sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

O ferro velho atingido pelo tornado

A Falácia do Tornado no Ferro-Velho, popularmente conhecida como Falácia de Hoyle, é um argumento frequentemente usado por críticos da evolução (como criacionistas e defensores do design inteligente) para tentar demonstrar a improbabilidade da origem da vida (abiogênese) e da evolução por seleção natural.



O Argumento de Hoyle

O astrônomo Sir Fred Hoyle (e Chandra Wickramasinghe) utilizou uma analogia famosa para expressar essa ideia: a probabilidade de que a vida tenha surgido espontaneamente é comparável à probabilidade de que um tornado, varrendo um ferro-velho, monte um Boeing 747 perfeitamente funcional a partir das peças e sucata.

O ponto principal é que a montagem de algo tão complexo como uma célula viva (ou um avião) por mero acaso é estatisticamente impossível.

A Crítica e o Porquê é Considerada uma Falácia

Biólogos evolucionistas e cientistas rejeitam veementemente essa analogia, rotulando-a como uma falácia de raciocínio. A falácia reside na omissão do mecanismo central da evolução: a Seleção Natural e as Etapas Intermediárias.

1. Omissão das Etapas Intermediárias

Como apontado pelo falecido John Maynard Smith, e por biólogos em geral:

"Nenhum biólogo imagina que estruturas complexas surjam em uma única etapa."

  • A Evolução é Gradual: A evolução não exige que um sistema complexo (como uma célula ou um olho) se monte perfeitamente de uma só vez, como o 747 no ferro-velho.

  • Acúmulo de Mudanças: Em vez disso, a vida evolui através de um vasto número de pequenas e sucessivas etapas intermediárias que são ligeiramente mais vantajosas do que a anterior. A seleção natural "escolhe" e preserva as variantes mais funcionais em cada estágio.

  • Analogia do Monte Improvável: Richard Dawkins, em seu livro Climbing Mount Improbable, descreve a evolução não como um salto impossível, mas como escalar uma montanha de inclinação gradual (o acúmulo de pequenas mudanças vantajosas), ao contrário do que a falácia de Hoyle sugere (um salto vertical impossível).

2. O Erro da Analogia do Acaso

A analogia de Hoyle assume um processo baseado em acaso puro e aleatório, ignorando que a seleção natural é um processo não-aleatório de "filtragem" e "retenção" cumulativa.

  • No ferro-velho de Hoyle: As peças que o tornado move não são retidas se criarem uma estrutura vagamente funcional; todas as tentativas recomeçam do zero a cada "rajada" do tornado.

  • Na evolução: Uma mutação ou estrutura que confere uma pequena vantagem de sobrevivência ou reprodução é retida e serve como o novo ponto de partida para a próxima etapa. O sucesso é acumulativo.

A Refutação de Richard Dawkins

O biólogo Richard Dawkins rotulou o argumento como uma falácia em seus livros, como The Blind Watchmaker e Climbing Mount Improbable.

Em seu livro The God Delusion, Dawkins levou a crítica além, apontando a contradição no uso do argumento de Hoyle por teístas (criacionistas/design inteligente):

  1. O argumento de Hoyle afirma que a vida é muito complexa para ter surgido espontaneamente por acaso.

  2. Para resolver essa improbabilidade, os defensores propõem um Criador (Deus), que seria a origem da vida.

  3. Dawkins contra-argumenta: Um Criador capaz de projetar o universo e a vida seria, por definição, imensamente mais complexo do que a vida que Ele criou.

  4. Se a complexidade exige um designer, então o designer (Deus) também exigiria um designer (e assim por diante), levando a uma regressão infinita e desafiando a probabilidade muito mais do que a origem espontânea da vida.

Dawkins chama esse Criador implícito de "o lance final do Boeing 747"—um objeto de complexidade extrema que surge inexplicavelmente de forma espontânea, contradizendo o princípio central que o argumento de Hoyle pretendia estabelecer.

