segunda-feira, 11 de maio de 2009

Star Trek IV


Fui ver o filme.

Tenho de ser sincero: esperava mais em termos técnicos (especialmente depois dos últimos de "A Nova Geração"), e me decepcionei com a maneira "câmera sacudindo" com que foi filmado, com a confusão entre o que seja ação e simplesmente "desordem" (aliás, típico dos pupilos de J. J. Abrams, vide Cloverfield, de 2008, e a simplesmente a bagunça que transmite às suas séries de TV, onde começa bem, com idéias originais, depois vai colocando tantos novos elementos que nem mesmo mais os roteiristas sabem para onde vão).

Mas tenho de ser ainda mais sincero: o projeto agradará a imensa maioria dos fãs e simpatizantes ao universo de Star Trek (dentre os quais me incluo) e certamente, dará muitos frutos.

Mas vamos aos pontos positivos e aos MAIS que positivos: fugiu-se do mundinho perfeitinho levado à perfeição em Star Trek: The Motion Picture (1979), ou seja - Star Trek agora é nitidamente realista e um tanto "starwarseriano" (é capaz de ter fã de Star Trek me escrevendo e enchendo de desaforos), o futuro tem passado, as coisas envelhecem, nem tudo são flores, entes queridos sofrem preconceito e morrem, nossos heróis sangram e sofrem lesões (e muitas!), nosso médico bebe e não é pouco, um determinado rapaz russo não consegue com seu sotaque nem ser entendido pelo computador, etc. Em suma, há um tanto de "humana sujeira".

Criou-se estéticas novas para os vôos "em dobra", para o teletransporte, para o interior das naves (que mais parecem - e são, tenho quase certeza - fábricas até de cerveja - aqui e ali vemos uns pilares com rebites, etc novamente).

Elogios dobrados a formas de vida, e aqui a computação gráfica é a grande senhora dos resultados possíveis, que não são mais repolhos esquisitos protos a devorar os tripulantes incautos, mas coisas parecidas com "ungulados carnívoros" e exóticas formas de grande porte, prontas a devorar não só os monstros que são parecidos com formas que já habitaram nosso mundo, mas também nosso herói.



Devemos destacar que o elenco faz corar de vergonha as qualidades dramáticas dos atores da série clássica, mas afinal, os tempos são outros, e por falar em tempo, o "spin" dado pelo roteiro permite agora dobrar-se (sim, o trocadilho infame aqui foi proposital) todos os temas, idéias e situações criadas para a série original.

Pausa para a piadinha infeliz: -realmente a calvície não tem cura não só no século XXIV, como também não tinha época do nascimento de James Tiberius Kirk.




O humor permeia o elenco, e Spok agora e é dotado de uma certa revolta, ainda que contida, que se manifesta desde criança. Karl Urban simplesmente arrebenta como um McCoy tão ácido quanto o original, Zoë Saldaña é uma Uhura como Nichelle Nichols deve estar orgulhosa em ver (e tão ou mais bela quanto), surgem romances impensados, Scott ganhou um bom comediante britânico para interpretá-lo, curiosamente Sulu gaha um caráter humorístico antes não visto e deixemos o melhor para o fim: os romulanos não são mais o povo até arrogante em seu agir, e parecem mais um bando de punks cobertos de tatuagens tribais, há dias sem banho que qualquer um de nós detestaria encontrar num beco escuro, e coroando e coroado no controle deste grupo mais que desagradável, um atormentado Nero representado por um impecável - e assustador - Eric Bana.


Nota triste: o tempo, a idade, nos ensina que a marcha do tempo é inexorável, e muitos não conseguem ter uma morte súbita, ou uma velhice bastante saudável. Temos de entender que Leonard Nimoy dá sinais de pertencer ao grupo de pessoas que não citei: os que envelhecem com uma curva de debilidade rápida, então, aproveitemos estes últimos momentos do Spock original.

