sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A Origem (VIII)



...de muitos erros


O fio de Ariadne - O índice deste conjunto de postagens



As ilusões dos sentidos

A “escada paradoxal”, com uma mulher perpetuamente juntando seus papéis, que Arthur mostra a Ariadne é uma referência a uma litografia do artista holandês M.C. Escher, chamada “Subindo e Descendo” ou “A Escada Infinita” e foi impressa primeiramente em março de 1960.



No filme é muito propriamente atribuida como um objeto impossível de Penrose, o criador original, conjuntamente com seu filho, destes conceitos, representados artisticamente por Escher.

Curiosamente, e até infelizmente, é exatamente Roger Penrose que destaca-se como um dos pensadores sérios que entreverou-se por buscar explicações na mecânica quântica para a consciência.* Mas como já vimos, nem sempre mentes brilhantes tem idéias corretas, nem idéias coerentes com a realidade, nem mesmo implica a genialidade em moralidade, e como veremos adiante, as vezes, a genialidade implica em momentos ridículos, por absoluta falta de esperteza, que é um tipo de inteligência muito peculiar, e que certamente nos foi, ao longo de nossa história, muito útil em termos de sobrevivência.

*Abordei a verdadeira maneira e escala de como a mente opera no cérebro, ou como o cérebro funciona, na parte II desta série, e como também vimos, a própria consciência pode não ser uma estrutura lógica de certezas, mas uma, igualmente, ilusão, apenas mais interna, de nosso cérebro em operação.

A questão de “gravidades confusas” também foi tema de Escher.







Diversas destas ilusões de ótica baseiam-se no, digamos fato, de que os ângulos de 90° do mundo “real” são representados nas perspectivas por ângulos diversos, como o de 30° e o de 60°.

A banda The Strokes usou uma interessante variação da escada em uma de suas capas.



Uma rápida pesquisa na internet e já levantamos outras imagens similares, inclusive, com construções de objetos “sólidos” tais como os erguidos para os cenários de A Origem.





Mas como sou um tanto sádico para compensar meu excessivo didatismo para tratar qualquer tema, se o leitor não foi de forma alguma abalado com as ilusões acima, durante a noite, de preferência, uma limpa, olhe para o céu estrelado, e veja a maior das ilusões: o universo, que aparenta ser uma nuvem de galáxias num espaço tridimensional, euclidiano, mas que além de não ser propriamente isso, mesmo quando o vemos claramente assim, ainda esconde sua real geometria de nossa razão.

E não se iluda, pois embora tenha aqui focado-me na visão, os nossos demais sentidos também são iludidos, como o paladar pelo olfato, permanentemente (cheire uma pera e morda uma maçã, será uma experiência muito ilustrativa), e a audição, que exatamente pela suas características de interpretação dentro do cérebro, permitem a compactação de áudio digital que chamamos mp3, entre outras.

Do Yahoo Respostas: O MP3 é uma forma de diminuir o tamanho do arquivo sem perda da qualidade (em teoria). O segredo está em serem usados apenas os sons que nosso ouvido escuta (em teoria )**.

**O que é chamado por alguns teóricos de "onda resultante" e o "mascaramento". Wiki

Aqui, poderia acrescentar que nossa percepção de mundo é sempre uma classificação das ilusões mais úteis e minimamente confiáveis, mas como tal pode dar errado, tratarei noutra blogagem.

Antes de avançarmos, vamos retornar para a nota acima e enfatizar que se a fonte de toda a percepção de mundo se mostra iludível, limitada e falha como são os sentidos, por qual motivo muitos poderiam afirmar que nossa percepção de nossa própria existência, o que com empáfia muitos chamam de "consciência", com arroubos de um fenômeno miraculoso e paradoxalmente transcendente, haveria de ser mais uma dentre os inúmeras auto-enganos que a mente produz, somente, neste caso, sobre si mesma?


Atuamos melhor sob pressão

Diversas grandes obras da literatura foram escritas quando seus autores encontravam-se sob situação de grande stress como estar na prisão. Entre estes, inclui-se Thomas Malory, que escrevu as histórias do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda enquanto cumpria prisão em Londres, em 1469; Voltaire, que escreveu Heriade; Miguel de Cervantes, com o grande Dom Quixote; Marco Polo, As Viagens de Marco Polo; Oscar Wilde, De Profundis; Gean Genet, Nossas Senhora das Flores; Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere.

Entre os grandes compositores, a situação se repete seguidas vezes, sob vidas um tanto angustiadas e problemáticas, onde destaco a volta de Haendel após um grave período de doença, com a apresentação ao mundo de O Messias.

Somos um animal que realmente opera seu cérebro melhor sob um razoável nível de tensão. Por outro lado, níveis extremos de stress, ainda mais por períodos de tempo prolongados, podem levar a danos ao cérebro, e consequentemente, à mente não operar com toda sua capacidade. A privação de sono, o trabalho excessivo, de maneira quase banalmente previsível, levam à elevação da taxa dos erros que cometemos, a depender do caso, com graves consequências.

Uma imagem clássica sobre o tema:





Comportamentos extravagantes

Algumas de nossas mais poderosas mentes, ao longo da história, foram incapazes de tratar bem alguns pequenos incidentes.

Relata-se que durante determinada convenção de Física, alguns colegas do físico (que acredito que tenha sido***) Schrödinger, ao sair do alojamento, colocaram a girar um pião, pouco antes de sair e sair e fechar a porta, mas de maneira que o grande físico visse o objeto girando. Passadas algumas horas, com o fim do encontro daquele dia, ao retornarem, um deles ficou encarregado de entrar antes, e colocar o pião novamente em rotação. O físico, ao ver o objeto “ainda” girando, passou dias tentando resolver o “mistério” por meio de equacionamentos, visando obter uma explicação para a estabilidade extraordinária do fenômeno.

Tenho suspeitas muito leves que o totem de Cobb/Mal seja uma citação elegante a tal história.

Muitas vezes, o trabalho excessivo, conduzindo ao excessivo stress, leva ao colapso do funcionamento do cérebro, e a partir deste, o funcionamento da mente nos moldes do que seja a esquizofrenia. Contemporâneo de meu Jeep de lata vermelho, lembro-me do caso, relatado por meus pais, do contador que após um final de semana de trabalho ininterrupto, como diria numa roda de amigos, "saiu dos parafusos", e convergiu para um comportamento um tanto além do que se possa chamar de apenas "extravagante". Logo, sob a ação química de seu próprio funcionamento e mecanismos, a própria sanidade não é estável.

Infelizmente, para termos alguma garantia de nossa sanidade, não temos totem no qual nos abraçar.

Lembrando comportamentos extravagantes, e voltando a citar Philip K. Dick, uma boa dica para um livro a ser levado às telas seria Os Clãs da Lua de Alfa, onde, numa visão muito pessimista, o futuro não só não nos presenteia com a cura das moléstias psíquicas, mas ainda as concentra num único "mundo hospício".



*** Agradeceria tremendamente se alguém localizasse, ou esta história, ou a confirmação de que a “vítima” foi Schrödinger, pois como veremos a seguir, não só minha memória falha.

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