantes:

  • Populações da Eurásia (Europa e Ásia): Estudos genéticos consistentemente mostram que as populações europeias e asiáticas tendem a ter uma proporção ligeiramente maior de DNA Neandertal. Isso sugere que os principais eventos de cruzamento aconteceram nas regiões do Oriente Médio e na Eurásia, à medida que os Homo sapiens se dispersavam pelo continente.

  • Populações do Leste Asiático: Algumas pesquisas até indicam que as populações do Leste Asiático podem carregar uma porcentagem marginalmente maior de DNA Neandertal em comparação com as populações europeias. Essa sutil diferença poderia apontar para eventos adicionais de cruzamento à medida que os humanos modernos se expandiam mais profundamente pela Ásia.

  • Populações Africanas: Em contrapartida, as populações da África Subsaariana geralmente apresentam quantidades muito baixas ou indetectáveis de DNA Neandertal. A razão para isso é que os principais episódios de hibridização ocorreram após a saída dos primeiros Homo sapiens da África, antes de sua dispersão para o restante do mundo.

É crucial entender que não existem "etnias puras" em relação ao DNA Neandertal; a contribuição genética está distribuída em um contínuo entre as populações não africanas. Além disso, a ciência nos mostra que os eventos de cruzamento foram complexos e provavelmente múltiplos, ocorrendo em diferentes momentos e locais ao longo de nossa pré-história.

A pesquisa continua a refinar nossa compreensão sobre essa fascinante intersecção de linhagens, mas uma coisa é certa: os Neandertais não apenas habitaram a Terra ao lado de nossos ancestrais, mas também contribuíram geneticamente para a diversidade da humanidade moderna, especialmente naquelas populações que um dia empreenderam a grande jornada para além dos limites do continente africano.

Extra 


O Cruzamento Arcaico e Nosso Legado Genético

A fascinante jornada do Homo sapiens pela Terra não foi uma história isolada. Durante o Paleolítico Médio e o início do Paleolítico Superior, nossos ancestrais cruzaram-se com outras espécies de hominídeos arcaicos, como os Neandertais e os Denisovanos, e até mesmo com outros hominídeos ainda não identificados. Essa miscigenação ocorreu em múltiplos eventos independentes, deixando uma marca indelével em nosso genoma.

Mapa da Eurásia Ocidental mostrando áreas e datas estimadas de possível hibridização entre neandertais e humanos modernos (em vermelho) com base em amostras fósseis de locais indicados.


A Herança Neandertal

Na Europa, Ásia e Norte da África, o cruzamento entre humanos arcaicos e modernos aconteceu diversas vezes. Estima-se que os principais eventos de introgressão (a incorporação de genes de uma espécie em outra) com os Neandertais tenham ocorrido há cerca de 47.000 a 65.000 anos.

Hoje, o DNA Neandertal é encontrado nos genomas da maioria das populações contemporâneas fora da África Subsaariana, representando geralmente entre 1% e 4% de seu material genético. Para as populações da África Subsaariana, essa porcentagem é muito baixa ou quase indetectável, chegando a no máximo 0,3%. No entanto, populações de língua cushítica e semítica do Chifre da África, que possuem grande parte de sua ancestralidade de eurasianos ocidentais, podem ter cerca de 1% de DNA Neandertal.

Curiosamente, a distribuição desse DNA Neandertal varia: ele é geralmente mais alto nos asiáticos orientais, intermediário nos europeus e menor nos asiáticos do sudeste. Embora algumas pesquisas apontem para uma menor presença em melanésios e polinésios em comparação com asiáticos orientais e europeus, outras sugerem maior mistura Neandertal em melanésios e nativos americanos do que em europeus (mas não mais do que em asiáticos orientais).

A Influência Denisovana

A ancestralidade derivada dos Denisovanos tem uma distribuição diferente. Ela está amplamente ausente nas populações modernas da África, Ásia Ocidental e Europa. As maiores taxas de mistura Denisovana, de longe, foram encontradas em populações da Oceania e em algumas do Sudeste Asiático. Estima-se que 4% a 6% do genoma dos melanésios modernos seja de origem Denisovana, com as maiores quantidades detectadas até agora nas populações Negrito das Filipinas. Apesar disso, nem todas as populações Negrito do Sudeste Asiático carregam essa mistura, como é o caso dos Andamaneses. Traços mais baixos de ancestralidade Denisovana também foram encontrados na Ásia continental, com uma presença mais elevada em populações do Sul da Ásia em comparação com outras populações continentais.

O Legado Africano e a Adaptação Humana

Na África, também foram encontrados alelos arcaicos, consistentes com vários eventos de miscigenação independentes dentro do próprio continente. No entanto, a identidade desses hominídeos africanos arcaicos ainda é desconhecida. Um estudo recente de 2020 destacou que, apesar de seus níveis muito baixos ou da ausência de ancestralidade Neandertal e Denisovana, as populações africanas compartilham muitas variantes genéticas de Neandertais e Denisovanos que estão ausentes na Eurásia. Isso reflete como uma proporção maior da variação humana ancestral foi mantida na África.

Esses cruzamentos arcaicos podem ter sido cruciais para a sobrevivência e sucesso do Homo sapiens. Argumenta-se que a introgressão de DNA de outras linhagens permitiu à humanidade migrar e prosperar em novos ambientes, tornando a hibridação uma força essencial no surgimento dos humanos modernos. Além disso, pesquisas recentes de dezembro de 2023 indicam que os genes herdados de Neandertais e Denisovanos podem até influenciar biologicamente a rotina diária dos humanos modernos.

Essa complexa teia de ancestralidade sublinha que a história da humanidade é uma narrativa de conexões profundas e inesperadas, com ecos genéticos que ressoam em nós até hoje.

Interbreeding between archaic and modern humans - wikipedia.org 


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