Observação: debilidade fisica não implica em um ator não ser convincente, e o melhor Mustapha Mond possível, de Admirável Mundo Novo, continua danado de bom!

Antes de partir para outro temas, uma nota mental:

tenho de escrever sobre o que possa ser "matéria vermelha".

Dobra espacial


Temos de entender que dobrar o espaço ao nosso redor, torná-lo mais "curto" e se deslocando a velocidade qualquer, andar o dobro da distância, ou algo como mergulhar no "hiperespaço', onde a geometria do universo é ainda mais curta, é uma idéia interessante, mas pensemos que a massa inteira do universo não curva o espaço mais que o que vemos, e medimos, que é praticamente um "plano", e mesmo massas colossais como as do Sol só produzem deformações que fazem com que a precessão do periélio de Mercúrio seja de apenas poucos segundos por século.

Para saber mais:


Ou, de minha modesta colaboração, dando ênfase aos fatos históricos por trás do entendimento deste fenômeno:


Assim, dobrar o espaço-tempo, ou mergulhar no "hiper", é até uma idéia bela e solucionadora dos chatíssimos limites que a física impõe aos autores de ficção científica (Perry Rhodan, por exemplo, a séria alemã, apresenta soluções ainda mais rocambolescas para distâncias ainda maiores).

E convenhamos, usar simples progressão geométrica (e outras, ALÔ, ROTEIRISTAS!) permitirá aos futuros autores de Star Trek solucionar mais e mais distâncias e seus problemas, e como o que se necessita são mudanças nos cenários da "sala de máquinas" e roteiros inteligentes, que tenhamos "vida longa e próspera", ainda que se mantenha em oculto o que realmente seja "dobra", muito menos o que raios seja "transdobra". (Aqui, caros trekkers, o "raios" é sobre as bases físicas de tais idéias, não de sua graça num produto cultural).

Viagens no tempo

O mais interessante de Star Trek é que apesar de ir para cima desde seus primeiros dias das limitações que a Relatividade nos impõe, a limitação da velocidade da luz, sem o que as viagens interestelares tornam-se coisa de anos, e mesmo assim, com inúmeros episódios da série mostrando que tais distâncias são tão grandes que a transposição delas podem levar anos (aliás, a alma por trás dos roteiros da série Voyager), os roteiristas sempre colocaram a viagem no tempo (para o passado) como uma consequência da velocidade da luz, quando na verdade é uma consequência não tão da velocidade da luz, e sim de nossos desejos de tal ser possível.

Explico: a velocidade da luz, sua proximidade, implica na distorção do tempo, onde o tempo dentro do corpo em deslocamento passa a se dar cada vez mais lentamente, e externamente transcorre o, digamos, "tempo normal". Assim, à determinada fração da velocidade da luz, muito próxima de UM, um segundo dentro de uma nave será correspondente a dez mil no seu exterior.

Para entender mais esta questão, procure por "paradoxo dos gêmeos".

Uma "mãozinha":


Outra, mais digestiva:


Outra ainda:


Assim, acredito que a abordagem de viagem no tempo do simpático Star Trek IV : The Voyage Home (1986), de uma passada ao redor do Sol, voltando ao passado, foi trocada pelo "vórtice de táchions" dos "nossos amigos" Borgs, já em "Primeiro Contato", por um certo tratamento mais sério da questão por parte dos roteiristas.

Um comentário:

Perry Rhodan disse...

No início da série Perry Rhodan, os terranos voavam até a Lua e a Vênus (com dinossauros! rsrs, mas foi escrito em 1961) por dias, e no decorrer da série, pela Galáxia e entre elas no universo, num instante, seja em naves ou por "transmissores de matéria".
Gostei do post e dos comentários.
Ah! E por falar de Perry Rhodan, lembrem que foram os autores que criaram os Pos-Bis, e dai surgiu os Borgs.
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Perry Rhodan Brasil