A escala das nossas cidades
Ou como as florestas se tornarão obrigatoriamente parques.
Roma, quando do Império Romano, ao seu tempo, esteve entre as maiores cidades da Terra. Babilônia é citada a exaustão na Bíblia.
Para economizar outra progressão, digamos imediatamente que encontrariam hoje rivais em bairros de São Paulo, e não na própria São Paulo.
Mas não é mais São Paulo ou a Grande São Paulo que seja nossa Roma. Nossa Babilônia seria a, quando o termo é mais técnico e menos apavorante, "região metropolitana estendida" São Paulo-Campinas, ou, já que meu objetivo é causar mais que pensamentos sobre o tema, terror, a megalópole que mancha de cinza, mesmo vista do espaço, toda uma significativa fração do sudeste brasileiro.
Mas o problema não é terrível para os brasileiros. Os EUA tem sua "BosWash", de Boston a Washington, com seus 50 milhões de habitantes, a China tem a sua na região do delta do rio Pérola (com a formal sigla PRD), o Japão em Tokio e até os europeus tem a sua, com o divertido nome de Banana Azul (e notemos que neste caso a "cidade" rompe países).
Desde que o geógrafo Jean Gottmann plantou seus estudos sobre tais aglomerações, em momento algum de nossa história recente o processo de trasformação de cidades em grandes cidades e posteriormente em monstruosidades de 50 milhões de habitantes reduziu seu rítmo. Como disse Al Gore, e já o citei nesta série, "temos problemas".
Da mesma maneira que para uma cidade é necessário - como o foi para Londres, Paris ou Roma, milenares e berços de nosso desenvolvimento no ocidente - ter parques que a refresquem, oxigenem e propiciem espaços para lazer, faz-se necessário que as megalópolis, sendo fusões de grandes cidades, o tenham, digamos, numa mesma proporção que a mais moderna Nova York.
Façamo-nos de tontos agora e esqueçamos que qualquer grande cidade precisa de zonas circundantes para a horticultura.
Façamo-nos de mais tontos e também esqueçamos que qualquer cidade precise de áreas para a captação de água, atividades de distribuição e logística, transportes e indústria.
Façamo-nos de completos imbecis e não percebamos que uma cidade que cresce empurra para "fora" de si as áreas de produção agropecuária de suas necessidades, e esta área necessária e crescente tem de ocupar outra, que certamente, no longo prazo, seja muito mais necessária que alimentar ou ser cômoda e útil para a área que aqui tratamos como "cinza".
Ainda sim tem-se de manter uma proporção de "verde" para "cinza", da qual não se pode fugir.
Mas ao chegar a determinada escala, as cidades não só mais são uma colcha cinza com manchas verdes, mas impõe entre estas manchas verdes, em especial para as espécies animais, uma determinada distribuição e escala das manchas verdes que não converta para um isolamento genético que mais cedo ou mais tarde eliminará as faunas de cada mancha.
Citando a analogia que fiz da humanidade como formigas vorazes, nossas fronteiras de cidades e respectivas áreas de produção de alimentos e produção industrial com áreas verdes e outros ambientes "selvagens", são as trincheiras onde travamos nossas batalhas com as outras espécies que não nos interessam imediatamente.
Mas nem preciso me preocupar com tal problema (dentre tantos), pois os ecologistas já o fazem em sua luta pela manutenção de ambientes e espécies, e com muito mais qualidade e argumentos do que eu faria. Devo me concentrar noutro ponto, muito mais adequado ao foco que estou dando nesta série de textos.
Chegará a um momento, na taxa de crescimento das cidades que hoje apresentamos, que mesmo com uma distribuição harmoniosa de verdes e cinzas, mesmo dentro de confiável biologia, não teremos mais uma mancha no meio de um sudeste, como é o caso de São Paulo-Campinas (como esta megalópole pudesse ser limitada a só este eixo), e sim, os verdes primordiais sobreviventes é que pintarão uma imensa colcha de combinação de gosto discutível.
Mas nosso problema neste ponto é que não é uma questão de gosto sobre cores e suas combinações, e sim, de aritmética simples.
Certa vez ouvi em um filme a brilhante frase: -Terra é o melhor investimento porque é uma mercadoria que não se produz mais.
Sendo o saldo de terras utilizáveis finito, ao se debitar o mínimo que seja, este saldo diminui.
Tão simples e direto quanto isto.
Só as soluções para os problemas das megalópoles (independentemente de seu crescimento, "pois todo sistema quando não submetido à ação tende ao caos", lembrando meu professor Carlos David, citando um antigo chefe seu) demandam constante e até crescente geração de energia, de onde voltaríamos ao ponto tratado no texto anterior.
Assim, inexoravelmente, mantendo-se o ritmo de crescimento das cidades/população humana, chegaremos a um momento - e este momento, segundo estimativas, por exemplo da WWF, já passou e já estamos 30% acima do que o planeta pode fornecer (e mesmo se estes senhores e outros estejam errados, por este número assim passaremos) - em que as cidades poderão crescer, como amebas que parecem do espaço, mas não terão o que comer.
E como camundongos e coelhos quando colocados em espaços limitados, comem suas crias...
Talvez...
Nenhum comentário:
Postar um comentário