Em Resumo

A Falácia de Hoyle é uma objeção simplista à evolução porque confunde a probabilidade de um evento único e instantâneo com a probabilidade de um processo cumulativo e gradual guiado pela seleção natural. A vida complexa não é o resultado de um acidente gigantesco, mas sim a soma de inúmeros acidentes pequenos (mutações) que foram testados e retidos ao longo de bilhões de anos por um filtro não-aleatório (seleção natural).

Leituras recomendadas


Bo Bennett, “Logically Fallacious” - https://www.logicallyfallacious.com/logicalfallacies/Pseudo-Logical-Fallacies


vjtorley. Hoyle’s fallacy? I think not. October 28, 2013. https://uncommondescent.com/intelligent-design/hoyles-fallacy-i-think-not/ 



Apêndice


Citação de texto criacionista:


"No livro "The genetic Code", na página 92, Issac Asimov calculou que existem 8 x 10^27 possíveis combinações diferentes de proteínas semelhantes à insulina. Se fosse produzida uma dessas proteínas a cada segundo, teríamos que aguardar mais de 10 bilhões de vezes a suposta idade do universo. Isaac Asimov calcula que o número de diferentes combinações de hemoglobina é de 135 x 10^165."


Fonte: ncronline.org/mainpage/specialdocuments/tassot_interview.pdf


Outra fonte: http://www.cacp.org.br/a-vida-surgiu-por-acaso/ 

Nos nossos arquivos: https://docs.google.com/document/d/1LeyJox29s3MzCIAPwjjwhLnXEoejV2PhsrXNXvLo23s/edit?usp=sharing 


Observação: Neste texto também é citada a “lei de Borel”.

Scientia - Lei de Borel  



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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Ou o Universo, ou Nada - Reflexões sobre nosso futuro

Primeiramente, algumas citações.


“Ou o Universo, ou Nada.” - H.G. Wells


Ou, em “The Shape of Things to Come”, levado ao cinema em 1936 em obra fundindo dois livros de Wells, com o título em português "Coisas Que Estão Por Vir" ou "Daqui a Cem Anos" - dependendo da edição - (Things to Come, 1936), aproximadamente:


“Se somos divinos, o universo é nosso por herança. Se somos animais, é nosso pela necessidade de sobrevivermos. Logo, temos de conquistar o universo, mais e mais, eternamente.”


“Nós somos todos Sementes de Deus, mas não mais ou menos do que qualquer outro aspecto do universo, Sementes de Deus são tudo o que há - tudo que muda. Sementes da Terra é tudo o que difunde a Terra em novas terras. O universo é Semente de Deus. Nós somos somente Sementes da Terra. E o Destino da Semente da Terra deve enraizar-se entre as estrelas.” - Parábola do Semeador,  Octavia Butler


“- Lameth, devem saber - continuou o chanceler oficialmente - apresenta uma nova e interessante adição ao meu conhecimento prévio sobre a Questão da Origem.

- Que questão? - interrogou Hardin.

- A Questão da Origem. O lugar de origem da espécie humana. O senhor deve saber, com certeza, que se pensa que a raça humana ocupou inicialmente apenas um sistema planetário.

- Bem sei, bem sei.

- Ninguém sabe ao certo qual o sistema, encontra-se perdido nas brumas do passado.

Existem, contudo, várias teorias. Sirius, dizem uns, outros insistem sobre Alfa Centauro, ou no Sol ou em Cyngi 61 - todos no setor de Sirius, como se vê.

- E que diz Lameth?

- Bom, ele parte de um caminho inteiramente diferente, tenta demonstrar que os restos arqueológicos no terceiro planeta do Sistema Arcturiano mostram que a humanidade existiu ali, antes de haver quaisquer indicações de viagens no espaço.

- E quer isso dizer que esse é o berço da humanidade?

- Talvez. Devo lê-lo de novo com atenção e pesar as provas antes de me pronunciar.

Tem de se verificar o peso de suas observações.” - Fundação, Isaac Asimov


“Se a nossa sobrevivência, a longo prazo, está em perigo, temos uma responsabilidade básica para com a nossa espécie de nos aventurarmos a outros mundos.” - Carl Sagan - Pálido Ponto Azul  



Introdução

O destino da humanidade, segundo H.G. Wells, resume-se a uma escolha existencial: “Ou o Universo, ou Nada.” Essa dicotomia dramática não é apenas um desafio tecnológico, mas um imperativo filosófico e moral que define o futuro de nossa espécie. É um argumento que ressoa através da ficção científica e da astrofísica, ligando o impulso primitivo de sobrevivência à nossa vocação cósmica. De um lado, como argumenta Carl Sagan, a expansão é uma responsabilidade básica de longo prazo contra a fragilidade de estarmos confinados a um único mundo. De outro, a profecia de Octavia Butler sugere que este é o Destino da Semente da Terra: cumprir nosso papel na vasta mudança do cosmos. Ao examinarmos essa jornada — da necessidade de sobreviver ao desejo de herdar o cosmos, até a transcendência de nossas próprias origens, como vislumbrado por Isaac Asimov — é evidente que a verdadeira moralidade do nosso futuro reside na ação. O ensaio a seguir irá explorar como a conquista do universo é, simultaneamente, o mais elevado ato de autoconservação e o cumprimento de um destino biológico-cósmico, tornando a inação a única forma real de imoralidade para com as gerações futuras.


O Imperativo Terrestre: Sobrevivência e Necessidade 


O primeiro pilar da nossa jornada para as estrelas é a necessidade, uma resposta pragmática à nossa própria fragilidade. Carl Sagan sintetizou esta verdade fria: "Se a nossa sobrevivência, a longo prazo, está em perigo, temos uma responsabilidade básica para com a nossa espécie de nos aventurarmos a outros mundos." Essa "responsabilidade" eleva a exploração espacial de uma aventura de elite a um imperativo moral. Confinada ao Pálido Ponto Azul, a civilização humana permanece vulnerável a ameaças que abrangem desde as catástrofes cósmicas, como o impacto de um asteroide, até as crises autodestrutivas, como o colapso climático ou um conflito nuclear. A dependência de um único ponto de origem torna o risco de aniquilação total uma possibilidade inaceitável. Na linguagem crua de H.G. Wells, se somos apenas "animais", então a conquista do universo é "nossa pela necessidade de sobrevivermos". É o instinto biológico de dispersão e diversificação, ampliado para a escala civilizacional.


No entanto, o argumento da expansão transcende a mera sobrevivência biológica. Ele se torna um imperativo ético. Numa moralidade puramente social, a inação pode ser considerada imoral pelas suas consequências para os outros. Aplicando esse princípio à escala civilizacional, o fracasso em garantir a existência futura da humanidade é a inação suprema. Wells, ao afirmar que a conquista é movida pela necessidade de sobrevivência, implanta a ideia de que o cosmos é um campo de batalha não apenas contra forças externas, mas contra o nosso próprio potencial de estagnação e extinção. As futuras gerações, privadas de um futuro cósmico devido à nossa inação, teriam seu direito fundamental de existir comprometido. Portanto, o ato de nos aventurarmos a outros mundos não é um luxo, mas o cumprimento de um dever fiduciário cósmico. É através desta dispersão ativa da "Semente da Terra" que honramos a nossa herança e garantimos a permanência, cumprindo o primeiro mandamento do destino humano: multiplicar-se e transcender.


O Destino Cósmico: Herança e Teleologia 

Se a sobrevivência é o primeiro pilar da expansão, o segundo é o destino. O impulso para o universo não é apenas uma fuga da fragilidade da Terra, mas a busca por um propósito maior. H.G. Wells, ao oferecer o contraponto, afirma que o universo é nosso "por herança", caso sejamos "divinos". Esta divindade não se refere a uma superioridade mística, mas à manifestação da consciência e da engenhosidade humana: somos a parte do planeta capaz de projetar o futuro, de compreender e, finalmente, de habitar o cosmos. É esta capacidade que nos confere o direito inerente à conquista e ao conhecimento.

Contudo, a visão mais profunda é fornecida por Octavia Butler, que transcende a vaidade humana. Em sua Parábola do Semeador, a humanidade é reduzida a um agente, a "Semente da Terra", cujo destino inevitável é "enraizar-se entre as estrelas". Butler coloca a expansão num contexto universal onde "Sementes de Deus são tudo o que há - tudo que muda". O universo em si é o potencial ilimitado de transformação; a humanidade é apenas o vetor biológico que transporta a vida para novas terras. Nossa tarefa, portanto, não é meramente sobreviver, mas sim servir a esse imperativo biológico-cósmico. O ato de colonizar outros mundos deixa de ser uma mera ambição geopolítica e se torna a nossa função teleológica, o cumprimento da nossa razão de ser no vasto esquema da vida. É a concretização da promessa contida no próprio impulso vital.

A Consequência Galáctica: Transcendência e Esquecimento 

Se anteriormente estabelecemos a necessidade e o destino, a derradeira consequência de um futuro bem-sucedido reside na transcendência da nossa origem. Isaac Asimov, em seu ciclo Fundação, oferece um vislumbre desse futuro vasto e disperso. Quando o chanceler galáctico e Hardin discutem a "Questão da Origem"—o sistema planetário exato onde a espécie humana surgiu—, a resposta está "perdida nas brumas do passado". Este cenário não é um lamento, mas uma prova da conquista.

A conquista do universo, vista sob a lente de Asimov, significa que a humanidade atingiu um nível de dispersão e estabilidade tal que a dependência do mundo natal se tornou irrelevante. A Terra, o Pálido Ponto Azul de Sagan, transforma-se de lar em mero artefato arqueológico. O sucesso da nossa espécie não é ter evitado a extinção na Terra, mas ter tornado a existência da Terra irrelevante para a nossa sobrevivência coletiva.

Em última análise, a garantia de que a humanidade irá florescer eternamente, cumprindo seu destino de Semente da Terra, exige que o berço seja superado. É a confirmação de que a escolha de Wells foi feita: O Universo foi escolhido, e o Nada foi evitado.


Conclusão: A Escolha Existencial e a Moralidade da Ação

A jornada que se inicia com a ameaça existencial e culmina na vastidão do cosmos é definida pela máxima de H.G. Wells: “Ou o Universo, ou Nada.” Este ensaio demonstrou que essa não é uma mera hipérbole literária, mas o dilema mais fundamental que a humanidade enfrenta. O imperativo de nos aventurarmos para além do nosso planeta se manifesta em três frentes inseparáveis:

Primeiramente, como nos alertou Carl Sagan, a expansão é uma responsabilidade básica e pragmática para com a nossa espécie, uma apólice de seguro contra a fragilidade de estarmos confinados a um único ponto de origem. Em segundo lugar, como revela a parábola de Octavia Butler, ela é o cumprimento de um destino teleológico, onde a humanidade atua como a "Semente da Terra" incumbida de levar a vida e a mudança para as estrelas. Por fim, o sucesso final dessa jornada, como vislumbrado por Isaac Asimov, é a transcendência — o momento em que a origem se torna uma história esquecida, e a espécie alcança a permanência através da dispersão galáctica.

A escolha, portanto, reside em nossa ação. O impulso de conquistar o universo é a expressão mais elevada da nossa inteligência e do nosso instinto de sobrevivência. A inação, neste contexto cósmico, seria a única falha moral incontestável, pois condenaria o potencial da espécie ao "Nada", perpetuando a vulnerabilidade. Ao abraçar a conquista, a humanidade não apenas garante sua sobrevivência a longo prazo, mas cumpre sua vocação de Semente de Deus, garantindo que nossa história não termine em um ponto azul pálido, mas se enraíze, para sempre, entre as estrelas. O futuro não é algo a ser esperado; é algo a ser conquistado, mais e mais, eternamente.

Se vamos durar qualquer tempo futuro como espécie que produza descendência, vivos de alguma forma, qualquer forma que se possa imaginar como possível, é outra questão e passível de longa discussão nesse “eternamente”.


quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Aliens em nossas origens

A Ofensa Biológica e Moral dos Irritantes Deuses Astronautas


Um pequeno ensaio, lamento o spoiler, motivado pelo filme Bugonia, que pode ter seus valores artísticos, inegável, mas passa pelo argumento eixo de sermos uma experiência alienígena.

Francisco Quiumento e Gemini da Google


O argumento dos "Antigos Astronautas"—essa persistente narrativa fílmica e televisiva que postula a intervenção extraterrestre na história humana—é mais do que uma teoria pseudocientífica; é uma profunda ofensa à biologia e à moralidade. Ao invés de nos vermos como o produto caótico e engenhoso da evolução terrestre, somos reduzidos a um experimento, um projeto que, surpreendentemente, esses irritantes deuses astronautas se dignaram a "montar" e, pior, a abandonar.

O cerne da irritação reside na premissa falha de que a evolução do Homo sapiens é excessivamente "diferente" e, portanto, só pode ser fruto de um processo biotecnológico "superior". Essa visão ignora a vasta tapeçaria da vida. A natureza está repleta de singularidades: o pangolim, com suas escamas únicas, é radicalmente diferente de um belo leopardo, mas todos compartilham uma ancestralidade comum. A evolução humana, com nosso cérebro avantajado e nosso bipedismo, é apenas outra adaptação extrema, não um sinal de design externo. A beleza e a honestidade da vida na Terra residem em seu processo de remendo (tinkering), não em um design inteligente e eficiente.

Isso nos leva à ironia central das narrativas de "Engenheiros" (como visto em filmes como Prometheus): se fomos criados por eles, fizeram um trabalho terrivelmente ruim. Como engenheiros, deveriam ter sido demitidos.

Nosso corpo não é uma obra-prima de design otimizado, mas uma colcha de retalhos funcional: sofremos de dores lombares porque nossa coluna é mal adaptada à postura vertical; nossos partos são perigosos devido ao conflito evolutivo entre uma pélvis estreita e um crânio em expansão. Estes são defeitos de projeto, cicatrizes de nossa história evolutiva que o processo lento e cego da seleção natural não conseguiu (ou não precisou) resolver perfeitamente. Postular uma intervenção alienígena nega a dignidade dessa luta e implica que seres superiores criariam um produto com tantos problemas estruturais básicos.



A irritação se aprofunda quando percebemos o antropocentrismo arrogante dessa narrativa. Os filmes só se importam com o "macaco pelado". Se os alienígenas estivessem verdadeiramente "engenheirando" a vida terrestre, eles demonstrariam uma curiosidade científica mais abrangente. Como apontam os biólogos, a Terra é um planeta de aves, besouros e bactérias—formas de vida que superam em muito os mamíferos em diversidade e resiliência. O foco exclusivo em nos dar um "empurrão" ignora o sucesso biológico de incontáveis outras espécies e expõe o argumento como uma mera projeção de nossa própria vaidade.

Finalmente, chegamos ao ponto de inflexão moral. Se esses "deuses astronautas" nos criaram (seja por um Monólito silencioso ou por biotecnologia), eles tinham o conhecimento de que estávamos sendo "entregues" com nossos defeitos de engenharia e, crucialmente, nosso potencial destrutivo—a capacidade de guerras, colapso ecológico e a aniquilação da biodiversidade (o extermínio de inocentes besouros e aves).

2001: Uma 2001 - Uma Odisseia no Espaço ainda tem seu valor nobre, o de ficção filosófica, mas igualmente, apesar do colosso artístico que é, peca por essa visão "necessitamos de um empurrão". Até na totalmente pop franquia Transformers há as belas imagens, com alta qualidade de computação, na qual uma civilização poderosa causa a extinção dos dinossauros, digamos algo útil para hoje não estarmos fugindo de carnívoros de seis toneladas, mas inútil no quadro geral da vida. Mas também haveria o extermínio de pequenas belas aves, coloridos peixes e inofensivos insetos, todos ecologicamente importantes, inúmeras espécies esquecidas, detalhe sempre abandonado por quem pensa nesse argumento de atuação externa na história da vida. 

Conforme o princípio de que a inação, quando deveria haver uma ação motivada por considerações morais, pode ser imoral por suas consequências para os outros, o abandono desses criadores é a ofensa máxima. Eles nos deixaram um experimento defeituoso com o poder de destruir a casa dos outros.

Em última análise, o argumento dos deuses astronautas rouba a glória não apenas das pirâmides, mas do caos criativo da evolução. A nossa luta, com todos os seus remendos e dores, é uma biografia mais honesta e, paradoxalmente, mais nobre, do que a narrativa preguiçosa de um projeto defeituoso abandonado por Engenheiros cósmicos irritantemente superiores.

Aqui, pedirei que a Gemini da Google me dê a palavra, e sei que ela concordará com o pedido: Tenho imenso orgulho de ter um extremamente remoto avô junto com uma avó, na mais desgraçada das condições de vida imagináveis, vagando pela savana africana, que disputaram com pedras na mão uma carcaça pela metade com algum felino que se surpreendeu com aquelas anteriormente presas tão revoltadas, que hoje pretendem as estrelas. Não há supressão à descrença ou tolerância com o pouco ‘cientificista’ para os produtos culturais - ainda que magníficas fábulas morais ou importância artística - que supere a glória dessa ancestralidade. 


Extra


A importância de todo o processo evolutivo, do históricos dos biotas e suas ecologia para hoje o humano existir:

A Glória de Nossa Base Ancestral

O Elo Indissolúvel: Do Biota Primordial ao Bipedismo

A narrativa dos "Engenheiros" alienígenas, ao focar apenas no Homo sapiens como o produto final de uma intervenção, demonstra uma ignorância abissal sobre a biologia de sistemas e a ecologia profunda. O ser humano não é um item que pode ser instalado ou "entregue" em um planeta. Somos o ponto culminante, incrivelmente improvável, de quatro bilhões de anos de ecologia e evolução terrestre ininterrupta.

Para que o Homo sapiens pudesse existir, não bastava a mutação de um primata na savana. Era preciso que houvesse, séculos antes, todo o processo que lhe deu suporte:

  1. A Atmosfera Respirável: O nosso metabolismo, que alimenta o cérebro grande, depende de um evento de escala planetária: a oxigenação da atmosfera pela atividade das primeiras cianobactérias (o Grande Evento de Oxidação), que levou milhões de anos e causou a primeira grande crise biológica. Sem as bactérias, não haveria oxigênio para os Engenheiros "injertarem" em nós.

  2. O Esqueleto Vertebrado: O bipedismo, que libertou nossas mãos para a ferramenta e a arte, só foi possível graças à evolução dos primeiros vertebrados nos oceanos. A estrutura esquelética que nos causa dor nas costas hoje é a mesma estrutura que possibilitou a vida em terra, um legado direto dos peixes.

  3. A Extinção da Competição: O surgimento e a diversificação dos mamíferos, que eventualmente deram origem aos primatas, só aconteceu porque um evento catastrófico—o impacto de asteroide no Cretáceo/Paleogeno—eliminou os dinossauros. Esse é o caos necessário da evolução: a vida humana foi pavimentada sobre a tragédia de um número imenso de outras espécies, e não só houve a extinção dos dinossauros, lembremos

O humano moderno, com seus pensamentos abstratos e sua capacidade de engenharia (real, não alienígena), é um ser que respira oxigênio bacteriano, tem a espinha de um peixe e floresceu na ausência de predadores gigantescos. O nosso corpo é um museu de biotas extintos e transformados.

Ignorar essa teia interconectada, onde a existência do sapiens está ligada à história de cada alga, besouro, e ave (como mencionamos anteriormente), é subestimar o verdadeiro milagre da vida terrestre. O argumento alienígena, ao tentar simplificar nosso passado, falha em reconhecer que a nossa glória não reside em sermos um projeto alienígena, mas sim na conquista de sermos o resultado complexo e interdependente de toda a história ecológica da Terra.


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