Assisti sábado ao novo filme do diretor Ron Howard sobre os best sellers do autor de imenso sucesso Dan Brown, Anjos e Demônios*.
*Agora na versão cinematográfica transformado em continuação, quando inicialmente no livro seria uma história anterior. Interessante é que agora, o que seria uma heresia em Código, passou a ser uma apologia e redenção da Igreja Católica, e até sua primazia sobre a representação da religiosidade cristã... Vai se entender?!
Juro que tentei não achar horrível (e o termo é bem este, mesmo com o compositor/produtor Hans Zimmer em um de seus melhores momentos), pois realmente gosto do diretor e de Tom Hanks, mas está difícil. Leitores ávidos de Dan Brown, como minha amiga Juliana Vicente, que leu pelo menos umas três vezes somente Anjos e Demônios (considerado pelos seus fãs geralmente como o melhor livro do autor), odiaram as alterações e o próprio filme em si. Mas adaptações realmente não são fáceis, vide Watchmen ou V de Vingança, só para citar obras que li e derivadas de quadrinhos, muito mais claros sobre o que deve ser mostrado que o imaginário mundo da literatura pura.
Confesso que me atrai a maneira que Dan Brown trata a fé, como transcendente à necessidade dos mitos, pois seu personagem, mesmo após "descobrir" a humanidade e descendência de Jesus de Belém, Filho de José, O Carpinteiro (note a cidade) ainda se mantém um homem "religioso", e ora em gratidão junto ao túmulo que descobriu.
Lembra-me o personagem filósofo, Dr. Bud Chantilas, de Planeta Vermelho (Red Planet, 2000), representado por Terence Stamp, ao questionar a falta de fé do biólogo cético e ateu,Dr. Quinn Burchenal, representado por Tom Sizemore, em mais ou menos estas palavras:
-Você não tem fé? Estamos indo numa nave jamais testada, para um planeta jamais visitado, para tentar salvar a humanidade e você não tem fé?
Esta fala (fora minhas distorções) representa para mim de maneira perfeita a demonstração que a existência humana e seus objetivos ao enfrentar o mundo independem de mitos ou de consciências cósmicas providentes, provedoras e criadoras, e sim, da nossa certeza da necessidade de sobrevivermos enfrentando as adversidades da natureza.
Ou, como falou indiretamente de maneira brilhante H.G.Wells, em The Shape of Things to Come, levado ao cinema em 1936 em obra fundindo dois livros de Wells, com o título em português "Coisas Que Estão Por Vir" ou "Daqui a Cem Anos" - dependendo da edição - (Things to Come, 1936), primeira e durante muito tempo única superprodução no gênero ficção científica, na fala final de um dos personagens centrais (novamente, de memória, logo talvez com distorções):
-Se somos divinos, o universo é nosso por herança. Se somos animais, é nosso pela necessidade de sobrevivermos. Logo, temos de conquistar o universo, mais e mais, eternamente.
Assim, não interessa se somos anjos ou demônios, mais um macaco maldoso que enfiou uma pedra na cabeça do primeiro tapir que lhe cruzou a frente - assistam 2001 novamente, e se possível, leiam o conto O Sentinela, sua origem, vão entender perfeitamente o que seja a origem atávica dos mitos de Órion, o caçador, o que fez o homem vencer a fome, ou Osíris, que nos livrou da fome dos leões.
Mas parando de falar em cinema, filosofia, mitologia e voltando a algo de ciência em Anjos e Demônios, tratemos de bósons de Higgs, antimatéria, etc.
O LHC (Large Hadron Collider , Grande Colisor de Hádrons) do CERN não visa produzir anti-matéria. Os antiprótons já são produzidos no CERN desde 1995. Os pósitons (os anti-elétrons) já são conhecidos desde as fundações da mecânica quântica (1932), e sua existência já é clara na produção de par, apresentada na blogagem sobre fontes de energias de Star Trek.
O LHC visa colidir prótons a velocidades próximas da luz (nisto o filme/livro acerta) para obter a partícula que determina a massa de todas as outras, o teórico bóson de Higgs. Seja matéria ou antimatéria, as partículas que possuem massa possuem relações teóricas com a existência dos bósons de Higgs.
E se a origem da massa de qualquer partícula tem a ver com o bóson de Higgs, a origem de todo o universo, onde está a totalidade da massa de nosso universo (e isso que apenas ele é, sua massa e energia, seus campos e sua ocupação de espaço e tempo), a origem de tudo que vemos e somos no bóson de Higgs está.
Mas a origem dos bósons de Higgs seria OUTRO problema...
Voltando.
Outro ponto é que produzir antimatéria exige na nossa atual tecnologia, e muito de nossa física, enorme quantidade de energia, e tal processo é inviável, embora permita delírios de ficção os mais variados - Star Trek que o diga - (e mesmo como delírios tecnológicos, bem fundamentados).
Percebamos que manter qualquer partículas (ainda mais objetos mesmo de gramas) flutuando no ar ou espaço contra a gravidade exige campos magnéticos gigantescos, de enorme potência elétrica para os produzir, e não algo que possa ser colocado numa mochila, e muito menos, que tal campo possa ser produzido por dois eletromagnetos opostos, e sim por um toróide, ou anel, apenas para a flutuação e ainda mais, que não poderá, se em dois pólos ou anel, enfrentar a ação da gravidade em ângulo ortogonal à sua ação.
Ou seja: NÃO VIRA A AMPOLA, DAN BROWN! :)
Um feliz sapinho flutuando com um poderoso campo magnético:
http://www.hfml.ru.nl/
Para uma interessante entrevista sobre o tema no filme:
Antimatéria do Cern ameaça o Vaticano - no cinema
http://www.swissinfo.ch/por/capa/Antimateria_do_Cern_ameaca_o_Vaticano_no_cinema.html?siteSect=105&sid=10692664&rss=true&ty=st
Outra questão: helicópteros tem altitude máxima de vôo muito limitada, vide Limite Vertical (Vertical Limit, 2000), de maneira que não dá para se ganhar uma altitude suficiente para não achatar Roma com uma explosão de (?) 5 quilotons. (E juro que tentei resistir, mas explosões de natureza nuclear, ou mesmo de antimatéria sem pulso eletromagnético acabando com as comunicações e equipamentos eletrônicos, não dá!)
Pergunta: o que raios uma bióloga com aquela atividade está fazendo no CERN?
Mas não sejamos mais chatos do que já somos naturalmente, e esperemos que os senhores Dan Brown e Ron Howard tenham mais juízo e tino em seus próximos trabalhos, talvez parcerias.E para não dizerem que fui maldoso, os ambigramas do filme são geniais, para dizer o mínimo.
Aguardemos Ponto de Impacto no cinema, pois o pano de fundo será científico: a descoberta de vida extraterreste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário